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Transcrição:

Novembro/2011 ANO 2 N o 7 Universidade Federal do Ceará (UFC) Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) BEIJUPIRÁ NEWS EDITORIAL Nesta edição News. Com satisfação estamos lançando a sétima edição do Beijupirá Editorial Pág. Como sempre, apresentamos informações preparadas exclusivamente para o nosso boletim. Neste número, Erik Hempel, considerado no âmbito mundial como uma das pessoas que detêm mais conhecimentos no comércio internacional de pescado, concede ao Boletim um raro privilegio com um belo artigo. A Entrevista, desta vez, ficou a cargo de Itamar de Paiva Rocha, que dispensa apresentação. Também mostramos dois bons artigos de projetos de cultivo de beijupirá, de pequeno tamanho, em execução em Angra dos Reis RJ e na Ilha Bela SP. Nesta edição, não menos importante, ocupamos espaço significativo para mostrar os resultados dos cursos e degustações do beijupirá cultivado, realizados nas cidades de Recife, Brasília e Fortaleza, com comentários sobre o planejamentos das ações, a execução e a análise do que foi alcancado. Os cursos e as degustações representam uma verdadeira parceria entre o setor público e o privado. Não no simples sentido de o primeiro repassar recursos financeiros ao segundo, mas sim, com o setor privado colocando suas estruturas, apoio logístico, pessoal e, principalmente, experiência profissional sem custos à disposição de nosso projeto. A todos os participantes, o meu muito obrigado O BEIJUPIRÁ NASCE UMA ES- TRELA? ENTREVISTA 2 CULTIVO EXPERIMENTAL ILHA BELA: UMA REALIDADE CULTIVO DE BEIJUPIRA NO LI- TORAL NORTE DE SÃO PAULO PLANEJAMENTO DO ESTUDO DE MERCADO PARCERIAS 4 PRODUTOS OBTIDOS 5 IMPACTOS NOS MÉDIOS DE CO- MUNICAÇÃO CURSOS E DEGUSTAÇÕES 5 RESULTADOS DOS CURSOS 6 RESULTADOS DA DEGUSTAÇÃO 8 RESULTADOS NOS RESTAU- RANTES JAPONESES 1 3 3 4 5 9 Raúl Malvino Madrid Editor CONSIDERAÇÕES FINAIS 9 O BEIJUPIRÁ NASCE UMA ESTRELA? Erik Hempel Consultor internacional.há anos fala-se que estaria surgindo uma nova estrela na aquicultura: o beijupirá. Trata-se de um peixe que tem crescimento extremadamente veloz, e que apresenta uma carne suave e branca, praticamente sem espinha. Ao ser um pescado marinho, suas características lhe outorgam importantes vantagem no mercado internacional do pescado branco. Embora a produção de cultivo, até o presente momento, ter sido muito limitada, os avanços registrados em Vietnã indicam que esse pescado será altamente apreciado nos próximos anos. Muitos atrativos, mas pouca produção. O beijupirá (Rachycentron cana- dum) é a única espécie da família Rachycentridae, que também é conhecida como ling, pez limón, Black kingfish e crab eater (comedor de caranguejos), entre outros nomes. É um peixe pelágico que pode pesar mais de 60 kg, encontrado em todos os mares tropicais e temperados (20 30 o C). A única exceção é o pacífico oriental. Caracteriza-se por sua carne branca e textura firme, suave sabor, poucas espinhas e por sua extremada velocidade de crescimento, indo de 1 grama a 5 ou 6 kg em um ano, e 8-10 kg em dois anos. A pesar de sua carne ser de cor branca, o beijupirá é uma espécie com elevado conteúdo de gordura e, portanto, muito adequada para ser servida como sushi e sashimi; assim que os filés sem pele e sem espinhas são os produtos de maior interesse. Ao mesmo tempo, é um pescado que pode ser submetido à defumação, forma de produto, também, muito preciada no mercado. O beijupirá é altamente versátil e pode ser preparado por qualquer método culinário aplicável ao pescado, desde assado ao cozido no forno. O fato de que contenha alto conteúdo de gordura superior ao do salmão do Atlântico significa que é rico em ácidos graxos Omega 3, e portanto, muito benéfico do ponto de vista da saúde. Texto completo

3 Cultivo experimental de beijupirá Ilha Grande RJ: uma realidade Artur Nishioka Rombenso Histórico A piscicultura marinha no Brasil encontra-se num momento de oportunidades, pois há grande interesse não somente do setor público e do privado, mas também das universidades, em fomentar a produção de peixes marinhos mediante a produção de juvenis em laboratório, como é o caso do beijupirá (Rachycentron canadum). Estimulado com todo esse crescente interesse, em 2009, na Ilha Grande RJ, um cultivo experimental de beijupirá foi iniciado dentro de uma parceria privada, pública e universitária. O local citado foi um dos primeiros a fechar a cadeia produtiva dessa espécie por meio da maturação natural em tanques-rede, seguido de desovas e produção de alevinos em tanques indoor, e a posterior engorda em tanques-rede (Figura 1). Localidade A fazenda marinha é localizada na Praia de Jaconema na Ilha Grande Angra dos Reis RJ, e consta de sete tanques-rede (Figura 2): três retangulares de 3 x 6 m, três circulares de 6 m de diâmetro e um quadrado de 8 x 8 m. O clima é tropical com temperatura da água variando entre 19 C no inverno e 30 C no verão, e com uma média anual de 25 C. A profundidade do cultivo varia entre 6 14 m, que está abrigado no mar aberto. Engorda Em 2009, 1000 juvenis oriundos do Laboratório Nacional de Maricultura (LANAM), localizado em Ilha Comprida - SP/Mistério da Pesca e Aquacultura, foram estocados e cultivados por dois anos em tanques-rede near-shore. O cultivo foi dividido em três etapas: na primeira fase, denominada de berçário, foram utilizados nove tanques-rede de 2 x 3 x 2 m com malha de 3 mm, sendo aproximadamente 30 cm mantidos fora d água, resultando em um volume útil de 10 m³. Os peixes foram estocados com peso de 1,5 g e comprimento de 7 cm, e com uma densidade de estocagem de 0,02 kg/ m³. Os juvenis foram alimentados quatro vezes ao dia até à saciedade aparente, com ração INVE (50% de proteína bruta e 9% de gordura). Texto completo Cultivo de beijupirá no litoral norte de São Paulo - SP João Carlos Manzella Jr Introdução O aumento da população mundial tem elevado a demanda por alimentos protéicos de origem animal. Segundo dados da FAO 2008, a produção oriunda da pesca extartiva está estagnada. Aaproximadamente 52% dos recursos pesqueiros marinhos do mundo estão totalmente explorados, ou atingiram o máximo admissível, enquanto que outros 28% dos stocks são sobrepescados, esgotados ou em via de recuperação.por conseguinte, o fornecimento de pescado não poderá por muito mais tempo atender a demanda mundial. Por isso, a aquicultura é a atividade que tende a suprir essa demanda. Atualmente a aquicultura continental e a marinha, juntas, correspondem a 46% da produção mundial de pescado para o consumo humano. Aproveitando o crescimento do setor, a piscicultura marinha no Brasil desabrocha com grande interesse por parte do setor publico e privado em fomentar a produção de peixes marinhos no país, até então i- nexpressiva. A espécie escolhida para dar inicio a essa nova fase foi o Rachicentrum canadum, mais conhecido como beijupirá ou cobia (inglês) Aproveitando esse momento, o litoral norte paulista vem iniciando ao longo da costa cultivos experimentais com o beijupirá, com o setor privado e os pequenos produtores locais apostando na espécie e trabalhando para que a atividade se desenvolva da melhor maneira possível na costa do estado. Status do Litoral norte SP Atualmente no litoral norte do estado de São Paulo, mais precisamente nos municípios de São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba, existem cultivos experimentais em tanques-rede. Os pequenos produtores aproveitam o rejeito da pesca artesanal para engordar seus peixes, enquanto a iniciativa privada aposta no uso da dieta seca, a ra- ção. Os resultados da engorda com rejeito até o momento são bem superiores se comparados com aqueles resultantes do uso de ração, o que nos mostra o quanto é preciso melhorar a qualidade nutricional da ração industrializada nacional. Para se ter uma idéia, peixes do mesmo lote, alimentados com ração, pesavam 32 gramas contra 250 gramas dos peixes alimentados com rejeitos. A falta de uma ração de qualidade desencoraja a iniciativa privada a expandir a atividade em larga escala até que se tenham resultados satisfatórios e confiáveis a respeito da ração. Texto completo

BEIJUPIRÁ NEWS Ano II N o 7 Cultivo experimental de beijupirá Ilha Grande RJ: uma realidade Artur Nishioka Rombenso Aluno de pos-graduação da FURG e um dos responsáveis técnicos do cultivo. Histórico A piscicultura marinha no Brasil encontra-se num momento oportuno, pois há grande interesse tanto do setor público quanto do privado e, também, das universidades, de fomentar a produção de peixes marinhos mediante a produção de juvenis em laboratório, como é o caso do beijupirá (Rachycentron canadum). Estimulado com todo esse crescente interesse, em 2009, na Ilha Grande RJ, foi iniciado um cultivo experimental de beijupirá por meio de uma parceria privada, pública e universitária. O local citado foi um dos primeiros a fechar a cadeia produtiva dessa espécie usando a maturação natural em tanques-rede, seguida de desovas e produção de alevinos em tanques indoor, e a posterior engorda em tanques-rede (Figura 1). Localidade A fazenda marinha está localizada na Praia de Jaconema na Ilha Grande Angra dos Reis RJ e consta de sete tanques-rede (Figura 2): três retangulares de 3 x 6 m, três circulares de 6 m de diâmetro e um quadrado de 8 x 8 m. O clima é tropical com a temperatura da água variando entre 19 C no inverno e 30 C no verão, com uma média anual de 25 C. A profundidade do cultivo varia entre 6 14 m, que está abrigado no mar aberto. Engorda Em 2009, 1000 juvenis oriundos do Laboratório Nacional de Maricultura (LANAM), localizado em Ilha Comprida - SP/Mistério da Pesca e Aquacultura, foram estocados e cultivados por dois anos em tanques-rede near-shore. O cultivo foi dividido em três etapas: na primeira fase, denominada de berçário, foram utilizados nove tanques-rede de 2 x 3 x 2 m com malha de 3 mm, sendo aproximadamente 30 cm mantidos fora d água, resultando em um volume útil de 10 m³. Os peixes foram estocados com peso de 1,5 g e comprimento de 7 cm, com uma densidade de estocagem de 0,02 kg/m³. Os juvenis foram alimentados quatro vezes ao dia até a saciedade aparente, com ração INVE (50% de proteína bruta e 9% de gordura).

Ao final de um mês, os peixes atingiram o peso médio de 41 g e comprimento de 27 cm. Na segunda fase, o tamanho da malha passou para 12 mm e a densidade de estocagem inicial foi de 4,6 kg/m³. Após quatro meses, os peixes atingiram 500 g e 38 cm, quando então teve início a terceira etapa e os peixes foram transferidos para tanques-rede de 7,5 m de diâmetro x 2,3 m, com aproximadamente 60 cm fora d água, resultando um volume útil de 90 m³ e tamanho de malha de 20 mm. A densidade de estocagem inicial foi de 3,1 kg/m³ e, no período em que os animais atingiram entre 1 e 3 kg, foram separados por classes de tamanho para homogeneizar o crescimento e evitar o canibalismo. A partir da segunda fase, os juvenis foram alimentados três vezes ao dia até a saciedade aparente com rejeito de pesca, sendo a alimentação composta por sardinhas frescas. No primeiro e no segundo ano, os peixes atingiram o peso médio de 4,5 e 13 kg, com os exemplares maiores chegando entre 6 e 25 kg, respectivamente (Figura 3). A sobrevivência durante a engorda foi superior a 60 %, e os peixes mortos foram retirados por mergulhadores. Manejo dos tanques-rede Quinzenalmente realizou-se a limpeza das redes com abertura menores de 20mm, e a cada dois meses daquelas redes com aberturas maiores de 20 mm. A limpeza das malhas é um processo que requer atenção, pois exige a retirada das malhas e limpeza com jato medinate processo manual. Realiza-se esse procedimento para manter a qualidade da água dentro dos tanques, com o intuito de não degradá-la e, também, de evitar infestação de ectoparasitas. Redes de proteção foram colocadas durante a engorda a fim de evitar a ação de predadores, como o ataque de aves (garças) e também de outros animais (lontra), que podem danificar a rede e entrar no tanque. O manejo, tanto dos tanques-rede quanto o da alimentação, é de extrema importância para assegurar o sucesso do cultivo com boas taxas de crescimento e minimizar a mortalidade em conseqüência da má qualidade de água e/ou aparecimento de doenças. Reprodução e larvicultura No final do segundo ano, 200 peixes foram selecionados para o plantel de reprodutores, com um peso médio de 15 kg, com os maiores atingindo 25 kg. Os reprodutores foram alimentados com sardinha fresca 4 vezes por semana até a saciedade aparente. No início da primavera, com o aumento da temperatura da água de 25 para 27 C, as primeiras desovas naturais ocorreram e se mantiveram até o início do outono, quando a temperatura da água começou a cair.

Uma estrutura mínima foi construída com o intuito de completar a cadeia produtiva do beijupirá. O laboratório foi composto por um tanque de maturação, tanques para a larvicultura e incubadoras para o cultivo de alimento vivo. Os ovos foram coletados e incubados segundo a literatura, e a larvicultura foi realizada segundo o protocolo padrão para o beijupirá, com uso de rotífero e Artemia como alimentos vivos, até a aceitação do alimento inerte pelos peixes. Após 50 dias, os juvenis atingiram um peso médio de 1 g e foram transferidos para os tanquesrede de berçário com vistas ao início da engorda. A maturação extensiva é um processo válido e, no momento, impulsiona a nascente indústria de beijupirá no Brasil, servindo de exemplo para outros países cuja maricultura ainda é uma atividade emergente. Esta técnica se torna atraente devido à alta qualidade dos ovos, boas taxas de fertilização e baixa porcentagem de larvas deformadas. Porém, com esse setor em expansão, a tendência é a migração do sistema extensivo para o intensivo, com maior consistência e biossegurança. Experimentos realizados Durante o cultivo foi realizada uma série de experimentos com o intuito de maximizar a performance de crescimento da espécie na região e estabelecer protocolos de engorda em tanques-rede em sistema near-shoe. Foram avaliados: métodos de transporte de juvenis, efeitos do manejo alimentar (freqüência alimentar e taxa de arraçoamento), efeitos do manejo do cultivo, teste de dietas, potencial de crescimento e viabilidade econômica. Cultivo multi-trófico integrado O conceito de aquacultura multi-trófica integrada, conhecido em inglês como integrated multi-trophic aquaculture (IMTA), consiste na integração de um cultivo que requer alimentação exógena (beijupirá) com outros que extraiam seus nutrientes do ambiente, a parte inorgânica (macroalgas) e a parte orgânica (moluscos). Nesse sistema, os resíduos de um cultivo se tornam um recurso (alimento ou fertilizante) para outros. O alimento é um dos custos operacionais mais importantes dentro da piscicultura marinha. Através do IMTA, parte do alimento e da energia que seria considerada perdida num monocultivo, é recapturada e convertida em produção com valor comercial agregado, além de biomitigar o local do sistema. Na fazenda marinha de Ilha Grande o cultivo multi-trófico integrado possui 4 componentes (beijupirá Rachycentron canadum, mexilhão Perna perna, vieira Nodipecten nodosus e macroalga Kappaphycus alvarezii) (Figura 4), e está em fase experimental, com o intuito de testar a viabilidade e o potencial de crescimento de cada um desses componentes dentro do

sistema, através do melhor posicionamento em relação à hidrodinâmica local, para se obter a maior absorção de nutrientes do meio. Mercado Diferentemente do Nordeste, na região Sudeste o beijupirá não é um peixe conhecido, apesar de sua carne de ótima qualidade. Isso ocorre devido à sua captura ser pouco comum e, com isso, sua rara presença nos mercados. Quando capturado, o preço do peixe inteiro varia entre R$ 15,00 a R$ 18,00 por kg, e apresenta tamanho variado. No cultivo, os peixes a partir de 5 kg são vendidos inteiros a R$ 25,00 por kg ou o filé a R$ 35,00 por kg. Perspectivas para o futuro O beijupirá se adapta bem ao sistema de cultivo empregado na costa do Rio de Janeiro, com boas taxas de crescimento e com um mercado em potencial a ser explorado. Dessa forma, o laboratório de produção de juvenis na Ilha Grande será implementado com a finalidade de aumentar a qualidade e a quantidade da produção de juvenis de uma forma biossegura e constante, para atender a futura demanda de produtores locais. Essa iniciativa tem como desafio fomentar a piscicultura marinha de forma sustentável, buscando a preservação da biodiversidade e dos recursos marinhos da Baía de Ilha Grande, contemplando o ecodesenvolvimento da atividade através da pesquisa e a busca por novas espécies com potenciais para a aquacultura. Agardecimentos: a equipe da Pousada Nautilus, e a Secretaria de Pesca e Aquacultura de Angra dos Reis.

Figura 1. Cadeia produtiva do beijupirá. Figura 2. Cultivo multi-trófico integrado. Figura 3. Beijupirá de 7 kg. Figura 4. Componentes cultivo multi-trófico integrado. A- Macroalga, B- mexilhão, C- vieira e D- beijupirá.