EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 05ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SALVADOR: PROCESSO N.º 0139615-46.2007.8.05.0001 ASSOCIACAO DOS OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA BAHIA, já qualificada, por seu advogado que esta subscreve, constituído nos autos da AÇÃO CIVIL COLETIVA proposta por si em face de ESTADO DA BAHIA, vem à presença de V. Exa., respeitosamente, MANIFESTAR-SE SOBRE A DOCUMENTAÇÃO JUNTADA PELO ESTADO DA BAHIA para informar que não houve o cumprimento integral da obrigação de fazer, expondo e requerendo o que se segue. Em que pese o Estado da Bahia ter alegado que teria havido o cumprimento da obrigação de fazer, na realidade esta ainda não foi integralmente cumprida. De fato, observando-se a documentação juntada pelo réu, constata-se que o mesmo, ao implantar o reajuste de 10,06%, estabeleceu várias restrições que não constaram nem na sentença, nem no acórdão, tudo com o claro objetivo de diminuir o impacto financeiro da concretização da medida em detrimento do que foi decidido nos autos. As restrições que foram impostas unilateralmente pelo Estado da Bahia, que foram resumidas no documento denominado por Ações da SAEB para cumprimento de decisão judicial... são as seguintes: a) apesar da sentença não estabelecer qualquer discriminação entre os associados da autora, o Estado da Bahia limitou-se a implantar o reajuste apenas aos policiais militares que já eram associados quando do ajuizamento da ação. Aqueles que se associaram depois foram excluídos,
seja porque não eram policiais militares, sejam porque, embora o fossem, não eram associados; b) apesar da sentença ter determinado a integração do reajuste à GAP para todos os efeitos legais, os policiais militares que estão sendo promovidos, por exemplo, estão a receber o valor referente ao posto anterior. Isso porque foi implantado o valor nominal e não o reajuste sobre a GAP atualmente recebida; c) pelo mesmo motivo, o reajuste não está incidindo sobre a GAP IV e também não incidirá sobre a GAP V, apesar da sentença não ter estabelecido qualquer limitação neste sentido; d) finalmente, o reajuste não está incidindo sobre a substituição; DA ALEGAÇÃO DE QUE O REAJUSTE SÓ DEVE SER PAGO AOS POLICIAIS MILITARES QUE ERAM ASSOCIADOS QUANDO DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. Ora, quanto à primeira restrição apontada, basta a simples leitura da sentença para perceber que em momento algum este M.M. Juízo estabeleceu implícita ou expressamente qualquer restrição neste sentido. Além do mais, seja na contestação, seja do recurso de apelação, tal restrição jamais foi objeto de discussão. Nem mesmo quando o Estado da Bahia foi citado para cumprir o julgado conforme planilhas de fls. 230/246 - que representavam, na época, a totalidade dos associados até então inscritos houve a interposição de embargos. É bom lembrar que o pedido formulado na inicial foi no sentido de que fosse declarada ilegal a redução operada pela Lei 8.889/2003 nos valores da GAP devidos aos associados da Autora (...) reconhecido o direito dos associados da Autora, oficiais da Polícia Militar do Estado Bahia, ao reajuste de 10,06%. Tal pedido, conforme se verifica da leitura da sentença, foi julgado PROCEDENTE. Inclusive, quando da sentença, este M.M. Juízo por diversas vezes se manifestou fazendo alusão aos associados da autora, sem contudo, estabelecer expressamente qualquer distinção entre os mesmos:
ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA BAHIA, com qualificação nos autos, propôs Ação Ordinária contra o ESTADO DA BAHIA, para que seja reajustado o valor da GAPM pelos seus associados na proporção do aumento dos soldos, promovida pela Lei nº 8.889/2003.Aduz que seus associados são policiais militares (...) (grifo nosso) A autora ajuizou a presente demanda com o escopo de ver incluídos na remuneração dos seus associados os valores referentes à Gratificação de Atividade Policial Militar GAPM, na forma do reajuste dos soldos promovido pela Lei nº 8.889/2003 (...) JULGO PROCEDENTES os pedidos formulados, condenando o réu no pagamento do reajuste da GAPM, segundo o percentual da revisão dos soldos implementada pela Lei n 8.889/2003, considerando-se o nível em que é percebida pelos substituídos pela autora e o posto que ocupam, integralizando-o definitivamente aos seus vencimentos, para todos os efeitos legais; incidindo sobre os demais reajustes que ocorreram a partir de janeiro de 2004 e os que vierem a incidir durante o curso do processo É verdade que a disposição mencionada pelo Estado da Bahia, constante no art. 2º-A, da Lei 9.494/97 estabelece que a sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. Entretanto, tal disposição ou mesmo a restrição dela decorrente nunca foi objeto de discussão nos autos. O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, analisando especificamente esta matéria, já se posicionou sobre o tema, tendo decidido que se a sentença não estabelece qualquer discriminação entre os associados, não há porque incluir novos associados que tenham se filiado após o ajuizamento da ação. De fato: DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE INDIVIDUAL PARA EXECUÇÃO DE TÍTULO OBTIDO EM AÇÃO COLETIVA. INTEGRANTE NÃO FILIADO À ASSOCIAÇÃO DE CLASSE NO MOMENTO DO AJUIZAMENTO.
RECONHECIMENTO. 1. Esta Corte, filiando-se ao entendimento sufragado pelo Supremo Tribunal Federal, afirmou a legitimidade ativa ad causam dos sindicatos e entidades de classe para atuarem na defesa de direitos e interesses coletivos ou individuais dos integrantes da categoria que representam. Também afastou a necessidade de autorização expressa ou relação nominal dos associados, por se tratar de substituição processual. 2. Estabelecido no título executivo que a sentença contemplava os associados, o servidor público integrante da categoria beneficiada, desde que comprove essa condição, tem legitimidade para propor execução individual. 3. Impossibilidade de restrição, na fase de execução, dos efeitos de sentença proferida em ação coletiva, ainda que o exequente tenha se filiado à associação de classe após o ajuizamento da ação de conhecimento. Precedentes. 4. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1153359/GO, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 16/03/2010, DJe 12/04/2010 grifo nosso) ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. REPRESENTAÇÃO DE TODA A CATEGORIA PROFISSIONAL INCLUSIVE DE FILIADOS APÓS O MANDADO DE SEGURANÇA. 1. A coisa julgada formada em ação coletiva ajuizada por sindicato não se restringe somente àqueles que são a ele filiados, já que a entidade representa toda a sua categoria profissional. Precedentes. 2. É evidente que, se os efeitos da sentença não se restringem aos filiados, mas, sim, afetam a toda a categoria representada pelo sindicato, também são beneficiadas as pessoas filiadas após o ajuizamento do mandado de segurança. Pedido de reconsideração improvido. (RCDESP no AREsp 202.127/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/10/2012, DJe 24/10/2012 GRIFO NOSSO)
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535, II DO CPC NÃO CONFIGURADA. ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO ACOBERTADA PELA COISA JULGADA. FUNDAMENTO AUTÔNOMO E SUFICIENTE À MANUTENÇÃO DO ARESTO E NÃO IMPUGNADO NO RESP. SÚMULA 283/STF. AÇÃO COLETIVA AJUIZADA POR ASSOCIAÇÃO CLASSISTA. LEGITIMIDADE DO INTEGRANTE DA CATEGORIA PARA PROPOR EXECUÇÃO INDIVIDUAL DO JULGADO. RECURSO ESPECIAL DA UNIÃO DESPROVIDO. 1. Não se conhece da alegada afronta ao art. 535, II do CPC quando a parte recorrente se limita a afirmar, genericamente, sua violação sem, contudo, demonstrar especificamente quais os temas que não foram abordados pelo acórdão recorrido. A deficiência na fundamentação do recurso atrai a aplicação, por analogia, da vedação prescrita pela Súmula 284 do STF. 2. O Tribunal de origem afastou a ocorrência de prescrição por entender que a questão encontra-se acobertada pela coisa julgada. Referido fundamento, suficiente por si só à manutenção do julgado, no ponto, não foi especificamente impugnado pela recorrente em seu Recurso Especial, o que atrai a incidência, por analogia, da Súmula 283 do Pretório Excelso. 3. A indivisibilidade do objeto da ação coletiva, na maioria das vezes, importa na extensão dos efeitos positivos da decisão a pessoas não vinculadas diretamente à entidade classista postulante que, na verdade, não é a titular do direito material, mas tão somente a substituta processual dos integrantes da respectiva categoria, a que a lei conferiu legitimidade autônoma para a promoção da ação. Nessa hipótese, diz-se que o bem da vida assegurado pela decisão é fruível por todo o universo de integrantes da categoria, grupo ou classe, ainda que não filiados à entidade postulante. 4. Aquele que faz parte da categoria profissional (ou classe), representada ou substituída por entidade associativa ou sindical, é diretamente favorecido pela eficácia da decisão coletiva positiva transitada em julgado, independente de estar filiado ou associado à mesma entidade, tendo em vista que as referidas peculiaridades do
microssistema processual coletivo privilegia a máxima efetividade das decisões nele tratadas, especialmente considerando que o direito subjetivo material (coletivo) se acha em posição incontroversa e já proclamado em decisão transitada em julgado. 5. Recurso Especial da União desprovido. (REsp 1338687/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 09/11/2012) PROCESSO CIVIL - RECURSO ESPECIAL - LEGITIMIDADE INDIVIDUAL PARA EXECUÇÃO DE TÍTULO OBTIDO EM AÇÃO COLETIVA. 1. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que os sindicatos agem em juízo na qualidade de substitutos processuais, tendo ampla legitimidade ativa para agir tanto nos feitos cognitivos, quanto nas liquidações, como, ainda, nas execuções. 2. Integrante de uma categoria, ainda que não filiado, beneficiado em ação proposta por sindicato tem legitimidade para, em nome próprio, requerer a execução. 3. Recurso não provido. (REsp 1225034/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/10/2012, DJe 22/10/2012) Por outro lado, como ensinam FREDIE DIDIER JR. e HERMES ZANETI JR: Acaso admitíssemos que uma ação civil publica cujo objeto diga respeito a uma categoria de servidores públicos federais, por exemplo pudesse produzir efeitos apenas para os substituídos que tenham, na data da propositura da ação domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator, estaríamos, por tabela, defendendo: a) que seria possível o ajuizamento de outras tantas ações civis públicas, cada uma ajuizada em uma seção judiciária, de igual teor àquela que já fora ajuizada e julgada; b) que essas outras causas poderiam chegar a resultado diverso daquele primeiramente alcançado; c) que, em razão disso, poderiam os servidores desses outros estados não lograrem
obter o reconhecimento judicial de um direito que outros, em igual situação, já obtiveram. O legislador infraconstitucional não poderia autorizar uma prática que feriria o princípio da igualdade, pois pessoas na mesma situação poderia receber, do Poder Judiciário, solução diferente. Uns ganhariam, outros não. A lógica das demandas coletivas está exatamente na tutela molecular (única) de uma pluralidade de direitos semelhantes. Exigir-se o fracionamento da questão coletiva, com evidente risco de decisões contraditórias é, sem dúvida, violar o bom senso e o princípio da igualdade. (In Curso de Direito Processual Civil Processo Coletivo, 2ª edição, pág. 148 grifo nosso) In casu, o que o Estado da Bahia está propondo é que embora a sentença não tenha estabelecido qualquer restrição neste sentido, a parte autora teria que ajuizar continuadamente inúmeras ações coletivas para beneficiar novos associados, embora todos façam jus ao mesmo direito independentemente da época de sua filiação. Trata-se, obviamente, de uma tese sem sentido, que não deve prevalecer, devendo ser determinado o cumprimento da obrigação de fazer observando não só os que já foram beneficiados mas, também, os filiados relacionados nas planilhas de fls. 230/246 e os que vierem a ser filiar posteriormente, conforme, inclusive, já foi requerido nos autos em petição anteriormente protocolada e que ainda não foi objeto de decisão. DA NÃO INTEGRALIZAÇÃO DO REAJUSTE PARA TODOS OS EFEITOS LEGAIS. Também sem fundamento as restrições impostas pelo Estado da Bahia que implicaram na não repercussão do reajuste nas GAP s IV e V e, ainda, nas demais vantagens auferidas pelos associados da autora, inclusive promoção. Ora, conforme dito anteriormente, a sentença foi clara ao determinar que reajuste da GAP fosse integralizado definitivamente aos vencimentos dos associados, para todos os efeitos legais. Em nenhum momento foi dito que o reajuste deveria incidir somente sobre a GAP III, ou II ou I. Muito menos foi dito que o associado promovido não poderia ser beneficiado ou que deveria ser excluída esta ou aquela vantagem, como, por exemplo, a substituição. Todas
essas restrições são inovações que o Estado da Bahia tenta impor após o trânsito em julgado e que, para que fossem aplicadas, deveriam ter sido objeto de discussão no momento apropriado, o que não ocorreu. E, de fato, não tem sentido o associado ser beneficiado com o reajuste e, ao ser promovido, por exemplo, de Capitão a Major, continuar recebendo o reajuste sobre a GAP de Capitão, ou pior, se novamente promovido e vier a galgar o posto de Tenente Coronel continuar a ter o reajuste calculado ainda com base no posto de Capitão. É como não incidir o reajuste sobre o cálculo do 13º salário, das férias, etc. Da mesma forma, não tem sentido ser elevada a referência da GAP, de III para IV ou de IV para V e o reajuste continuar a ser calculado com base na GAP III, seja porque não houve determinação expressa neste sentido, seja porque este M.M. Juízo determinou que o reajuste fosse integralizado à GAP, independentemente da referência, para todos os efeitos legais, deixando claro que se houver por lei majoração da GAP, obviamente, o reajuste também deverá ser majorado observando o mesmo percentual. É bom ressaltar que embora a lei faça distinção da GAP em referências, na verdade a reclassificação da GAP percebida pelo policial militar em outra referência nada mais é que um aumento na remuneração do mesmo em decorrência de uma lei, aumento este que não se distingue, por exemplo, do reajuste anual que é dado para recompor as perdas da inflação que, segundo a PGE, não seriam excluídos do cálculo. Se houvesse diferença, ter-se-ia que admitir a tese esdrúxula de pagar o 13º salário com base na GAP III mesmo que o policial militar já esteja recebendo a GAP IV ou V ou, ainda, o que seria tão absurdo quanto, na hipótese do associado já beneficiado deixar de receber a GAP III e passar para a referência II, continuar a receber o reajuste calculado observando a GAP III. Portanto, a elevação da referência, a promoção e a substituição são eventos que se encontram inseridos na expressão para todos os efeitos legais, não havendo porque o Estado da Bahia defender tese contrária. DO PEDIDO. Pede a autora, assim, que seja determinado ao Estado da Bahia que cumpra a obrigação de fazer integralmente, observando todos os associados da acionante, independentemente de data de filiação, devendo o reajuste incidir em termos percentuais sobre a GAP auferida por cada associado como dito na sentença, para todos os efeitos legais qualquer que seja a referência, inclusive IV e V,
devendo o reajuste observar todas as vantagens que são calculadas de acordo com a GAP, inclusive a promoção, horas extras, substituição, etc., sem distinção de qualquer natureza. Pede, ainda, que após o cumprimento integral da obrigação de fazer, seja oficiada a SAEB para que apresente o cálculo dos valores retroativos decorrentes, como, aliás, já foi solicitado internamente pela PGE. Nestes termos Pede deferimento Salvador, 3 de dezembro de 2012 MARCOS LUIZ CARMELO BARROSO OAB/BA 16.020