Ecossistemas Brasileiros: Manejo e Conservação

Documentos relacionados
Sucessão Ecológica e Dinâmica de Vegetação 2017

Os OITO Elementos da Restauração. Sergius Gandolfi LERF/LCB/ESALQ/USP

Além da clara importância teórica que todo esses debates tem para a estruturação do conhecimento ecológico,

Conceitos florestais e Sucessão Ecológica

Fundamentos de la Restauración Ecológica de Bosques

Disciplina: BI63 B ECOSSISTEMAS. Tema da aula - Distúrbios: Sucessão Ecológica: principais conceitos e aplicações.

Departamento de Engenharia Florestal Laboratório de Conservação de Ecossistemas e Recuperação de Áreas Degradadas

Simpósio As espécies, os indivíduos e a dinâmica de comunidades florestais. Coordenador Dr. Sergius Gandolfi USP - ESALQ

Avaliação Qualitativa De Dossel Em Um Fragmento De Floresta Estacional Semidecidual Em Vitória Da Conquista

CLASSIFICAÇÃO SUCESSIONAL DAS ESPÉCIES PRESENTES NA CHUVA DE SEMENTES EM DOIS FRAGMENTOS DE FLORESTA TROPICAL ÚMIDA EM PERNAMBUCO

DISTRIBUIÇÃO DE ASTRONIUM LECOINTEI DUCKE EM RELAÇÃO ÀS DIFERENTES FASES SUCESSIONAIS EM UMA FLORESTA NATURAL NA FAZENDA RIO CAPIM, EM PARAGOMINAS, PA

Restauração de Matas Ciliares e Áreas Degradadas. LCB 0217 Prof. Flávio Gandara Prof. Sergius Gandolfi

Programa Analítico de Disciplina ENF305 Ecologia e Restauração Florestal

SILVICULTURA. Enga Agra Clélia Maria Mardegan

VARIAÇÃO ESPACIAL DA ABERTURA DE DOSSEL EM FLORESTA E PLANTIO DE CACAU NA RPPN DA SERRA DO TEIMOSO, BA

2017 Ecologia de Comunidades LCB Prof. Flávio Gandara Prof. Sergius Gandolfi. Aula 2. Caracterização da Vegetação e Fitogeografia

Oficina de Vegetação Treinamento de Campo 2014 Exercício 2

Comunidades Vegetais

Fitogeografia de São Paulo

Restauração Florestal com Alta Diversidade: Vinte Anos de Experiências

Destefani, A.C.C; Gandolfi, S. - Programa de Recursos Florestais, ESALQ -

Comunidades Vegetais

Reflexão Histórica das Metodologias de Restauração Ecológica de Florestas Tropicais

Restauração Florestal de Áreas Degradadas

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Dr. Sergius Gandolfi

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Biologia Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal. Projeto de Pesquisa

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA FLORESTAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS

BIODIVERSIDADE E ESTRUTURA ARBÓREA DO ESTRATO REGENERANTE EM UM POVOAMENTO DE Eucalyptus spp - COLINA, SP

Renascimento de florestas

Curso de Graduação em Engenharia Ambiental. Disciplina: BI62A - Biologia 2. Profa. Patrícia C. Lobo Faria

FRAGMENTOS FLORESTAIS

Oficina de Vegetação Treinamento de Campo 2

FFA Aula 3. Fatores ambientais. Vânia R. Pivello Depto. de Ecologia, IB-USP

BIOLOGIA. aula Sucessão ecológica

DETECÇÃO DO DESMATAMENTO

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS COLETA DE DADOS. Maurício Romero Gorenstein

BALANÇO DE RADIAÇÃO NO INTERIOR DE UMA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL SECUNDÁRIA NO DOMÍNO DA MATA ATLÂNTICA

A COBERTURA DO DOSSEL E SUA INFLUÊNCIA NA REGENERAÇÃO NATURAL DE DOIS FRAGMENTOS DE FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL

ESTUDO COMPARATIVO DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE DUAS ESPÉCIES ARBÓREAS: MAÇARANDUBA

Comunidade é a assembléia de populações de várias espécies que vivem no mesmo lugar.

Dr. Sergius Gandolfi - LERF/LCB/ESALQ/USP

BIOLOGIA. Ecologia e ciências ambientais. Sucessão ecológica. Professor: Alex Santos

Prof. Pedro Brancalion

Biodiversidade e prosperidade económica

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE

SOBREVIVÊNCIA E CRESCIMENTO DE MUDAS DE REGENERAÇÃO NATURAL DE

Estudo 4 - Oportunidades de Negócios em Segmentos Produtivos Nacionais

PARTE V GEOGRAFIA DA FLORA PAULISTA. 1. Padrão Espacial das Populações Arbóreas

Fragmentação. Umberto Kubota Laboratório de Interações Inseto Planta Dep. Zoologia IB Unicamp

Avaliação do banco de sementes em uma área preservada e uma área degradada de Floresta de Restinga na Ilha do Cardoso, SP.

SUCESSÃO ECOLÓGICA LCB Prof. Sergius Gandolfi (Texto adaptado - Meiners, J. S. and Pickett, S.T.A. (2011) Succession.)

PROGRAMA DE REFLORESTAMENTO

Projetos Intervales. Modificado de:

Palavras chave: Elaeocarpaceae; Sloanea; Parque Ecológico Jatobá Centenário.

Edson Vidal Prof. Manejo de Florestas Tropicais ESALQ/USP

BIOLOGIA - 2 o ANO MÓDULO 27 SUCESSÃO ECOLÓGICA

Ecossitemas e saúde Ambiental:: Prof MSc. Dulce Amélia Santos

Efeito de estratégias de manejo em plantio de eucalipto sobre a ocorrência de aves. Camila Cristiane Isabella

Ao final da aula, nós deveremos:

Universidade Estadual de Santa Cruz

Relação entre área específica da folha (SLA) e herbivoria em clareira e sub-bosque em uma floresta de terra firme na Amazônia Central Introdução

Ecossistemas BI63B Profa. Patrícia Lobo Faria

Avaliação florística e estrutural da floresta de conservação de solo e água da Empresa Florestal Integral Guanacahabibes, Cuba

Material RedeFor. I. Iniciando a conversa. I.II. Conteúdos

Germination of seeds of Bauhinia cheilantha (Caesalpinaceae) and Myracrodruon urundeuva (Anacardiaceae) submitted to salt stress

Degradação de Pastagens

DISPERSÃO DE SEMENTES DE LARANJEIRA-DO-MATO EM FRAGMENTOS DE FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL 1

DETECÇÃO DO DESMATAMENTO

s u m o s IIII III IIl D1 lii II p A N D Simpósio slicultura NA AMAZÔNIA ORIENTAL: CONTRIBUIÇÕES DOPROJETO EMBRAPAIDFID .:..

FITOSSOCIOLOGIA DE FRAGMENTOS FLORESTAIS DE DIFERENTES IDADES EM DOIS VIZINHOS, PR, BRASIL

Martin Molz (biólogo, Doutor em Botânica) Martin Grings (biólogo, Mestre em Botânica)

ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL BARREIRO RICO TANQUÃ-RIO PIRACICABA

TÍTULO: PAPEL DOS MACROINVERTEBRADOS NA FRAGMENTAÇÃO FOLIAR E A INFLUÊNCIA DO APORTE DE FOLHAS DE EUCALIPTO EM UM RIACHO TROPICAL.

CORREÇÃO ROTEIRO SUCESSÃO ECOLÓGICA, RELAÇÕES ECOLÓGICAS E DINÂMICA DE POPULAÇÃO APOSTILA 11 PROVA MENSAL 4º. BIMESTRE

Washington Luis, km 235 Caixa Postal 676 CEP: São Carlos, SP.

Restauração ecológica

Resolução SMA - 8, de

Classificação. da Vegetação. Disciplina: CESIEFL098/60 horas. Iane Barroncas Gomes Professora Assistente Engenharia Florestal

Projetos Intervales. Modificado de:

Estudo da variabilidade espacial e vertical da temperatura do ar na Floresta Nacional de Caxiuanã-PA

Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

Projetos Intervales. Modificado de:

importância dos fatores ambientais sobre as características fenológicas das espécies arbóreas

I Simpósio de Geografia Física do Nordeste 28 de abril - 01 de maio de 2007 Universidade Regional do Cariri. Suplemento Especial

18/10 a 09/11 de 2016 Câmpus de Araguaína, Araguaína e Palmas

Diferentes abordagens no monitoramento temporal de áreas em restauração

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

A comunidade é um conjunto de populações de diferentes espécies existentes num determinado espaço durante um período de tempo

ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO CONDICIONADA POR FATORES TOPOGRÁFICOS EM FLORESTA DE ENCOSTA NO PARNA TIJUCA, RJ

Biometria de sementes da palmeira Elaeis guineenses Jacq. (Arecaceae)

Aporte de serapilheira em fragmentos florestais na Fazenda Três Irmãos no município de Ituiutaba-MG

EFEITO DO DESMATAMENTO NA DIVERSIDADE DE RÉPTEIS NUMA ÁREA DE CAATINGA NO MUNICÍPIO DE LAJES, RN, BRASIL

ESTRUTURA DO HÁBITAT E A DIVERSIDADE DE INVERTEBRADOS

VIVENDO Á SOMBRA DO VIZINHO: EFEITO DO SOMBREAMENTO NA DIVERSIDADE DE ESPÉCIES ARBÓREAS DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Silvicultura de nativas aplicada a restauração de APP e RL

Disciplina: EB68 C Conservação e Recuperação Ambiental

Influência do efeito de borda na riqueza de formigas em Cerradão

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO (UENF) CENTRO DE BIOCIÊNCIAS E BIOTECNOLOGIA (CBB) LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS (LCA)

Transcrição:

Copyright 2003, Vanda Carneiro de Claudino Sales Direitos cedidos para esta edição para à Expressão Gráfica e Editora Rua João Cordeiro, 1285. CEP 60110-300 Fortaleza, Ceará Fone: (85) 253.2222 Fax: (85) 253. 4022 Capa Noix Editoração Alfredo Júnior Tradução de artigos nglês/português Rômulo Claudino Rodrigues Costa Pedro EC. Santos Rodrigo Bonet Vanda Claudino-Sales Organização Vanda Claudino-Sales Ecossistemas Brasileiros: Manejo e Conservação Ficha Catalográfica E398 Ecosslstemasbrasileiros: manejoe conservação. Vanda Claudlno- Sales(organlzadora). Fortaleza:ExpressãoGráficae Editora, 2003. 392 p., com bibliografia SBN: 8590039543 -X 1. Ecosslstemas brasileiros. 2. Blomas brasileiros. 3. Degradação e conservação amblental. 1.Titulo CDD: 577.09-81 Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja ela total ou parcial, constitui violação da Lei número 5.988 --~

Regimesde Luz em.florestasestacionais Semideciduais e Suas Possíveis Conseqüências "! Prol. Dr. Sergius Gandolf1: Depto de Ciências Biológicas Esalq/USP ntrodução A percepção de que as florestas naturais encontram-se organizadas em mosaicos, introduziu um novo olhar sobre velhos e novos problemas existentes no estudo dessas formações, representando um marco importante na forma de se descrever e se entender a sua composição, estrutura e dinâmica(watt, 1947; Whitmore, 1990). Numa de suas formulações mais simples o mosaico existente dentro das florestas é visto como sendo composto por manchas de fase de clareira,de fase de construção e de fase madura, que se substituem dentro de uma seqüência pré-determinada. A queda ou quebra de uma árvore do dossel, em uma mancha de fase madura, levaria ao surgimento de uma mancha de fase de clareira. Com o passar do tempo, a clareira assim formada, seria preenchida por espécies arbustivo-arbóreas exigentes em luz, e a medida que o seu interior fosse sendo sombreado pelo crescimento dessas árvores, haveria uma gradual substituição dessas espécies mais dependentes em luz por outras, mais tolerantes à sombra. O fechamento provisório da clareira por espécies dependentes de luz, e depois, por espécies mais tolerante à sombra, levaria então, a antiga clareira a se transformar numa mancha de fase de construção. Durante todo o período em que a clareira se encontrava aberta e também quando elajá se encontra fechada, espécies ainda mais tolerantes à sombra cresceram muito lentamente, até atingir o dossel, quando a mancha de fase de construção se converte, de novo, numa mancha de fase madura. Nessa interpretação, o processo de auto-perpetuação da comunidade florestal se baseia na exist~ncia de diferentes ambientes dentro da floresta, nos quais estariam presentes diferentes regimes de luz, que seriam explorados por distintos grupos de espécies, que apresentariam uma capacidade diferencial de sobreviver, e de se desenvolver nesses locais. Dessa forma, à luz é atribuída uma importância fundamental na estruturação das florestas tropicais úmidas, e conseqüentemente de seus mosaicos (Chazdon & Pearcy, 1991). Ecossistemas Brasileiros: Manejo e Conservação 305

liillj.jjj.wjjuuulj.i lil 11.1 i;i il '11,i li i ' ",11' Aaceitação dessa visão fez com que a descrição dos regimes de luz dentro das florestas, a descrição das respostas e da adaptação das espécies arbustivoarbóreas a esses regimes e a descrição dos processos de gradual substituição dessas espécies no tempo passassem a ser de suma importância para compreensão da dinâmica florestal, pois seriam a chave para a compreensão da regeneração dessas comunidades e da manutenção de sua fantástica biodiversidade (Gandolfi, 1991;Whitmore, 1989). Nos últimos 20 anos boa parte da literatura relativa a dinâmica das florestas tropicais, tem estado assim, direta ou indiretamente relacionada ao fator luz. No entanto, a luz é um dos fatores mais complexos e difíceis de serem descritos, em especial dentro de florestas, pois apresenta aí uma imensa variação temporal e espacial, e embora hoje estejam disponíveis equipamentos soflsticados, que permitem a realização de medidas diretas (sensores de radiação), ou a obtenção de estimativas indiretas (p.ex.: fotos hemisféricas) da radiação incidente num dado trecho de uma floresta, ainda assim, é muito restrita a nossa capacidade de descrever os regimes de luz em que vivem as plantas localizadas nas diferentes manchas do mosaico de uma floresta. Apesar dessaslimitações pelo menos três regimes de luz foram já identificados nas FlorestasTropicais Úmidas; altos níveis de radiação no centro das clareiras médias e grandes, níveis altos de sombreamento no sub-bosque e níveis intermediários de luz, nas regiões de transição entre as clareirase o sub-bosque vizinho, em clareirasparcialmente preenchidas, ou em pequenas clareiras. Apesar de divergências quanto à nomenclatura a ser empregadas, nas florestas tropicais pelo menos três grupos ecológicos de espécies, ou categorias sucessionais, tem sido usados para descrever as espécies que se adaptam às distintas condições de luz disponíveis nessas florestas. Estas espécies corresponderiam a diferentes estratégias de regeneração, ou seja, espécies pioneiras necessitariam de níveis mais elevados de luz para sua sobrevivência e crescimento, e assim, normalmente ocorreriam nas clareiras, as secundárias iniciais, espécies capazes de explorar níveis intermediários de luz, explorariam as regiões de transição entre as clareiras e o sub-bosque, as pequenas clareiras e as clareiras em preenchimento, e por fim, as clímax, espécies adaptadas a germinar e se desenvolver em condições de grande sombreamento, que poderiam permanecer todo seu ciclo de vida no sub-bosque ou então crescer até atingir o dossel (Whitmore, 1996). Do cruzamento das informações sobre os padrões de luz no mosaico florestal e da distribuição das espécies das diferentes categorias sucessionais, surgem as observações e interpretações de que nas Florestas Tropicais Úmi- 306 Ecossistemas Brasileiros: Manejo e Conservaçao das, à medida em que as manchas de clareira, vão se convertendo em manchas de construção e essas em manchas maduras, ocorreria normalmente uma gradual substituição das espécies pioneiras, pelas secundárias iniciais e dessas pelas clímax. Buscando estender essa visão de mosaico sucessional e dinâmica florestal, proveniente das Florestas Tropicais Úmidas, às Florestas Estacionais Semideciduais paulistas, vários autoresvêem classificando as espéciesarbustivoarbóreas dessas florestas em grupos ecológicos, e através deles tem procurando entender a regeneração natural dessas floresras(gandolfi 1995,2000). Dentre muitos os fatores que afetam os regimes de luz numa floresta, podemos listar:a posição geográfica(latitude, altitude, etc.) o relevo(topografia, declividade, face de exposição, etc.) o clima (precipitação, nebulosidade, etc.) a composição e estrutura da floresta (mosaico, formas de vida, altura do dossel, justaposição das copas, densidade da folhagem, etc.), a fenologia das espécies(deciduidade, etc.) entre outros. Considerados todos (tssesfatorese sua ocorrência, pode-se presumir, que as Florestas Estacionais, sejam elas Dedduas, Semidedduas, ou Perenifólias, devem apresentar regimes de luz e dinâmica distintos daqueles das Florestas Tropicais Úmidas. Resultados e Discussão Embora inexistam no Brasil estudos sobre os regimes de luz das Florestas Estacionais Dedduas e Perenifólias(vanauskas,2000, 2002), já existe pelo menos um estudo realizado numa Floresta Estacional Semideddual da Reserva Municipal da Mata de Sama Genebra, no munidpio de Campinas (São Paulo, Brasil, 22 49' S e 47 06' WG). Esse estudo foi desenvolvido durante um ano (1994/1995), em três trechos dessa floresta que apresentava distintos graus de perturbação e diferentes estruturas de comunidade, sendo descritos em cda uma deles os regimes de luz das clareiras, do sub-bosque sob dossel perenifólio e do sub-bosque sob dossel dedduo Em cada área, utilizaram-se oito sensores de PAR acoplados a um registrador, este registrava, em um dia por mês, das 9:30 as 17:00 h, amostras tomadas simultaneamente a cada 1 minuto e em outro dia, médias de amostras coletadas ao longo de 5 minutos. Na maioria das áreas de sub-hosque estudadas a maior parte dos registro obtidos foram inferiores a 10 flmol.m-2.s1de PPFD, enquanto nas clareiras a maior parte doe registros esteve acima desse valor. Considerados todas as áreas, os máximos valores de PPFD total diária 1'\\1 li! 1 1 11 1 ~ Ecossistem" 'ra'uoiro" Maoejoe( ção 301 -- - - - ~. ~ \~ " -

1illl li, variaram no sub-bosque sob ~osselperenifólio entre 0,67 e 2,8 mol.m'2.d, no sub-bosque sob dossel décíduo entre 1.43 e 10,90 moi.m.2.d,1 e mn clareiras 4,0 e 23,71 moi.m-z.d.l. As áreas de sub-bosque sob dossel decíduo apresentaram na maior pari f' do ano regimes de luz semelhantes aos do sub-bosque sob dossel perenifóljo, no entanto, quando as árvores do dosselsobre os sensores estiveram decídua~, esses registraram regimes de luz semelhantes ao de algumas clareiras(clareira, de Deciduidade). Essapenetração de luz atravésdas copas decíduas de árvores do dossel resul tou em incrementos na PPFDtotal diária e nos "sunflecks"recebidos no sub bosque sob a árvore decídua, mas também, em aumentos nos níveis de radiação difusa de fundo nas áreas de sub-bosquesob dossel perenifólio vizinhas. Esses dados indicam a existência nessas florestas de um quatro regime d.' luz, não descrito para as Florestas Tropicais Úmidas, o regime do sub-bos. que sob dossel decíduo, provavelmente de grande relevância nessa formação, uma vez que mais de 50% das espécies arbustivo-arbóreas dessas florestas podem ser decíduas. Consideradas os três trechos estudados, a latitude, a deciduidade e a observados declividade nessa foram floresta. os principais fatores que determinaram os regimes de luz A presença de uma maior variação e heterogeneidade na disponibilidade de luz no sub-bosque dessa florestasemidecídua, sugere que a dinâmica e as adaptações das espécies arbustivo-arbóreas existentes nessa formação, devam ser diferentes daquelas descritas para as Florestas Tropicais Úmidas, o mesmo podendo-se inferir para as demais Florestas Estacionais. Surge assim, a necessidade de se documentar nas demais Florestas Estacionais os regimes de luz nelas existentes, bem como em todas elas, de se desenvolver modelos de regeneração florestal efetivamente adequados as características ecológicas de cada uma delas. Vale salientar ainda que ~existênciade distintos regimes de luz sob árvores perenifólias e decíduas do dossel, aliadas a observações de campo, sugerem que as árvores do dossel numa Floresta Estacional Semidecidual, podem estar agindo como "Filtros da Biodiversidade", para as plantas e outros organismos que se desenvolvem sob elas(gandolfi, 2000). Muitas informações existentes na literatura tem provado que árvores modificam não apenas os níveis de radiaçãosob si, mas podem em relação a aspectos como chuva de sementes, predação, solos, alelopatia, macrofauna de solo, microorganismos, etc., criar condições específicas sob e dentro da projeção das suas copas, mostrando que essahipótese de uma filtragem específicaexercida pelo dossel, encontra repercussão na literaturji já existente e que esse efeito pode estar presente em muitas outras formações florestais (Zinke, 1962, Chou & Yam-Lun, 1986; Facelli & Pickett, 1991, Cintra, 1997; Dobson & Crawley, 1994; Jones et a., 1997, Wardle & Lavelle, 1997) O efeito de filtragem pode ser oriundo de condições abióticas determinadas por cada árvore-filtro, por uma chuva de sementes específica, determinada pela fenologia e oferta de recurso característica de cada árvore-filtro, pelo ataque de patógenos e predadores associadas a cada espécie-filtro, ou pelo conjunto de todas essas causas. (Vázquez-Yanez, et a.,1990; Molofsky & Augspurger, 1992, Metcalfe. & Turner, 1998). Esse efeito de filtragem, poderia assim, determinar quais indivíduos e espécies iriam sobreviver no sub-bosque sob os diferentes filtros que constituem o dossel, podendo influenciar a densidade c a composição de espécies do banco de plântulas, dos juvenis e dos adultos, determinando inclusive os seus padrões espaciais. Embora o efeito de filtragem não necessariamente se restrinja ao dossel (George & Bazzaz, 1999a,b), este fato não quer dizer que o dossel não possa ser o filtro principal da floresta, uma vez que a sua influência agiria durante anos ou décadas. Dessa forma, o efeito filtro exercido pela composição e estrutura do dossel atual, poderia condicionar não apenas a biodiversidade atual, mas inclusive a biodiversidade do futuro dossel da floresta. Essa hipótese de trabalh:) não contraria as observações que até aqui tem sido feitas sobre as fases de clareira e construção do ciclo de regeneração florestal, apenas refinam e complementarn a dinâmica da fase madura. Conclusão Abrem-se assim, novas perspectivas para a criação de modelos mais adequados à dinâmica das Florestas Estacionais brasileiras, quer seja, pelo detalhamento dos regimes de luz específicos a cada uma delas, e das respostas das espécies arbustivo-arbóreas a esses regimes, quer seja pela exploração da idéia de que as árvores do dossel funcionam como "Filtros da Biodiversidade" e que outros mosaicos, além dos já descritos poderiam estar condicionando, a composição, estrutura e dinâmica dessas florestas. Referências Bibliograficas CHAZDON, R.L. & PEARCY, R.W. (1991). Thc importance Cfsunflecks to forest undcrstory plants. BioScience 41 (11):760-766. CHOU, C-H. & YAM-LUN, K. (1986) Allelopathic research ofsubtropical 'D l/' 1:;;11 11 (1111, ri' 308 Ecossistemas Brasileiros: Manejoe Conservaçao Ecossistemas Brasileiros: Manejo e Conservaçao 309 11

vegetation in Tawain -: Allelopathic exclusion of undertory by LCUf'; leucocephala(lam.) de Wit. ~~:lurnalofchemical Ecology 12(6):1431-14/1/01 CNTRA, R. (1997) Leaf litter effects on seed and seedling predation of, lf' palm Astrocaryum murumuru and the legume tree Dipteryx micrantlm 111 Amazoniam forest. Joumal of Tropical Ecology 13:709-725. DOBSON. A. & CRAWLEY, M. (1994) Pathogens and the structurc 01 plant communities. Trends in Ecology and Evolution 9(10): 393-397. FACELL. ].M. & PCKETT. S.TA (1991a) Plant litter: ts dynamics aliei effects on Plant community structure. The Botanical Review 57(1):1-32, GANDOLF. S. (2000). História Natural de uma Floresta Estacion 11 Semidecidual no Município de Campinas (São Paulo. Brasil). Tese de Dou tarado, nstituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campl nas, SP. Va. 1 e 2, 520p. GANDOLF. S. (1991) Estudo florístico e Fitossociológico de uma floresta residual na Área do Aeroporto nternacional de São Paulo, município dr Guarulhos. SP. Dissertação de Mestrado. nstituto de Biologia. Universida de Estadual de Campinas, Campina. SP 232 p. GANDOLF. S.; LETÃO FLHO. H.E & BEZERRA., C.L.E (1995) Levantameneto florístico e caráter sucessional das espécies arbustivo-arbóreas de uma Floresta Mesófila Semidecídua no município de Guarulhos. Revista Brasileira de Biologia 55(4): 753-767 GEORGE. L.O. and BAZZAZ. E A. (1999a) The fem understory as an ecological filter Emergence and establishment of canopy-tree seedlings. Ecology 80(3):833-845. GEORGE, L.O. and BAZZAZ. E A.. (1999b) The fem understory as an ecological filter: Growth and survival of canopy-tree seedlings. Ecology 80(3):846-856 VANAUSKAS.N.M.; RODRlGUES.R.R. (2000) Florística e fitossociologia de remanescentes de floresta estacional decidual em Piracicaba. São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 23(3):291-304 VANAUSKAS, N.M.(2002) Estudo da vegetação na área de contato entre formações florestais em Gaúcha do Norte. MT. Tese de Doutorado. nstituto de Biologia. Universidade Estadual de Campinas, Campinas. SP ]ONES, C.G.; LAWTON. ].H. & SHACHAK, M. (1997) Positive and negative effects of organisms as physical ecosystem engeineers. Ecology 78(7):1946-1957. METACALFE, D.]. & TURNER,. M. (1998) Soil seedbank fram lowland rain forest in Singapore: canopy-gap and litter-gap demanders. Journal of 310 Ecossistemas Brasileiros: Manejo e Conservaçflo Tropical Ecology 14:103-108. MOLOFSKY,J. & AUGSPURGER.C.K. (1992). The effect ofleaflitter on early seedling establishme~t in a tropical forest. Ecology 73(1): 68-77. VAZQUEZ-YANEZ, C. OROSCO-SEGOVA. A.; RNCÓN. E.; SANCHES-CORONADO. M.E.; HUANTE, P.; TOLEDO. ].R. & BARRADAS, v.l. (1990) Light Beneath the litter in a tropical forest: Effect on seed germination. Ecology 75(1);1952-1958. WARDLE. D. A. & LAVELLE. P. (1997) Linkages between soil biota. plant litter quality and decomposition. n.: CADSCH. G. & GLLER. K.E. Driven by Nature: plant litter quality and decomposition. CAB ntemational. p.107-124. WATT. A.S. (1947) Pattern and process in plant community. ]oumal of Ecology 35:1-22. WHTMORE. T.C. (1996) A review of some aspects of tropical rain forest seedlings ecology with suggestions for further enquiry. n: SWANE, M.D. (ed.) The ecology oftropical forest tree seedungs. (Man & Biosphere Series; Vo. 18), UNESCO and The Parthenon Publishing. Group Ltda, Paris. France. p. 3-39. WHTMORE, T.C. (1990).An ntroduction to Tropical Rain Forests. Oxford University Press. Oxford. England. 226 p. WHTMORE, T.C. (1989) Forty years of Rain Forest ecology 1948-1988 in perspective. Geo]ouma119(4):347-360. ZNKE. P. ]. (1962) The pattern on influence of individual forest trees on soil properties. Ecology 43(1): Ecossistemas Brasileiros: Manejo e Conservaçflo 311