A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM GINÁSTICA: DEFINIÇÃO DE TERMOS Karen Cristina V. Da Silva* Marilene Cesário** Ana Maria Pereira** RESUMO O presente trabalho, vincula-se ao projeto de pesquisa, titulado como Ginástica na escola: organização do conhecimento, que integra as problemáticas debatidas e aprofundadas sobre o conhecimento da Ginástica. O objetivo desse estudo é pesquisar, analisar e definir terminologias que são utilizados em aulas de Educação Física, como: o que é ginástica, exercicio físico e atividade física. Apresentamos como problemática deste, a necessidade de investigar a base conceitual que explica e define esses termos/conceitos para a organização e sistematização do conhecimento em Educação Física, quando se tratando do ensino da Ginástica. O estudo de cunho bibliográfico utiliza-se da Análise de Conteúdos das produções disponibilizadas em livros, artigos científicos, dissertações e teses publicadas na área. A pesquisa em questão contribuirá para a ampliação da base teórica das produções disseminadas na área da Ginástica, no meio acadêmicoprofissional, visto que há certa escassez de produções científicas nesta, que se preocupe em definir esses termos/conceitos. Palavras-chave: Ginástica, Exercício Físico, Atividade Física.
INTRODUÇÃO: Apesar de escassa, encontramos como característica das publicações que circulavam no final da década de setenta e início dos anos oitenta, especificamente no campo da ginástica, produções científicas marcadas pela grande preocupação com o conhecimento técnico, atribuído aos seus gestos e exercícios, bem como a sua forma de aplicação em aulas de ginástica escolar. Cesário (2001) Frutos da pedagogia tecnicista, muito difundida no Brasil nesse período, os conhecimentos, nessas obras, Marinho (1983), Langlade e Langlade, (1970), limitavam-se a apresentar diferentes formas e tipos de exercícios e movimentações gímnicas, além de princípios pedagógicos para a sua intervenção na escola, baseando-se em pressupostos advindos da concepção da neutralidade científica, reforçando princípios da racionalização e racionalidade como objetivos a serem alcançados no âmbito escolar. As produções científicas de Silvana Goellner (1992), Lino Castellani Filho (1988), Carmen Lúcia Soares (1994, 1998), José Luíz dos Anjos (1995, 1998) e Amarílio F. Neto (1996), entre outras, apresentam aspectos políticos e ideológicos que percorrem todo o movimento histórico, desenvolvimento e inserção da Ginástica/Educação Física no processo educacional brasileiro, apresentando os aspectos subjacentes ao seu desenvolvimento na sociedade capitalista européia e no Brasil. Estudos de mestrado de Pereira (1998), Cesário (2001) e Rinaldi e Souza (2003), corroboram no sentido de identificar as principais características dos conteúdos e tendências pedagógicas, presentes no trato desse conhecimento nos cursos de formação inicial em Educação Física, na atualidade. Contudo, esse estudo se justifica pela carência de produções e reflexões a cerca dos conhecimentos relacionados às questões como: o que é Ginástica, o que é Exercício Físico, o que é Atividade Física. Entretanto apresentamos como problemática deste, a necessidade de investigar a base conceitual que explica e define termos/conceitos
encontrados no âmbito da Educação Física, para a organização e sistematização do conhecimento, quando se tratando do ensino da Ginástica na escola. O objetivo geral é pesquisar, analisar e definir esses termos/conceitos. Porém, há de se ter cuidado ao tentar definir, pois qualquer definição pode ser compreendida como um conhecimento acabado, e não é isso que buscamos com esse estudo. METODOLOGIA A pesquisa realizada caracterizou-se como bibliográfica e o instrumento de coleta de dados foi por meio do processo de análise de conteúdo, utilizando (...) o cálculo de freqüências que fornece dados cifrados, até a extração de estruturas traduzíveis em modelos, é uma hermenêutica baseada na dedução, a inferência. Os tratamentos dos dados obtidos seguiram os princípios metodológicos da análise de conteúdo, definida por Bardin (1977, p. 42) como: Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (inferências do autor). Para se buscar os significados manifestos e latentes nos documentos pesquisados, foi utilizada a Análise Temática, na qual a noção de tema liga-se a uma afirmação a respeito de determinado assunto, podendo ser apresentada graficamente através de uma palavra, frase ou resumo, que se liberta, naturalmente, de um texto analisado segundo critérios teóricos estabelecidos (Minayo, 1996). A Ginástica como conteúdo da Educação Física Percebemos que ao longo de sua história, a ginástica vem constituindo diversos sentidos e significados. No decorrer de décadas
ela conquista em seu universo de conhecimento características, e que em cada um desses períodos históricos ela adquire uma nova concepção, como por exemplo, a ginástica francesa do século XIX, em que o corpo rígido, forte e preparado para a guerra era o principal objetivo da ginástica (Soares, 1998). Realizando um breve histórico da ginástica, notamos que ela está presente desde a Pré-história, com a prática de atividades para a sobrevivência, percorre pelo período da Antigüidade em que aparecem os exercícios de preparação para a guerra, além de exercícios utilitários, logo após passa pela Idade Média, em que os exercícios serviam como base de preparação para os soldados que lutaram nas Cruzadas, além de outros como a escalada, a corrida, o salto, a caça e a pesca. Na Idade Moderna até a Idade contemporânea aparecem algumas transformações no sentido de sistematização e valorização da Ginástica, Souza, (1997). Contudo, a Educação Física enquanto área de conhecimento apresenta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC 1988), e nas Diretrizes Curriculares de Educação Física do Estado do Paraná (2008), a Ginástica como conteúdo. O fato é que quando a ginástica aparece nas escolas, não é tratada como conteúdo nas aulas, mas sim o aquecimento, alongamento, ou seja, surge como meio nas aulas de Educação Física, deixando de lado o seu caráter pedagógico, como um conhecimento próprio a ser ensinado nas aulas. Lorenzini, (2005). A falta de uma definição dificulta o entendimento do que seja a mesma, trazendo assim conseqüências no momento de ensino. Por outro lado uma definição concreta poderá limitar a abrangência da ginástica. É nesta direção que concebemos a ginástica, conteúdo da Educação Física, como uma manifestação da cultura corporal que tende a provocar em cada sujeito particular, a forma de movimentação e experiências corporais, podendo ser utilizada com ou sem ajuda de aparelhos, envolvendo movimentos realizados como as formas básicas de locomoção (Soares et al). Além disso, ela não se limita apenas à eficiência do movimento executado, como nos esportes olímpicos a ginástica é apresentada, mas possibilita também no âmbito da escola, uma reflexão sobre a as manifestações culturalmente construídas. Sua legitimação
enquanto conteúdo da Educação Física, se faz necessário para uma conscientização e ressignificação do conhecimento, no que diz respeito ao homem em movimento. Portando, abordar a ginástica apenas com seu caráter técnico-esportivo com importância apenas no movimento, restringe o individuo ao conhecimento desse campo de estudo. Exercício Físico e Atividade Física Encontramos no campo da Educação Física diversos conceitos/termos que são atribuídos a essa área de conhecimento, especificamente na Ginástica, conteúdo da Educação Física. Contudo procuramos pesquisar e analisar algumas dessas terminologias, que são o que é exercício físico e atividade física. Entretanto, observamos que existem poucas produções que nos auxiliam a compreender o significado desses no universo da Ginástica, ou então, quando existem, a preocupação maior é com o conhecimento técnico, e alguns termos importantes não são esclarecidos, o que acaba gerando equívocos no momento de seu ensino nas aulas de Educação Física. Nas literaturas pesquisadas e analisadas, percebemos que a atividade física e o exercício físico são compreendidos como sinônimos, Marinho (1983), Langlade e Langlade (1970), (Costa, (2000). Portanto, notamos que esse problema não é de hoje, pois em estudos realizados nas décadas de 70 e 80, já percebemos uma confusão na literatura ao apontar os conceitos/termos mencionados. Segundo Hebert (apud MARINHO, 1983, p. 130) define a atividade física, como movimentos realizados naturalmente, como andar até o serviço, correr para alcançar um ônibus, em fim ações do cotidiano. Podemos inferir que o autor citado anteriormente, quando menciona um exercício físico, diz respeito a um conjunto de movimentos organizados e sistematizados com um objetivo/finalidade de aprimoramento e relacionando-o a utilidade que terá nos afazeres do cotidiano. Para os autores Caspersen (1985), Gondim (2002), Hahas (2006), atividade física é entendida como todas as formas de movimentação do
homem, e que resultam em um gasto energético. Contudo, qualquer tipo de movimento realizado em que o indivíduo utiliza de suas estruturas biológicas e físicas, é atividade física. No conceito de exercício físico, esses mesmo autores dizem que é toda atividade organizada e planejada, o que difere da atividade física é que a mesma tem por objetivo uma manutenção ou melhora no que diz respeito aos componentes da aptidão física. Podemos dizer ainda, com base nos autores pesquisados, que é importante situar em saber que tanto atividade física como exercício físico, envolve também componentes culturais, sócio-econômicos, psicológicos, e que é dependente de fatores como horário livre para a prática, lazer, forma de trabalho, acesso aos locais com estruturas, com isso, atentar somente a sua definição não é suficiente, pois existem fatores que influenciam diretamente tais práticas. (Barbanti, 1990). CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIAS Realizando uma breve consideração do estudo que buscou a definição de termos, do campo da Educação Física como: exercício físico, atividade física e ginástica, portanto como já mencionado, nenhum conhecimento é acabado, por conseqüência novas pesquisas ainda estão por vim. Podemos dizer que, o que difere a atividade física do exercício físico, é que o último se caracteriza por movimentos repetitivos, sistematizado, devendo ser esquematizado, estruturado, e que contenha um objetivo/finalidade de aprimorar. Como exemplo podemos citar a musculação. Quando nos referimos a uma atividade física, devemos relacionar com os movimentos que realizamos no dia-a-dia, como por exemplo, lavar roupa. Contudo, todo exercício físico é também uma atividade física, mas nem toda atividade física é um exercício físico. Os estudos realizados apontam que esses termos não podem ser considerados como sinônimos. E quanto à questão da Ginástica, por sua definição, e seu reconhecimento enquanto conteúdo da Educação Física, observamos que há necessidade de um redimensionamento de seu ensino na formação inicial de
professores, uma vez que há carência na formação dos profissionais da área, também, muitos ao sair da graduação em Educação Física, não buscam um conhecimento aprofundado, e por si só o conhecimento da ginástica na graduação não dá conta de suprir todas nossas dúvidas. Para que possamos melhorar o ensino da mesma no âmbito escolar, devemos ter claro no momento de formação inicial em saber, qual o papel da Escola? Qual o conceito de Educação Física? Que concepção de homem eu tenho? E por aí vão os questionamentos, que temos que refletir sempre. De fato, o período de processo de construção da ginástica, desde o seu surgimento até os dias atuais tem influenciado para que seu entendimento e compreensão sejam dificultados, acarretando assim em falhas, como já mencionadas, no momento de atuação em aulas de Educação Física.
REFERÊNCIAS: BARBANTI, Valdir J. Aptidão Física: um convite à saúde. São Paulo: Manole, 1990. Pág. 19 BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977. BONETTI, Albertina. Ginástica: em busca de sua identificação no âmbito escolar. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Santa Catarina, 1999. CARVALHO, Yara Maria. O mito da atividade física/saúde. (Dissertação de Mestrado) Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1993. CESÁRIO, Marilene. A organização do conhecimento da Ginástica no currículo de formação inicial do profissional de Educação Física: realidade e possibilidades. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal de Pernambuco, 2001. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. COSTA, Alberto M. Atividade física e a relação com a qualidade de vida, ansiedade e depressão em pessoas com seqüelas de acidente cerebral vascular. (Tese de Doutorado). Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2000. LORENZINI, Ana Rita. O conteúdo Ginástica em Aulas de Educação Física Escolar. In Educação Física Escolar: teoria e política curricular, saberes escolares e proposta pedagógica. Recife: EDUPE, 2005. MARINHO, Inezil. P. Sistemas e métodos de Educação Física. São Paulo: 5. Edição. PEREIRA, Ana Maria. Concepção de corpo: a realidade dos professores de Ginástica das Instituições de Ensino Superior do Estado do Paraná. Dissertação (Mestrado). UNIMEP, 1998. SOARES, Carmen L. Imagens da Educação no corpo: estudo a partir da ginástica francesa no século XIX. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 1998. SOUZA, Elizabeth P. M. O universo da ginástica: evolução e abrangência. Coletânea do V encontro de história do esporte, lazer e educação física. Maceió, 1997.
*Estudante no curso de Graduação em Educação Física-Licenciatura - UEL karen_15_cvs@hotmail.com **Docentes nos cursos de Licenciatura em Educação Física UEL; pesquisadoras do LaPEF- UEL malila@uel.com - apereira@uel.br