1 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA NA CIDADE DE GUANAMBI-BAHIA Rodrigues, Mônica X. Santana UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ UNOPAR RESUMO: Criada em 1856, a Língua Brasileira de Sinais LIBRAS por muito tempo foi desprestigiada nos diversos ambientes sociais, alcançando somente nos últimos anos um alto nível de popularização, não apenas no âmbito escolar como também na sociedade em geral. A LIBRAS não é a gestualização da língua portuguesa, e sim uma língua independente, o que a concebe prestigio na construção de estudos. O presente trabalho, ainda em construção, busca sistematizar as observações enquanto ao crescimento pela aprendizagem da LIBRAS na cidade de Guanambi BA, principalmente pelos jovens. Para tanto, utilizamos a metodologia de pesquisa etnográfica: observação com registro em diário de campo e análise documental. Observamos que uma língua considerada natural da comunidade surda despertou em muitos jovens a autoformação, definida como "a apropriação por cada um do seu próprio poder de formação". Na autoformação, o sujeito assume a necessidade de aprender e se apropria do processo de formação. Percebemos que a interação e comunicação entre ouvintes e surdos facilita a inserção desses na sociedade em geral. Com isso, é necessário entendermos o porquê da crescente busca pela aprendizagem dessa língua a fim de intervir de forma auxiliadora na construção de uma sociedade mais igualitária. Palavras-Chave: LIBRAS. Interação e Comunicação. Autoformação. 1. INTRODUÇÃO A Língua Brasileira de Sinais LIBRAS é uma língua que tem ganhado espaço na sociedade por conta dos movimentos dos surdos em prol de seus direitos, é uma luta de muitos anos que os caracteriza como um povo com cultura e língua próprias. Assim, através de anos de luta a classe surda conquistou o direito de usar sua língua que possibilita não só a comunicação, mas também sua efetiva participação na sociedade. O presente trabalho, através da observação participante, pretende apresentar algumas reflexões sobre a Língua Brasileira de Sinais LIBRAS e o interesse dos jovens da cidade de Guanambi-Ba por essa língua e a crescente busca dos mesmos por cursos com essa temática. 2. PERCURSO HISTÓRICO DA LIBRAS
Sobre o surgimento da LIBRAS, (MENEZES, 2006) afirma que: 2 O Brasil ainda era uma colônia portuguesa governada pelo imperador Pedro II quando a língua de sinais para surdos aportou no país, mais precisamente no Rio de Janeiro. Em 1856, o conde francês Ernest Huet desembarcou na capital fluminense com o alfabeto manual francês e alguns sinais. O material trazido pelo conde, que era surdo, deu origem à Língua Brasileira de Sinais (Libras). O primeiro órgão no Brasil a desenvolver trabalhos com surdos e mudos surgiu em 1857. Foi do então Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que saíram os principais divulgadores da Libras. A iconografia dos sinais -ou seja, a criação dos símbolos- só foi apresentada em 1873, pelo aluno surdo Flausino José da Gama. Ela é o resultado da mistura da Língua de Sinais Francesa com a Língua de Sinais Brasileira antiga, já usada pelos surdos das várias regiões do Brasil. O instituto I Eppe, em 1896, contribuiu para o desenvolvimento da LIBRAS quando realizou um encontro internacional com o intuito de avaliar a decisão do Congresso Mundial de Professores de Surdos, ocorrido no ano de 1880 em Milão, o qual havia proibido o uso da LIBRAS na educação dos surdos, só sendo retomado o seu uso na década de 1940. Atualmente a LIBRAS é considerada uma língua regulamentada pela Lei n.º 4.857/2002 como língua dos surdos brasileiros, decisão que facilitou a socialização dos surdos. A LIBRAS Língua Brasileira de Sinais tem sua origem na Língua de Sinais Francesa. As línguas de sinais não são universais, assim cada país possui sua própria língua, as quais sofrem influências da cultura regional. Para Quadros (2004) a língua de sinais é uma linguagem espacial articulada através das mãos, das expressões faciais e do corpo. É uma língua natural usada pela comunidade surda brasileira. Adotada pela maioria dos surdos do Brasil, a LIBRAS, ao contrário do que muitos pensam não é simplesmente mímica ou gestos, mas sim uma língua que possui estrutura própria, de modalidade diferente da língua oral, a LIBRAS difere-se da língua portuguesa por ser uma língua gestual-visual, contrária à língua portuguesa que é oralauditiva. A estrutura gramatical da LIBRAS é composta por sinais formados com combinações de formas e movimentos das mãos, também de pontos de referência no espaço ou no corpo, a LIBRAS é constituída por um sistema lingüístico que transmite fatos e idéias, natural das comunidades de pessoas surdas de todo país. Sendo assim considera-se a LIBRAS uma língua promulgada pelo corpo, que requer atenção visual, discriminação visual, memória visual, expressão facial e corporal e agilidade manual.
3 3. A LIBRAS NO CONTEXTO LOCAL É notado o aumento por cursos da Língua Brasileira de Sinais no município de Guanambi-Ba, sendo tanto as entidades públicas e privadas responsáveis pela realização de cursos voltados para essa temática e a inclusão de jovens e seus familiares na sociedade em geral. Percebemos através da participação enquanto ouvintes, que os jovens não-surdos em sua grande maioria compõem os assistidos nos cursos e mantém uma interatividade com os jovens surdos auxiliadores no desenvolvimento do aprendizado da LIBRAS. Essa interação se dá de forma calorosa por ambas as partes, sendo que por parte do deficiente auditivo há uma grande satisfação em ensinar, pois os mesmos têm notado os crescentes encontros realizados entre ouvintes e surdos de Guanambi e também em cidades vizinhas. O Colégio Estadual Idalice Nunes e a Escola Municipal Getulio Vargas possuem interprete em sala de aula. O colégio possui ainda uma sala especial para deficientes auditivos. O SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) tem atuado de forma idealizadora na promoção por cursos na cidade de Guanambi-Ba. São cursos com carga horária de 100 horas e em turmas de 25 alunos, composta principalmente por jovens estudantes, familiares de surdos e profissionais de áreas afins. O CEPPEX (Centro de Pós-Graduação e Extensão) que engajado no compromisso de colaborar para a solução dos problemas da comunidade, no tocante ao social, desenvolve freqüentemente mini-cursos nessa temática, geralmente com carga horária de vinte horas, que na maioria das vezes são ministrados por estudantes de pósgraduação em LIBRAS. Esses mini-cursos têm em sua metodologia a realização de aulas expositivas e sinalizadas, trabalhos em grupos e atividades individuais, promovendo a interação dos ouvintes e preparando-os para serem fomentadores da LIBRAS. A FISK, mesmo sendo uma escola de idiomas, tem lançado projetos de extensão para a comunidade e, sem sombra de dúvidas o de maior procura é seu Curso de LIBRAS. São cursos com cargas horárias maiores, a turma é composta em maioria por alunos de pós-graduação em LIBRAS, familiares e amigos dos surdos, bem como os próprios alunos dos cursos de inglês, espanhol, português e informática.
Destarte, não podemos esquecer-mos da APADA (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos), esta é uma entidade sem fins lucrativos e realiza cursos voltados para a família do deficiente auditivo e seu rol social. Em geral, o curso possui carga horária de vinte horas, ministrado por professores da própria entidade, com material já existente na mesma, visando a real integração do deficiente auditivo em seu meio, enfatizando que o convívio com outros deficientes auditivos motiva o aluno e acelera seu desenvolvimento. Belloni (1999) destaca a importância de que sejam enfatizadas as abordagens interativas entre os seres humanos e de não limitá-las às máquinas. A abordagem educacional utilizada na elaboração do curso concebe o processo de ensino-aprendizado como orientado, social e comunicativo. O aluno tem uma participação autônoma e ativa e o professor o de mediador, interferindo para auxiliar o aluno em sua aprendizagem e coordenando a nova e ansiosa interação entre alunos e deficientes auditivos. Nota-se, portanto, que além da sua utilidade comunicativa, as línguas de sinais proporcionam aos indivíduos surdos o desenvolvimento tanto cognitivo, quanto lingüístico, este "em relação a dois aspectos: o social e o intelectual" (GOMES; DANESI, 2003, p. 18) 4 4. CONCLUSÃO São muitos os fatores que levam as pessoas a buscarem o aprendizado da LIBRAS. Destacamos a seguir alguns desses fatores: 1) curiosidade e interesse por uma língua diferente; 2) parentes e/ou amigos serem deficientes auditivos e 3) necessidade no trabalho e/ou inclusão social. Aquele que aprende a LIBRAS passa a enxergar o mundo dos surdos com outros olhos, não os exclui e não se sente excluído. Passa a valorizar mais os gestos, o corpo,e o olhar dos surdos. Vêem os deficientes auditivos como membro comum de uma sociedade que luta para ser igualitária e que podem independente da deficiência serem amigos e comungarem das mesmas coisas. Segundo Mario Quintana Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino. Portanto, os jovens guanambienses aguardam por uma maior e constante participação em relação à comunidade surda, e para que tal participação seja efetiva é preciso difundir a língua, a
cultura, as histórias e a concepção de mundo dos surdos, pois ainda segundo Mario Quintana Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. 5 REFERÊNCIAS BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas, SP: Autores Associados, 1999. GOMES, Erissandra; DANESI, Marlene Canarim. Linguagem e Escrita: Uma dinâmica de grupo. In: Revista Espaço: informativo técnico científico do INES. Rio de Janeiro: INES, n. 18/19 (dezembro/2002 - julho/2003). 2003, p. 14-20. LEGISLAÇÃO DE LIBRAS. Linguagem Brasileira de Sinais. Em: <www.libras.org.br/leilibras.htm>. Acesso em: 05 novembro 2010. MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) (Verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira. Educa Brasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2006. QUADROS, R. M. de. Educação de Surdos: A Aquisição da Linguagem. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1997. QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira. Porto Alegre, RS: Editora ArtMed, 2004.