Trata-se de impugnação do Edital do Pregão Eletrônico n. 4-004-12, cujo objeto é a contratação de empresa especializada na prestação de serviços para fornecimento de vale alimentação/refeição, através de cartão magnético com senha, destinados aos empregados da Companhia Potiguar de Gás - POTIGÁS, válido em todo o território nacional, apresentada pela empresa SODEXO PASS DO BRASIL SERVIÇOS E COMÉRCIO S.A., em 11/04/2012. A Impugnante insurge-se contra as exigências contidas no item 8.1.1.1 da minuta do Contrato anexa ao Edital, referente ao dever da contratada de fornecer para cada empregado mais um cartão adicional para dependente, sem custos adicionais para Contratante, entendendo que afronta as normas regulamentadoras do Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT, fato que impedirá TODAS as empresas do ramo de alimentação/refeição-convênio de fornecerem os cartões para os dependentes solicitados, uma vez que estão limitadas às condições impostas pelo PAT, configurando-se violação ao Princípio da Competitividade da Licitação, restringindo demasiadamente o número de licitantes que participariam do certame. É o relatório. Decido. Conforme dispõe o art. 18, do Decreto nº 5.450, de 31 de maio de 2005, que regulamenta o pregão na forma eletrônica, os licitantes têm o prazo de 02 (dois) dias úteis antecedentes à abertura da sessão pública, para apresentar a impugnação. Considerando que a presente impugnação foi apresentada no dia 11/04/2012, conheço da impugnação por ser tempestiva. Inicialmente, é importante salientar que a POTIGÁS ao estipular as regras do pregão eletrônico 4-004-12 não o fez por mero capricho, as mesmas 1
foram colocadas em atendimento as justas reivindicações dos empregados da Companhia, bem como a comodidade dos mesmos, visto que muitos de seus empregados, responsáveis pela operação e manutenção da rede de gasodutos da Companhia em todo o estado do Rio Grande do Norte, estão em constantes viagens ao interior do estado, além de participarem de cursos de capacitação em outros estados, necessitando que algum dependente realize a aquisição de gêneros alimentícios a partir de seus créditos disponibilizados nos cartões magnéticos. Assim, equivoca-se a impugnante quando diz que a exigência visa restringir a competição, impedindo que TODAS as empresas licitantes possam fornecer cartões aos dependentes dos trabalhadores, tanto que a única a se sentir lesada foi a empresa ora impugnante, as demais, que são a grande maioria cumprem a exigência. Cabe dizer que ao preparar o Edital a Administração não tem o dever de satisfazer ou prejudicar os interesses de todas as empresas de um determinado ramo, mas tem sim o dever de possibilitar a participação de um maior número de licitantes, atendidas as suas necessidades, como bem ensina o mestre Dílson Dallari, senão vejamos: Visa à concorrência pública fazer com que o maior número de licitantes se habilite para o objetivo de facilitar aos órgãos públicos a obtenção de coisas e serviços mais convenientes a seus interesses, em razão deste escopo, exigências demasiadas e rigorismos inconsentâneos com a boa exegese da lei deve ser arredados. 1 1 DALLARI, Adilson Abreu. Aspectos Jurídicos da Licitação, 5 ed., São Paulo, Saraiva, 2000, p. 88. 2
Dessa forma, repita-se, não se trata de regra meramente restritiva, visto que muitos de nossos empregados viajam a trabalho, não tendo acesso aos sistemas de recarga, e, a finalidade da exigência estipulada no 8.1.1.1 da minuta do Contrato anexa ao Edital é justamente proporcionar ao empregado que outro membro de sua família possa utilizar o seu crédito para suprir as necessidades básicas do lar. Ademais, a Impugnante asseverou que a Portaria nº. 03, de 01 de março de 2002, baixada pela Secretaria de Inspeção do Trabalho e o Diretor do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, previu a possibilidade de fornecimento dos documentos de legitimação através de cartões eletrônicos ou magnéticos aos empregados. Em momento algum do Edital ou da minuta do contrato, a POTIGÁS afirmou que os valores de aquisição de refeições ou de gêneros alimentícios em estabelecimentos comerciais a serem creditados aos seus empregados seria estendidos a dependentes, uma vez que é direito do trabalhador. Apenas foi determinado que caso o trabalhador queira possibilitar que algum de seus dependentes possa realizar compras em seu nome, seja expedido 01 (um) cartão adicional, sem custos para a POTIGÁS. Ademais, perceba-se que se trata de medida razoável, uma vez que não se está exigindo um número infinito de cartões, mas apenas um. Com efeito, tal exigência não é critério de julgamento para se declarar o vencedor do certame, ou seja, em hipótese alguma, o item impugnado poderá restringir a participação de interessados em participar da licitação. Ato contínuo, observe-se que se trata de um pregão eletrônico do tipo MAIOR PERCENTUAL DE DESCONTO, onde o custo do fornecimento do cartão adicional deverá ser levado em consideração por todas as licitantes na formulação de suas propostas. Portanto, não há se falar em violação ao princípio da competitividade. 3
Dessarte, inexiste violação ao princípio da igualdade entre as partes, uma vez que não se discute qualquer ilegalidade do edital, no que tange aos requisitos de capacidade técnica, financeira ou aspectos de habilitação dos interessados, posto que são compatíveis com o objeto do certame. As empresas que prestaram os serviços objeto do processo licitatório de forma adequada e eficiente nada têm a temer. Assim, as exigências impugnadas somente possuem um escopo, qual seja: a consecução do interesse público, selecionando a proposta mais vantajosa apresentada por empresa idônea. É certo que não pode a Administração Pública, em nenhuma hipótese, fazer exigências que frustrem o caráter competitivo do certame, mas sim garantir ampla participação na disputa licitatória, possibilitando o maior número possível de concorrentes, desde que tenham qualificação técnica e econômica para garantir o cumprimento das obrigações. Em verdade, pretende a Impugnante apenas diminuir custos com a emissão de um cartão magnético, pretensão que se apresenta irrazoável e desproporcional, violando princípios constitucionais norteadores da Administração Pública, quais sejam, da razoabilidade e proporcionalidade. Assim preceitua o mestre Hely Lopes Meirelles acerca do princípio da razoabilidade, litteris: (...) implícito na Constituição Federal (...), o princípio da razoabilidade ganha dia a dia, força e relevância no estudo do Direito Administrativo e no exame da atividade administrativa. Sem dúvida, pode ser chamado de princípio da proibição de excesso, que, em última análise, objetiva auferir a compatibilidade entre os meios e os fins, de modo a 4
evitar restrições desnecessárias ou abusivas por parte da Administração Pública, com lesão aos direitos fundamentais. 2 Posto isso, conheço da impugnação por ser própria e tempestiva, mas lhe nego provimento para manter as exigências no item 8.1.1.1 da minuta do Contrato anexa ao Edital, referente à exigência de se fornecer para cada empregado mais um cartão adicional para dependente, sem custos adicionais para Contratante. Notifique-se. Natal/RN, 12 de abril de 2012. Antônio Saldanha Filho Pregoeiro Oficial da POTIGÁS 2 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 27 ed., São Paulo, Malheiros, 2002, p. 91. 5