Síntese histórica da propriedade; Fundamento jurídico do domínio; Conceito, Elementos, Caracteres, Objeto e espécies de propriedade; Responsabilidade civil do proprietário Breve notícia histórica da propriedade A propriedade coletiva foi dando lugar à individual, apresentando a seguinte evolução: 1. Propriedade individual sobre os objetos necessários à existência de cada um. a) Período Romano 2. Propriedade individual sobre os bens de uso particular suscetíveis de ser trocados com outras pessoas. 3. Propriedade dos meios de trabalho e de produção. 4. Propriedade individual nos moldes capitalistas; seu titular podia explorá-la de modo absoluta. 1
b) Idade Média Distinguia-se nos feudos a terra dos nobres e a do povo. Estes deveriam contribuir onerosamente em lavor daqueles. c) Era contemporânea (configuração da propriedade depende do regime político) Antiga URSS Países do Ocidente Propriedade exclusiva sobre os bens de consumo pessoal: Propriedade usufrutuária de bens de utilização direta: Bens de produção são socializados. Propriedade individual com restrições voluntárias e legais, para que seja possível o desempenho da função social da propriedade. Fundamento jurídico do domínio a) Teoria da ocupação de Hugo Grócio: a mera ocupação de algo que não pertença a ninguém já pressupõe o direito de propriedade b) Teoria que funda o domínio na lei (Montesquieu, Bentham, Hobbes): a propriedade é instituição do direito positivo, porque existe uma lei que a cria e a garante c) Teoria da especificação (Locke, Guyot, MacCulloch): somente no trabalho humano que transforma a natureza e a matéria bruta, justifica-se o direito de propriedade d) Teoria da natureza humana, segunda a qual o fundamento da propriedade é a natureza humana, pois é o instinto de conservação que leva o homem a se apropriar de bens para saciar sua fome e para satisfazer suas necessidades de ordem física e moral. Não deriva do Estado e de suas leis, mas antecede-lhes, como direito natural e) Teoria da função social (Josserand, Duguit, Proudhon): a propriedade não é um direito, mas uma função voltada a atender os anseios públicos e coletivos 2
Conceito A família, a religião e a propriedade se firmaram como instituições que se consolidaram de maneira interdependente e entrelaçada, viabilizando a consistência da sociedade como um todo, inclusive, suplantando os desafios decorrentes da evolução a que está submetida, em virtude de sua inerência à natureza humana (Coulanges) Direito de propriedade é o direito que a pessoa natural ou jurídica tem, dentro dos limites normativos, de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha. (Diniz) Direito que permite a um titular usar, gozar e dispor de certos bens, desde que ele o faça de modo a realizar a dignidade de pessoa humana (Kataoka) Elementos constitutivos da propriedade Jus utendi é o direito de tirar deo bem todos os serviços que ele pode prestar, sem que haja alteração em sua substância. b) Elementos constitutivos Jus fruendi é o direito de perceber os frutos e de utilizar os produtos da coisa. Jus abutendi ou disponendi é o direito de dispor da coisa ou de poder aliená-la a título oneroso ou gratuito, abrangendo o poder de consumi-la e o poder de gravála de ônus ou submetê-la ao serviço de outrem. Reivindicatio é o poder que tem o proprietário de mover ação para obter o bem de quem injustamente o detenha. 3
Caracteres da propriedade a) Caráter absoluto: Devido a sua oponibilidade erga onmes, por ser o mais completo de todos os direitos reais e pelo fato de que o seu titular pode desfrutar do bem como quiser, sujeitando-se apenas às limitações legais impostas em razão do interesse público ou da coexistência do direito de propriedade de outros titulares (CC, art. 1.231). b) Publicidade: o direito de propriedade só é oponível quando se torna público, e a propriedade se torna pública pelo registro. O registro dá publicidade à propriedade. c) Caráter exclusivo: Em razão do princípio de que a mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneamente a duas ou mais pessoas. d) Caráter perpétuo: Porque o domínio subsiste independentemente de exercício, enquanto não sobrevier causa extintiva legal ou oriunda da própria vontade do titular. e) Caráter elástico: Porque a propriedade pode ser distendida ou contraída no seu exercício, conforme se lhe acionem ou subtraiam poderes destacáveis. Objeto da propriedade a) Bens corpóreos móveis e imóveis (CC, arts. 1.229 e 1.232; Cód. de Mineração, art. 84; e CF, art. 176). b) Bens incorpóreos (Lei 9.279/96, Lei n. 9.610/98; CF, art. 5º, XXIX e XXVII). OBS. Uma das pessoas mais rica do mundo hoje possui propriedade incorpórea protegida pelo direito do autor (os softwares) 4
a) Quanto à extensão do direito do titular Espécies de propriedade Propriedade plena: Quando todos os elementos constitutivos se acham reunidos na pessoa do proprietário. Propriedade restrita: Quando se desmembram um ou alguns de seus poderes que passam a ser de outrem. b) Quanto à perpetuidade do domínio Propriedade perpétua: É a que tem duração ilimitada. Propriedade resolúvel: É a que encontra no seu próprio título constitutivo uma razão de sua extinção, ou seja, as próprias partes estabelecem uma condição resolutiva. Responsabilidade civil do proprietário a) Responde objetiva ou subjetiva pelos prejuízos, neste caso se houver nexo de causalidade entre o dano causado pela coisa e sua conduta. b) Responde por danos causados por animais de sua propriedade, porque há presunção de que tem obrigação de guardá-los e fiscalizá-los. c) Responde pelos prejuízos causados por coisa que ante sua periculosidade deve ser controlada por ele. d) Responde pelos danos ocasionados por coisas não perigosas 5
Tutela específica do domínio QUADRO PRÁTICO DAS PRINCIPAIS AÇÕES REAIS E DOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Barreto Borriello de Andrade. Código civil comentado. 9ª ed. Revista, ampliada e atualizada. São Paulo: RT, 2012, 2.031 p. 6