EGRESSOS DO CURSO DE PEDAGOGIA: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA GESTÃO ESCOLAR 1 Ângela Maria Silveira Portelinha (Doutoranda em Educação UFRGS; Professora Unioeste/Campus Francisco Beltrão) Caroline Machado Cortelini Conceição (Professora Unioeste/Campus Francisco Beltrão) Este trabalho aborda resultados provenientes de projeto de pesquisa realizado com egressos do Curso de Pedagogia atuantes em escolas públicas de Educação Básica do município de Francisco Beltrão/PR. O objetivo central da pesquisa é investigar a relação entre a formação inicial de professores em curso de Pedagogia e a prática desenvolvida nos anos iniciais do Ensino Fundamental e/ou na Gestão do Trabalho Pedagógico. A ênfase dessa discussão será a atuação dos egressos no âmbito da gestão escolar nos cargos de Professor Pedagogo e Coordenador Pedagógico. PALAVRAS-CHAVE: formação de professores, gestão escolar, Curso de Pedagogia 1 Projeto de pesquisa desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa RETLEE Representações, espaços, tempos e linguagens em experiências educativas
2 1 Contextualização da pesquisa O movimento gerado pela elaboração das Diretrizes para a formação de professores impulsionou a ampliação do debate com a comunidade acadêmica sobre o lócus de formação desse profissional, o conteúdo do trabalho docente, a centralidade da tese da docência como identidade do educador, a relação teoria e prática, o estatuto epistemológico da pedagogia, a pesquisa como núcleo na formação, a organização didático-curricular dos cursos de formação, as condições do trabalho docente, a precarização do magistério e a necessidade de aproximação entre escolas de educação básica e instituições formadoras. Tomadas por diferentes matrizes teóricas, tais discussões, intensificadas na década de 90, expressam em seu conjunto a preocupação central em promover a transformação e emancipação dos processos educativos. Nesse sentido, o intento da pesquisa que desenvolvemos, o de aproximar o universo da formação inicial com a atuação dos professores da Educação Básica, pode apontar elementos significativos para ressignificar princípios que sustentam as práticas institucionais e as ações docentes, tanto na universidade quanto na escola. Com tal propósito este texto visa socializar resultados preliminares decorrentes de pesquisa realizada com egressos do Curso de Pedagogia que atuam nas escolas públicas de educação básica do município de Francisco Beltrão/PR. O projeto de pesquisa denominado Egressos de curso de Pedagogia: Relações entre a formação inicial e o universo de atuação docente em escola de Educação Básica, tem o objetivo de investigar a relação entre a formação inicial de professores em curso de Pedagogia e a prática docente desenvolvida nos anos iniciais do Ensino Fundamental e/ou na Gestão do Trabalho Pedagógico. Para tanto, estabelece como sujeitos de pesquisa os pedagogos formados pelo curso de Pedagogia da Unioeste, campus de Francisco Beltrão, no período de 2002 a 2007. Nessa perspectiva, propomos explicitar como os pressupostos teórico-metodológicos que orientaram a formulação dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP) do curso são apropriados e como eles são mobilizados no desenvolvimento da prática profissional dos egressos. Entendemos que a elucidação da realidade requer mais do que está explicito e implícito nos desenhos curriculares e concepções teóricas, sugere investigar como são mobilizados os saberes constitutivos na prática pedagógica. Assim, transcender a discussão conceitual e traduzi-la para o campo da práxis requer centralizar as investigações também na
3 realidade onde o empírico se inscreve. Ouvir os pedagogos sobre sua ação profissional pode nos conduzir a explicitar as contradições engendradas no movimento do real. Abordaremos, a partir de resultados preliminares, a gestão escolar. Para tanto, lançamos mão dos dados obtidos em questionário respondido pelos egressos que atuam no segmento da gestão escolar, no cargo de Professor Pedagogo, nas escolas públicas estaduais, localizadas no município de Francisco Beltrão/PR, bem como, no cargo de Coordenação Pedagógica nas escolas públicas municipais. A análise desses dados aponta para a incerteza em relação à identidade do Professor Pedagogo na escola, enfatizando que há diversas dúvidas quanto às suas funções e atribuições na escola, o que leva a questionar se há um conhecimento técnico-científico que fundamente o desempenho desta função. 2 Entre o universo da formação inicial e a atuação profissional: o que dizem os egressos Os sujeitos integrantes dessa pesquisa totalizam 12 egressos 2, que em levantamento realizado no final de 2008 atuavam na gestão escolar, sendo 11 destes nas escolas estaduais e 1 em escola municipal. A formação inicial desses professores contempla habilitação para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, sendo 67% (total de 8 sujeitos) habilitados para os anos iniciais e 33% para Educação Infantil (totalizando 4 sujeitos). Contudo, esses profissionais desempenham a função de professor pedagogo e coordenador pedagógico nas escolas, atuando, portanto, na gestão escolar. O cargo de Professor Pedagogo foi criado no Estado do Paraná conforme Lei Complementar nº 103/2004 tendo como exigência para desempenhá-lo a formação em curso de Pedagogia, sem especificar a habilitação, ainda em vigor na época 3. E o cargo de Coordenador Pedagógico, das escolas municipais, pode ser ocupado por qualquer dos professores efetivos da escola indicado por seus pares, independente da licenciatura, com anuência da direção e Secretaria Municipal de Educação. A exigência da habilitação em administração, supervisão e orientação se por um lado gera críticas em relação à divisão do trabalho, por outro lado ao desconsiderar essa formação específica abre-se espaço para a consolidação de um novo perfil profissional a do pedagogo polivalente conforme aponta Kuenzer (2006). 2 O critério de seleção para a participação na pesquisa considerou o aceite e a disponibilidade dos sujeitos em participar das atividades do projeto. 3 A lei é anterior às Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura - Resolução CNE/CP n 1/2006.
4 Destes sujeitos, 92% possuem especialização, no entanto apenas 8% em gestão educacional. Em relação aos demais sujeitos 42% possuem especialização em psicopedagogia, e os outros 50% encontram-se dentre aqueles que possuem especialização em ciências sociais, educação inclusiva, pedagogia histórico-crítica e os que não responderam. É relevante destacar que o Curso de Pedagogia conforme o PPP (UNIOESTE, 1999) - oferecia duas habilitações distintas, sendo elas: Educação Infantil (creches e pré-escolas) e Matérias Pedagógicas do Ensino Médio e Ensino Fundamental (quatro primeiras séries) e Matérias Pedagógicas do Ensino Médio. Os objetivos do Curso e a definição da atuação profissional constantes no PPP evidenciam uma concepção de docência restrita ao professor de sala de aula. Nesse sentido, podemos afirmar que seu enfoque volta-se para o trabalho docente, na acepção proposta por Libâneo (2002) que faz uma diferenciação entre este e o trabalho pedagógico. Estabelecendo como trabalho docente uma forma peculiar que o trabalho pedagógico assume na sala de aula e trabalho pedagógico a atuação profissional em um amplo leque de práticas educativas. Para Libâneo (2002, p. 39), portanto, todo o trabalho docente é trabalho pedagógico, mas nem todo o trabalho pedagógico é trabalho docente. Sendo assim, um universo significativo dos professores não obteve durante a graduação e a especialização formação específica para a atuação na gestão escolar, no caso o pedagogo escolar. A ênfase nos conteúdos relativos à docência na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, de certo modo reduziu as discussões sobre a organização didáticocurricular dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, etapa da Educação Básica em que atua o professor pedagogo no estado do Paraná. Esse vazio é manifestado pelos pesquisados quando dizem, quanto às suas necessidades de conhecimento: "[...] metodologias adequadas, diferenciadas às faixas etárias de forma que o conhecimento científico seja compreendido pelo aluno" e falta-nos aprofundamento teórico das áreas exatas e suas tecnologias. Dessa forma, fica evidente a complexidade do campo de atuação do pedagogo. A centralidade das inquietações dos pedagogos, em relação à delimitação de suas funções na escola, recai na falta de clareza em relação as suas atribuições acrescida à sobrecarga de atividades desempenhadas. Isso pode ser visualizado em diversas das respostas das quais destacamos algumas: Qual o trabalho realizado pelo pedagogo? De que forma o seu trabalho de orientação pode contribuir no processo de ensino-aprendizagem?, "não temos clareza da função do pedagogo na escola", "como conciliar as diversas funções atribuídas?" Um aspecto que pode contribuir para a compreensão da questão refere-se à recente mudança no panorama das escolas, a partir de 2004, demarcada pela redefinição dos cargos de
5 orientação, supervisão e administração escolar para o cargo de professor pedagogo. Esse profissional passa a congregar as funções atribuídas, anteriormente, aos especialistas, além de outras, conforme expresso na ampla descrição das atividades do cargo inclusa no edital de concurso Nº 10/2007 - GS/SEED. Outro aspecto diz respeito à própria indefinição que marca a identidade do pedagogo, egresso dos cursos de Pedagogia. Afinal, podemos localizar na história do curso a origem da polêmica entre pedagogo e professor, pois sua criação visava, prioritariamente, a formação dos especialistas em educação. Porém, o curso foi assumindo, paulatinamente, a formação de professores para a educação infantil e para as séries iniciais do ensino fundamental (SCHEIBE, 2001, p. 10-11). Essa dualidade foi produzindo a separação entre a gestão do trabalho pedagógico e a docência. Para Libâneo (2002) o curso deve formar o pedagogo stricto sensu e contesta a idéia de que este deve necessariamente ser professor. Para o autor (2002 p. 29-30) a Pedagogia [...] é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade, [...] uma diretriz orientadora da ação educativa. Tal definição contraria a tendência atual de considerar o pedagogo equivalente ao professor, expresso nas DCN para o curso Pedagogia. Diante disso, será possível afiançar que existe um campo de conhecimento que compõe a gestão escolar que a formação para a docência, na sua acepção restrita, não supre? Essa formação possibilita a compreensão da escola numa dimensão mais ampla, tal como demanda a atuação do pedagogo no âmbito da gestão educacional? Por fim, ao longo da trajetória da constituição do curso visualizamos um processo que sinaliza a transformação da Pedagogia, de ciência que estuda os fenômenos educativos para Pedagogia como sinônimo de professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental e da Educação Infantil. No entanto, na realidade educacional presenciamos o pedagogo atuando em múltiplos espaços educacionais escolares e não-escolares. Esse é um importante indicativo para avaliar os desdobramentos relativos à implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. REFERÊNCIAS: BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP 1/2006. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. D.O.U., Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11.
6 KUENZER, Acacia Z. Trabalho pedagógico: da fragmentação a unitariedade possível. In: AGUIAR, Márcia Ângela da S. e FERREIRA, Naura Syria C. (orgs). Para onde vão a orientação e a supervisão educacional? 3. ed. Campinas/SP: Papirus, 2006. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2002. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. EDITAL Nº 10/2007 - GS/SEED - Concurso Público para o provimento de vagas no cargo de Professor Pedagogo. Disponível em: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br. Acesso em: 20/03/2010. PARANÁ. Lei Complementar N. 103/2004. Dispõe sobre o plano de carreira dos professores da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná. Diário Oficial do Estado do Paraná N. 6687, 15 de março de 2004. SHEIBE, Leda. Formação e identidade do pedagogo no Brasil. In: ENDIPE. Ensinar e aprender: sujeitos, saberes e pesquisa. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. UNIOESTE. Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia. Aprovado pela Unioeste, Sistema Integrado de Documentos nº 4.222.180-5, 24 de novembro de 1999.