PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA DESENVOLVIDAS NO COLÉGIO UNIVERSITÁRIO GERALDO REIS COLUNI-UFF Daniel Luiz Poio Roberti 1 Igor Martins Medeiros Robaina 2 Luis Miguel Pereira 3 Rafael Vieira Lima 4 Vitor Hugo Dos Santos Teixeira 5 Yagam Rebeca da Silva 6 MATERIAL DO EVENTO: (1) um computador, se possível, com acesso à internet e (1) um datashow. RESUMO A presente oficina caminha no sentido de socializar dialogicamente algumas das produções pedagógicas construídas pela equipe de geografia do Colégio Universitário Geraldo Reis Universidade Federal Fluminense/RJ. Selecionamos três projetos que tiveram grande repercussão científica no âmbito da UFF, desenvolvidos no segundo segmento do Ensino fundamental no ano letivo de 2009, com vistas a discutir os avanços e limites no processo de ensino-aprendizagem da geografia escolar nesta dada realidade socioespacial, bem como suas possibilidades de utilização em outros espaços escolares. INTRODUÇÃO O Colégio Universitário Geraldo Reis (COLUNI) surgiu no mês de dezembro de 2006. Desde sua criação, a realidade socioespacial dessa unidade escolar se constitui a partir da articulação direta entre ensino, pesquisa e extensão. No entanto, o COLUNI se diferencia de maneira bastante peculiar quando comparado às configurações estruturais de outros colégios de aplicação. A referida instituição de ensino funciona no espaço de um antigo CIEP (Centro Integral de Educação Pública), que, através de um acordo entre 1 Professor de Geografia do fundamental II do COLUNI e do município de Cabo Frio/RJ 2 Graduado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense e Mestre em História Social do Território pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente é professor substituto na Universidade Federal fluminense e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 3 Professor de Geografia e História do fundamental I do COLUNI. E-mail: luizmiguelp@gmail.com 4 Graduado em licenciatura e bacharelando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense/UFF; Bolsista COLUNI. Associado da AGB na seção de Niterói. E-mail: rafaelvlz@hotmail.com 5 Graduando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense/UFF; Bolsista COLUNI. Associado da AGB na seção de Niterói/RJ. E-mail: vitorhugostx@yahoo.com.br 6 Aluna de graduação e bacharel em Geografia pela UFF e bolsista de iniciação científica do LEGEO/UFF. 1
as esferas públicas, foi transferido e federalizado, passando sua gestão a ser feita pela Universidade Federal Fluminense. O processo de ingresso do corpo discente é mais um fator que particulariza o COLUNI em relação a outros colégios universitários. Esse processo se concretiza por meio de sorteios, sem a presença de custos na taxa de inscrição. Diferentemente de outros colégios de aplicação distribuídos por todo país, nos quais, além de taxas de inscrição, os alunos são obrigados a passar por um processo competitivo de seleção, com uma nota mínima e um número limitado de vagas. Desse modo, observamos, em muitas dessas escolas, um caráter elitista na formação do corpo de alunos. A equipe de profissionais da educação do Colégio Universitário Geraldo Reis acredita ideologicamente num processo igualitário, como forma de diminuir ou amenizar as desigualdades entre os grupos na sociedade brasileira. O acesso por sorteio representa um dos meios, escolhidos pela equipe do COLUNI, de materializar esse propósito, uma vez que possibilita o ingresso de grupos marginalizados sócioeconômico-espacialmente. A prática desse processo seletivo oportuniza a coexistência de alunos de diferentes classes sociais no espaço de uma mesma sala de aula. Observamos a presença tanto de alunos moradores de comunidades carentes, tais como Morro do Palácio e Morro do Estado (localizados em Niterói), quanto de alunos provenientes da classe média e de outros municípios adredes. Assim, acreditamos que tal heterogeneidade reafirma o caráter democrático do processo de aprendizagem, já que possibilita o encontro entre indivíduos segregados por uma perversa estrutura, em que os discentes, assim como os docentes, passam a lidar com a presença das tensões e conflitos existentes no seio de nossa sociedade, no espaço escolar. O projeto político pedagógico e a estrutura curricular da disciplina Geografia foram pensados a partir dessas especificidades. Desenvolver um currículo condizente com a realidade é uma tarefa imprescindível, devendo ser um trabalho produzido coletivamente, enfrentado de maneira crítica e dialética pelos sujeitos partícipes deste processo. A disciplina de geografia no COLUNI possui no seu currículo vigente uma carga horária de cinco tempos semanais, nos quais optamos pela existência de temas 2
transversais 7 e conceitos-chaves 8 da geografia, propiciando assim a realização de projetos no ensino de geografia. A criação e a aplicação destes projetos são características importantes em um colégio universitário. Selecionamos três (3) projetos 9, dentre os que foram realizados no COLUNI no ano de 2009. Eles contemplam conceitos-chaves da geografia, abordados no currículo dessa instituição educativa, e serão apresentados na oficina. OBJETIVOS O objetivo geral desta oficina é propiciar aos discentes a compreensão da realidade a partir dos conceitos-chaves da geografia, promovendo assim o encontro da geografia acadêmica com a(s) geografia(s) do cotidiano (CAVALCANTI, 1998). Deste modo, a partir da (re)produção das atividades realizadas pelos projetos, estabelecemos como objetivos específicos: Possibilitar o ensino de geografia, a partir da interação do lúdico com a produção de materiais didáticos; Apresentar a tecnologia como uma ferramenta pedagógica para o ensino de geografia; Facilitar a compreensão dos aspectos físicos e socioambientais da constituição do solo e da formação dos vegetais. METODOLOGIA A presente oficina trabalhará a partir de três projetos e terá nos conceitos-chaves os elementos norteadores da prática pedagógica desenvolvida no COLUNI. Os conceitos-chaves da geografia eleitos para a nossa pesquisa foram: lugar, paisagem e meio ambiente. É importante salientar que usaremos esses conceitos como 7 Os temas transversais são: ética, saúde, meio ambiente, orientação educacional, pluralidade cultural. Eles estão presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais. 8 Trataremos os conceitos-chaves como elementos norteadores de nossos pressupostos teórico-educativos, sendo eles: lugar, região, território, paisagem, espaço e meio ambiente (CAVALCANTI, 1998). 9 O Ensino de Geografia e suas Possibilidades: Da Criação de Materiais Didáticos às Múltiplas formas de interação e compreensões sócio-espaciais (Coordenado por: Igor Robaina; O meu caminho para escola (Coordenado por: Daniel Roberti) ; Compreensão da constituição do solo seus aspectos físicos e sócio-ambientais (Coordenador: Luiz Miguel Pereira). 3
instrumentos de auxílio para a compreensão e o ensinamento da realidade sóciogeográfica, por isso nós os selecionamos. O auxílio de ferramentas tecnológicas e a construção de materiais de apoio às aulas de geografias reforçam o caráter diversificado dos projetos, proporcionando um dinamismo no processo de ensino-aprendizagem, estimulando a capacidade criativa e crítica, além de fomentar a sociabilidade entre os atores que fazem parte da comunidade escolar. Tais projetos podem ser desenvolvidos em vários lugares do espaço escolar, como na sala de informática ou até mesmo em espaços menos formais como a quadra esportiva da escola. O primeiro projeto, intitulado O Meu Caminho para a Escola, dirigiu-se a duas turmas de sétimo ano do COLUNI. A atividade compôs-se de duas partes. Na primeira, foi pedido aos alunos que desenhassem em uma folha de papel ofício A4 o trajeto deles, da casa até o colégio, realçando a representação dos marcos referenciais 10 paisagem 11 ao longo deste caminho. A projeção das estruturas e dos objetos no papel tem como objetivo propiciar uma ressignificação da função posicional, tornando-as marcos referenciais. A segunda parte da atividade foi desenvolvida na sala de informática do colégio. Consistia em identificar a residência dos alunos pelo software google maps, a partir do mapa/desenho feito em sala de aula. Com isso, além de apresentar o software aos educandos, também foi possível a familiarização destes com as imagens de satélites que o google maps fornece. O segundo projeto da oficina, O jogo da memória dos Domínios Morfoclimáticos do Brasil 12, foi desenvolvido em duas turmas do sexto ano do COLUNI. Sua existência fundamenta-se na premissa de que os alunos possuem e a 10 Um dos conceitos geográficos que objetivamos trabalhar com essa atividade é o lugar. O estudo do lugar na perspectiva humanística se diferencia da análise do espaço. Na experiência, o siginificado de espaço frequentemente se funde com o de lugar. Espaço é mais abstrato do que lugar. O que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor (...) se pensamos no espaço como algo que permite movimento, então o lugar é pausa; cada pausa no movimento torna possível que a localização se transforme no lugar. (Tuan, 1983, p.6) 11 O conceito geográfico paisagem é, por nós, utilizado no sentido de tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volume, mas também de cores, movimentos, odores, sons e etc. (Santos, 1988, p.61) 12 Esta atividade está integrada ao projeto O Ensino de Geografia e suas Possibilidades: Da Criação de Materiais Didáticos às Múltiplas formas de interação e compreensões sócio-espaciais. Coordenado pelo professor Igor Robaina. 4
dificuldades em compreender a complexidade dos domínios morfoclimático brasileiro e sua distribuição no território brasileiro. A atividade consistirá inicialmente no debate da importância da construção de jogos didáticos no ensino de geografia e posteriormente na apresentação do jogo, suas regras e das possibilidades e limites de aplicação desta ação no COLUNI e na dialogicidade com os geógrafos participantes. Na segunda parte da atividade, foi proposto a construção de um jogo da memória coletivamente, em que os próprios membros, conhecendo as formas já existentes desenvolvidas no COLUNI, puderam, inclusive, ampliar os horizontes desta atividade. A terceira oficina trabalhará a atividade da Corrida geográfica. Esta atividade foi aplicada a turmas de alunos do sexto ano do COLUNI. De maneira síntese, esta atividade baseia-se em uma corrida de orientação espacial por todo o espaço aberto da escola (pátio, gramado, quadra poliesportiva), onde, além dos referenciais espaciais, a todo o momento, perguntas orientarão as possibilidades dos alunos em conseguir completar o percurso. A atividade compreendeu uma corrida de orientação espacial entre grupos, na qual cada grupo percorreu seis pontos equidistantes por todo o espaço escolar formando uma palavra no fim do percurso. Todo o deslocamento foi orientado pelos pontos cardeais e pelos relógios do sol. Assim, a cada ponto pedido em relação à distância e direção, os alunos chegam a um destino e recebem uma pergunta que possui duas respostas, cada uma orientando um novo destino. Caso a equipe acerte, ela continua o percurso; caso erre, ela chega a um ponto que, sem continuidade, faz com que eles retornem ao último ponto e se dirijam ao caminho certo. Na presente oficina, desenvolveremos esta atividade ao lar livre e dialogaremos sobre suas potencialidades e limites enquanto prática alternativa no ensino de geografia, assim como sobre outras possibilidades junto à comunidade acadêmica para o avanço e popularização destas práticas no ensino de geografia. Por fim, dialogaremos reflexivamente sobre o balanço da oficina e suas atividades, assim como teceremos uma rede de sujeitos, integradas a partir de sistemas informacionais. Desse modo, teremos, como objetivo maior, socializar novas e velhas experiências e práticas desenvolvidas no ensino de geografia por todo o país. 5
REFERÊNCIAS Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos A LM E ID A, R o s ângela D o in d e. D o d e s e nho ao m apa: i nici a çã o c a rtográfica na es co la, S ã o P a ulo: Contex to, 2006. CALVACANTI, Lana de Sousa. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas, SP: Papirus, 1998. TUAN, YI-FU. Espaço e lugar. São Paulo: Difel, 1983. SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988. 6