Demanda e Marketing Turísticos em Áreas Rurais



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Transcrição:

Demanda e Marketing Turísticos em Áreas Rurais Retrato do Turismo Rural no Brasil, com foco nos Pequenos Negócios Perfil Empresarial Andrea Faria da Silva 1 Resumo: O estudo objetiva a geração de insumos, de base científica, para apoiar o Sistema Sebrae e entidades representativas do turismo rural no Brasil, no desenvolvimento e continuidade de estratégicas que promovam ainda mais a competitividade e sustentabilidade do segmento. Para o desenvolvimento do Perfil Empresarial foi utilizada a metodologia de pesquisa primária (SURVEY), com abordagem direta junto a uma amostra do universo de 125 empreendimentos, genuinamente, de Turismo Rural, identificados em estudo anterior denominado Oferta de Turismo Rural. Adotou-se a técnica de amostragem por conveniência, visando representar a diversidade regional do universo de pesquisa. A amostra final foi constituída por 59 unidades, representando 47,2% do universo válido de 125 empreendimentos. Os resultados demonstram características como faixa etária, gênero, escolaridade dos empreendedores e características da gestão do negócio, como a comercialização, marketing, associativismo e sustentabilidade. Palavras-chave: Turismo rural. Empreendedor. Oferta. Perfil Introdução Retrato do Turismo Rural no Brasil, com foco nos Pequenos Negócios, é um trabalho de consultoria técnica, na linha de estudos e pesquisa realizado pelo SEBRAE Nacional. O estudo é composto de sete etapas e tem como objetivo a geração de insumos, de base científica, para apoiar o Sistema Sebrae e entidades representativas do turismo rural no Brasil, no desenvolvimento e continuidade de estratégicas que promovam ainda mais a competitividade e sustentabilidade do segmento. As etapas são as seguintes: Ambiente Legal, Legislação e Incentivos, Eventos Nacionais e Internacionais, Mídias Institucionais e Segmentadas, Levantamento de Indicadores, Metodologia de Pesquisa Padrão, Oferta Turística e Perfil Empresarial, etapa alvo deste artigo. O Perfil Empresarial utilizou pesquisa primária, com entrevistas por telefone, com base em amostra de conveniência retirada do catálogo da Oferta Turística. A pesquisa, em sua distribuição por unidades da federação, reflete a disposição geográfica dos empreendimentos, onde as regiões Sul e Sudeste têm a maior concentração dos 1 Bacharel em Ciências Administrativas, especialista em Marketing e coordenadora nacional de turismo rural do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SEBRAE. E- mail:andrea.faria@sebrae.com.br 1

empreendimentos pesquisados (88,1%). Aponta quem é o empreendedor e como são os negócios de turismo rural no Brasil. Metodologia Para o desenvolvimento do Perfil Empresarial foi utilizada a metodologia de pesquisa primária (SURVEY), com abordagem direta junto a uma amostra do universo de 125 empreendimentos, genuinamente, de turismo rural, identificados na etapa Oferta de Turismo Rural. Adotou-se a técnica de amostragem por conveniência, visando representar a diversidade regional do universo de pesquisa. O instrumento de pesquisa foi construido sob a forma de questionário estruturado, composto por 36 questões. O instrumento foi submetido a um pré-teste, por intermédio de entrevistas telefônicas realizadas por entrevistador especializado, junto a uma sub-amostra de conveniência de nove empreendimentos. Amostra Pré-teste No ámbito da técnica de amostragem de conveniência, a seleção da sub-amostra de pré-teste foi realizada visando contemplar a diversidade das atividades desenvolvidas nos empreendimentos de turismo rural, pertencentes a diferentes roteiros turísticos nas Unidades da Federação. Aplicação da Pesquisa O levantamento dos dados da pesquisa ocorreu entre os dias 18 e 23 de novembro/2013, por intermédio de entrevistas telefonicas feitas com os responsáveis dos 50 (cinquenta) empreendimentos selecionados para a amostra. O critério de seleção da amostra buscou considerar a participação de todos os estados identificados com empreendimentos de turismo rural e a diversidade das atividades desenvolvidas pelos empreendimentos. Ao longo do processo de levantamento de dados (entrevistas) diversos empreendimentos tiveram que ser substituídos na amostra em função da realidade observada. Houve recusas à participação na pesquisa e, ainda, alguns empreendimentos que não eram de turismo, embora constassem nas fontes oficiais consultadas para a construção da Oferta. 2

Outro aspecto relevante quando observa-se a Oferta Turística é a concentração de empreendimentos nas regiões Sul e Sudeste do país, que possuem 98 propriedades, representando 74,2% do total de propriedades de turismo rural ofertadas. A amostra final foi constituída por 59 unidades, sendo 9 entrevistadas no pré-teste e 50 no levantamento de dados, representando 47,20% do universo válido de 125 empreendimentos mapeados na Oferta Turística. Os participantes do pré-teste foram contatados uma segunda vez para responderem às três novas questões inseridas no questionário final. Após o levantamento dos dados, os questionários foram analisados, individualmente, para validarmos a consistência das respostas e para codificação das questões abertas. Finalmente, procedeu-se a tabulação e análise dos dados, gerando o relatório analítico com tabelas e gráficos. Resultados da Pesquisa A pesquisa Perfil Empresarial, em sua distribuição por unidades da federação, reflete a distribuição dos empreendimentos observados na Oferta Turística. Assim, as regiões Sul e Sudeste têm a maior concentração dos empreendimentos pesquisados (88,1%). Os empresários de turismo rural são, em sua maioria, do sexo feminino (54,2%) e na faixa etária compreendida entre 25 e 59 anos (71,2%) embora, também, observe-se uma presença significativa de pessoas com 60 anos ou mais (25,4%). Todos frequentaram escolas, dividindo-se em três grupos de escolaridade: 27% com Ensino Fundamental (incompleto ou completo), 27,1% com Ensino Médio ou Técnico (incompleto ou completo) e 45,8% com Ensino Superior (incompleto ou completo) ou Pósgraduação. Este último grupo é predominante, indicando uma escolarização bastante elevada dos gestores no país. Esse fato é curioso e parece refletir uma realidade do Sul e Sudeste do país, onde a atividade agropecuária concentra-se em pequenas propriedades, cujos gestores investem, simultaneamente, na terra e na formação acadêmica da família. Em sua grande maioria são proprietários das terras em que trabalham (93,1%) desenvolvendo, predominantemente, atividades de cultivo de hortifrutigranjeiros (74,1%), pecuária (21%) e lavouras (13,8%). Um quarto grupo dedica-se ao cultivo de vinhedos e produção de vinhos (13,8%), produção típica do sul do país. A análise do conjunto de atividades do agronegócio indica, claramente, uma associação com as atividades observadas na agricultura familiar. Fato confirmado pela constatação de que 45% dos 3

proprietários possuem Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) - DAP e 59% possuem Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ. Esses últimos enquadram-se em 68,6% dos casos na categoria de micro empresas, embora existam 25,7% de pequenos empresários e 5,71% de grandes (particularmente vinhedos). Estes dados reafirmam a prevalência de empreendimentos formalizados no turismo rural. A utilização de crédito para investimento no turismo rural é pequena, com apenas 29% dos entrevistados afirmando ter adotado tal prática. Dentre os que buscam crédito, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF é o mais acessado (82%) indicando mais uma vez a simbiose entre a agricultura familiar e o genuíno turismo rural no Brasil. A atividade de turismo rural vem se desenvolvendo há um tempo significativo. Isto fica claro quando se observa a existência de grupos quase percentualmente equivalentes dos que atuam no turismo rural há menos de 5 anos (27,12%), de 5 a 10 anos (30,5%), de 11 a 20 anos (20,3%) ou há mais de 20 anos (22%). Ou seja, essa distribuição quase uniforme, ao longo do tempo, denota uma tradição da atividade. O turismo rural no Brasil é uma atividade, eminentemente, familiar (88,1% dos casos) envolvendo a participação de 3 ou mais pessoas da família (86,6%). A contratação de empregados é uma prática pouco adotada: 46,4% dos empreendimentos não tem empregados, 23,2% têm entre 1 e 2 empregados e 30,4% têm 3 ou mais empregados. Diante dessa realidade, observou-se o baixo potencial da atividade de turismo rural para gerar empregos, além do ambiente familiar. Ou seja, o turismo rural é desenvolvido no núcleo familiar, assim como a agricultura familiar. As atividades de turismo rural oferecidas nas propriedades revelam-se fortemente ligadas às atividades cotidianas da agricultura familiar ou são seu complemento. Assim, dentre as ofertas, tem-se visitas às áreas das propriedades e aos espaços de produção com a integração do visitante às atividades rurais (61%), a oferta de alimentação (51%), a colheita de produtos (39%), degustação da produção (38%), passeios em trilhas e/ou caminhadas (32%), hospedagem (31%) e, finalmente, a experiência de atividades culturais (22%). Ou seja, são atividades que buscam partilhar com o visitante os conhecimentos e hábitos ligados à terra. Trata-se da abertura do espaço rural e seu meio de vida ao cidadão urbano. 4

A comercialização dos produtos aos visitantes é uma prática regular nos empreendimentos de turimo rural, sendo adotada por 81,6% das propriedades. Nestes espaços de venda são comercializados produtos da propriedade (85,4%) e de outras propriedades da região (43,9%). Interessante observar que 13 propriedades (32,5% das que comercializam produtos) complementam seu portifólio, com oferta de outros produtores da região, numa atitude que potencializa o turismo rural na região e/ou no roteiro. Quanto aos fornecedores, observa-se a mesma realidade, uma vez que 69,2% dos empresários declararam contar, para a atividade de turismo rural, com fornecedores da comunidade local e propriedades vizinhas. O abastecimento através do varejo tradicional (super ou hipermercados) é citado por 48,1% dos respondentes e o recebimento de produtos direto na propriedade (entregadores) por 29%. A preocupação com a proteção ao meio ambiente é declarada por 98,3% dos empresários de turismo rural. Contudo, quando questionados sobre os tipos de ações desenvolvidas na propriedade, observa-se que as atitudes predominantes referem-se aos cuidados com os resíduos da atividade, já que 91,4% informam separar o lixo e 88% adotar políticas para a reciclagem de resíduo. Atitudes mais proativas em relação à preservação do ambiente da propriedade são relatadas por menos da metade dos proprietários, uma vez que 37% sinalizam a propriedade para a preservação do meio ambiente e apenas 32,8% restringem seus visitantes à capacidade de suporte da área. Assim, observa-se um paradoxo de um ambiente cuja ruralidade e beleza natural são valorizadas pelos visitantes e ao mesmo tempo pouco protegidas pelos empreendedores. Atitudes como estas sinalizam a fragilidade da sustentabilidade dos empreendimentos no futuro. Comparando-se a renda do turimo rural à renda auferida na propriedade nas atividades do agronegócio, verifica-se a característica de complementariedade da receita do turismo rural, já que em apenas 32,8% dos empreendimentos esta é a principal renda da propriedade. Contudo, essa realidade parece estar se alterando, já que 79,7% dos entrevistados admitem que a renda seja crescente. As práticas de associativismo são presentes nos empreendimentos pesquisados, com 77,6% dos empreendedores declarando fazer parte de cooperativas, associações ou sindicatos. Essa realidade indica um espaço bastante promissor para criação e/ou fortalecimento da governança do segmento. 5

Em sua maioria (68,5), a clientela do turismo rural é regional, com apenas 31,5% dos empreendimentos com alcance nacional (outros estados). Essa observação revela o elevado potencial do segmento para a dinamização da economia regional, atendendo às diretrizes de regionalização do turismo adotadas pelo Ministério do Turismo desde 2004. A sinalização para o turismo rural foi avaliada na pesquisa em quatro diferentes dimensões: a existência de sinalização turística no município indicando a presença de turismo rural em seu território (76,8%); a existência de sinalização no município indicando as propriedades ali existentes (69,5%); a existência de sinalização nas vias de acesso indicando a localização das propriedades (69,5%) e, finalmente, a existência de sinalização interna às propriedades indicando os seus atrativos de turismo rural (64,4%). Como é possível observar os resultados indicam maior presença da sinalização sob a responsabilidade das prefeituras (sinalização no município e nas vias de acesso) do que aquela sob a responsabilidade do empresário. Com relação à forma de comercialização do turismo rural, a pesquisa identificou que o empresário ainda é o principal agente de comercialização de seu negócio (76,3%). As cooperativas, associações ou Organizações Não Governamentais - ONGs ocupam o segundo lugar no esforço de comercialização (33,9%), enquanto os agentes locais ou agências de viagens comercializam apenas 22% do turismo rural. Esse resultado indica, mais uma vez, a característica de gestão familiar da atividade, onde o empresário acumula, além da produção, a responsabilidade pela comercialização de seu negócio. Da mesma forma a divulgação do negócio ainda é feita na maioria das propriedades pelo próprio empresário (75,9%). As cooperativas, associações e ONGs também se revelam canais de divulgação importantes, sendo adotados por 62,1% dos empreendimentos. A comercialização via agentes locais ou agências é minoritária, sendo utilizada por 25,9% dos entrevistados. Interessante observar que as Prefeituras são citadas por 12% dos empresários como responsáveis pela divulgação de seus negócios. O ambiente WEB é o mais utilizado para a divulgação dos negócios de turismo rural. Seja sob a forma de blogs ou sites (81% dos casos), Fan Pages no Facebook (36,2%), demonstrando que a internet já chegou ao meio rural. Outras formas tradicionais de comunicação através de material gráfico como folhetos (63,8%) e cartazes (43,10) também são bastante utilizados. Constata-se que o empresário divulga seu negócio via WEB e no empreendimento utiliza materiais gráficos para fixar sua imagem junto aos clientes. A 6

internet é também citada por àqueles empreendimentos que se fazem presentes em portais ou páginas da Prefeitura. Somando-se ao esforço de divulgação via web ou de material gráfico, os empresários de turismo rural utilizam feiras e eventos para divulgação de seus negócios e produtos. A participação nestes eventos é informada pela maioria dos empresários pesquisados (76,3%), que o fazem pelo menos uma vez ao ano (86,%). Porém, não é só com a divulgação dos seus negócios que os empresários de turismo rural se preocupam. A avaliação da qualidade de produtos e serviços é continuamente monitorada por meio de contato pessoal do empreendedor com seus clientes (91,5%), utilizando livros de sugestões (28,8%), pesquisa de opinião realizadas durante a estada do cliente (18,6%) ou via site ou e-mail (10,7%). Parte 1. Informações de Mercado planejamento, monitoramento e gestão dos pequenos negócios de turismo rural O Turismo Rural é o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade (BRASIL. Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural. Ministério do Turismo, s/d. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_p ublicacoes/diretrizes_desenvolvimento_turismo_rural.pdf). Turismo Rural é uma segmentação do setor Turismo, com a especificidade de estar vinculado à produção agropecuária. Apesar de apresentar um enquadramento conceitual, uma história, roteiros e destinos com produtos in natura e beneficiados e empreendimentos instalados no meio rural, o Turismo não é uma atividade econômica registrada na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (IBGE. CNAE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/classificacoes/cnae2.0/default.sht m) assim como nenhuma outra segmentação do turismo o é. A Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE é um instrumento fundamental na produção de informações socioeconômicas no país, sendo a classificação oficialmente adotada pelo Sistema Estatístico Nacional na produção de estatísticas por tipo de atividade econômica, e pela Administração Pública, na identificação da atividade 7

econômica em cadastros e registros de pessoa jurídica. Como então aparece o Turismo? A atividade aparece dispersa em diversas classes e subclasses alinhadas com as atividades econômicas apresentadas na Política Nacional de Turismo e no Decreto que a regulamenta, caracterizadas como atividades econômicas relacionadas ao Turismo. Aqui reside uma das grandes dificuldades para geração de informações mercadológicas que são de extrema relevância na tomada de decisões para elaboração de estratégias e políticas públicas para o turismo rural. Chegou-se a 125 empreendimentos por meio do acesso a bases oficiais, como o Sistema de Cadastro de Pessoas Físicas e jurídicas que atuam no Setor do Turismo Cadastur, executado pelo Ministério do Turismo com apoio de órgãos oficiais, e também de bases de dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Muitos dos dados estavam desatualizados e alguns empreendimentos não existiam mais. Portanto, o desafio para fortalecer o turismo rural é enorme. O primeiro deles é mapear a oferta e demanda de forma mais ampla para que se possa avançar e criar incentivos e qualificar as bases de dados do país. Não existe perspectiva de inserção da atividade na Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE. Seria uma saída a promoção do associativismo e empoderamento das entidades de classe que representam o segmento? Conclusões no Brasil. A pesquisa aponta quem é o empreendedor e como são os negócios de Turismo Rural Dimensão Individual São proprietários da terra, homens e mulheres de 25 a 59 anos, com predominância de 12 anos de escolaridade. Dimensão do empresário (homem/mulher de negócio) São experientes no domínio do negócio e têm tradição no turismo rural que acontece em família, sendo conduzido pelos próprios familiares. Isto é, toda a família trabalha no negócio. Estão familiarizados com o uso da internet, utilizando-se dela para comercialização e divulgação do turismo rural. Regularmente, relacionam-se em associações e cooperativas e participam de feiras e eventos regionais. Dialogam com os clientes, pessoalmente, em busca de suas avaliações e sugestões. Vivem e vivenciam o negócio de turismo rural o 8

tempo todo. Contudo, apresentam fragilidades, pois sofrem a pressão simultânea de produzir, de gerir, de divulgar e de comercializar o negócio de turismo, tendo em vista que não existem outros atores para tal. O único apoio que recebem vem das entidades assoctiavistas as quais estão vinculados e da prefeitura. Dimensão do negócio de Turismo Rural Exploram no negócio de turismo rural as atividades cotidianas da agricultura familiar desde andar de trator a degustar produtos. Agregam pousadas e café/restaurantes como formas de abrir e possibilitar vivências do mundo rural para o cidadão urbano e, consequentemente, rentabilizar o seu negócio. Vendem seus produtos em primeiro lugar em pontos de venda na propriedade e ainda complementam sua oferta com produtos de outras propriedades da região. Buscam fornecedores na comunidade local e complementam no varejo a aquisição de produtos manufaturados. A sinalização da atividade de turismo rural está presente no município, nos acessos às propriedades, e dentro dos empreendimentos. Os clientes, em sua maioria, são da própria região. Dimensão do empreendimento rural Cultivam hortifrutigranjeiros. Adotam práticas de separação e reciclagem de resíduos sólidos. Porém poucos se preocupam em sinalizar e oferecer orientação e recipientes para depósito de lixo para os visitantes. Poucos gerenciam a capacidade de suporte da propriedade (número de visitantes). Dimensão econômica Possuem DAP ou CNPJ, fogem do crédito e quando o utilizam é o Pronaf. Geram poucos empregos fora do ambiente familiar. Embora a renda do negócio de turismo rural seja crescente, ainda, é complementar à renda do agronegócio. Logo, não se deve entender o turismo rural como negócio urbano propondo uma atuação focada em modelos de gestão de empresas urbanas. Esse não é o tempo e nem o mundo do negócio de turismo rural. O potencial de crescimento e sobrevivência do turismo rural está muito mais na regularidade da entrada de receita e na otimização de seus 9

recursos do que no crescimento da receita. Mas, isso não significa que não irá aumentar a receita. Entretanto, é necessário ficar claro para o emprendedor que o turismo rual é uma atividade complementar e quais são os seus verdadeiros impactos. O turismo rural é em sua essência um pequeno negócio e a manutenção da atividade rural é imprescíndivel. Pois, pode promover a manutenção das propriedades com seus fundadores constituindo uma oportunidade de permanencia dos herdeiros no meio rural. O espaço de atuação do Sebrae deve ser pela continuidade, manutenção do empreendimento e regularidade de receita dos negócios de turismo rural, no ambiente da Agricultura Familiar. A condução do negócio de turismo rural já está resolvida e bem desenvolvida pelos empreendedores, o que é necessário é ampliar os seus horizontes de negócio e agregar competências apropriadas à sua realidade, visando otimizar seus recursos para solidificar o seu negócio. Não se trata de expandir somente a renda do negócio, isoladamente, mas sim consolidá-lo e integrá-lo a uma rede de sustentação composta pelas diversas dimensões do ambiente em que ele está inserido, considerando que o turismo rural não acontece isoladamente e sim em cadeia. A atuação junto aos empreendimentos de turismo rural deve priorizar a instrumentalização dos empresários e sua família tendo por objetivos: diminuição da sazonalidade; divulgação e comercialização regional preferencialmente; incentivo e promoção do Associativismo; promoção da interação com seus pares da cadeia produtiva local; benchmarking, com foco na utilização dos recursos de suas propriedades de forma inovadora e identificação de boas práticas e gestão; fortalecimento dos espaços de governança, criando oportunidades para a interação local/regional entre agentes público e privados; apoio e incentivo para a realização de eventos de divulgação e comercialização dos negócios e produtos de turismo rural na região. Referências SEBRAE. Direcionamento Estratégico do Sistema SEBRAE 2009 2015. Brasília DF. Disponível em: 10

http://www.sebrae.com.br/customizado/transparencia/direcionamento%20estrategico%20do %20Sistema%20Sebrae%202009-2015.pdf/at_download/file SEBRAE. Direcionamento Estratégico SEBRAE 2013 2022. Brasília DF, setembro, 2012. Disponível em: http://www.funcern.br/downloads/doc_download/235-direcionamentoestrategico-2022.html. Acesso em: 09 mar. 2014 SEBRAE. Diretrizes para a elaboração do Plano Plurianual 2014 2017 e Orçamento 2014. Brasília DF, maio 2013. Documento interno BRASIL. Turismo no Brasil: Termo de Referência para a atuação do Sistema Sebrae. Sebrae, 2010. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/setor/turismo/tr_turismo_final.pdf BRASIL. Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural. Ministério do Turismo, s/d. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_p ublicacoes/diretrizes_desenvolvimento_turismo_rural.pdf 11