Avaliação do banco de sementes em uma área preservada e uma área degradada de Floresta de Restinga na Ilha do Cardoso, SP.
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- Sabina Mirandela de Miranda
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1 Avaliação do banco de sementes em uma área preservada e uma área degradada de Floresta de Restinga na Ilha do Cardoso, SP. Aluna: Alexandra Coraça de Freitas Orientador: Prof. Dr. Sergius Gandolfi Resumo As Florestas de Restinga estão entre os ecossistemas que mais correm risco de desaparecer no Estado de São Paulo, tanto pela sua pequena extensão territorial, quanto pela intensa pressão antrópica causada pela expansão desordenada das cidades litorâneas, e apesar disso, não há para o Estado, trabalhos sobre os processos que mantém naturalmente essas comunidades. Esse estudo será desenvolvido numa parcela permanente de 10,24 ha de floresta de Restinga situada na Ilha do Cardoso, no município de Cananéia (SP), e visa descrever o banco de sementes de espécies arbustivo-arbóreas presente nas áreas de sub-bosque e de clareira dessa floresta. Em cada umas das áreas dessa floresta, sub-bosque e clareiras, serão coletadas 50 amostras de cm³ (20x10x5cm), contendo a serapilheira superficial e o solo até 5cm de profundidade. As amostras serão acondicionadas em bandejas plásticas e serão mantidas num ripado em condições luz e temperaturas variáveis e sob irrigação diária. Cada amostra será observada por seis meses e as plântulas arbustivo-arbóreas emergidas em cada bandeja serão retiradas e identificadas taxonomicamente. A composição florística do banco, a densidade e a freqüência de plântulas emergidas de cada espécie servirão para evidenciar a presença e a variação espacial do banco entre e dentro de cada condição amostrada. 1. Introdução Em função do crescimento urbano, da especulação imobiliária, do aumento do turismo, da poluição e do extrativismo seletivo, a vegetação de restinga, ao longo de todo o litoral brasileiro, tem sido sistematicamente devastada.
2 A vegetação de restinga corresponde a um conjunto de comunidades vegetais fisionomicamente muito distintas entre si, que ocorrem em áreas com grande heterogeneidade ecológica, sob influência marinha e fluvio-marinha, e que se distribuem na forma de mosaicos, sendo caracterizada por ocorrer em solos arenosos, bem ou mal drenados, sujeitos a elevadas temperaturas, pobres nutrientes e com diferentes teores de salinidade, e que são classificadas como comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do solo que do clima (RIZZINI, 1963; LACERDA et al.,1982). Esse conjunto vegetacional heterogêneo, engloba as comunidades halófitas praianas, a floresta paludosa litorânea, a floresta paludosa marítima, floresta esclerófila litorânea, a floresta pluvial dos tabuleiros terciários, entre várias outras. As Florestas de Restinga das planícies litorâneas paulistas foram ainda relativamente pouco estudadas, sendo escassos e esparsos, na literatura, os trabalhos que descrevem a sua estrutura e composição. (BARROS et al., 1991; MANTOVANI, 1992; RAMOS NETO, 1993; SUGYAMA, 1993, 1998a,b; SUGYAMA & MANTOVANI, 1993; CÉSAR & MONTEIRO 1995, CARVALHAES, 1997; CARVALHAES & MANTOVANI, 1998, MELO et al., 1998; ASSIS, 1999; BATISTA, 2002). Se por um lado alguns estudos que descrevem a florística e a fitossociologia dessas florestas, inexistem ainda no Estado estudos que descrevam os processos ecológicos diretamente relacionados com a auto-perpetuação dessas comunidades, tais como a dispersão, o banco de sementes e a regeneração natural, aspectos importantes para garantir a preservação e ou recuperação desses ecossistemas. O banco de sementes do solo é a denominação dada ao estoque dinâmico de sementes viáveis, dormentes ou não, que chegam e permanecem no solo, após a dispersão, ou chuva de sementes; e que dele podem sair, pela germinação, senescência, predação ou ataque de patógenos (LECK et al., 1989). Até o presente alguns estudos sobre o banco de sementes já foram realizados em florestas paulistas: na Floresta Estacional Semidecidual (MIQUELIN et al, 1990; ROIZMAN 1993, GROMBONE-GUARANTINE, 1994, GANDOLFI, 2000, SANTOS, 2000, ROMMEL, 2001, GROMBONE-GUARANTINE & RODRIGUES, 2002), na Savana Florestada (Cerradão) (SASSAKI et al. 1999), na Floresta Ombrófila Densa (Mata
3 Atlântica) (BAIDER, 1994; BAIDER et al., 1999), mas nenhum ainda em Florestas de Restinga. No Estado de São Paulo, dada a intensidade das pressões antrópicas a que estão submetidas, e à pequena extensão territorial que representam, as Florestas de Restinga estão entre as mais ameaçadas de desaparecimento, podendo levar a uma significativa perda de parte da biodiversidade regional (RODRIGUES, & CARRASCO, 2000). O aumento do processo de destruição e fragmentação dos ecossistemas naturais tem levado à necessidade de melhor se compreender as características e a dinâmica das comunidades impactadas pela ação antrópica. Esses estudos formam então a base de programas que visam atenuar os impactos sofridos por esses comunidades ou então restaura-las. A restauração ecológica é campo da ecologia que tem se ocupado com esses tipo de pesquisas(allen et al., 1997; PALMER et al., 1997; BAKKER, et al., 1998). No Brasil, essa área tem crescido muito, e maior ênfase tem sido dada ao estudo sobre a regeneração de ecossistemas perturbados, como uma importante estratégia para se entender e promover, a baixo custo, a recuperação de áreas degradadas (MANTOVANI, 1998; RODRIGUES & GANDOLFI, 1996,1998, 2000). No entanto, dentre esses estudos poucos, até agora, foram os já realizados em comunidades de restinga submetidas a perturbações.(sá, 1993, 1996; ARAÚJO et al., 1997), sendo necessária ainda muita pesquisa para que se crie programas efetivos para a restauração das Florestas de Restinga do litoral paulista(rodrigues & CARRASCO, 2000). Embora haja uma grande carência de dados sobre a regeneração de áreas de restinga perturbadas no Estado, optou-se primeiramente por conhecer as características do banco de sementes de uma Floresta de Restinga não perturbada, para num estudo posterior se fazer o estudo em áreas de restinga degradadas. As florestas nativas constituem-se de mosaicos dinâmicos, formados por diferentes tipos de manchas(whitmore,1996; GANDOLFI, 2000), assim, uma melhor compreensão das características do banco de sementes de uma dada floresta deve contemplar a amostragem de áreas que apresentam condições microclimáticas distintas e
4 que são parcialmente diferentes, estrutural e floristicamente, ou seja, trechos recobertas pelo dossel (sub-bosque), bem como áreas onde ele está ausente (clareiras). O presente estudo visa descrever o banco de sementes de espécies arbustivoarbóreas presente nas áreas de sub-bosque e de clareiras de uma Floresta de Restinga existente na Ilha do Cardoso, no município de Cananéia (SP). 2 - Objetivos O objetivo geral desse trabalho é descrever o banco de sementes de espécies arbustivo-arbóreas de uma de Floresta de Restinga existente na Ilha do Cardoso, no município de Cananéia (SP). Os objetivos específicos são, descrever a composição florística, a densidade de cada espécie, e a heterogeneidade espacial do banco de sementes arbustivo-arbóreo, em duas condições existentes nessa floresta, o sub-bosque e as clareiras, e compará-los com outros estudos de banco de semente feitos em outras florestas paulistas, tanto para o conhecimento do banco dessa formação, quanto para acumular informações úteis para programas de recuperação de áreas de Floresta de Restinga no Estado. 3 - Material e Métodos A Ilha do Cardoso situa-se no município de Cananéia, extremo sul do litoral do Estado de São Paulo entre os paralelos e os meridianos , pertencendo ao complexo estuarino-lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá. Com uma área de aproximadamente ha, a maior parte de sua topografia é montanhosa, e suas planícies de restinga estão alocadas a norte, nordeste, sudeste e sul. (BARROS et al., 1991) O clima na Ilha do Cardoso se caracteriza por elevada umidade relativa e pluviosidade, precipitação anual varia entre 1800 e 2000 mm. A temperatura média local varia entre 19 0 C e 27 0 C, não existindo uma estação seca. O clima local, segundo a classificação de Köeppen,é do tipo Cfa, mesotérmico úmido (SETZER, 1966).
5 Nas meias encostas e morros isolados predominam solos profundos e bem drenados, formados a partir de rochas granito-gnaisse e que apresentam alto teor de argila, baixo ph, coloração alaranjada, e baixa fertilidade, enquanto nas planícies são aluviais os solos provenientes de material não consolidado de deposição recente, são caracterizados pelo alto teor de areia, baixos teores de argila e silte e baixa fertilidade (BARROS, et al. 1991, SUGYAMA,1993). As comunidades vegetais de restinga cobrem a maior parte da planície arenosa da Ilha do Cardoso, são bastante diversificadas e estão relacionadas principalmente com as características do substrato. Apresentam-se como um complexo de diferentes comunidades vegetais, incluindo vegetações ralas e de pequeno porte, restinga de mirtáceas, vegetação de porte mais elevado e uma vegetação de transição para a mata, formações estas que se interpenetram. (BARROS, et al. 1991). Este estudo será realizado numa planície recoberta pela Floresta de Restinga, onde está sendo desenvolvido parte do projeto temático de pesquisa: Diversidade, Dinâmica e Conservação em Florestas do Estado de São Paulo: 40 ha de Parcelas Permanentes, pertencente ao Programa Biota /Fapesp. Na área de Floresta de Restinga que será aqui estudada, apresenta um dossel variando em trono de 15m, nela foi estabelecida, ao longo dos anos de 2001 e 2002, uma parcela permanente de 10,24 ha, onde foram encontrados indivíduos arbustivoarbóreos com DAP (diâmetros a altura do peito) 4.8 cm, ou PAP (perímetro a altura do peito) 15 cm, cuja identificação parcial (> 80% dos indivíduos) revelou pertencerem a pelo menos espécies 63 espécies, presentes em 23 famílias, 48 gêneros. O conjunto de estudos em curso nessa área fornecerão até fins de 2.003, entre outros, dados sobre os solos e os padrões de luz aí existentes, informações que poderão ser utilizadas nas análise dos resultados relativos ao banco de sementes local. Visando descrever a variação espacial do banco de sementes local e com o auxílio de um coletor de metal de dimensões 20x10x5cm, serão coletadas 100 amostras de serapilheira e solo. A amostragem será realizada em março de 2003, por toda a área da parcela permanente (10,24 ha), onde serão retiradas 50 amostras aleatórias de cada uma das duas condições de interesse, sub-bosque e clareiras.
6 No campo, uma vez coletadas as amostras, estas serão colocadas em sacos plásticos e etiquetadas, para serem transportadas para o ripado do Departamento de Ciências Biológicas da ESALQ/USP, em Piracicaba(SP). Nesse ripado cada amostra será transferida para uma bandeja plástica (28x20x7cm), onde será mantida, por seis meses, sob irrigação diária, em condições de temperatura e luz variáveis. Junto ás bandejas com solo, serão colocadas também, bandejas contendo areia esterelizada dispostas aleatoriamente, para o controle da eventual contaminação das amostras pela chuva de sementes local. As espécies observadas nas bandejas com areia serão descartadas dos resultados obtidos nas amostras do banco. Semanalmente será acompanhada a emergência das plântulas nas bandeja, as plântulas emergidas quando atingirem pelo menos 5 cm serão coletadas para serem posteriormente identificadas taxonomicamente. Parte das plântulas retiradas serão colocadas em sacos plásticos com solo e serão mantidas em viveiro para favorecer o seu crescimento e facilitar o processo de identificação, enquanto as demais plântulas serão prensadas e secas para as análises posteriores. Após três meses, visando estimular a eventual germinação de sementes que possam ter ficado enterradas ou sombreadas, e que ainda não germinaram, todas as plântulas emergidas serão retiradas e o solo das amostras será revolvido e mantido, por mais três meses sob observação. A identificação das plântulas será realizada de acordo com a metodologia tradicional, e baseada em comparações com as exsicatas pertencentes ao herbário ESA do Departamento de Ciências Biológicas da ESALQ/USP, que dispõe exsicatas da flora existente no local em estudo. Os resultados obtidos em termos de composição florística, densidade de indivíduos por espécie, heterogeneidade espacial serão comparados entre as condições amostradas. Inexistindo ainda qualquer dado sobre o banco de sementes de Florestas de Restinga, os resultados aqui obtidos serão comparados com aqueles já disponíveis sobre estudos de banco de semente feitos em outras formações florestais paulistas. 4 - Cronograma
7 Atividades M A M J J A S O N D J F Coleta das amostras X Acompanhamento das amostras X X X X X X X Identificação das plântulas X X X X X X X X Revisão bibliográfica X X X X X X X X X X X Análise dos dados X X X X X X X X X X Relatório parcial X Relatório final do trabalho X 5 Referências Bibliográficas ALLEN, E.B.; COVINGTON, W.W. & FALK, D.A. (1997) Developing the concept basis to restoration ecology. Restoration Ecology 5(4): ARAÚJO, D.S.D., OLIVEIRA, R.R., LIMA, E. & RAVELLI NETO, A. (1997) Estrutura da vegetação e condições edáficas numa clareira de mata de restinga na Reserva Biológica Estadual de Praia do Sul (RJ) Revista Brasileira de Ecologia 1: ARAÚJO, D.S.D., OLIVEIRA, R.R., LIMA, E. & RAVELLI NETO, A. (1997) Estrutura da vegetação e condições edáficas numa clareira de mata de restinga na Reserva Biológica Estadual de Praia do Sul (RJ) Revista Brasileira de Ecologia 1: ASSIS, M. A. (1999) Florística e Caracterização das Comunidades da Planície Litorânea de Picinguaba, Ubatuba SP. Dissertação de Mestrado, Instituto de Biologia, UNICAMP, Campinas, SP, 227p. BAKKER, J.P., van ANDEL, J. & van der MAAREL, E. (1998) Plant species diversity and restoration ecology: Introduction. Applied Vegetation Science 1:5-8. BAIDER, C. (1994) O banco de sementes e plântulas na sucessão da Mata Atlântica. Dissertação de Mestrado, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 137p. BAIDER, C., TABARELLI, M. & MANTOVANI, W. (1999) O banco de sementes de um trecho de Floresta Atlântica Montana (São Paulo, Brasil). Revista Brasileira de Biologia 59(2): BATISTA, F.R.Q.(2002) Caracterização Florística e estrutural em Áreas Abandonadas de Agricultura Itinerante em Cananéia, SP. Dissertação de Mestrado, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 75p.
8 BARROS, F. de, MELO, M.M.R.F. de. CHIEA, S.A.C., KIRIZAWA, M., WANDERLEY. M.G.L. & JUNG-MENDONÇALLI, S.L. (1991) Caracterização geral da vegetação e listagem das espécies ocorrentes. Flora Fanerogâmica da Ilha do Cardoso 1: CARVALHAES, M. A. (1997) Florística e Estrutura de uma Mata sobre Restinga na Juréia, Iguape, SP. Dissertação de Mestrado, Instituto de Biociências USP, São Paulo, SP, 106p. CARVALHAES, M. A. & MANTOVANI, W. (1998) Florística de Mata sobre restinga na Juréia, Iguape, SP. Anais do 4º Simpósio de Ecossistemas Brasileiros, Publicação ACIESP nº 104, Vol. II, p CESAR, O. & MONTEIRO, R. (1995) Florística e Fitossociologia de uma floresta de restinga em Picinguaba (Parque Estadual da Serra do Mar), município de Ubatuba SP. Naturalia 20: GANDOLFI, S. (2000) História Natural de uma Floresta Estacional Semidecidual no Município de Campinas (São Paulo, Brasil). Tese de Doutoramento, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 520p. GROMBONE-GUARATINI, M.T. & RODRIGUES, R. R. & (2002) Seed bank and seed rain in a semideciduous mesophytic forest, South-easern Brazil. Journal of Tropical Ecology (in press) GROMBONE-GUARATINI, M.T. (1994) Banco de Sementes de uma Floresta Ripária no Rio Mogi-Guaçú, Município de Mogi-Guaçú, SP. Dissertação de Mestrado, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 124p. LACERDA, L.D. & ARAÚJO, S.D.S.(orgs.) (1984) Restinga: Origem, Estrutura. Processos, CEUFF, Niterói, 320p. LECK, M.A.; PARKER, V.T. & SIMPSON, R. (eds.) (1989) Ecology of soil seed banks. Academic Press. 462 p. MANTOVANI, W. (1992) A vegetação sobre Restinga em Caraguatatuba, SP. Anais do 2º Congresso Nacional sobre Essências Nativas. p MANTOVANI, W. (1998) Recuperação e monitoramento de ecossitemas: Escalas de abordagem. Anais do IVº Simpósio de Ecossistemas Brasileiros Publicação ACIESP nº 104, vol. V, p MELO, M.M.R.F., OLIVEIRA, R.J. ROSSI, L.. MAMEDE, M.C.H. & CORDEIRO, I. (1998) Fitossociologia de um trecho de mata atlântica na planície do Rio Verde, Estação Ecológica de Juréia Itatins, SP, Brasil. Anais do 4º Simpósio de Ecossistemas Brasileiros, Publicação ACIESP nº 104, Vol. II, p
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