EXPERIÊNCIA, DOCUMENTAÇÃO, EXPERIMENTAÇÃO: PROJETO DESDOBRAMENTOS DA PAISAGEM E A EXPERIÊNCIA DA NATUREZA EM ECOSSISTEMAS ORIGINAIS



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Transcrição:

1749 EXPERIÊNCIA, DOCUMENTAÇÃO, EXPERIMENTAÇÃO: PROJETO DESDOBRAMENTOS DA PAISAGEM E A EXPERIÊNCIA DA NATUREZA EM ECOSSISTEMAS ORIGINAIS Sandra Rey. UFRGS/CNPq RESUMO: O artigo aborda o projeto desdobramentos da paisagem que se constitui como espaço de criação e de reflexão no contexto das artes visuais tendo como objetivo o desenvolvimento de propostas artísticas com base na fotografia e tratamento digital, articuladas com a produção de conhecimentos e reflexão teórica ligada aos tratamentos contemporâneos do tema paisagem. O projeto estrutura-se a partir de três eixos em articulação e leva em conta implicações da passagem da ação de caminhar, se deslocar na paisagem, pensada como experiência no campo da arte, à ressignificação semântica dos dados visuais dessa experiência, a partir de registros fotográficos agenciados em ambiente digital a partir de princípios da colagem. Palavras-chave: paisagem, fotografia, experiência, arquivo, experimentação SOMMAIRE: L article présente le projet dépliements du paysage conçu en tant qu espace de création et de réflexion dans les arts visuels. L objectif du projet est celui de développer des propositions artistiques a partir de registres photographiques e du traitement numérique. Les pratiques artistiques sont articulées avec la réflexion théorique et production de connaissances liées aux abordages contemporains du paysage. L article présente le projet a partir de ses trois axes d articulation prenant compte de la marche dans les déplacements dans le paysage en tant qu expérience dans le champ de l art. Le projet se déploie en atelier et laboratoire par l agencement des photos dans des archives et l édition numérique par principes du montage et du collage. Mots-clés: paysage, photographie, experience, archive, experimentation Situando o projeto O tema da paisagem se enraíza com forte presença na constituição da arte brasileira, verificável nas produções dos artistas holandeses comissionados por Maurício de Nassau, e pelas abordagens dos artistas-viajantes e dos artistasnaturalistas no o século XVIII. Na arte brasileira do século XX observa-se a preocupação com um olhar sobre a paisagem natural e social e esta seria uma questão recorrente nas aspirações modernistas de artistas como Tarsila do Amaral, Lasar Segall, Cícero Dias, Oswaldo Goeldi, Alberto da Veiga Guignard, em cujas obras se identifica imbricações do tema da paisagem com esforços de

1750 compreensão e construção de uma identidade de cunho nacionalista porém acentuadamente mais afetiva e pessoal. Na arte contemporânea a relação entre arte e natureza, rompe com protocolos estabelecidos, envolve processos nômades, desde ações pensadas como experiências estéticas, experimentações com processos tecnológicos, valorização de práticas artesanais primitivas, e acentuadamente reinveste na relação arte-vida. Identifica-se em inúmeros artistas maneiras singulares de abordar a paisagem, o meio ambiente, o território e os espaços urbanos. Encontramos exemplos interessantes em Georges Rousse, Francis Alÿs, Gabriel Orosco, Gerard Richter, Jeff Wall, David Hokney, Gordon Matta Clark, Dionisio González, Regina Silveira, Vera Chaves Barcellos. O projeto de pesquisa desdobramentos da paisagem: um processo artístico com base na fotografia digital tem por objeto o estudo do processo de criação de propostas artísticas que visam situar e aprofundar questões envolvidas numa abordagem multidisciplinar do tema paisagem e a experiência da natureza em percursos, sem trajetos preestabelecidos, efetuados em viagens, em lugares com ecossistemas originais. A palavra dobra é grifada na palavra desdobramentos por significar possibilidade de algo se tornar muitas coisas, envolvendo perda de limites, desbordamento. No âmbito do projeto entende-se por ecossistemas originais lugares que pode-se identificar relações peculiares com a natureza, encontrados em jardins, mangues, desertos, ilhas, áreas de preservação ambiental, por exemplo. O projeto tem como objetivo geral produzir criativamente e interrogar criticamente diferentes formas de tratar as relações do sujeito com a paisagem e o entorno no âmbito das artes visuais contemporâneas, a partir de interações e tensões entre natureza e cultura, tendo como base a relação arte e tecnologia. Propõe aprofundar relações entre paisagem e cultura partindo da noção de experiência em deslocamentos na paisagem e seu registro fotográfico. Envolve, portanto, a produção de uma experiência no campo da arte, experiência essa que se tece na rede de relações estabelecidas a partir do atravessamento de um lugar.

1751 A dimensão processual dos deslocamentos na natureza se constitui enquanto fim em si, ao mesmo tempo que engloba a produção de uma experiência que se tece na rede de relações estabelecidas a partir do lugar. Dessa forma, deslocamento é ação e conceito que orienta as operações do processo artístico. Atravessar territórios desconhecidos, atualizando as derivas situacionistas e deambulações surrealistas implica fazer do deslocamento uma experiência suscetível de destituir referências que balizam o dia a dia. Deste modo, a prática de fazer arte se estrutura a partir do ato mais primário da condição humana o ato de caminhar, se desdobra interrogando modos de tratar as relações do sujeito com a natureza e a paisagem e coloca em prática experimentações que envolvem questões sobre o visível e o real, a aparência e a realidade, o banal e o singular. Deslocamento realizado em Aparados da Serra, março 2013. Dessa forma, a travessia física de uma distância espacial constitui e condiciona a configuração da produção de arte que, partindo da experiência na paisagem. Desses atravessamentos algo excede, sobra, se torna resíduo e memória: uma coleção de imagens fotográficas dos territórios percorridos, armazenadas em arquivos digitais. Durante as travessias se procede ao registro documental da paisagem e a memória visual dos trajetos realizados é preservada em arquivos pastas. Tomando como dado fundamental a noção de experiência no processo artístico, a proposta do projeto se desdobra no registro da

1752 experiência com o entorno num banco de imagens que se reconfigura a cada caminhada. Os arquivos de deslocamento, como são chamados, no projeto, o conjunto de fotografias que documentam as caminhadas, implicam em processos de ordenação, classificação e conservação. As fotografias realizadas na paisagem ordenadas em pastas, nos arquivos de deslocamento, passam a cumprir outra função desencadeando o terceiro eixo pelo qual o projeto se desdobra: a de reservatório para a elaboração de propostas artísticas que consistem em experimentar novas combinações dos dados visuais de séries de imagens captadas na paisagem. A realização de experimentações agenciam algumas das fotografias dos arquivos de deslocamento em projetos artísticos levando em conta a produção de imagens de grandes e pequenas dimensões, vídeos e instalações que fundamentarão a reflexão teórica e serão divulgados em exposições. Portanto o projeto se desdobra articulando outros eixos que implicam a constituição de arquivos e, também, a realização de experimentações com edição e tratamento de imagens em ambiente virtual. O projeto DesDOBRAmentos da Paisagem articula produção artística e reflexão teórica tendo como delimitação o entrelaçamento de elementos das paisagens atravessadas com aspectos da arte e cultura contemporânea no que diz respeito a questões locais envolvendo meio ambiente, modos de vida e aspectos do nomadismo na vida contemporânea. Implica no trabalho com a fotografia levando em conta a especificidade do dispositivo fotográfico em produzir documentos e o alargamento de seu estatuto como material para fazer arte através de recursos de edição e montagem digital. Como mencionado acima, o projeto configura-se compreendendo esses três eixos em estreita articulação, supondo transversalidades e entrecruzamentos entre as diferentes práticas artísticas que o englobam.

1753 a) experiências estéticas na paisagem que nomearemos deslocamentos na paisagem ; b) uma coleção de documentos visuais, de registros fotográficos de fragmentos de paisagens que nomearemos arquivos de deslocamentos ; c) a instauração de um campo experimental propondo a a reorganização dos dados do real contidos nas imagens dos arquivos de deslocamentos, e investigações sobre modos de materialização e apresentação das imagens que nomearemos desdobramentos da paisagem. Visualizamos a articulação da pesquisa através de seus eixos através diagrama: Esse projeto integra as pesquisas do Grupo Processos Híbridos na Arte Contemporânea, que tem como principal objetivo atuar na formação de novos pesquisadores e promover intercâmbios com pesquisadores nacionais e internacionais para promover encontros, seminários, exposições e publicações. Delimitação do problema da pesquisa no projeto

1754 Cada eixo envolvendo o projeto podem produzir resultados estéticos independentes e autônomos, ou se entrecruzar. Essas práticas são articuladas com pesquisas no campo da arte contemporânea e na historia da arte, estabelecendo vai-e-vem entre prática e teoria, um campo fecundando o outro em investigações transdisciplinares sobre conceitos implicados no projeto. O problema central da pesquisa incide sobre a invenção de estratégias operacionais para articular dois níveis de investigação: num primeiro nível a pesquisa incide sobre as operações que instauram as propostas artísticas ligadas à paisagem, ao sítio e espaço urbano. Parte-se da hipótese que o tratamento digital tem a capacidade de alterar a natureza dos elementos constituintes da imagem tornando-a permeável à resignificações de seus dados icônicos. Nesse primeiro nível, o problema principal da pesquisa incide sobre a invenção de estratégias operacionais para colocar em jogo séries combinatórias dos dados visuais de cada imagem com o propósito de, sem nada acrescentar às informações que já estejam previamente inscritas nas imagens, ressemantizar seus dados visuais. Parte-se da hipótese que é possível resignificar as informações visuais do referente fotográfico e expandir o processo da imagem até encontrar novas sintaxes suscetíveis de fazer com que o irreal possa emergir, a partir dos dados do real. Nesse sentido, certas imagens são retomadas em laboratório com a proposta habitar a paisagem operando deslocamentos em seus elementos visuais, alargando os processos semânticos da imagem até a tornar fictício o referente, as vezes mais, as vezes menos sutilmente. Num segundo nível, o problema da pesquisa incide sobre a mobilização de recursos teóricos para determinar a posição dos conceitos operatórios identificados no processo de criação com a finalidade de trabalhá-los à nível conceitual. Nesse nível, trata-se de referenciar, orientar-se e situar-se em relação ao tema da paisagem e aos conceitos operatórios envolvidos na pesquisa através de análises comparativas de maneiras a contextualizar a produção em relação à identificação de parâmetros encontrados na arte contemporânea e movimentos da história da arte.

1755 Do ponto de vista teórico, a pesquisa visa aprofundar estudos sobre relações entre natureza e cultura e analisar antigas práticas artísticas que consolidaram a paisagem enquanto gênero na História da Arte para melhor situar práticas contemporâneas impulsionadas por viagens e deslocamentos. O interesse é mapear produções em relação com as questões do projeto e estudar os procedimentos de produções que fazem recurso à processos híbridos envolvendo a fotografia em práticas multidisciplinares e investigar novas maneiras de abordar, habitar, intervir e registrar um sítio ou território. Dessa forma, os estudos e análises empreendidas são mobilizados pela interrogação de diferentes maneiras de tratar as relações do sujeito com o entorno e a paisagem na história da arte e na arte contemporânea. Os procedimentos adotados no projeto incluem operações de naturezas diversas e conceitos que suscintamente descrevemos abaixo: ações de deslocamentos e a captação de imagens em sítios naturais e urbanos, processos de arquivamento das imagens captadas, o tratamento de imagens em laboratório; edição de imagens e de animações, pesquisas sobre modos de materialização, projeção e apresentação de imagens e animações, elaboração de estratégias de circulação da produção prática e teórica, em circuitos institucionais e paralelos, estudos sobre conceitos operatórios no projeto e análises de produções na história da arte e na arte contemporânea que envolvem questões do projeto, produção textual com foco nos conceitos operatórios da pesquisa e questões metodológicas envolvidas no processo de trabalho. Articulação teórico-prática Produção e reflexão teórica avançam cruzando campos e delimitando zonas de confluências. As interrogações natureza epistemológica ajudam a situar

1756 a produção em relação ao campo da arte contemporânea, às referências históricas, e traçar genealogias. O objeto de estudos circunscreve processos criativos por associações de diversas operações, pressupondo ações de deslocamento em sítios naturais e urbanos, processos de arquivamento e o agenciamento dessas imagens em propostas artísticas a serem veiculadas em diversas mídias (fotografias, vídeos, instalações, livros de artista). As operações envolvidas no processo de trabalho não são ações normativas suscitando aplicações técnicas previsíveis, mas se instauram como procedimentos híbridos. A metodologia envolve invenção de procedimentos e reflexão epistemológica com base em identificação de parâmetros que pautam o contexto do trabalho. A produção prática, transversal, abarca e articula procedimentos e reflexão teórica, isto é, os procedimentos adotados no contexto de elaboração de cada proposta artística estabelece conexões com conceitos que serão investigados num contexto teórico. Nessas conexões situa-se o estreito vínculo da produção com a pesquisa que incidirá sobre a mobilização de recursos para identificar, conceituar e problematizar os questões identificadas no processo de criação. Como parâmetro metodológico se estabelece de maneira tática um processo dialético entre prática e teoria: os conceitos que emergem dos procedimentos e operações de ordem prática lançam as questões ao processo artístico que, uma vez investigados teoricamente, serão relançadas em procedimentos práticos. A produção resultante dos dois níveis de abordagem do problema de pesquisa se evidenciará tanto na prática artística quanto numa produção textual. O estudo bibliográfico participa de todas etapas de elaboração do projeto, a bibliografia é constantemente enriquecida e atualizada durante o decorrer da pesquisa, e o cronograma ajustado na distribuição dos objetivos propostas. A bibliografia do projeto é extensa, citaremos apenas algumas referencias, no artigo.

1757 A produção prática e teórica, resultante da pesquisa, é encaminhada à divulgação através de elaboração de projetos para exposições, intervenções, livros de artistas, publicações, propostas para participações em congressos e criação de eventos. REFERÊNCIAS AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2010. ARDENNE, Paul. Un art contextuel. Paris: Champs arts, 2009. BAQUÉ. Dominique. Histoires d Ailleurs. Artistes et penseurs de l itinérance. Paris: Ed. du Regard, 2006. BARRÉS, Patrick. Expériences du Lieu: Architecture, Paysage, Design. Paris: Archibooks, 2008. BAQUÉ, Dominique. La Photographie Plasticienne. Un Art Paradoxal. Paris: Regard, 1998. BARTHES, Roland. A Câmara Clara, Lisboa, Ed. 70, 1998. BERQUE, Augustin (dir.). Cinq Propositions pour une théorie du paysage. Seyssel, Champ Vallon, 1994. BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. Buenos Aires, Adriana Hidalgo. 2006. Postproducción. Buenos Aires, Adriana Hidalgo. 2007. CARERI, F. Walkscapes, walking as an aesthetic practice. Barcelona: Ed. Gustavo Gili, 2005. CAUQUELIN, Anne. L Invention du paysage. Paris, Ed. Plon, 1989. Le site et le paysage. Paris: PUF, 2007. L art contemporain. Paris: PUF, 2001. DANTO, Arthur. La transfiguration du banal. Paris, Seuil, 1989. Aprés la fin de l art. Collection Poétique, Seuil, Paris, 1996. DAVILA, T. Marcher, Créer. Déplacemnts, flâneries, dérives dans l art de la fin du XXe siècle. Paris : Ed du regard, 2002DEBORD, Gui. Théorie de la dérive, 1958 DELEUZE, Gilles. Logique du sens. Paris, Ed. Minuit.1996. A dobra, Leibiniz e o Barroco, trad. Luis Orlandi, São Paulo, Papirus, 1991. Différence et Répétition. Paris, Puf, 1993. DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mille Plateaux: capitalisme et schizophrénie. Paris: Les Editions de Minuit, 1980. DEWEY, J. Arte como experiência. São Paulo : Martins Editora, 2010. DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. Campinas, Papirus, 2000.

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