ARTIGO ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O NÍVEL DE FORÇA ABDOMINAL DE MULHERES PRATICANTES DE GINÁSTICA DE MINITRAMPOLIM POWER JUMP E DE PRATICANTES DE TREINAMENTO DE FORÇA Laudimiria Katarine Santana Davi Porto 1 Fabiana Magalhães Botelho 2 Vinicius Dias Rodrigues 3 Saulo Daniel Mendes Cunha 4 RESUMO A musculatura abdominal é responsável pela postura e proteção para a coluna vertebral. Alterações no seu padrão de força podem prejudicá-la, facilitando o aparecimento de patologias. Objetivo: O presente artigo teve como objetivo verificar os níveis de força abdominal em mulheres praticantes de musculação e de ginástica de minitrampolim. Metodologia: O estudo caracteriza-se como quantitativo e descritivo. Participaram do estudo 20 mulheres com idade média de 26,05 ±3,4 anos, sendo 10 praticantes de musculação e 10 praticantes de ginástica de minitrampolim, todos com tempo de prática superior a 6 meses. Para verificação dos dados, foi utilizado o Teste Abdominal de Pollock e Wilmore (1993). Na análise dos resultados foi usado o cálculo da média e desvio-padrão, bem como o teste T de Student para amostras independentes, utilizando o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 2001. Resultados: Evidenciou-se através da pesquisa que as praticantes de musculação foram classificadas com nível médio de força abdominal, com média de repetições de 29,0±5,6. As praticantes de ginástica possuem um bom nível de força abdominal, com média de repetições 32,5±4,9. As 1 Graduanda em Educação Física na Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, Montes Claros-MG. 2 Acadêmica do curso de Educação Física - Unimontes 3 Professor do Laboratório do Exercício Unimontes 4 Professor do departamento de Educação Física - Unimontes R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 219-226, 2010 219
praticantes de ginástica possuem nível de força abdominal superior ao dos praticantes de musculação. Palavras-chave: força abdominal, ginástica de minitrampolim, treinamento de força. INTRODUÇÃO A região torácica e a pelve se conectam através das vértebras lombares. Nessa região encontra-se aproximadamente metade do peso corporal; dessa forma, a musculatura abdominal tem importante papel na sustentação dessa região. Além disso, essa musculatura contribui para a manutenção do equilíbrio tanto estático quanto dinâmico da pelve (PINTO, 2000). De acordo com Weineck (1999), o desequilíbrio muscular é proporcionado por um desenvolvimento desigual da força e encurtamento dos músculos responsáveis pelo desempenho, em conjunto com um enfraquecimento dos músculos que não foram eficientemente treinados. Dessa forma uma hipotonia abdominal favorece o desenvolvimento de patologias e uma predisposição a ptose abdominal. Com isso, um fortalecimento dessa musculatura torna-se necessário, como ação preventiva. Dois possíveis meios para isso são o treinamento de força e a ginástica de minitrampolim. O treinamento de força pode ser conceituado como uma metodologia de treinamento, no qual o principal objetivo é o desenvolvimento da capacidade física força (GUEDES JR.; ROCHA 2008). Para Silva (2004), são exercícios realizados contra resistências graduais, tendo uma eficiência em aumentar o volume dos músculos, assim como sua capacidade contrátil. O segundo meio, o Power Jump, é um programa de ginástica de minitrampolim. O treinamento de força proporciona benefícios para o condicionamento físico geral, cardiorrespiratório e neuromuscular, por auxiliar o retorno venoso e a correção da postura. A postura correta e o alinhamento corporal são a base para padrões de movimento perfeito, preparando esses dois elementos para a situação estática e mantendoos, durante a fase dinâmica sobre a superfície elástica. Essa manutenção está relacionada com o nível de condicionamento do indivíduo, promovendo efeito positivo nas atividades diárias através da 220 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 219-226, 2010
ativação da musculatura estabilizadora da postura ereta e dos proprioceptores responsáveis pela atuação muscular durante a aula e manutenção do equilíbrio muscular, o que explica o enfoque profilático da prática sobre o minitrampolim, combinado com movimentos controlados e balanceados (POWER JUMP, 2008). Dessa forma, a investigação proposta é relevante, pois verifica dentre os treinamentos analisados, qual é o mais eficaz para ganhos de força abdominal, possibilitando intervenções futuras, ampliando a pouca bibliografia, além de propor novas perspectivas sobre o assunto em questão. O presente artigo teve o objetivo geral verificar o nível de força abdominal entre as praticantes de ginástica e as praticantes de treinamento de força, estas treinadas para resistência muscular localizada (RML), além de verificar e comparar a classificação do nível de força abdominal de ambos os grupos, proposta por Pollock e Wilmore (1993). METODOLOGIA A amostra do presente estudo foi composta por 20 mulheres, com idade média geral de 26,05 ±3,4. A amostra foi dividida em dois grupos: o grupo 1, composto por 10 mulheres praticantes de musculação com ênfase em RML, com idade média de 26,4 ± 2,5; e o grupo 2, por 10 mulheres praticantes de ginástica de minitrampolim com idade média de 25,7 ± 4,3. Toda a amostra realizava a modalidade correspondente há no mínimo 6 meses, e esta era realizada 3 vezes por semana. Para avaliar o nível de força abdominal foi utilizado o protocolo de Pollock e Wilmore (1993), que consiste em verificar o máximo de repetições abdominais corretas que o avaliado consegue executar em um minuto, sem perda do gesto técnico. Os dados foram coletados no Laboratório do Exercício da Unimontes, e a coleta foi realizada no turno vespertino, durante trinta dias. A mostra foi composta por mulheres, visto que elas são o público-alvo das aulas de ginástica. Protocolo: deitado em decúbito dorsal, sobre o colchão colocado numa superfície plana, com dedos das mãos entrelaçados na nuca, joelhos flexionados, pés em contato com o solo (30,5 cm das nádegas) e abertos na largura dos ombros. O avaliador deve manter os pés do R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 219-226, 2010 221
avaliado em contato com o solo e presos para não escorregarem; o aluno, retirando as costas do chão, flexionando o tronco e o quadril até os cotovelos tocarem os joelhos, volta à posição inicial com os cotovelos tocando o solo, repete o movimento tão depressa e tantas vezes quanto for possível; marca-se o número de repetições durante 1 minuto (FERNANDES FILHO, 1999). Inicialmente foram selecionados os grupos, e para cada integrante eram esclarecidos todos os procedimentos do teste. Para apreciação dos dados obtidos, foi realizado o cálculo da média e desvio-padrão, bem como o teste T de Student para amostras independentes. A distribuição normal dos dados foi verificada através do teste de Kolmogorov-Smirnov. A tabulação dos resultados foi feita através do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 2001. O grau de significância adotado foi p<0,05. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados demonstram que não houve diferença significativa (p=0,159) entre o nível de força abdominal das praticantes de ginástica quando comparadas com as praticantes de musculação. Já as idades foram significativamente diferentes (p=0,018). O nível de significância adotado no teste foi p<0,05. Com relação ao teste de força as médias obtidas foram para o grupo1 (29,0±5,6) e para o grupo 2 (32,5±4,9). Tabela 1 - Média e desvio padrão das idades e repetições realizadas. Número de indivíduos (N). Variável Grupo N Média Desvio Padrão Idade Repetições 1 10 23,70 2,00 2 10 26,40 2,59 1 10 29,00 5,67 2 10 32,50 4,94 A tabela a seguir mostra os valores máximos e mínimos das repetições atingidas por ambos os grupos, como também o nível de variância. 222 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 219-226, 2010
Tabela 2 - Valores máximos e mínimos e variâncias dos grupos Grupo N Variância Mínimo Máximo Média Desvio Padrão 1 10 17,00 21,00 38,00 29,00 5,67 2 10 14,00 26,00 40,00 32,50 4,94 Com base nos dados, podemos inferir que o grupo 1 apresentou maior variação em resultados, assim como maior desvio da média em relação às repetições. Além disso os valores máximos e mínimos do grupo 2 evidenciam maior média de repetições, quando comparada à do outro grupo. A respeito da classificação da amostra segundo o protocolo de Pollock e Wilmore (1993), o grupo 1 pode ser classificado como nível médio, que fica entre 25 e 30 repetições. Já o grupo 2 pode ser classificado como nível bom, que fica entre 31 e 35 repetições. Tabela 3 - Classificação do nível de força abdominal Grupo Repetições segundo Pollock e Wilmore (1993) Média de repetições executadas Classificação 1 25-30 29,00 Médio 2 31-35 32,50 Bom O objetivo deste artigo foi verificar os níveis de força abdominal em mulheres praticantes de musculação e de ginástica de minitrampolim. Analisando os dados obtidos, verificou-se que as praticantes de ginástica possuem nível mais elevado de força abdominal, porém não houve diferença significativa entre as repetições dos grupos. A literatura pode explicar esse resultado, uma vez que nas aulas de Power Jump tem-se resistência suficientemente disponível para ganhos de força abdominal, através de exercícios específicos, e nos membros inferiores, através de agachamentos (POWER JUMP, 2008). O trabalho muscular isométrico no momento de empurrar a superfície elástica e sustentar o corpo em equilíbrio torna-se uns dos principais fatores que corroboram o referente resultado. Além disso, R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 219-226, 2010 223
um enfoque importante durante as aulas é a manutenção da postura; para isso, há utilização de técnicas de correções desta, que exige uma colocação ereta do tronco na contração isométrica dos estabilizadores, agindo contra a ação da gravidade. Nesse programa as técnicas utilizadas como fase de aterrissagem e a fase de empurrar a superfície elástica para baixo envolvem o domínio do centro de gravidade (POWER JUMP, 2008). Fleck e Kraemer (1999) corroboram esse fato, pois o treinamento isométrico promove aumento de força associado ao número de ações musculares realizadas, à duração das ações musculares, ao fato de a ação muscular ser máxima ou submáxima e à frequência do treino. Nos montagens de programas de treinamento de força, os exercícios abdominais isométricos podem não ter sido priorizados; isso parece ser um dos motivos para que as praticantes de musculação tenham alcançado um nível menor de força abdominal (FLECK; KRAEMER, 1999). Embora esse possa ser um motivo, as razões para tal ainda não se encontram claras, uma vez que o estudo apresenta uma limitação amostral. CONCLUSÃO Concluiu-se que as mulheres praticantes de Power Jump dessa amostra possuem maior força abdominal quando comparada à das mulheres praticantes de musculação. Dessa forma, para melhor compreender esse assunto, estudos posteriores tornam-se necessários. ABSTRACT COMPARATIVE ANALYSIS BETWEEN THE LEVEL OF ABDOMINAL STRENGTH OF WOMEN PRACTITIONERS OF GYMNASTICS mini trampoline POWER JUMP AND PRACTITIONERS OF STRENGTH TRAINING 224 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 219-226, 2010
Summary: The abdominal muscles are responsible for laying and protection for the spine. Changes in their pattern of force can harm it, facilitating the emergence of diseases. Objective: This study aimed to determine levels of abdominal strength in women bodybuilders and fitness mini trampoline. Methodology: The study is characterized as quantitative and descriptive. Study participants were 20 women with a mean age of 26.05 ± 3.4 years, 10 weight lifters and 10 practitioners of exercise mini trampoline, all practice time exceeding six months. For data verification test was used Abdominal Pollock and Wilmore (1993). For data analysis was used to calculate the mean and standard deviation and the T of Student for independent samples, using software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) version 2001. Results: It was proven through research that the bodybuilders were classified as average level of abdominal strength with a mean of 29.0 ± 5.6 repeats. The practitioners of exercise have a good level of abdominal strength with a mean of 32.5 ± 4.9 reps. The practitioners of gymnastics have higher levels of abdominal strength to weight lifters. Key words: abdominal strength; of mini-trampoline gymnastics, strength training. REFERÊNCIAS FERNANDES FILHO, José. A prática da avaliação física: testes, medidas e avaliação física em escolares, atletas e academias de ginástica. Rio de Janeiro: Shape, 1999. p. 116-117. FLECK, Steven J.; KRAEMER, William J. Fundamentos do treinamento de força muscular. Trad. Cecy Ramire Maduro. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul Ltda, 1999. GUEDES JR, Dilmar Pinto; ROCHA, Alexandre Correia. Ajustes neuromusculares frente ao treinamento resistido-artigo de revisão. Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício, 2008. PINTO, Roberta Ramos et al. Relação entre lordose lombar e desempenho da musculatura abdominal em alunos de fisioterapia. Acta Fisiátrica, v. 7, n. 3, p. 95-98, 2000. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 219-226, 2010 225
POWER JUMP. Mix 16. Direção: Body Systems Latin America. 2008. 16 CD-ROM. SILVA, Rodrigo da. O treinamento de força na manutenção da saúde. Revista Digital - Buenos Aires, a. 10, n. 70, Março de 2004. Disponível em: http://200.32.8.208/efd70/forca. Acesso em: 18 de abril, 2009. WEINECK, Jurgen. Treinamento ideal: Instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. 9. ed. São Paulo: Manole, 1999. Endereço: Laudimiria Katarine Santana Davi Porto, kateporto@yahoo.com.br Rua São Judas Tadeu n 39, apto 202, Todos os Santos. 38-91121377 226 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 5, p. 219-226, 2010