Contribuição do Design para a Inovação de Produtos Ambientalmente Amigáveis a partir de Polímeros Biodegradáveis Ivan Luiz de Medeiros 1 ; Jhuli Matos 2 ; Janice Maria Sada de Almeida Marcacini 3 ; Heloisa Pinna Bernardo 4 ; Palova Santos Balzer 5 ; Ana Paula Testa Pezzin 6 ; João Chagas Sobral 7 ; Marli Teresinha Everling 8, RESUMO: A integração entre os cursos de Química Industrial, Engenharia Mecânica e Design, possibilitou o desenvolvimento de produto com polímero biodegradável. A primeira etapa (sob a responsabilidade da equipe do design) compreendeu a classificação de produtos constituídos por polímeros em duas categorias: (1) aqueles cujo valor reside em seu uso e (2) aqueles cujo valor reside em sua simbologia. Esta etapa pretendia evidenciar produtos com valor de uso, e com valor simbólico agregado justificando assim seu preço mais elevado em função dos custos para obtenção do polímero biodegradável. Após a compreensão do assunto e do levantamento de produtos existentes cujo material pudesse ser substituído por polímeros biodegradáveis, foram selecionados inúmeros produtos a partir de critérios pré-estabelecidos. Em consenso, foi escolhida a escova dental por ser de rápida descartabilidade, possuir valor de uso, além da possibilidade de incorporar qualidades estéticas, ergonômicas e semânticas ao seu design, atribuindo-lhe também valor simbólico. A outra fase do projeto aborda os estudos sobre: (1) A escova dental (2) Histórico, (3) Análise dos apectos formais da escova dental, (4) Análise de uso da escova dental e, (5) Gerações de alternativas, (6) Consideração finais. Palavras Chaves: polímero biodegradável, ecodesign, desenvolvimento sustentável. INTRODUÇÃO O projeto de pesquisa foi desenvolvido de maneira interdisciplinar entre os departamentos de Design, Engenharia Ambiental, Química Industrial e Engenharia da Produção Mecânica da Univille. O fator motivador do estudo foram os resultados obtidos da pesquisa envolvendo a síntese e desenvolvimento de novos polímeros biodegradáveis conduzida pelo grupo de materiais poliméricos da Univille em parceria com o Dr. Alexander Steinbüchel do Institut für Mikrobiologie der Westfälischen Wilhelms da Universität Münster, Germany 1 Acadêmico do curso de Design, bolsista do PIBIC/UNIVILLE. 2 Acadêmica do curso de Design, bolsista do PIBIC/UNIVILLE. 3 Acadêmica voluntária do curso de Design da UNIVILLE. 4 Mestre em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo, orientadora 5 Doutoranda em Ciência e Engenharia de Materiais. 6 Doutora em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas 7 Mestre em Educação pela Fundação da Universidade Regional de Blumenau 8 Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria, orientadora
AS FUNÇÕES ESTÉTICO-FORMAIS Iniciamos a pesquisa com leituras bibliográficas sobre produtos com valor de uso e valor agregado e segundo Bürdek (1994), na teoria da linguagem do produto, funções estético-formais são características independentes da função primária de uso. O termo estético-formal vem da semiótica e trata da diferença entre sintaxe e semântica. Importante ressaltar que conforme Aurélio(1999), o termo semântica é o estudo da relação de significação dos signos e da representação dos enunciados. O signo, também definido por ele, é a unidade lingüística que tem significante e significado, onde significante pode ser um código alfanumérico ou uma imagem, e o significado é a mensagem do código interpretado pelo indivíduo. A sintaxe está relacionada com a lógica do produto, e a semântica busca o significado dos objetos, suas qualidades simbólicas e seu contexto de uso (psicológico, social e cultural). O meio sóciocultural e o momento histórico servem de referência para compreender a relação entre as pessoas e os objetos. Todo produto transmite uma mensagem (função do produto) para o usuário. A função prática é referente à função de uso. A função de linguagem remete a funções de estético-formal e de signo. Função estético-formal são as sensações imediatas que o produto provoca no usuário, determinado produto é agradável ou desagradável. Sem muitas justificativas (primeiridade). A função de signo é dividida em função indicativa que está diretamente ligada a utilização dos aspectos e dispositivos de um produto, remetendo o usuário ao sentido real de uso, através de indicações formais (orientação, manejo,...) relativo a secundidade; e, a função simbólica caracterizada pelo contexto sócio-cultural do produto, que define sua identidade de marca através de signos convencionais (terceridade). Os símbolos são instrumentos do pensamento, remetem a algo mais que o objeto por si mesmo. Possuem um caráter representativo. Na concepção deste símbolo inclui aspectos como experiência, intuição, valorização, normas culturais, etc. A interpretação dos símbolos não é inata e sim nascem de convenções, acordos tradicionais. A estrutura acima, apresentada desta maneira com a finalidade de explicar didaticamente a relação usuário e produto, na realidade mescla cada item simultaneamente. Ou seja, a função de linguagem do produto responsável pela transmissão da mensagem, apresenta o signo escova de dente assimilado por uma haste acompanhada de vários tufos de cerdas agrupados na extremidade (significante), transmitindo sua função prática relacionada com a limpeza bucal (significado). A função indicativa é responsável por estipular onde se pega manualmente e onde se limpam os dentes, e a função simbólica é imposta pelas normas culturais da sociedade, e/ou pela experiência vivenciada pelo usuário, indicando higiene. A sensação de
empatia pelo produto que se apresenta nos displays dos pontos de venda, com cores e formas variadas, se relacionam com a função estético-formal. Para o projeto de um produto utilizando o polímero biodegradável evidencia-se a importância deste estudo sobre as funções dos produtos, contextualizado na estrutura do ecodesign, onde o ciclo de vida do produto é estudado pelo designer. O projeto deve considerar o uso deste polímero não poluente e o potencial de reutilização de reciclagem após o descarte. Seja qual for o produto, de uso ou valor agregado. A partir daí, foi realizado um levantamento de possíveis produtos onde poderíamos utilizar este novo material. Existiram alguns critérios de seleção pré-estabelecidos pelos orientadores. CARACTERÍSTICAS E FORMAS DAS ESCOVAS O produto escolhido, para aplicar o polímero e fazer estudos foi à escova dental, onde justifica-se pela rápida descartabilidade e pode-se agregar valores simbólicos ao produto. Iniciou-se com a aplicação de uma metodologia projetual, levantando-se estudos diacrônicos da escova dental. Em 1924, Kauffmann, foi o primeiro pesquisador a estudar os vários tipos de escovas dentárias existentes no mercado no que diz respeito ao desenho do cabo, arranjo dos tufos, comprimento das cerdas. Observou em relação à higiene bucal, que é importante manter as cerdas aproximadas das superfícies dentárias.relatando que a escova dental, é eficiente na remoção de placa bacteriana sem causar danos aos tecidos gengivais. Estas características são utilizadas até os dias atuais, porém ainda observamos uma grande variedade de escovas dentárias no mercado nacional e estrangeiro que não preenchem estes requisitos básicos. Sendo eles: A cabeça e o cabo devem ser planos e retos. O comprimento total da escova deve ser de cerca de 152,4mm, com largura de 11,11mm. A parte ativa (cabeça) deve comportar três fileiras, com seis tufos de cerdas cada uma, distribuídos simetricamente. As cerdas devem ser de náilon macio, com 0,18mm de diâmetro e comprimento de 10,31mm. Cada tufo deve conter de 80 a 86 cerdas. As cerdas devem ter pontas arredondadas. ( VICENTE, 2003) Para conhecer como é estruturalmente a escova dental, fotografou-se o produto em estudo conforme a figura 1. Pode-se observar claramente as diferenças de cada escova, cada qual com sua característica formal, mas com a mesma função.
Fig. 1 escovas dentais existentes no mercado. Fig: 2 Desenho estrutural De posse das fotografias e o produto em mãos desenhamos cada escova a fim de conhecer estruturalmente as suas características vistas na figura 2, este tipo de estudo nos mostra como são constituídas as escovas, seu dimensionamento e possíveis problemas. Outra análise seguindo a metodologia foi a análise de uso, do produto fotografado e redesenhada com a intenção de retirar ruídos nas imagens detectando possíveis problemas na pega do cabo mostrado na figura 3. Foram fotografadas várias escovas em muitas posições. Aquela que se mostrou mais confortável no ato da escovação foi a com cabeça pequena e cabo estreito. Fig. 3 desenho escova Sanifil ENTREVISTA COM DENTISTA A equipe de desenvolvimento da escova de dente fez uma entrevista na clínica odontológica da UNIVILLE, com o professor especialista em periodontia, Potiguassú. Pela dificuldade em encontrar bibliografias específicas do assunto, sua vivência prática e profissional faz com que ele recomende as escovas com cabeças pequenas proporcionam a melhor limpeza dos molares. Ele comenta que indica para seus pacientes a compra de escovas com cerdas macias, para evitar danos a gengiva. Em se tratando do
cabo, os mais longos oferecem maior conforto, porém os benefícios da flexibilidade são difíceis de serem mensurados. GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS As alternativas geradas, para a escova dental, estão sempre voltadas ao conforto ergonômico e estético, criando um novo conceito em forma e adptabilidade. Com o intuito de produção em escala industrial. Foi realizado um modelo volumétrico em madeira a fim de análises dimensionais e validação da proposta. fig.4 Proposta 1 fig. 5 Proposta 2 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através do desenvolvimento de um produto como a escova de dental, pode-se aplicar os princípios éticos do design, como o conforto de uso, satisfação psico-social do usuário e a viabilidade da produção em série. Os resultados da pesquisa mostram como o Design é uma ferramenta importante na introdução de novos materiais no mercado. Os estudos mostrados neste artigo possibilitam uma continuidade do projeto, sendo necessário à fabricação de protótipos com o polímero biodegradável, validando por fim a importância desta nova aplicação do material em estudo e sua importância para a sociedade num desenvolvimento sustentável. BIBLIOGRAFIA BONSIEPE, Gui. Metodologia experimental: desenho industrial. Brasilia: CNPq, 1984. BÜRDEK, Bernhard. Diseño: História, teoria y pratica del dieño industrial. 2ed. Barcelona: 1994. Editorial Gustavo Gili.