DESTAQUE FACTURAÇÃO ELECTRÓNICA Fisco vai reforçar informática para evitar 'crash'
Finanças querem comprar novo servidor para garantir processamento das facturas comunicadas via electrónica. Paula Cravina e Lígia Simões de Sousa paula.cravina@economico.pt O Fisco vai adquirir um novo servidor informático central, que vai permitir garantir que o sistema informático da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) consiga processar todas as facturas emitidas pelas empresas sem que ocorram problemas informáticos. Mas os sectores da distribuição e da restauração estão preocupados com o facto de ainda não haver um servidor novo e antevêem problemas dado o elevado volume de facturas que o Fisco irá receber a partir de Fevereiro. Desde Janeiro deste ano que todas as empresas estão obrigadas a emitir facturas e terão de as comunicar à AT a 25 de Fevereiro, prevendo-se que nessa altura, haja um elevado número de facturas a comunicar às Finanças. O director-geral dos Impostos, Azevedo Pereira, garantiu que "o sistema não rebentou nem vai rebentar, sobretudo se nos deixarem adquirir aquilo que esperamos", referindo-se a um novo servidor informático. Na conferência organizada pelo Diário Económico, IDEFF e pela consultora Ernst & Young dedicada ao tema da facturação electrónica, o director-geral dos Impostos, explicou que "o servidor actual tem sete anos e é mais pequeno do que o de alguns operadores bancários portugueses". "Estamos agora a substituilo e esperemos que, dentro de algum tempo, os pesadelos pelos quais passamos sejam minorados", adiantou ainda. São muitos os episódios em que o servidor das Finanças não está operacional, como os últimos dias de entrega das declarações de IRS, da entrega da Informação Empresarial Simplificada ou quando o fim do prazo de pagamento de vários impostos coincide no mesmo dia. Ao Diário Económico, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, assegurou, em Dezembro, que a AT terá capacidade para processar até oito mil milhões de facturas de empresas durante este ano e que o sistema informático tem capacidade de expandir, caso necessário. Só no sector da distribuição em Portugal estão em causa cerca de 65 milhões de talões de venda que são emitidos por dia, pelo que a APED considera que esta reforma é "um grade desafio para os retalhistas e AT", manifestando "preocupação" pelo facto de o servidor ainda estar em processo de aquisição. Azevedo Pereira reconhece que, em altura de crise, "o Ministério das Finanças deve dar o exemplo", nas despesas que faz, mas sublinhou que "neste domínio os investimentos são recuperados em meses e não precisa de passar para o exercício seguinte". "Pode-se gastar dez milhões, mas recupera-se 50 milhões", exemplificou. Criticas à falta de informação As associações representativas da grande distribuição e restauração e hotelaria criticam a falta de informação e de não ter havido articulação com os agentes económicos para a implementar a reforma da facturação electrónica". Ana Trigo Morais, directora-geral da APED, considera mesmo que as novas regras deveriam ter sido "desenhadas e discutidas com o os operadores para que tudo funcione bem e para um efectivo combate à fraude e evasão". A crítica é partilhadas pelo secretário-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP): "Falhou essencialmente o diálogo com as associações representativas dos agentes económicos e não promoveu a divulgação e formação". José Manuel Esteves critica ainda a introdução desta reforma "em contra-ciclo", exigindo-se investimentos quando "as pequenas empresas não tem dinheiro para pagar salários ou rendas do estabelecimento". Frisa que os custos de upgrade dos sistemas informáticos elevam-se a 500 euros, e que a aquisição de equipamentos ascende a 1.500 euros. Também Ana Trigo Morais da APED salienta os impactos da reforma nos custos das empresas: "isto exige um grande investimento e o sector também sente a crise". A APED manifesta ainda preocupação de algumas situações na relação com os consumidores como a obrigatoriedade de introdução de nome ou a morada na factura para compras superiores a mil euros." E se o cliente recusar, de quem é a responsabilidade?", questiona. Queixa no tribunal europeu A AHRESP dá ainda conta que está a preparar uma queixa junto do tribunal de justiça europeu devido às novas regras de facturação. Em causa está, segundo o secretáriogeral da AHRESP, o não cumprimento de directivas comunitárias relativas à facturação e a discricionariedade das novas regras, pois só alguns sectores são "premiados" com a obrigação de aplicação do NIF, no regime simplificado (venda inferior a 1.000 euros e prestação de serviços inferiores a 100 euros), para os contribuintes poderem abater à factura fiscal o IVA pago até um montante de 250 euros.b O MOMENTO David Oliveira, manager da Ernst & Young, falou dos principais aspectos tecnológicos da reforma da facturação electrónica
e contou, a determinado passo, que um gestor lhe disse, um dia, que já tinha conseguido emitir ficheiros SAFT (que permitem a exportação fácil de registos contabilísticos). O gestor considerava mesmo que tudo estava impecável, o único problema é que tinha de parar o negócio durante três dias. A história, verdadeira, arrancou uma gargalhada sonora da assistência.
1 José Azevedo Pereira, dlrector-qeral da Autoridade Tributária e Aduaneira, e Carlos Lobo, partner da Ernst & Younq e vogal da direcção do Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal, antes do Início da conferência. 2 José Manuel Esteves, secretárlo-qeral da AHRESP, e Ana Isabel Trlqo de Morais, dlrectora-qeral da APED. 3 O painel sobre as novas regras da facturação electrónica. Da esquerda para a direita, Flllpa Guedes, no uso da palavra, Carlos Lobo, Catarina Matos, Anabela Santos e Davld Oliveira, todos quadros da Ernst & Young. Economia paralela vale 7% do PIB Fiscalistas dizem que economia paralela não atinge 25% do PIB. franciscofsilva@economico.pt O director -geral da Autoridade Tributária e Aduaneira afirmou, durante a conferência de ontem sobre Facturação Electrónica, que "o nível de evasão fiscal.no nosso país não atinge a dimensão que alguns pretendem sugerir". Instado, à margem dos trabalhos, a revelar a dimensão da economia informal em Portugal, José Azevedo Pereira não quis revelar números. Alguns especialistas presentes na conferência apontam para valores de economia informal no nosso país da ordem dos 6% a 7% do PIB, em linha com o 'VAT gap' e, sobretudo, o 'Taxgap', afirmam. Carlos Lobo, partner da Ernst & Young e vogal da direcção do Instituto de Direito Económico Financeiro e Fiscal, também garante que a dimensão da chamada economia paralela em Portugal "é substancialmente inferior aos números que são geralmente apontados". O antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais vai mesmo ao ponto de dizer que "a verdadeira dimensão da economia informal no nosso país é, na pior das hipóteses, metade da que lhe é geralmente atribuída", ou seja nunca mais de 12,5% do PIB. Os últimos valores conhecidos do índice da Economia Não Registada, calculado pela Faculdade de Economia do Porto, divulgados em Agosto de 2012, apontam para 25,4% do PIB. Carlos Lobo explica que as diferenças se devem às metodologias seguida nos diferentes cálculos. Os valores mais elevados correspondem à metodologia definida por Friedrich Schneider e Dominik Enste que, segundo diversos especialistas em matéria fiscal, está a ser abandonada a nível internacional. Os especialistas em temas fiscais que apontam para uma economia informal em Portugal da ordem dos 6% a 7% do PIB, sublinham que se trata, ainda assim, de uma dimensão muito apreciável, com uma valor que se aproxima dos dez mil milhões de euros e que está, ainda assim, a subtrair uma fatia muito importante de receita à administração fiscal e ao País. Questionados sobre a dimensão real da economia paralela, os fiscalistas exemplificam: "basta ver se cada um gasta 25% do seu rendimento bruto mensal na economia paralela". Carlos Lobo, por seu lado, faz questão de salientar que o nqvo regime de facturação que está a
44 A dimensão da economia informal no nosso país é, na pior das hipóteses, metade da que lhe é geralmente atribuída. Carlos Lobo partner da Ernst & Younq ser implementado em Portugal deverá fazer diminuir ainda mais a dimensão da economia paralela no nosso país. Mesmo assim, refere que nunca será possível acabar em definitivo com a economia informal, uma vez que trazer para dentro do sistema fiscal actividades como as de algumas mulheres-a-dias, canalizadores, mecânicos e outros biscateiros seria muito caro. Os fiscalistas também acreditam que a reforma do regime de facturação se vai fazer sentir nas receitas de IVA, mas também ter reflexos noutros impostos, uma vez que as empresas que facturam mais vão apresentar mais lucros e depois pagar mais IRC. As Finanças estimam que o acréscimo de IRC e de IVA resultante do alargamento da base de imposto será da ordem dos 300 milhões de euros. Finanças detectam 241 empresas com irregularidades Valor das facturas comunicadas chega a 254 milhões de euros. O Ministério das Finanças já detectou 241 empresas com irregularidades na declaração de facturas. Estas falhas foram detectadas através das comunicações de facturas que os contribuintes têm feito no Portal das Finanças. Os contribuintes singulares podem introduzir os dados no Portal das Finanças relativos às facturas de despesas que tenham tido em oficinas, cabeleireiros e restaurantes e obter, com isso, um benefício fiscal. Ao todo, já foram 61 mil os contribuintes que registaram facturas no site, numa participação que tem sido "louvável", segundo o director-geral dos Impostos, Azevedo Pereira. É através do cruzamento destes dados que a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) detecta as falhas e têm conseguido chegar a empresas que ou não estão registadas ou não emitem facturas. O director-geral dos Impôs tos considerou aquele valor positivo, mas relembrou que será a partir de 25 de Fevereiro - data em que as empresas terão de enviar os dados relativos à facturação para as Finanças - que o Fisco terá na sua posse toda a informação que lhes permitirá detectar irregularidades e aferir do volume de facturação das empresas. No total, foram já 3.350 os comerciantes que já transmitiram os elementos das lacturas, sendo que a maioria foi comunicada por pequenos comerciantes. O valor global das facturas ascende a 254 milhões de euros e o montante do IVA ascende aos 50,8 milhões de euros. "Tendo em conta a situação em que o país se encontra, há que fazer perceber que não é só nos ombros dos contribuintes que recair todo o fardo do incumprimento fiscal", afirmou Azevedo Pereira. O objectivo do projecto, explicou ainda é "envolver todos num esforço de cumprimento", uma vez que está em causa "uma mudança cultural". bp.c.s
APED preocupada com transporte de mercadorias Alerta para problemas de operacionalização de regras. Os grandes distribuidores estão preocupados com o transporte de mercadorias a partir de 1 de Maio. Esta é a data que dá início ao novo regime dos bens em circulação que obriga à emissão de guias por via electrónica no Portal das Finanças antes do transporte, sendo depois emitido um código que terá de ser levado com o transportador. Se as autoridades o fiscalizarem terá de apresentar o código, para que a Brigada de Trânsito, que terá acesso remoto aos dados da AT, possa verificar os bens transportados. Desta forma, a AT controla as guias e facturas emitidas e, logo, o IVA pago pelas empresas e a GNR poderá inspeccionar as mercadorias que circulam na estrada. "Emitimos dez mil guias de remessa e temos mais de três mil camiões que saem de mais de 200 mil lojas todos os dias. Vamos inundar o fisco com uma quantidade gigantesca de informação", disse a directora-geral da associação das Empresas da Grande Distribuição (APED), considerando curto o timing dado para a implementação do novo regime. Segundo Ana Trigo Morais, "vão levantar-se muitas dificuldades" na sua operacionalização e questiona aqui "se o sistema estiver inoperacional para comunicação electrónica prévia como é que a AT vai gerir este processo?". A este respeito, Catarina Matos, sénior partner da Ernst & Young, recorda que a nova legislação prevê que a comunicação seja feita por telefone, dando conta que se aguarda a criação de uma linha verde que não exija encargos adicionais para os agentes económicos. Já a directora-geral da APED alerta: "Se o sistema for abaixo, temos de fazer um telefonema sob pena de o camião não poder sair", adiantando que se o sistema informático não funcionar isso vai prejudicar a actividade do sector. E dá como exemplo o transporte de bens alimentares (perecíveis) que se processa à noite, onde poderão ocorrer problemas de abastecimento e de vendas. BL.S. PONTOS-CHAVE O APED e AHRESP estão preocupadas com o facto de ainda não haver um servidor informático novo. Temem problemas dado o elevado volume de facturas que AT vai receber a partir de 25 de Fevereiro. O Os grandes distribuidores estão preocupados com as novas regras regras de transporte de mercadorias que, a partir de 1 de Maio, obrigam à comunicação prévia. O Conferência sobre Facturação Electrónica, oranizada pelo Diário Económico e a Ernst & Young, que ontem decorreu no Hotel Pestana Palace, reuniu uma assistência de cerca de 150 pessoas.