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Transcrição:

O Modelo Malthusiano Para começar nosso estudo de modelos matemáticos para populações, vamos estudar o modelo mais simples para mudanças no tamanho de uma população, que chamaremos de modelo malthusiano. Quando estudamos o tamanho N de uma população de organismos, estamos interessados em acompanhar o seu valor a intervalos de tempo iguais. Portanto, precisamos definir uma unidade de tempo. Dependendo do organismo essa unidade pode ser uma hora, um dia, um mês, um ano, etc. Para nós aqui ela será apenas indicada como unidade de tempo. Para acompanhar a mudança do tamanho da população ao longo do tempo usa-se a quantidade denotada por ΔN, que é um símbolo matemático para indicar a variação no número de indivíduos (N) da população ao final de uma unidade de tempo.

Se ao final de uma unidade de tempo a população cresceu ΔN será positiva, e se a população diminuiu ΔN será negativa. Note que estamos nos referindo a ΔN como a variação no tamanho N da população a uma dada unidade de tempo (um dia, mês, etc). Portanto, ΔN exprime uma taxa de variação e é medida em unidades de número de indivíduos por unidade de tempo. Para começar a modelar a variação no tamanho de uma população, deve-se primeiro modelar os fatores que causam essa variação. Uma hipótese comum é a de que a taxa de crescimento é dada pela diferença entre a taxa de adição de indivíduos devida a nascimentos e imigrações e a taxa de subtração de indivíduos devida a mortes e emigrações. Pode-se expressar essa hipótese de maneira concisa usando a fórmula matemática,

Δ N = B + onde B, I, D e E representam, respectivamente, as taxas de nascimentos, imigrações, mortes e emigrações por unidade de tempo. I D E, A razão pela escolha das letras vem da língua inglesa (births, immigrations, deaths e emigrations). Para progredir na análise de um modelo, costuma ser útil fazer alguns dos fatores constantes, ou eliminá-los completamente para se estudar o efeito dos fatores restantes. Usando esse método, pode-se fazer a hipótese de que a população está isolada do mundo exterior, de maneira que I = 0 e E = 0. Por exemplo, pense em uma população de insetos criada em um ambiente fechado em laboratório. Uma simplificação como essa é comum na construção de modelos matemáticos.

A omissão de certos detalhes em um modelo matemático não significa que eles não são importantes. A ideia é desconsiderar esses detalhes numa primeira versão do modelo para ver até onde se consegue chegar sem eles. Muitas vezes se consegue explicar muitos fenômenos observados sem considerar todos os detalhes reais de um sistema biológico. Posteriormente, depois que o modelo simples sem os detalhes foi bem entendido, os detalhes deixados de lado são incluídos para ver o que eles trazem de novo ao modelo. Para fazer uma analogia, podemos encarar um modelo com suas simplificações como um experimento controlado em que certos fatores considerados importantes pelo experimentador são eliminados ou têm sua influência reduzida no experimento, devido ao seu desenho, para que outros fatores possam ser estudados sem sofrer interferências.

Para continuar com a construção do modelo malthusiano, notemos que as quantidades de nascimentos e de mortes em um dado intervalo de tempo dependem do número de indivíduos na população. Quanto mais organismos houver, maiores serão os números de indivíduos que nascem e morrem. Uma maneira de reescrever a equação do modelo de modo a deixar isso explícito é usando as taxas médias de nascimentos e mortes por unidade de tempo por indivíduo da população. Elas são definidas como: e B número total de nascimentos por unidade de tempo b = = N número total de indivíduos D número total de mortes por unidade de tempo d = = N número total de indivíduos. As variáveis b e d costumam ser usadas na prática para caracterizar as taxas de nascimentos e de mortes das populações.

Elas são chamadas, respectivamente, de taxas de nascimento e de mortes per capita. Note que, pelas suas próprias definições, b e d devem satisfazer as condições: b 0; 0 d 1. Pense um pouco e responda, porque b pode ser maior que 1, mas d não pode? E porque os dois não podem ser menores que zero? Usando um dia como unidade de tempo, faça uma pesquisa e encontre valores típicos de b e d para elefantes, peixes, insetos e bactérias. A partir das definições de b e d podemos escrever as variáveis B e D que aparecem na equação do modelo malthusiano como, B = bn e D = dn, de maneira que a equação do modelo pode ser reescrita como

Δ N onde fizemos I = E = 0. = bn dn, Essa equação ainda pode ser reescrita na forma, Δ N = ( b d) N. O termo (b d) é tão importante em biologia de populações que recebe um nome e um símbolo específicos. Ele é chamado de taxa de crescimento geométrico e é denotado por R (a razão do nome geométrico será esclarecida mais tarde): R b d. Portanto, podemos escrever a equação do modelo malthusiano como, Δ N = RN. O que essa equação diz é que, dado um valor atual para a população N e taxas de fecundidade e de mortalidade per capita b e d, podemos prever a variação na população ΔN após uma unidade de tempo.

Por exemplo, se N = 1000, b = 0,2 e d = 0,05, a mudança no valor da população após uma unidade de tempo será: ( 0,2 0,051000 ) = 150 ΔN =. Portanto, a população no começo da próxima unidade de tempo será N + ΔN = 1000 + 150 = 1150. Vamos passar a utilizar uma outra notação para tornar as coisas mais simples. Vamos definir: N t = N(t) = tamanho da população no instante de tempo t, de maneira que, ΔN t = N t+1 N t. Com esta nova notação podemos reescrever a equação do modelo malthusiano como ou Δ N t = RN t Nt 1 Nt = RNt Nt+ 1, = N + RN + t t ( 1 ) N. N t + 1 = + R t

A quantidade (1+R) também recebe o seu próprio símbolo (λ) e nome, taxa finita de crescimento: λ 1+ R = 1+ b d. A razão para o nome finita também será vista mais tarde. Finalmente, o modelo malthusiano pode agora ser sintetizado pela expressão, N = λn. t+ 1 t (1) Para os valores N 0 = 1000, b = 0,2 e d = 0,05 usados anteriormente, esta equação nos dá: N = 1,15N, N = 1000 t+ 1 t 0. A equação (1), que relaciona N t+1 com N t é de um tipo chamado em matemática de equação de diferenças finitas. Ela nos diz que: O próximo valor de N é igual a λ vezes o valor atual de N.

Para a equação (1) ser resolvida, é preciso saber qual o valor de N no instante em que se começa a contar o tempo (o instante inicial). A equação que dá o valor de N 0 é chamada de condição inicial. Aplicando-se a equação do modelo malthusiano várias vezes a partir do instante inicial, pode-se deduzir uma expressão que relaciona o valor de N para qualquer instante t no futuro em função do valor de N no instante inicial: N 1 = λn 0 ; N 2 = λn 1 = λ(λn 0 ) = λ 2 N 0 ; N 3 = λn 2 = λ[λ 2 N 0 ] = λ 3 N 0 ;... N t = λ t N 0. Note que esta é a equação de uma progressão geométrica (PG) de razão λ. É por isso que a quantidade R = b d foi chamada de taxa de crescimento geométrico.

O modelo construído prediz que a variação da população ocorre segundo uma progressão geométrica. O modelo é chamado de malthusiano porque está associado ao nome de Thomas Malthus (1766-1834), reverendo inglês que propôs esse modelo para o crescimento da população humana. Dados valores numéricos para λ e N 0, pode-se usar a equação acima para calcular os vários valores de N para todos os instantes de tempo no futuro que sejam múltiplos da unidade de tempo. Por exemplo, para os valores do nosso exemplo (λ = 1,15 e N 0 = 1000): Tempo População 0 1000 1 1150 2 1323 3 1521 4 1749

5 2011 6 2313 7 1660 8 3059 9 3518 10 4046 Note que os valores de N foram arredondados para não terem casas decimais, pois o tamanho de uma população (número de indivíduos) só pode ser um número inteiro. Os valores da tabela acima podem ser colocados em um gráfico, o que permite uma visualização da maneira como ocorre o crescimento geométrico da população. Modelo Malthusiano (Geométrico) Tamanho da População 70000 60000 50000 40000 30000 20000 10000 0 0 5 10 15 20 25 30 Tempo (t)

Modelo Malthusiano: Exemplo 1 Suponha que uma certa espécie de inseto tenha um ciclo de vida muito rígido: cada fêmea põe 200 ovos e depois todas as fêmeas adultas morrem. Após a chocagem dos ovos, apenas 3% sobrevivem para se tornar fêmeas adultas, sendo que o resto morre ou são machos. Para escrever uma equação de diferenças finitas para a população de fêmeas, vamos medir t em gerações. Pelos dados do exemplo, a taxa de mortalidade de fêmeas é d = 1 (todas as fêmeas morrem ao final de uma unidade de tempo), enquanto que a taxa de fecundidade per capita de fêmeas é b = 0,03(200) = 6. Logo, a nossa equação será: ( 1+ b d) N = ( 1+ 6 1) N 6N. N = = t+ 1 t t t Pergunta: Segundo o modelo, a população vai crescer ou diminuir com o tempo?

Para responder à pergunta, devemos analisar o valor do parâmetro λ (a taxa finita de crescimento). No nosso caso, λ = 6. Observando a equação, notamos que podem haver três tipos de comportamentos diferentes para a solução da equação, dependendo do valor de λ: Decaimento: Se 0 < λ < 1 N t+1 < N t. Isto quer dizer que o tamanho da população a cada geração será menor que o tamanho da população na geração anterior. A população diminui com o tempo. O gráfico abaixo mostra um exemplo disso para o caso em que λ = 0,9 e N 0 = 1000. Exemplo: lambda = 0,9 1200 1000 800 N 600 400 200 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 t

Note que eventualmente o valor de N t chega a zero, indicando que a população torna-se extinta. Crescimento: Se λ > 1 N t+1 > N t. Isto quer dizer que o tamanho da população a cada geração será maior que o tamanho da população na geração anterior. A população aumenta com o tempo. O gráfico abaixo mostra um exemplo disso para o caso em que λ = 1,1 e N 0 = 1000. Exemplo: lambda = 1,1 20000 N 10000 0 0 10 20 30 40 t

Note que o tamanho da população cresce sem limite de geração para geração. Dizemos que o tamanho da população explode em direção ao infinito ( ). Estado Estacionário: Quando λ = 1 N t+1 = N t. Isto quer dizer que o tamanho da população permanece constante a cada geração. Esta é uma solução muito particular da nossa equação, pois ocorre apenas para um único e exato valor de λ, enquanto que os outros dois tipos de solução (decaimento e crescimento) podem ocorrer para uma faixa de valores de λ. O gráfico abaixo mostra um exemplo disso para o caso em que λ = 1 e N 0 = 1000. Exemplo: lambda = 1 2000 N 1000 0 0 10 20 30 t

Este tipo de comportamento em que o tamanho da população permanece constante ao longo do tempo é chamado de estado estacionário. Agora podemos responder à pergunta. Como no caso do exemplo λ = 6, que é um número maior que zero, a população cresce. Podemos ver isso pelo gráfico a seguir, onde λ = 6 e N 0 = 1000. Exemplo: lambda = 6 N 1000000000 900000000 800000000 700000000 600000000 500000000 400000000 300000000 200000000 100000000 0 0 2 4 6 8 10 t Observe que neste caso, como λ = 6 é bem maior do que 1, a explosão em direção ao infinito acontece de maneira bem mais rápida do que no exemplo anterior.

Note que a própria escala do eixo vertical (eixo-y) teve que ser alterada para que fosse possível visualizar alguns pontos do gráfico (o valor inicial N 0 = 1000 nem é visível na escala do gráfico, confundido-se com zero). É por isso que é conveniente usar escalas logarítmicas para representar graficamente funções que variam por muitas ordens de grandeza. Transformando a escala do eixo-y para logarítmica, o gráfico do nosso exemplo fica como abaixo:

Pergunta: Qual é a condição para que a população permaneça no estado estacionário? O estado estacionário é a situação em que o tamanho de população permanece constante ao longo das gerações. Vimos acima que ele só ocorre para um único valor de λ, que é λ = 1. Temos que, λ = 1+ b d = 1 b d = 0 b = d. Portanto, a condição para que exista um estado estacionário na população de fêmeas é a de que as taxas de fecundidade e de mortalidade per capita de fêmeas sejam iguais. Você deve estar se perguntando por que os machos foram ignorados neste modelo. Isto é um exemplo de simplificação de um modelo, conforme mencionado nas aulas passadas.

A hipótese implícita nesta simplificação é a de que, para essa espécie de insetos, o número exato de machos tem pouco efeito sobre o crescimento da população. Pode ser que se saiba que o número de machos seja sempre aproximadamente igual ao número de fêmeas, de maneira que basta conhecer o número de fêmeas para se ter a população total (2x o número de fêmeas). Ou pode ser que pouco importa se o tamanho da população de machos é maior ou menor do que o tamanho da população de fêmeas, desde que se saiba que o número de machos é sempre suficiente para manter a população de fêmeas se reproduzindo do mesmo jeito. Tanto num caso como no outro, a população de fêmeas é que é importante para se determinar o comportamento de longo termo da população de insetos.

Você também poderia perguntar por que o modelo não leva em consideração outros fatores que afetam a população de insetos. Por exemplo, pássaros comem insetos e, portanto, a população de insetos deve depender do tamanho da população de pássaros. E a população de pássaros, por sua vez, depende de uma série de outros fatores do ecossistema. Se quiséssemos fazer um modelo que considerasse todos os possíveis fatores que afetam a população de insetos, muito provavelmente não conseguiríamos ir muito longe. Portanto, decidiu-se começar por este modelo simplificado em que o tamanho da população de fêmeas em uma geração t + 1 depende apenas do tamanho da população de fêmeas na geração t.

Agora que já vimos um exemplo de uma equação de diferenças finitas, podemos tentar definir de uma maneira matematicamente mais rigorosa o que é uma equação de diferenças finitas. Uma equação de diferenças finitas é uma fórmula que expressa valores de alguma quantidade Q em termos de valores anteriores de Q, sendo que o tempo é medido em intervalos discretos (isto é, pulando de uma unidade em uma unidade, por exemplo, 1 dia, 2 dias etc). Uma equação de diferenças finitas pode ser escrita como, Q = f ( Q ), t+ 1 t onde f(x) é uma função qualquer. Q t costuma ser chamado de estado do sistema no instante t e a evolução temporal de Q t, isto é, a maneira como ele varia no tempo é chamada de dinâmica do sistema.

No caso do modelo malthusiano, N = λn t+ 1 t a função f(x) é uma função linear:, f ( x) = λx. Por causa disso, o modelo malthusiano de modelo linear. Se a função f(x) não fosse linear, por exemplo, uma função quadrática, f ( x) = λx 2, de maneira que, N = λ 2 ( N ), t+ 1 t teríamos um modelo não-linear. Este é um ponto para tomar cuidado: embora a solução do modelo malthusiano seja uma progressão geométrica (um crescimento exponencial), o modelo é chamado de linear, por causa da forma da equação.

Quando se usa equações de diferenças finitas para modelar sistemas naturais, em geral há dois problemas com os quais temos que nos deparar: (1) Como encontrar uma equação de diferenças finitas apropriada para modelar uma dada situação? Em geral, aprende-se a modelar com equações de diferenças finitas pelo estudo de modelos desse tipo desenvolvidos por outros. Mesmo assim, quando se tem que encarar um problema completamente novo costuma ser difícil encontrar um bom conjunto de equações de diferenças finitas para modelá-lo. (2) Como fazer para entender os resultados fornecidos por um modelo de equações de diferenças finitas? Isto também não é uma tarefa fácil e, em geral, não se consegue encontrar uma solução para as equações do modelo de forma explícita como no caso do modelo malthusiano. Em geral, o que se consegue fazer é organizar as possíveis soluções em classes com comportamentos típicos. Isso é uma espécie de taxonomia das soluções das equações do modelo.

Por exemplo, no exemplo desta aula vimos que o modelo malthusiano possui três tipos diferentes de soluções possíveis: decaimento, crescimento e estado estacionário. Vimos também que o que determina se o comportamento da solução vai ser de um tipo ou de outro é o valor do parâmetro λ: Se λ < 1 teremos um decaimento, se λ = 1 teremos um estado estacionário, e se λ > 1 teremos um crescimento. Portanto, mesmo que não fosse possível obter uma forma explícita para N t+1 em função de N t, o conhecimento do valor de λ já seria suficiente para que se pudesse ter uma idéia qualitativa de como a população de fêmeas se comportará ao longo do tempo, o que muitas vezes já é um conhecimento muito útil. Dizemos que esse tipo de conhecimento corresponde a um estudo qualitativo das soluções do modelo e existe todo um campo da matemática dedicado ao estudo qualitativo das soluções de equações.