AQUISIÇÃO E ASSIMILAÇÃO DE CONCEITOS EM ADOLESCENTES COM CEGUEIRA CONGÊNITA

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Transcrição:

AQUISIÇÃO E ASSIMILAÇÃO DE CONCEITOS EM ADOLESCENTES COM CEGUEIRA CONGÊNITA Marta Cristina Rodrigues Doutoranda em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professora do curso de Pedagogia da Universidade Nove de Julho. Palavras chave: Aquisição de conceitos, Cegueira congênita, Educação inclusiva e Aprendizagem Significativa. Introdução A cegueira é considerada congênita quando se manifesta até os cinco anos de idade, pois, as imagens visuais adquiridas até esse período não são retidas ao longo da vida e, neste caso, a pessoa não pode contar com a memória visual como referência para as suas construções mentais. Quanto mais tempo a pessoa passar enxergando, maior será a sua memória visual (lembranças das imagens, luzes e cores que conheceu), o que influencia de modo positivo sua readaptação e seu aprendizado. Quando se trata da cegueira congênita, ela não possui memória visual. As principais causas da cegueira congênita decorrem de fatores pré-natais (quando a patologia ocorreu antes do nascimento), peri-natais (nos casos de problemas ocasionados no momento do nascimento) e pós-natais (quando a patologia ocorre até os cinco anos de idade). Há também as cegueiras congênitas ocasionadas por doenças hereditárias como, por exemplo, glaucoma congênito. Amiralian (1997) diferencia a criança que nasce daquela que perde a visão alguns anos após o nascimento se referindo às relações objetais: Cremos que a criança que nasce cega difere daquela que perde a visão aos 4 ou mesmo aos 2 anos de idade, pois, mesmo que estas não possam utilizar-se da memória visual, todas as suas relações objetais ocorrem por meio da visão, e principalmente o vínculo mãe-bebê se dá por outras bases. (p.33) Não se pode negar a importância da visão para a estruturação do sujeito, todavia, o cego congênito irá se desenvolver como um sujeito que não sabe o que é ver com os olhos e, portanto, não poderá dizer para si mesmo se realmente a visão é tão importante

para ele. É preciso estar sensível a uma forma diferenciada de constituição do eu, na qual não se encontra a percepção visual. Na ausência da visão, os sentidos remanescentes: audição, tato, olfato e paladar precisam funcionar sem a informação e integração que a visão proporciona. Dessa forma, os outros sentidos não realizam uma compensação sensorial imediata, por isso é importante que a criança cega receba estimulação sensorial de maneira a suprir essa ausência. A cegueira é sem dúvida, um modo diferente de estar no mundo e se relacionar com o outro, pois, muitas das situações que os videntes vivem por meio da visão, os cegos realizam por outros caminhos perceptivos, por isso, exige-se para a criança cega experiências alternativas de desenvolvimento. Estudos apontam que o tato e a audição atuam conjuntamente no processo de aquisição de conhecimentos na criança com cegueira congênita. Citamos por exemplo a aprendizagem de um conceito por uma criança cega. Ao ouvir a palavra boneca, a mesma necessitará tateá-la para que possa associar o significante ao significado e assim construir tal conceito. O fotógrafo cego Evgen Bavcar desenvolve sua arte a partir da descrição do lugar feita por um vidente que lhe transmite verbalmente o que está à sua frente. Assim, o fotógrafo por sua vez, escuta, imagina e faz o retrato. Conforme comenta Tessler: Bavcar vê com a audição, com seu tato, com todos os sentidos, enfim, com todo o seu corpo. Seus passeios são guiados pelas interpelações que dirige, a todo o momento, a seu acompanhante. O que você está vendo?. E enquanto há relato, inaugura-se a imagem. Enquanto escuta, o fotógrafo filósofo vê. Passagem da palavra à imagem. (TESSLER apud BAVCAR, 2003, p. 11). A partir dessa experiência, é possível compreender que a construção de imagens não depende exclusivamente da visão. Neste sentido, essa construção no sujeito cego se fará com base nas experiências acústicas, olfativas, táteis e cinestésicas. Para que a pessoa cega construa um determinado significado acerca de um conceito, além de saber o nome e função do objeto, esta necessita também conhecê-lo com as mãos. A presente pesquisa é parte integrante da tese de doutoramento em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (em andamento, qualificação em setembro/2016).

Objetivos Os objetivos principais são identificar e investigar as características e especificidades que envolvem o processo de aquisição de conhecimentos na criança com cegueira congênita. A problematização em questão é: Como ocorre a aquisição de conceitos na criança com cegueira congênita? Método A partir da experiência docente obtida com esses educandos enquanto professora de sala de recursos especializada em deficiência visual, foi possível observar que muitas vezes o traçado desenvolvido para representar um determinado conceito, pouco dizia respeito às características do objeto, todavia, quando solicitados a verbalizar o que desenhavam, o traçado ganhava o ritmo das suas falas, que pouco se relacionava com o objeto. Identificou-se também uma diferença considerável na representação gráfica de educandos cegos congênitos e daqueles considerados cegos adquiridos (que perderam a visão após os cinco anos de idade). Percebeu-se que no caso dos educandos que tiveram contato com o mundo visual, mesmo que por um curto espaço de tempo, conservaram uma memória visual dos objetos, o que influenciava as suas percepções e aquisição de conhecimentos. Os sujeitos com deficiências visuais são heterogêneos, se levarmos em conta duas características importantes: por um lado, o resíduo visual que possuem, e por outro, o momento de aquisição de sua deficiência, pois um sujeito cego de nascimento não é igual àquele que adquire essa condição ao longo da vida. Em função desse momento, seus condicionantes pessoais e suas aprendizagens serão totalmente diferentes. (GONZÁLEZ, 2007, p.102) Essas constatações trouxeram algumas reflexões acerca dos caminhos percorridos para a aquisição de conceitos no adolescente com cegueira congênita. No que diz respeito à determinados conceitos meramente visuais como desenhos, por exemplo, pretende-se investigar como esses conceitos são adquiridos? Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos por apresentarem cegueira congênita e por terem a aprovação dos pais ou responsáveis para participar da pesquisa em questão. Apresentaremos a seguir os sujeitos da pesquisa que serão identificados com os nomes fictícios de Joana e André.

Joana, catorze anos, cega congênita, nasceu com baixa visão e restrição de campo visual periférico e perdeu totalmente a visão aos quatro anos de idade. A causa da cegueira é desconhecida. A educanda cursa o nono ano em uma escola municipal da cidade de São Paulo e frequenta a SAAI (sala de apoio e acompanhamento à inclusão) uma vez por semana em período contra turno onde desenvolve atividades de aperfeiçoamento da aprendizagem do sistema Braille e aprendizagem do soroban (instrumento de cálculo matemático). André, doze anos, possui cegueira congênita ocasionada por glaucoma agudo diagnosticado ao nascer. O educando cursa o sétimo ano de uma escola municipal da cidade de São Paulo e frequenta a SAAI (sala de apoio e acompanhamento à inclusão) duas vezes por semana em período contra turno onde desenvolve atividades de aperfeiçoamento da aprendizagem do sistema Braille e Orientação e Mobilidade. A aquisição de um determinado conceito se fará através da identificação de suas características mais marcantes e relevantes, como sua forma, textura para então fazer a ligação do significado à palavra. Estes dados ficam arquivados em nossa memória, assim, sempre que nos for solicitada a imagem referente à palavra solicitada, iremos buscar em nossos registros mentais todas as informações apreendidas referentes a este conceito. Assim, a formação da imagem não ocorre apenas pelo canal visual, por isso, a pessoa cega é capaz de formar imagens mentais dos objetos por meio de informações provenientes de outras modalidades sensoriais. Discussão Ao nos referirmos ao processo de aquisição de conceitos pelo sujeito com cegueira congênita, esse processo ocorre de maneira distinta. Segundo (Oliveira, 2002), as pessoas com cegueira congênita têm 75% das captações sensoriais transmitidas ao cérebro por via auditiva. Assim, é possível observar que o cérebro é responsável por oferecer a estruturação cognitiva aos sentidos. Para o neuropsicólogo português Damásio (1996), os cérebros só possuem mente quando são capazes de exibir imagens internamente e de ordenar essas imagens num processo chamado pensamento, no entanto, as imagens referidas não são exclusivamente visuais, todavia, podem ser tanto sonoras, quanto olfativas ou táteis. Para Amiralian (1997) as pessoas cegas utilizam meios não convencionais para estabelecerem relações com o mundo que as cerca, estabelecendo assim uma reestruturação do sistema psicológico que desenvolve novas estratégias de desenvolvimento.

A partir da ausência do órgão sensorial visual, o desenvolvimento da linguagem e as experiências perceptuais se tornam de fundamental importância para a aquisição de conceitos no sujeito cego. Resultados Por se tratar de uma pesquisa em andamento, as entrevistas e pesquisa de campo com os sujeitos em questão, ocorrerão no segundo semestre de 2016. Conclusão Para que a aquisição de conceitos no sujeito cego ocorra significativamente, é necessária a mediação do professor que deverá partir do conhecimento prévio que o educando já possui, baseando-se nas experiências perceptuais, nas vivências pessoais, nos seus interesses, sensibilidade e habilidades. É necessário identificar que conhecimento que esse sujeito possui com relação ao mundo que o cerca de maneira a compreender como se apropria dos conceitos visuais sem possuir a percepção visual e como as transforma em imagens mentais. Referências AMIRALIAN, M. L. Compreendendo o cego: uma visão psicanalítica por meio de desenhos estórias. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. BAVCAR, E. O contra-olhar. Texto para o projeto A Expressão Fotográfica e Os Cegos. Paris/Londrina: mimeo, correspondência pessoal à autora, 2003. DAMÁSIO, A. R. O Erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras. Tradução portuguesa de Dora Vicente e Georgina Segurado, 1996. GONZÁLEZ, E. (org.) Necessidades educacionais específicas: intervenção psicoeducacional. Porto Alegre: Artmed, 2007, p.102. OLIVEIRA, F. Processo de inclusão de alunos deficientes visuais na rede regular de ensino: confecção e utilização de recursos didáticos adaptados. Marília, SP: Unesp, 2002.