PLANO DE AULA ESTUDOS SOBRE O PRETERDOLO. Como é possível compreender o crime preterdoloso e suas implicações jurídicas?

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Transcrição:

PLANO DE AULA 06 23. ESTUDOS SOBRE O PRETERDOLO A) PROBLEMA 23: Como é possível compreender o crime preterdoloso e suas implicações jurídicas? B) CONHECIMENTOS (DCN, Art. 5º): DO PRETERDOLO CRIME PRETERDOLOSO: crime preterdoloso é uma espécie do crime qualificado pelo resultado. CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO: é aquele em que o legislador, após descrever uma conduta típica, com todos os seus elementos, acrescenta-lhe um resultado, cuja ocorrência acarreta um agravamento da sanção penal. O crime qualificado pelo resultado possui duas fases: 1ª) prática de um crime completo, com todos os seus elementos (fato antecedente); 2ª) produção de um resultado agravador, além daquele que seria necessário para a consumação (fato consequente). Na primeira parte, há um crime perfeito e acabado, praticado a título de dolo ou culpa, ao passo que, na segunda, um resultado agravador produzido dolosa ou culposamente, que acaba tipificando um delito mais grave. Exemplo: a ofensa à integridade corporal de outrem, por si só, já configura o crime previsto no art. 129, caput, do CP, mas, se o resultado final caracterizar uma lesão grave ou gravíssima, essa consequência servirá para agravar a sanção penal, fazendo com que o agente responda pelo delito mais intenso, ainda que não querido. COMPONENTES DO CRIME PRETERDOLOSO: o crime preterdoloso compõe-se de um comportamento anterior doloso (fato antecedente) e um resultado agravador culposo (fato consequente). CONDUTA E RESULTADO ALÉM DO DESEJADO FATO ANTECEDENTE --------------- FATO CONSEQUENTE 1º) CONDUTA ANTERIOR --------------- 2º) RESULTADO AGRAVADOR A TÍTULO DE DOLO --------------- A TÍTULO DE CULPA 1

NEXO ENTRE A CONDUTA E O RESULTADO AGRAVADOR: não basta a existência de nexo causal entre a conduta e o resultado agravador, pois, sem o nexo normativo, o agente não responde pelo excesso não querido. Vale dizer, se o resultado não puder ser atribuído ao agente, nem a título de dolo ou, ao menos, nem culposamente, não lhe será imputado o resultado mais grave (Art. 19, CP). Assim, em um crime preterdoloso, com relação ao resultado agravador da pena, o agente só responde pelo que ele houver causado ao menor culposamente. LATROCÍNIO: não se trata, necessariamente, de preterdolo, já que a morte pode resultar de dolo (ladrão, depois de roubar, atira para matar), havendo este, tanto no antecedente como no consequente. Quando a morte for acidental (culposa), porém, o latrocínio será preterdoloso, caso em que a tentativa não será possível. Tentativa no crime preterdoloso: é impossível, já que o resultado agravador não era desejado, e não se pode tentar produzir um evento que não era querido. Entretanto, no crime qualificado pelo resultado em que houver dolo no antecedente e dolo no consequente, será possível a tentativa, pois o resultado agravador também era visado. Exemplo: agente joga ácido nos olhos da vítima com o intuito de cegá-la. Se o resultado agravador foi pretendido e não se produziu por circunstâncias alheias à sua vontade, responderá o autor por tentativa de lesão corporal qualificada (CP, art. 129, 2º, III, c/c o art. 14, II). C) COMPETÊNCIAS (DCN, Art. 4º) e PERFIS (Art. 3º): Competência: (C3) Pesquisa e utilização da legislação, da jurisprudência, da doutrina e de outras fontes do Direito; Perfil: (P3) Ser capaz de uma adequada argumentação, interpretação e valorização dos fenômenos jurídicos e sociais; D) SOLUÇÃO AO PROBLEMA PROPOSTO: 01: Tício deve a quantia de R$ 5.000,00 a Caio. Caio já havia cobrado Tício inúmeras vezes, todas sem sucesso. Certo dia, Caio vai até a casa de Tício, portando uma arma de calibre.32. Seu objetivo é intimidar o devedor para que ele pague o valor devido. Ao chegar lá Tício fica assustado, mas mesmo assim diz não possuir o valor todo. Caio imaginando tratar-se de uma mentira, resolve efetuar um disparo de arma de fogo na perna do devedor Tício, com a nítida intenção de causar-lhe uma lesão corporal. Após o disparo Caio sai do local certo que Tício vai lhe pagar futuramente, para não perder a vida da próxima vez em que for cobrado. Entretanto, o projétil da arma de fogo disparado por Caio atinge uma artéria vital da perna, causando uma grave hemorragia. Tício é socorrido e levado ao hospital, mas devido a lesão na artéria vital acaba morrendo horas depois no hospital. 2

Analisando a situação fática acima narrada, bem como os elementos subjetivos presente na conduta antecedente e no fato consequente, sendo este caracterizado pelo resultado agravador, Caio deverá responder criminalmente por qual crime? a) ( ) homicídio consumado; b) ( ) homicídio tentado; c) ( ) lesão corporal seguido de morte; d) ( ) lesão corporal consumada; e) ( ) homicídio culposo; 3

PLANO DE AULA 06 24. CONSUMAÇÃO E EXAURIMENTO A) PROBLEMA 24: De que forma é possível distinguir e correlacionar um delito consumado de um delito exaurido? B) CONHECIMENTOS (DCN, Art. 5º): DO DELITO CONSUMADO CONCEITO: a consumação ocorre no momento em que foram realizados todos os elementos constantes em sua definição legal. Assim, consuma-se o crime quando todos os elementos do tipo penal são preenchidos, pela realização de um fato natural. Desse modo, no instante em que o agente realiza todos os elementos que compõem a descrição do tipo legal, diz-se que o crime está consumado. Exemplo: o crime de furto se consuma no momento em que o agente subtrai para si ou para outrem, coisa alheia móvel, ou seja, no exato instante em que o bem sai da esfera de disponibilidade da vítima, que, então, precisará agora retomá-lo. Nesse caso, todas as elementares do tipo do furto foram inteiramente realizadas. DO DELITO EXAURIDO CONCEITO: o exaurimento caracteriza-se pela circunstância na qual o agente, após atingir o resultado consumativo, continua a agredir o bem jurídico tutelado pela norma penal, procurando dar-lhe uma nova destinação ou tentando tirar novo proveito, fazendo com que sua conduta continue a produzir efeitos no mundo concreto, mesmo após a realização integral do tipo. Observe-se que a consumação do crime pode ser independente do seu exaurimento. É o caso, por exemplo, do funcionário público que, após atingir a consumação, mediante a solicitação de vantagem indevida, vem a recebê-la efetivamente (art. 317, CP). Para a realização da adequação típica, o efetivo recebimento dessa vantagem é irrelevante, pois se atinge a consumação com a mera solicitação; no entanto, o recebimento é um proveito ulterior obtido pelo sujeito ativo. Quando não prevista como causa específica de aumento, o exaurimento funcionará como circunstância judicial na primeira fase de aplicação da pena (art. 59, caput, CP - consequências do crime). Tal função é subsidiária, porque, em alguns casos, como no da corrupção passiva, em que vem previsto expressamente no tipo incriminador como causa de aumento de pena 4

(art. 317, 1º, CP), o exaurimento incidirá como tal, hipótese em que não poderá funcionar também como circunstância judicial, evitando-se, assim, um duplo sancionamento (evitando-se o bis in idem). C) COMPETÊNCIAS (DCN, Art. 4º) e PERFIS (Art. 3º): Competência: (C6) Utilização de raciocínio, de argumentação, de persuasão, de síntese, bem como capacidade de abstração lógica; Perfil: (P1) Ter sólida formação geral, humanística e axiológica; D) SOLUÇÃO AO PROBLEMA PROPOSTO: 01: Tício, policial civil, solicitou a Mévio, advogado, determinada quantia em dinheiro para que destruísse um inquérito policial. Entretanto, Mévio não aceita a proposta. Com isso, Tício responderá judicialmente por: a) ( ) crime exaurido de corrupção passiva, conforme art. 317 do CP; b) ( ) tentativa de corrupção passiva, conforme art. 317 do CP; c) ( ) corrupção passiva consumada, conforme art. 317 do CP; d) ( ) corrupção ativa exaurida, conforme art. 333 do CP; e) ( ) crime de extorsão consumado, conforme art. 158 do CP; 5

PLANO DE AULA 06 25. A CONSUMAÇÃO EM DIFERENTES ESPÉCIES DE CRIMES A) PROBLEMA 25: Como é possível determinar a consumação em diferentes espécies de crimes? B) CONHECIMENTOS (DCN, Art. 5º): A CONSUMAÇÃO NAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CRIMES: É de fundamental importância determinar o momento consumativo de um fato típico penal. Para tanto, importa compreender o critério técnico que melhor possa determinar o momento de consumação da conduta delituosa. Assim, como os tipos penais abstratos possuem diferentes momentos de consumação dentro do espaço temporal de desenvolvimento da conduta fática, importa atentar para o verbo núcleo do tipo penal, pois será este o determinante técnico do instante em que o crime deixou de ser executado para ser consumado. Diante disso, passa-se a análise do momento consumativo de delitos em relação à sua classificação doutrinária, ressaltando-se que o critério determinante será o verbo, que exprime a ação ou a omissão da conduta delituosa. No instante em que o verbo estiver faticamente praticado, o delito estará consumado. a) materiais: se dá com a produção do resultado naturalístico. Ex.: O sujeito que comete homicídio contra outrem; b) culposos: se dá com a produção do resultado naturalístico. Ex.: O condutor que atropela e mata alguém, em razão de dirigir de forma imprudente; c) de mera conduta: se dá com a conduta de ação ou de omissão delituosa, isto é, com a mera conduta praticada. Ex.: O indivíduo que desobedece a ordem judicial, ao descumprir a determinação emanada pela autoridade judiciária, já consuma o crime de desobediência a ordem judicial. O mesmo ocorre com o crime de desacato; d) formais: a consumação ocorre com a simples prática da conduta, independentemente da ocorrência do resultado. Ex.: É o caso, por exemplo, da extorsão mediante seqüestro (CP, art. 159), a qual se consuma no momento em que a vítima é seqüestrada, sendo indiferente o recebimento ou não de resgate. e) permanentes: devem-se entender aqueles nos quais a consumação, sem solução de continuidade, se prolonga no tempo. Nessa modalidade o agente tem domínio sobre os momentos consumativos operados, podendo cessá-los a qualquer momento. O momento consumativo se protrai no tempo, desde o instante em que nele se reúnem os seus elementos até que cesse o comportamento do agente. Ex.: extorsão mediante sequestro, situação na qual sua consumação segue sendo reiteradamente produzida, enquanto a vítima está em poder dos seqüestradores, privada da sua liberdade; 6

f) omissivos próprios: com a abstenção do comportamento devido. Ex.: atropelar um pedestre e não prestar o devido socorro; g) omissivos impróprios: com a produção do resultado naturalístico. Ex.: a mãe que não alimentar o seu filho, deixando-o morrer de inanição; h) qualificados pelo resultado: com a produção do resultado agravador. Ex.: o agente que pretendia causar lesões na vítima, mas acaba culposamente gerando o resultado morte; i) complexos: os crimes complexos resultam da fusão de duas ou mais infrações autônomas, operando-se a consumação quando os crimes componentes da conduta estejam integralmente realizados. Crimes qualificados pelo resultado podem ser exemplos de crimes complexos. Ex.: sujeito desfere um soco contra o rosto da vítima com a intenção de lesioná-la, no entanto, ela perde o equilíbrio, bate a cabeça e morre; j) habituais: Crime habitual 1 se consuma pela reiteração dos atos, que se constituem como um todo em um delito apenas, traduzindo geralmente um modo ou estilo de vida. Nestes casos, a prática de apenas um ato não seria típica. Por isso, o conjunto de vários atos, praticados com habitualidade, é que configura o crime. Ex.: curandeirismo, art. 284 do CP; exercício ilegal da medicina, art. 282 CP (o agente se diz médico, mas na verdade não tem formação alguma nessa área. Com isso, atende pacientes todos os dias, das 08:00 horas da manhã às 12:00 horas, e das 14:00 horas às 18:00 horas, num hospital). Assim, nos crimes habituais a consumação somente existirá quando houver a reiteração de atos, com habitualidade, já que cada um deles, isoladamente, constitui irrelevância penal. No momento da aplicação da pena, as várias condutas reiteradas são analisadas conjuntamente. 2 C) COMPETÊNCIAS (DCN, Art. 4º) e PERFIS (Art. 3º): Competência: (C5) Correta utilização da linguagem científica e técnico-jurídica; Perfil: (P3) Ser capaz de uma adequada argumentação, interpretação e valorização dos fenômenos jurídicos e sociais; D) SOLUÇÃO AO PROBLEMA PROPOSTO: 1 Diferenças entre crime permanente e crime continuado: no crime continuado há diversas condutas que, separadas, constituem crimes autônomos, mas que são reunidas por uma ficção jurídica, dentro dos parâmetros do art. 71 do CP. No crime permanente há apenas uma conduta que se prolonga ao longo do tempo, como ocorre no sequestro ou cárcere privado. No crime habitual, o agente comete a infração cotidianamente, em determinados lapsos de tempo, não se prolongando ao longo do tempo. Sua característica está na habitualidade cotidiana, e não na sua permanência temporal. 2 Importa salientar a dificuldade de se determinar quando a conduta se torna um hábito, o que, por essa razão, é praticamente impossível perfectibilizar a prisão em flagrante nesses crimes. 7

01: Diante da diversidade de condutas delituosas, bem como da diversidade do momento consumativo de cada uma delas, faz-se necessário adotar um critério técnico, que seja apto e eficaz na determinação da consumação delitiva. Desse modo, o critério técnico, componente do tipo penal, que consegue determinar o momento de consumação da conduta delituosa está corretamente indicado pela opção? a) ( ) o elemento descritivo do tipo penal; b) ( ) o elemento normativo do tipo penal; c) ( ) o dolo do agente; d) ( ) a culpa do agente; e) ( ) o verbo núcleo do tipo penal; 8

PLANO DE AULA 06 26. O ITER CRIMINIS E OS ATOS DE PREPARAÇÃO E DE EXECUÇÃO DO DELITO A) PROBLEMA 26: De que modo é possível conhecer os elementos caracterizadores do caminho percorrido pelo agente criminoso na prática da conduta criminosa? B) CONHECIMENTOS (DCN, Art. 5º): ITER CRIMINIS: O CAMINHO PERCORRIDO PELO AGENTE NA PRÁTICA DO CRIME O ITER CRIMINIS: é o caminho do crime. São quatro etapas que o agente deve percorrer: a) COGITAÇÃO OU IDEAÇÃO: o agente apenas imagina, prevê, antevê, planeja, deseja, representa mentalmente a prática do crime. Nessa fase o crime é impunível, pois cada um pode pensar o que bem entender. Enquanto encarcerada nas profundezas da mente humana, a conduta é um nada, sem relevância para o Direito Penal. Somente quando se rompe a clausura psíquica que aprisiona a idéia de crime, materializando-se concretamente a ação, é que se pode falar em início da adequação típica. b) PREPARAÇÃO: prática de atos imprescindíveis à execução do crime. Nessa fase ainda não se iniciou a agressão ao bem jurídico. O agente não começou a realizar o verbo constante da definição legal do tipo, logo, o crime não pode ser punido. Exemplo: aquisição de arma para a prática de homicídio, ou a de uma chave falsa para o delito de furto, ou ainda, o estudo prévio do local onde se quer praticar um roubo. Ressalta-se, entretanto, que o legislador, por vezes, transforma atos preparatórios em tipos penais especiais, quebrando a regra geral. Exemplo: petrechos para falsificação de moeda, art. 291, CP. O que seria apenas um ato preparatório do crime de moeda falsa (art. 289, CP). Observe-se, finalmente, que de acordo com o art. 31 do CP, o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. c) EXECUÇÃO: o bem jurídico começa a ser atacado. Nessa fase o agente inicia a realização do verbo núcleo do tipo, e o crime já se torna punível. OBS: FRONTEIRA ENTRE O FIM DA PREPARAÇÃO E O INÍCIO DA EXECUÇÃO: é muito tênue a linha divisória entre o término da preparação e a realização do primeiro ato executório. O melhor critério para distinção entre esses dois momentos é o que entende que a execução se inicia com a prática do primeiro ato idôneo e inequívoco para a consumação do delito. Enquanto os atos realizados não forem aptos à consumação, ou, quando ainda, os atos não estiverem inequivocamente vinculados a ela, o crime permanece em sua fase de preparação. 9

Desse modo, no momento em que o agente aguarda a passagem da vítima, escondido atrás de uma árvore, ainda não praticou nenhum ato idôneo para causar a morte daquela, nem se pode estabelecer induvidosa ligação entre esse fato e o homicídio a ser praticado. Assim, somente há execução quando praticado o primeiro ato capaz de levar ao resultado consumativo, e não houver nenhuma dúvida de que tal ato destina-se à consumação. d) CONSUMAÇÃO: todos os elementos que se encontram descritos no tipo penal foram realizados. OBS: ATOS PREPARATÓRIOS E EXECUTÓRIOS: DISTINÇÃO. Os atos preparatórios são atos externos ao agente, que passa da cogitação à ação objetiva, como a aquisição de arma para a prática de um homicídio ou a de uma chave falsa para o delito de furto. A regra geral é a de que os atos preparatórios não são puníveis, visto que, na maioria das vezes, são atípicos (art. 31 do CP). Pode acontecer que o legislador transforme um ato preparatório em um tipo penal, porém, nesse caso, o ato preparatório é punível porque assim determinou o legislador, erigindo aquela conduta a um tipo específico de delito. Punem-se, então, atos preparatórios por razões de política criminal, com o fim de antecipar a criminalização de determinadas condutas que se pretendem evitar. Então, na realidade, somente se diz que os atos preparatórios são puníveis quando erigidos a tipos penais, ou seja, quando consistirem em uma infração descrita na lei penal, pois, caso contrário, estaríamos ferindo o princípio da legalidade. Logo, todos os atos preparatórios, que não ingressarem na esfera de uma figura típica, não são passíveis de punição. Os atos executórios, por sua vez, caracterizam-se pela exteriorização de causas direcionadas ao resultado consumativo. Não havendo dúvidas (de que se trata de um ato idôneo e inequívoco à produção do resultado) de que tais causas conduzem à consumação, estamos diante de atos executórios. Do exposto até aqui, os atos de cogitação (ou ideação) e de preparação restaram impunes pelo legislador. Então, para nosso ordenamento jurídico, a tentativa inicia-se com o início da execução do crime. Porém, quando estaria iniciada a execução de um crime? Com o ingresso na esfera da tipicidade ou devemos seguir outros critérios? O Código Penal pátrio não faz menção ao critério a ser adotado, mas, tampouco menciona o início da execução do tipo como critério reitor. O art. 14, II, CP, dispõe que o crime é tentado quando iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. C) COMPETÊNCIAS (DCN, Art. 4º) e PERFIS (Art. 3º): Competência: (C5) Correta utilização da linguagem científica e técnico-jurídica; 10

Perfil: (P2) Ser capaz de analisar e dominar conceitos científicos e da terminologia jurídica; D) SOLUÇÃO AO PROBLEMA PROPOSTO: 01: Analise a seguinte asserção e posterior razão: A execução do delito se inicia com a prática do primeiro ato idôneo e inequívoco para a sua consumação... Porque... Enquanto os atos realizados não forem aptos à consumação, ou, quando ainda, os atos não estiverem inequivocamente vinculados a ela, o crime permanece em sua fase de preparação. Sobre essas duas afirmativas é correto afirmar que: A) a primeira é uma afirmativa verdadeira; e a segunda, falsa; B) a primeira é uma afirmativa falsa; e a segunda, verdadeira; C) as duas são verdadeiras, mas não estabelecem relação entre si; D) as duas são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira; E) nenhuma das alternativas anteriores está correta; 11