Maria Soledade Gomes Borges Professora docente e administrativo da Universidade de Uberaba (UNIUBE)

Documentos relacionados
PLURALIDADE CULTURAL: DIVERSIDADE E CIDADANIA RELATO DE EXPERIÊNCIA

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE BRAGANÇA PAULISTA

GEOMETRIA NA SALA DE AULA: CONSTRUÇÃO DE POLIEDROS UTILIZANDO MATERIAL CONCRETO

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO DISCIPLINA: CONTEÚDO E METODOLOGIA DO ENSINO DA ARTE

Introdução. O Núcleo de Extensão]

FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES: CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE ALFABETIZAÇÃO EM QUESTÃO NO ÂMBITO DO PIBID

Atividades de orientação em docência: desafios e oportunidades

O PIBID DE QUÍMICA E PESQUISA NO COTIDIANO ESCOLAR: DIÁLOGO ENTRE UNIVERSIDADE, O PROFESSOR E A ESCOLA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

CONSIDERANDO a solicitação do Departamento de Educação, conforme processo nº 14062/2008;

A participação no PIBID e a formação de professores da Pedagogia experiência na educação de jovens e adultos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

Materiais e métodos:

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO. Licenciatura EM educação básica intercultural TÍTULO I DA CARACTERIZAÇÃO

LDB Lei de Diretrizes e Bases

1º SEMESTRE DISCIPLINA. História da Educação 80. Formação Docente para a Diversidade 40. Cultura e Literatura Africana e Indígena 40

Didática e Formação de Professores: provocações. Bernardete A. Gatti Fundação Carlos Chagas

PIBID SUBPROJETO DE FÍSICA

1.Perfil do Formando Avaliação Formandos

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA ENQUANTO POSSIBILIDADE EXTENSIONISTA

Prática docente em discussão: o bom professor na percepção dos acadêmicos de Letras da UEG- Inhumas

A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO AGENTE FACILITADOR NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

EXPERIÊNCIAS DO PIBID DE MATEMÁTICA EM ARRAIAS (TO)

Palavras-Chave: Prática Formativa. Desenvolvimento Profissional. Pibid.

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EDUCAÇÃO INFANTIL

ANEXO 01 LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UENF SELEÇÃO DE DOCENTES DISCIPLINAS / FUNÇÕES - PROGRAMAS / ATIVIDADES - PERFIS DOS CANDIDATOS - NÚMEROS DE VAGAS

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

RESOLUÇÃO Nº 034/ CEPE DE 23 de Agosto de 2006.

Palavras-chave: Didática de ensino de leitura; Leitura; Interdisciplinaridade;

CONTRIBUIÇÕES DO PIBID PARA O PROCESSO FORMATIVO DE ESTUDANTES DO CURSO DE LICECIATURA EM PEDAGOGIA

RESENHA. Acir Mario Karwoski Benedita Kátia de Araújo Santos

O PIBID INCLUSO NA LUTA CONTRA O AEDES AEGYPTI

A CONCEPÇÃO DO BOM PROFESSOR PARA OS BOLSISTAS DO PIBID SUBPROJETO EDUCAÇÃO FÍSICA

Curso: PEDAGOGIA Curriculo: 0004-L DISCIPLINAS EM OFERTA 2º Semestre de NOT

INSTITUTO DE PESQUISA ENSINO E ESTUDOS DAS CULTURAS AMAZÔNICAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO ACRIANA EUCLIDES DA CUNHA

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO

CONTRIBUIÇÕES DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA PARA A FORMAÇÃO DOCENTE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Ensino de Didática: Parceria entre Universidade e Escola Básica

A INTEGRAÇÃO /INTERAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADE E A ESCOLA BÁSICA ATRAVÉS DO PROJETO PIBID/MATEMÁTICA/FOZ DO IGUAÇU

BNCC e a Educação Infantil

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR DIRETORIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA PRESENCIAL DEB

ISSN do Livro de Resumos:

ANEXO II EDITAL Nº 80/2013/PIBID/UFG PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID

Faculdade de Ciências Gerenciais Alves Fortes REGULAMENTO DE ATIVIDADES PRÁTICAS DE ENSINO. PEDAGOGIA LICENCIATURA - EaD

RELATÓRIO. Inaldo Mendes de Mattos Junior

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NO ENSINO SUPERIOR: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

A IMPORTÂNCIA DO PIBID- GEOGRAFIA PARA A INSERÇÃO DO ACADÊMICO NO ENSINO E APRENDIZAGEM

EDITAL PIBID/CAPES/UNIFIPA N 01/2018

MATRIZ CURRICULAR 4 anos INÍCIO EM

DIDÁTICA DAS CIÊNCIAS HUMANAS II PC h

Professor ou Professor Pesquisador

Chamada Interna nº 002/2018 PROGRAD (republicada com prorrogação)

Universidade Federal de Sergipe Pró-reitoria de Graduação Departamento de Apoio Didático-Pedagógico (DEAPE)

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR DIRETORIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA PRESENCIAL DEB

Unidade 1 Sobre o Trabalho de conclusão de curso

REGIMENTO INTERNO DO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA DO UDF (PIBID UDF)

10º Congreso Argentino y 5º Latinoamericano de Educación Física y Ciencias PIBID: O SUBPROJETO CULTURA ESPORTIVA DA ESCOLA

A Experiência do Pibid Música na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul: ação, reflexão e adaptação

Universidade Estadual Paulista

ESCOLA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: PROBLEMATIZAÇÃO E INVESTIGAÇÃO SOBRE O TRABALHO DOCENTE NO PIBID

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ EDITAL 02/2018 PROGRAD PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA PIBID

COMENTÁRIOS DO PROFESSORES TELMA FREIRES E RODRIGO RODRIGO RODRIGUES CONHECIMENTOS PEGAGÓGICOS CARGO ATIVIDADES (2)

AS CONTRIBUIÇÕES DO PIBID NO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

OS SABERES DOCENTES: AS CONCEPÇÕES DE PROFESSORAS DA REDE MUNICIPAL DO RECIFE

LDB Lei de Diretrizes e Bases

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

LABORATÓRIO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA: UM AMBIENTE PRÁTICO, DINÂMICO E INVESTIGATIVO

PIBID PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO Á DOCÊNCIA FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS FIFE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UEG UNIDADE DE QUIRINÓPOLIS

I - Oferecer ensino em diferentes áreas do conhecimento, aprimorando a formação básica proporcionada pelo ensino médio;

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO EDITAL PROGRAD Nº 06/2018 RETIFICADO

PIBID FURG E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

EDITAL Nº 02/2018 SELEÇÃO INTERNA DE PROFESSORES COORDENADORES DE ÁREA PARA O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID)

O objetivo do estágio curricular é de possibilitar ao aluno:

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO

Vamos brincar de reinventar histórias

Discutindo o trabalho docente aliado às novas tendências educacionais De 25 à 29 de Maio de 2009 Vitória da Conquista - Bahia

RESULTADO DA AVALIAÇÃO INTERNA Edital Capes, 6/2018 Programa Residência Pedagógica/UNEB

TRAJETÓRIA DO SUBPROJETO DE MATEMÁTICA: ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO PIBID POR ALUNOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA DA UESB-JQ

UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO UNIVASF PRÓ-REITORIA DE ENSINO PROEN - DPEG

Letras - Língua Portuguesa

Edital 48 PIBID/UFS. Seleção dos Candidatos para Bolsas de Iniciação à Docência- Campus Prof. Alberto Carvalho CADASTRO DE RESERVA

Parecer Criação: RESOLUÇÃO Nº257/CONSEA

SUBPROJETO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PIBID UFG/CAMPUS JATAI

Curso: PEDAGOGIA Curriculo: 2019 DISCIPLINAS EM OFERTA 1 Semestre de MAT

PROJETO DE EXTENSÃO ALFABETIZAÇÃO EM FOCO NO PERCURSO FORMATIVO DE ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA

A DISCIPLINA DE DIDÁTICA NO CURSO DE PEDAGOGIA: SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL

PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE PEDAGOGIA VIGENTE (2012) 4.7 REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PEDAGOGIA UENP/CP CAPITULO I

Curso: Licenciatura em Pedagogia

Pibid-IFRS: contexto e ações do subprojeto Licenciatura em Ciências da Natureza

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO E PESQUISA RESOLUÇÃO N.» DE 06 DE OUTUBRO DE 1999

O DESPERTAR DO ENSINO APRENDIZAGEM ATRAVÉS DA LITERATURA

GT1: Formação de professores que lecionam Matemática no primeiro segmento do ensino fundamental

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TOCANTINS

perspectivas para o futuro

RELATÓRIO DE TRABALHO DOCENTE OUTUBRO DE 2012 EREM LUIZ DELGADO

Transcrição:

ENTREVISTA Maria Soledade Gomes Borges Professora docente e administrativo da Universidade de Uberaba (UNIUBE) 1. Mini currículo Nasci em Uberaba, Minas Gerais, e iniciei a minha formação escolar no Colégio Nossa Senhora das Dores, das Irmãs Dominicanas. Aí cursei o primário, o ginásio e o curso Normal (formação de professores para crianças das séries iniciais). Continuei meus estudos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino (FAFI), também das Irmãs Dominicanas, tendo concluído o curso de Pedagogia em 1963. Retornei, mais tarde, para completar a minha formação de pedagogo cursando a graduação em Supervisão Escolar nos anos de 1978-1979 nas Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino (FISTA) de Uberaba. Como desde criança, eu me dedicava também ao estudo de música, de 1974 a 1977, cursei Licenciatura em Música e Graduação em Piano na Faculdade de Artes de Uberlândia (FAU). De 1983 a 1985, fiz o curso de Especialização em Orientação Educacional na Universidade de Uberaba (UNIUBE), e de 1993 a 1994, cursei Especialização em Planejamento Educacional em uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Uberaba e a Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Somente em 2002, pude realizar um sonho acalentado há muitos anos: cursei o Mestrado em Educação na UNIUBE, iniciado em 2002, e concluído em 2004. 2. Qual é a sua trajetória pela profissão docente? Minha atuação profissional também se dividiu entre a música e o ensino nas escolas regulares, desde as séries iniciais do curso primário ao ensino superior. Fui professora alfabetizadora em escolas estaduais, ministrei aulas em Curso de Magistério (Didática) e no Conservatório Estadual de Música Renato Frateschi de Uberaba, onde fui professora de Musicalização e Criatividade, Percepção Musical, Didática e Prática de Ensino no curso de Magistério em Educação Artística que, à época, era ofertado pelo Conservatório. Também atuei como Orientadora Educacional nesta instituição de ensino. Em 1982, iniciei a docência no ensino superior na FIUBE que, a partir de 1988, se tornou Universidade de

4 Entrevista Uberaba (UNIUBE), onde ministrei aulas de conteúdos ligados à formação específica do Orientador Educacional, aos fundamentos de educação e metodologias de conteúdos específicos das séries iniciais do Ensino Fundamental. Considero também relevantes outras atuações profissionais que exerci paralelamente às já citadas: atuei como Coordenadora Pedagógica de 1ª a 4ª série do 1º Grau na Sociedade Escola Técnica José Bonifácio (Objetivo Júnior) em 1991/1992, e como Supervisora Pedagógica de 1ª a 4ª série do 1º grau no Colégio Jean Christophe de 1º grau de fevereiro de 1993 a junho de 2004, em Uberaba. Fui Chefe da Seção de Capacitação Docente da Secretaria Municipal de Educação de Uberaba de julho de 1994 a dezembro de 2000; e Coordenadora do Centro de Formação Permanente de Professores CEFOR da Secretaria Municipal de Educação de Uberaba de julho de 1994 a dezembro de 2000. Atuei como Diretora da Faculdade de Educação de Uberaba FEU - no período 2001 a 2004 e também como professora de 1997 a 2006. Durante o período em que estive vinculada à Secretaria Municipal de Educação de Uberaba, pude atuar em programas de formação de recursos humanos para a Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, tanto na rede de ensino público como particular. De 2002 a 2007, na qualidade de Professor visitante da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, ministrei aulas no Módulo de Planejamento e Prática Pedagógica no Curso de Especialização em Docência no Ensino Superior. Atualmente, na UNIUBE, sou professora do componente curricular Trabalho de Construção de Aprendizagem e, desde 2005, atuo como Coordenadora de Projetos e Programas, na equipe de Apoio Pedagógico da Pró-Reitoria de Ensino Superior da Universidade de Uberaba. Sou Coordenadora de Área do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência CAPES/PIBID/Pedagogia - desde 2012, em parceria com a Escola Municipal Uberaba, tendo já desenvolvido o subprojeto: Cidade alfabetizadora: uma proposta de alfabetização por meio do estudo da história local e do cotidiano (2012-2013). A partir de 2014, iniciei, com a mesma escola parceira, o desenvolvimento de um novo subprojeto aprovado pela CAPES: Cores, formas, sons e movimento: a presença da arte no processo de alfabetização. 3. Docência e pesquisa são instâncias indissociáveis em sua trajetória? Considero que docência e pesquisa fizeram e fazem parte da minha trajetória como docente. Para falar sobre esta questão, tomo como fundamento as considerações de Pedro Demo em seu livro Desafios Modernos da Educação. Ao tratar dos Desafios da

2 Maria Soledade Gomes Borges 5 Universidade, ele coloca a questão da pesquisa como o desafio central. Ele afirma que a pesquisa, como princípio científico e educativo, como geração de conhecimento e promoção da cidadania é a alma da vida acadêmica. Para o autor, pesquisa significa diálogo crítico com a realidade, culminando na elaboração própria e na capacidade de intervenção ; é aprender a aprender. Vista desta forma ampliada de sentidos, ela pode e deve existir desde a pré-escola até à Universidade. Ao mesmo tempo, por esse ângulo, pesquisa não significa qualquer coisa. E, ainda, nada impede que exista na Universidade um grupo que se dedica à pesquisa como princípio científico. A pesquisa para Demo funda o ensino e evita que este seja simples repasse copiado. É desta forma que vejo a indissociabilidade entre docência e pesquisa na minha atuação como docente. Como professora tenho lutado, cotidianamente, para que o aluno adquira autonomia e aprenda a produzir seus próprios textos e não apenas a copiá-los. Sobretudo no componente curricular que ministro - Trabalho de Construção de Aprendizagem, a exigência é que ele registre suas aprendizagens significativas ao longo do ano, trabalho este que é acompanhado por mim. Ao final da etapa, ele deverá apresentar um portfólio que seja fruto de suas reflexões. Para que a construção da autonomia ocorra, precisamos como docentes, aprender a aprender todos os dias. Assim, nosso trabalho em sala de aula, que é fruto do pensar sobre o processo ensino e aprendizagem, constitui-se também em um momento privilegiado de produção e socialização do conhecimento. 4. É possível pensar numa docência sem pesquisa? Acredito que não seja possível pensar numa docência sem pesquisa. Primeiro, porque acredito que a pesquisa deve ser vista como uma atitude do professor que exerce sua atividade por meio do questionamento, da elaboração de possibilidades, da criatividade; que constrói a sua aula junto com o discente e não apenas repassa o conhecimento pronto, como verdade inquestionável. Busco (pelo menos tento) como horizonte da minha ação docente que o meu aluno seja capaz de procurar (e encontrar) respostas para as suas perguntas. O ato de ensinar é importante, mas não termina nele mesmo. Reafirmo a posição de Demo (2000, p.128) sobre o assunto, Quem pesquisa, tem o que ensinar; deve, pois, ensinar, porque ensina a produzir, não a copiar. Quem não pesquisa, nada tem a ensinar, pois apenas ensina a copiar. Como exemplo de uma atividade que ultrapassa a sala de aula, cito o trabalho de coordenação do Programa Institucional de Atividades Complementares o PIAC que exerço atualmente na UNIUBE, juntamente com um

6 Entrevista Colegiado de Professores Orientadores. Este programa desenvolve-se em duas linhas de ação: EDUCAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA e EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE e as propostas de atividades integram alunos e professores de todos os cursos e estimulam o contato do discente com a realidade social, econômica e cultural, tendo em vista o exercício da cidadania. Muitas propostas são interdisciplinares, orientadas e acompanhadas por professores possibilitando ao aluno a visão de um mesmo problema ou fenômeno sob diferentes ângulos, facultando o desenvolvimento da autonomia, do aprender a aprender sem perder de vista a unidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão. 5. Qual é a relação entre a sua experiência extraprofissional com o seu exercício docente? Os nossos saberes pessoais, aqueles que trazemos da nossa história de vida, aliados aos que são provenientes da nossa formação escolar, aos que são incorporados através dos livros que lemos, dos filmes a que assistimos, das experiências de vida que foram marcantes para nós, bem como dos programas de formação dos quais participamos e dos saberes da experiência que nos marcaram e fomos incorporando, tudo isso faz parte da nossa maneira de ser e agir, nos espaços escolares onde atuamos. A nossa forma de ver, ouvir e nos relacionar com o outro e com o mundo está estreitamente ligada à nossa história de vida, à formação intelectual, afetiva, moral, estética que construímos. Estudei em um colégio particular que era, naquela época, considerado a melhor opção para as meninas, como o colégio Marista era visto como o melhor para os meninos. Estudamos neste colégio, eu e minha irmã, com muito sacrifício de nossos pais, principalmente da nossa mãe que considerava que a única coisa importante que ela poderia nos deixar era o estudo e a formatura. Para isso ela lutou muito e teve que se desdobrar no seu trabalho de costureira para arcar com as despesas que isso acarretava. Essa forma de valorizar os estudos, com certeza faz parte da minha história e transportei isto como um objetivo que persigo no cotidiano da minha vida, na criação dos meus filhos e agora dos meus netos e também na sala de aula como docente. Quero que meus alunos acreditem no valor da educação e lutem para concluir os seus estudos na universidade. São muito fortes essas conexões que fazemos entre as nossas experiências vividas e os suportes teóricos que vamos acumulando na nossa formação docente e que criam o nosso estilo de ser professor, nossa identidade profissional.

2 Maria Soledade Gomes Borges 7 6. Como você se posiciona a respeito da formação docente no Brasil atualmente? No cotidiano do meu trabalho docente, tento observar informalmente os professores em sua atuação - suas falas, alegrias, desalentos, vitórias, descobertas, imagens que têm dos alunos e a forma como se relacionam com eles - e me pergunto: como manter viva a vontade de ser professor? Sabemos que o fato de dar aulas ou ter conhecimentos teóricos e metodológicos aprendidos em cursos de formação não são elementos suficientes para caracterizar o ser professor. A tarefa docente exige muito mais de nós, pois é uma construção contínua que acontece ao longo da nossa história de vida, por meio das inúmeras interações com situações de ensino e aprendizagem dentro e fora da sala de aula. Este é o ponto crucial que a docência tem enfrentado atualmente: a formação muitas vezes superficial, a falta de incentivo para a formação continuada, a situação caótica das escolas, tudo isso tem provocado o esvaziamento dos cursos de licenciatura e enfraquecido a vontade de ser professor. Acredito que os cursos de formação continuada devem possibilitar aos docentes retomar os saberes da ação, repensá-los, socializá-los, tentando estabelecer conexões entre eles e a formação acadêmica. Para isso é preciso que os professores adquiram o hábito de narrar suas experiências que muitas vezes são tão ricas, mas se perdem por falta desses registros. Essa postura pode ser um estímulo para cultivar a vontade de ser professor, possibilitando cursos de formação que promovam a construção coletiva de conhecimentos, a participação interativa, a reflexão sobre a prática e os saberes dos professores e a vivência de situações profissionais com suas descobertas e surpresas.