O BRASIL RURAL CONTEMPORÂNEO: reafirmação da importância e da diversidade

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Transcrição:

OFICINA no MDA PROJETO: Repensando a Ruralidade no Brasil O BRASIL RURAL CONTEMPORÂNEO: reafirmação da importância e da diversidade Tania Bacelar de Araujo Professora aposentada da UFPE Sócia da CEPLAN Consultoria Brasília, 09 de março de 2015

Roteiro O estudo: motivações, objetivos e organização A visão predominante sobre o rural : o rural herdado Outra visão: uma concepção não produtivista O Brasil rural atual: dimensão e diversidade ( Jan) Entraves institucionais à afirmação do rural O rural nas políticas públicas

Motivações do estudo

Mudanças recentes no Brasil rural O Brasil rural foi impactado positivamente pelos avanços sociais que o país promoveu nos anos recente A produção agropecuária tem se expandido e melhorado sua produtividade enquanto a indústria vem enfrentando A criação do MDA e os avanços do PRONAF junto com outras iniciativproblemas de competitividade (no mercado interno e externo) as de políticas públicas fizeram avançar a produção de base familiar As cidades médias brasileiras, muitas no interior, experimentam nova dinâmica nos anos recentes e a relação rural x urbano sofre mudanças

Debate internacional estimula revisitar o Brasil rural O debate internacional recente ressalta mudanças importantes no mundo rural contemporâneo Destacam-se entre elas: a preocupação crescente com a conservação do patrimônio natural a intensificação de outras atividades econômicas e de outros interesses sociais no meio rural a atribuição de novas funções para o meio rural, além da produção de bens agropecuários o aproveitamento das amenidades propiciadas pelos centros urbanos próximos, e a exploração de novas fontes de energia.

CONTEXTO internacional: redefinindo a dimensão do rural Os países mais desenvolvidos tem usado critérios semelhantes e que revelam que os países mais industrializados do mundo necessariamente não concentram população em áreas essencialmente urbanas A OCDE estabelece uma classificação das regiões em : regiões essencialmente rurais, regiões relativamente rurais e regiões essencialmente urbanas A OCDE aperfeiçoou sua metodologia incluindo indicador de acessibilidade aos centros urbanos como indicador de acesso a

O estudo: objetivos e organização

OBJETIVOS 1. Realizar releitura do rural brasileiro contemporâneo. 2. Construir tipologia atualizada dos espaços rurais do Brasil. 3. Explicitar as implicações desta releitura do rural e da tipologia proposta nas políticas públicas, em especial as de promoção do desenvolvimento rural.

GRANDES ETAPAS DO ESTUDO ETAPA 1 : PREPARATÓRIA Análise do alcance e limitações das metodologias aplicadas no Brasil para caracterização e tipificação dos espaços rurais (A História conta); Análise de tipologias de caracterização dos espaços rurais em países selecionados da America Latina e Europa visando extrair indicativos para a construção de uma tipologia brasileira (Há o que aprender com os outros); Definição das bases conceituais e elaboração da metodologia para tipificação dos espaços rurais brasileiros, considerando a diversidade regional em suas múltiplas dimensões e as relações do rural com o urbano ( Partir de bases sólidas e de novas concepções);

GRANDES ETAPAS DO ESTUDO ETAPA 2 : REALIZAÇÃO DO ESTUDO Construção da Proposta de Tipologia dos espaços rurais do Brasil Análise das implicações da Tipologia proposta na construção e implantação de políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil; e Análise do quadro institucional com estudo sobre legislação brasileira que define o rural no país e seus fundamentos conceituais, com sugestões de mudanças.

GRANDES ETAPAS DO ESTUDO ETAPA 3: DISCUSSÃO e DIVULGAÇÃO Apresentação do estudo no VII Fórum Internacional (nov. de 2012) e no CONDRAF (2012) Apresentação e Discussão em Oficinas: Oficina 1 ( P1,P2 e P3) realizada em 2012 Oficina 2 ( P4, P5, P6 e P7) realizada em 2013 Discussão no VIII e IX Fórum Internacional (2013 e 2014) Apresentações no Senado ( duas apresentações em 2013) Publicação dos resultados do estudo (Parte 1 no Vol. 21 na Serie DRS e Parte 2 no prelo)

COORDENAÇÃO Tania Bacelar ( UFPE e CEPLAN) Humberto Oliveira ( IICA) Lucila Bezerra ( IICA) CONCEITUAÇÃO e COMPARAÇÔES INTERNACIONAIS EQUIPE TECNICA TIPOLOGIA e REDIMENSIONAMENTO Jan Bitoun ( UFPE) Livia Miranda (UFCG) Equipe de apoio Nazare Wanderley ( UFPE) Arilson Favareto ( UFABC) Nelson Delgado ( UFRJ) Sergio Silva ( UFRJ) Claudia Schmitt ( UFRJ) Equipe de apoio TIPOLOGIA x POLITICAS PÚBICAS Leonilde Medeiros ( UFRJ) Silvia Zimmerman Karina Kato e outras (UFRJ)

PATROCINADORES E APOIADORES Patrocinador: MDA Coordenação : Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura IICA Apoiadores: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG): SPI e IBGE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Banco do Nordeste do Brasil (BNB) Fundação Banco do Brasil (FBB) e Governos dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Bahia.

CRONOGRAMA TOTAL: 14 MESES

O rural herdado

Brasil: visão dominante do rural O IBGE, órgão oficial de estatística, leva em consideração as legislações de cada município para subdividir o espaço territorial brasileiro em áreas urbanas e rurais. Pela lei, são urbanos todos os que vivem nos perímetros assim definidos pelas Câmaras Municipais, independente de qualquer outra consideração. Resultado: rurais são as áreas externas aos perímetros urbanos de cidades ou vilas do país. O espaço rural é percebido como periférico, um resíduo do urbano. Pior: rural passa a ser sinônimo de atraso: o progresso é urbano!

ça do dois Brasis agropecuários: o domínio d base PATRONAL moderna

do dois Brasis agropecuários : as 3 concent da agricultura de base familiar

Outra visão: uma concepção não produtivista (Veiga, 2003; Favareto, 2007; Berdegué et alii, 2012; Wanderley e Favareto, 2013)

A concepção adotada O rural se expressa enquanto forma territorial da vida social, onde a relação com a natureza é forte, a base produtiva se diversifica mas as atividades agropecuárias são dominantes, e o modo de vida, os valores e a cultura de seus habitantes guardam especificidades. (rompe com visão produtivista do rural como território da produção agropecuária) Leva ao reconhecimento da : Interdependência entre os espaços rurais e as cidades Complementaridade entre a atividade agropecuária e outras ocupações na geração da renda no meio rural (pluriatividade : origem multisetorial da renda das famílias rurais) Crecente integração das zonas rurais aos mercados (de produtos, de insumos, de tecnología, de mão de obra)

Ponto de partida: Se a trajetória da urbanização brasileira permite explicar as razões da predominância da antiga visão, os caracteres estruturais do território nacional, sua economia e sua organização social no início do século XXI com a persistência dos espaços rurais e de sua importância para a economia, a coesão social e a sustentabilidade ambiental - tornam imperiosa a adoção de uma nova visão sobre o rural no país. (Wanderely e Favareto, 2013)

Entraves institucionais à afirmação do rural no Brasil

Exemplos de tratamento secundário 1. na era Vargas, a legislação trabalhista regulou as relações de trabalho nas cidades, mas só chegou ao campo décadas depois; 2. as preocupações com melhoria das condições de vida, com políticas de saúde e educação, por exemplo, só começam a aparecer na legislação na década de 1930, mas não saíram das cartas de intenções, pois não se desdobraram em ações efetivas, a não ser num período mais recente; 3. leis reguladoras da concentração fundiária só foram criadas em 1964, num contexto de regime de exceção, e foram aplicadas de forma pouco intensa; 4. a massa de agricultores, de base familiar só foi reconhecida por legislação previdenciária no final do século XX, com a Constituição Federal de 1988.

Tratamento da propriedade Um exame especial foi feito pelas pesquisadoras sobre as leis que regulam a propriedade no país, com olhar mais atento à propriedade da terra, dada sua importância para a vida social no meio rural e para as relações de poder que daí advêm. Fica claro, desde logo, a importância da Lei de Terras de 1850 como o marco regulatório básico. Antes de extinguir a escravidão, a propriedade do patrimônio terra é regulada para proveito dos poderosos. O poder dos donos se reafirma num novo contexto. A Lei de Terras previa as condições de regularização das terras voltadas para a produção agropecuária, mas também do solo das incipientes concentrações urbanas existentes.

Tratamento da propriedade Ao longo do Império e do início da República, vão se consolidando, tanto nas áreas rurais como nas urbanas, processos complexos em que a propriedade devidamente registrada convive com uma ocupação espontânea. Nas áreas rurais, a posse toma várias formas: desde o controle de imensas quantidades de terras que se constituem na extensão das fazendas, até a ocupação de pequenos lotes, por populações livres e pobres que se estabelecem nas fímbrias das terras de fazendeiros, em áreas de menor fertilidade, ou mesmo em áreas isoladas, onde posseiros fazem a limpeza primeira da terra, cultivam-na por um período, para depois serem expulsos, em geral pela força, pelos fazendeiros que querem delas se apossar ( MEDEIROS,L. et ali)

Tratamento da propriedade A prática da grilagem aparece no estudo como sendo constitutiva da formação da propriedade rural desde então e permanece marcando a vida social no campo brasileiro, muito freqüentemente associada à prática da violência contra os mais fracos. E o Brasil rural contemporâneo não se livrou desta herança. O estudo conclui que as possibilidades de transformação da estrutura fundiária, uma condição básica para avançar na melhoria das condições de vida das populações rurais, permanece como um horizonte longínquo. O rural contemporâneo apresenta melhoras resultantes de avanços de políticas públicas, como a previdenciária, as políticas sociais, as políticas de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar, a educacional, entre outras. A política de reestruturação fundiária, no entanto, não avançou.

O rural nas políticas públicas contemporâneas

Públicas analisadas Políticas de caráter universal: Ensino Técnico PRONATEC (foco nas diferenças de oportunidades entre a população da área rural e urbana). Programa de Alimentação Escolar Programa Minha Casa Minha Vida Programa Nacional de Banda Larga infraestrutura de alta tecnologia (pela importância deste novo tipo de infraestrutura para o desenvolvimento rural do país) Políticas de desenvolvimento agrário: Política de Reforma Agrária (pela importância da questão fundiária) PRONAF (exceto crédito) - por ser o principal

il rural: questões centrais O grande desafio a enfrentar foi o de entender como as políticas públicas selecionadas operavam e os critérios e instrumentos que acionavam na sua implementação, para então compreender, em cada uma delas, qual rural é potencializado (e qual é automaticamente excluído), os grupos sociais que são contemplados, quais as dimensões do rural que são priorizadas (social, cultural, ambiental, espacial, produtiva, econômica e/ou política) e como são incorporadas nas políticas públicas as interações entre rural e urbano.

il rural: alguns resultados 1. Relação das políticas com o rural e peso da participação da sociedade O tratamento diferenciado dado ao rural é recente e busca atender a reivindicações de um conjunto de atores, principalmente da sociedade civil organizada, que já vinha cobrando ações do Estado há vários anos e, em alguns casos, há décadas. Um governo aberto à participação social ajudou nos avanços realizados nessa direção. Mas, com relação à participação social, as políticas analisadas se diferenciam significativamente. 2. O(s) rural(is) contemplado (s) nas políticas públicas e a importância da intersetorialidade Das seis políticas públicas analisadas, quatro delas são direcionadas exclusivamente para o público da agricultura familiar (Pronaf, PNAE, política de assentamentos rurais e PMCMV). No entanto, fica evidente que falta muito para se garantir a multidimensionalidade

il rural: alguns resultados 3. O tratamento da fronteira entre o rural e o urbano Algumas mudanças proporcionadas pelas seis políticas públicas estudadas, na medida em que dotam de infraestrutura o mundo rural e reconhecem como categoriais sociais pertencentes ao mundo rural outras categorias para além do agricultor familiar (quilombolas, pescadores, ribeirinhos, etc), podem permitir novas referências ao entendimento da fronteira entre o rural e urbano, implicando novos desafios para políticas públicas destinadas a atender as novas ruralidades. 4. A abordagem territorial: um avanço, mas insuficiente O fato de existir no país uma política pública que se ancora na dimensão territorial, que se propõe articular políticas públicas e atores e a ampliar as percepções em torno de diferentes contextos do rural brasileiro, já constitui um grande avanço, necessário mas não suficiente, no tratamento das múltiplas dimensões da ruralidade brasileira.

3. Os resultados devem estimular o reconhecimento da participação de múltiplos dos nas Políticas Públicas i1. A Tipologia deve estimular gestores a considerar a magnífica diversidade e uma maior dimensão do rural brasileiro contemporâneo e vai valorizar a abordagem territorial ( em oposição ao enfoque setorial tradicional) 2. A visão do rural como forma territorial da vida social deve estimular a aplicação de diversas políticas públicas nos diversos Tipos de rural, permitindo superar atuações muito restritas a políticas agrárias ( estimula a prática da multidimensionalidade)

Sinalizações do estudo para as políticas públicas Importância de : Criar condições para o desenvolvimento da agricultura familiar, com geração de renda e sustentabilidade (inclusive onde há forte presença da agricultura comercial ) Apoiar a expansão da produção de commodities aumentando vínculos com território e reduzindo custos ambientais Incorporar a sócio biodiversidade e conhecimentos tradicionais à estrutura produtiva de forma sustentável Ampliar oferta de serviços públicos adequados às áreas rurais Dar apoio especial à agricultura familiar no Norte e Nordeste

Sinalizações do estudo para as políticas de base territorial Importância de : mobilizar e acolher demandas dos diferentes territórios ( dar conta da diversidade) intensificar o desenvolvimento e enraizamento de processos intensivos em conhecimento e inovações, visando agregar qualidade e valor aos bens e serviços produzidos nos territórios rurais utilizar bases conceituais e metodológicas capazes de refletir a diversidade regional brasileira e as características e dinâmicas dos espaços urbanos e não-urbanos

Principais conclusões

Conclusões Pela nova classificação proposta pelo estudo, associada à população recenseada em 2010, o país é muito mais rural do que se pensa: abriga 37% dos brasileiros, cerca de 81 milhões, enquanto que a população rural estimada pelo IBGE é de apenas 16%. A tipologia proposta pelo estudo reafirma a magnífica diversidade do espaço rural brasileiro, que apresenta 26 tipos de territórios regionalizados por bioma e atestam a convivência de regiões bastante distintas, em algumas predominam o agronegócio, em outras a agricultura familiar e, em muitas delas, convivem os dois tipos de organização produtiva. Nesse conjunto existem territórios onde a qualidade de vida é elevada e, em outros, muito precária.

Conclusões A conjunção do redimensionamento e da tipificação da diversidade do Brasil rural contemporâneo mostra claramente a insuficiência e/ou a inadequação das políticas para considerarem as especificidades, atenderem as necessidades e mobilizarem plenamente as potencialidades do desenvolvimento dos territórios rurais brasileiros, em seus diversos biomas. A importancia de construir e implementar políticas publicas diferenciadas que dialoguem com a diversidade do país.

A título de sugestão: duas agendas

Agenda de estudos e debates Uma iniciativa no campo da pesquisa seria voltada para discutir a tipologia dos espaços rurais com base na representação social do imaginário construído historicamente pelos próprios atores locais sobre sua ruralidade, seus limites físicos, significado, importância e potencialidades para o desenvolvimento. Para isso, os resultados do estudo seriam submetidos a discussão por especialistas e representantes de instituições públicas das regiões identificadas pela Tipologia Regionalizada. Esse debate deve ser levado a três públicos essenciais: i) os gestores das políticas públicas nas diferentes escalas de governo; ii) os legisladores, desde os senadores até os vereadores; e iii) os representantes dos movimentos sociais, redes e organizações da sociedade civil

Agenda de estudos e debates Poderia ser elaborada uma espécie de Campanha pela Valorização e Democratização do Brasil Rural Contemporâneo, com o objetivo básico de construir uma nova imagem social, uma nova representação simbólica sobre a ruralidade brasileira. Deve-se estabelecer uma estratégia de incidência política junto às instituições ligadas ao Poder Executivo e ao Poder Legislativo para que os resultados desse processo de debates sejam refletidos não só nas diretrizes e nas ações das políticas públicas, mas também no marco jurídico-normativo do País. Seria muito importante a realização de um conjunto de atividades de intercâmbio internacional, seja com os governos dos cinco países da América Latina que participaram dos estudos de caso do projeto (Uruguai, Chile, Equador, Costa Rica e México), seja com outros governos nacionais que demonstrem interesse e compromisso de intercambiar experiências.

Agenda para apoiar políticas públicas A visão de que a ruralidade diz respeito à forma como se organiza a vida social abre uma nova perspectiva para pensar políticas públicas e também para impregná-las de necessária multisetorialidade. O reconhecimento no momento de formular políticas, da força, da vitalidade e da importância do rural para um projeto de desenvolvimento includente e sustentável do país ainda vai requerer novos esforços. A herança de visões hegemônicas distorcidas ainda tem muito peso no imaginário da maioria dos brasileiros. Uma nova safra de políticas públicas pode ajudar nesta passagem.

Agenda para apoiar políticas públicas É importante aprofundar a análise das implicações para as políticas públicas, ou seja, buscar identificar desdobramentos possíveis dos resultados dos estudos aqui apresentados sobre as orientações estratégicas das políticas de desenvolvimento rural no país, hoje levadas a cabo de forma fragmentada e desarticulada por distintas instituições governamentais. O primeiro diálogo com as seis políticas públicas examinadas mostrou que há um espaço importante para realizar avanços e mudanças de rotas em políticas já existentes. Mas há espaço também para novas iniciativas de políticas, em especial no que se refere a avanços na abordagem territorial.

: as mudanças recentes estão consolidadas Ainda é hegemônica a visão tradicional: o progresso está no urbano e o futuro do Brasil rural está no agronegócio A abordagem territorial ajudou a avançar na leitura da diversidade do rural atual, mas ela não está consolidada nas políticas públicas ( exemplo: Territórios da Cidadania) Governos e organizações da sociedade estão estruturados com base na dimensão setorial ( rural = espaço das atividades primárias), o que leva a predominância da velha abordagem. O presente estudo e seus resultados não podem ficar nas prateleiras.

entral que permanece Dar conta da real dimensão e da diversidade do rural do país

OBRIGADA taniabacelar@gmail.com.br