TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A JUSTA CAUSA NA RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. Lidiane Duarte Nogueira Advogada

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Transcrição:

TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A JUSTA CAUSA NA RESCISÃO DO CONTRATO DE TRABALHO Lidiane Duarte Nogueira Advogada Dos motivos que levam ao término o contrato de trabalho, um deles é a ocorrência de justa causa, por prática e culpa do empregado. Justa causa é todo ato faltoso do empregado que faz desaparecer a confiança e a boa-fé existentes entre as partes, tornando indesejável o prosseguimento da relação empregatícia. Os atos faltosos do empregado que justificam a rescisão do contrato pelo empregador tanto podem se referir às obrigações contratuais como também à conduta pessoal do empregado que possa se refletir na relação contratual. Essa quebra (ruptura) contratual é direta e individual, de grande interesse no dia a dia dos empregadores que se preocupam quanto a forma de agir, custos e riscos econômicos e patrimoniais de toda ordem, presentes e futuros. Até porque a dispensa por justa causa tem elevada probabilidade de acarretar o ajuizamento de uma reclamação na Justiça do Trabalho. Daí a importância de saber como dispensar o empregado nesses casos. Apontar o autor da falta praticada é ato de grande responsabilidade, pois representa afirmar a culpa do empregado, sujeitando-o a perder o emprego e até a reparar eventuais prejuízos suportados pelo empregador. A imputação atinge valores como a honra e a dignidade, o que pode gerar dano de natureza extrapatrimonial e, com isso, o dever de indenizar pela empresa. Portanto, esta deve buscar não cometer falhas na aplicação da justa causa. De acordo com o disposto nos artigos 818 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) c/c 333, II do Código de Processo Civil (CPC), por se tratar de fato impeditivo do direito do autor, no caso, o ônus da prova é do empregador, que deverá demonstrar a ocorrência de uma das hipóteses previstas no artigo 482 da CLT. Com base nesse dispositivo,

2 os atos que constituem justa causa a justificar a resolução do contrato de trabalho pelo empregador são: 1) Ato de improbidade Improbidade, regra geral, é toda ação ou omissão desonesta do empregado que revela desonestidade, abuso de confiança, fraude ou má-fé, visando a uma vantagem para si ou para outrem. Ex.: furto, adulteração de documentos pessoais ou pertencentes ao empregador, etc. 2) Incontinência de conduta ou mau procedimento São duas justas causas semelhantes, mas não são sinônimas. Mau procedimento é gênero do qual incontinência é espécie. A incontinência revela-se pelos excessos ou imoderações, entendendo-se a inconveniência de hábitos e costumes, pela imoderação de linguagem ou de gestos. Ocorre quando o empregado comete ofensa ao pudor, pornografia ou obscenidade, desrespeito aos colegas de trabalho e à empresa. Mau procedimento caracteriza-se como o comportamento incorreto, irregular do empregado, por meio da prática de atos que firam a discrição pessoal, o respeito, que ofendam a dignidade, tornando impossível ou sobremaneira onerosa a manutenção do vínculo empregatício, e que não se enquadre na definição das demais justas causas. 3) Negociação habitual Ocorre justa causa se o empregado, sem autorização expressa do empregador, por escrito ou verbalmente, exerce, de forma habitual, atividade concorrente, explorando o mesmo ramo de negócio, ou exerce outra atividade que, embora não concorrente, prejudique o exercício de sua função na empresa. 4) Condenação criminal O despedimento do empregado justificadamente é viável pela impossibilidade material de subsistência do vínculo empregatício, uma vez que, cumprindo pena criminal, o empregado não poderá exercer atividade na empresa. A condenação criminal deve ter passado em julgado, ou seja, não pode ser recorrível. 5) Desídia

3 A desídia é o tipo de falta grave que, na maioria das vezes, consiste na repetição de pequenas faltas leves, que se vão acumulando até culminar na dispensa do empregado. Isso não quer dizer que uma só falta não possa configurar desídia. Os elementos caracterizadores são o descumprimento pelo empregado da obrigação de maneira diligente no horário preestabelecido. São elementos materiais, ainda, a pouca produção, os atrasos frequentes, as faltas injustificadas ao serviço, a produção imperfeita e outros fatos que prejudicam a empresa e demonstram o desinteresse do empregado pelas suas funções. 6) Embriaguez Habitual ou em Serviço Para a configuração da justa causa, é irrelevante o grau de embriaguez e tampouco a sua causa, sendo bastante que o indivíduo se apresente embriagado no serviço ou se embebede no decorrer dele. O álcool é a causa mais frequente da embriaguez. Nada obsta, porém, que esta seja provocada por substâncias de efeitos análogos (psicotrópicos). De qualquer forma, a embriaguez deve ser comprovada por meio de exame médico pericial. Entretanto, a jurisprudência trabalhista considera a embriaguez contínua como uma doença, e não como um fato para a justa causa. É preferível que o empregador enseje esforços no sentido de encaminhar o empregado nessa situação a acompanhamento clínico e psicológico. 7) Violação de Segredo da Empresa A revelação só caracterizará violação se for feita a terceiro interessado, capaz de causar prejuízo à empresa, ou a possibilidade de causá-lo de maneira apreciável. 8) Ato de indisciplina ou de insubordinação Tanto na indisciplina como na insubordinação existe atentado a deveres jurídicos assumidos pelo empregado pelo simples fato de sua condição de empregado subordinado. A desobediência a uma ordem específica, verbal ou escrita, constitui ato típico de insubordinação; a desobediência a uma norma genérica constitui ato típico de indisciplina. 9) Abandono de emprego Janeiro de 2013 Trabalhos Técnicos

4 A falta injustificada ao serviço por mais de 30 dias faz presumir o abandono de emprego, conforme entendimento jurisprudencial. Existem, no entanto, circunstâncias que fazem caracterizar o abandono antes dos 30 dias. É o caso do empregado que demonstra intenção de não mais voltar ao serviço. Por exemplo, o empregado é surpreendido trabalhando em outra empresa durante o período em que deveria estar prestando serviços na primeira empresa. 10) Ofensas físicas As ofensas físicas constituem falta grave quando têm relação com o vínculo empregatício, praticadas em serviço ou contra superiores hierárquicos, mesmo fora da empresa. As agressões contra terceiros, estranhos à relação empregatícia, por razões alheias à vida empresarial constituirá justa causa quando se relacionarem ao fato de ocorrerem em serviço. A legítima defesa exclui a justa causa. Considera-se legítima defesa quem, usando moderadamente os meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 11) Lesões à honra e à boa fama São considerados lesivos à honra e à boa fama gestos ou palavras que importem em expor outrem ao desprezo de terceiros ou por qualquer meio magoá-lo em sua dignidade pessoal. Na aplicação da justa causa devem ser observados os hábitos de linguagem no local de trabalho, origem territorial do empregado, ambiente onde a expressão é usada, a forma e o modo em que as palavras foram pronunciadas, grau de educação do empregado e outros elementos que se fizerem necessários. 12) Jogos de azar Jogo de azar é aquele em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente de sorte.

5 Para que o jogo de azar constitua justa causa, é imprescindível que o jogador tenha intuito de lucro, de ganhar um bem economicamente apreciável. 13) Atos atentatórios à segurança nacional A prática de atos atentatórios contra a segurança nacional, desde que apurados pelas autoridades administrativas, é motivo justificado para a rescisão contratual. Constatada a presença dos elementos que configuram a ocorrência da justa causa, quais sejam, gravidade, atualidade e imediação, caberá ao empregador, em decorrência das obrigações contratuais assumidas pelo empregado e do poder e responsabilidade do empregador na direção dos trabalhos, o direito de puni-lo. A penalidade aplicada deve corresponder ao grau da falta cometida (gravidade). Havendo excesso na punição, a justa causa poderá ser descaracterizada (revertida). O empregador deve usar de bom senso no momento da dosagem da pena. A pena maior, rompimento do vínculo empregatício, deve-se utilizar às faltas que impliquem violação séria e irreparável das obrigações contratuais assumidas pelo empregado, ou para os casos de prática com mais afinco de faltas consideradas leves. A punição deve ser aplicada em seguida à falta, ou seja, entre a falta e a punição não deve haver período longo, sob pena de incorrer o empregador no perdão tácito (atualidade). No que diz respeito ao espaço de tempo, deve-se adotar o critério de punir tão logo se tome conhecimento do ato ou fato praticado pelo trabalhador. A imediação diz respeito à relação entre causa e efeito, ou seja, à vinculação direta entre a falta e a punição. Impende registrar que não cabe ao juiz dosar a penalidade e modificar a medida punitiva aplicada pelo empregador, mas tão somente manter ou descaracterizar a penalidade. Daí porque é importante manter a coerência e a prudência na aplicação da justa causa. Pode haver excesso na punição, culminando na aplicação da mais drástica delas, que é a dispensa. No entanto, cumpre lembrar, no ponto, que existem penas mais brandas para faltas com menor gravidade (desentendimentos entre colegas, atrasos, recusa na assinatura do ponto, etc.). Conforme demonstrado, a punição tem que guardar relação com a falta praticada. Assim, muitas vezes, não é o caso para dispensar, mas sim advertir ou suspender, conforme o ocorrido. Janeiro de 2013 Trabalhos Técnicos

6 Registre-se, ainda, que não se deve informar o empregado da dispensa verbalmente, sob pena de considerar haver falha ou falta de uma comunicação elucidativa do ocorrido. Portanto, uma dispensa por justa causa sempre deve se dar por escrito. Que seja uma carta de dispensa ou uma breve comunicação da decisão do empregador, informando-lhe qual o motivo ensejador da dispensa por justa causa, ou melhor, qual o ato praticado pelo empregado que justifica a perda do emprego. A simples indicação do artigo 482 e sua correspondente alínea não são suficientes para caracterização da justa causa. Devem-se demonstrar os fatos, o momento em que ocorreram, quando o empregador tomou conhecimento e se a pessoa dispensada apresentava antecedentes disciplinares. É importante lembrar que, na maioria das vezes, a Justiça do Trabalho acolhe o pedido de reversão da justa causa em razão da dificuldade na exata compreensão do motivo da punição. A dispensa por ter cometido um ou mais atos faltosos implica perda do emprego, devendo constar do termo de rescisão dispensa por justa causa, mas nada se fará lançar na carteira de trabalho a esse respeito; apenas a data da saída e a assinatura do empregador ou de quem o represente, sob pena da caracterização de dano moral ao trabalhador. No tocante às verbas rescisórias, cumpre esclarecer que, com a dispensa nessas condições, não são devidos férias, aviso prévio e o 13º salário proporcionais (Súmula 171, do TST). Períodos completos de 13º salário e férias que já se venceram não são afetados pela dispensa por justa causa. Também não poderá o empregado efetuar o saque dos valores depositados na conta vinculada do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) nem fará jus à multa de 40% (quarenta por cento) prevista no artigo 477 da CLT e ao seguro-desemprego. São devidos, porém, os salários, os adicionais que eram regularmente pagos e demais verbas resultantes do trabalho já prestado (saldo de salário). Dos valores a serem pagos à pessoa dispensada, o empregador pode descontar eventuais prejuízos que tenham sido causados quando da prática do ato faltoso, desde que haja previsão contratual ou tenha demonstrado o dolo (art. 462, 1º, CLT). Como se vê, a resolução do contrato de trabalho, ainda que por culpa do empregado, não pode ocorrer de forma indisciplinada. Convém, por fim, ressaltar que, antes da aplicação da justa causa, o empregador deve verificar se há disposição expressa sobre a questão em instrumento coletivo de trabalho (convenção ou acordo coletivo de trabalho).