Sabrinna Aparecida Rezende MACEDO Licenciada em Física; Pós-Graduanda em Educação em Ciências e Matemática - UFG

Documentos relacionados
CONCEPÇÕES E USOS DO LABORATÓRIO DIDÁTICO JUNTO AOS CURSOS DE LICENCIATURA

Plano de Ensino. Curso. Identificação UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Câmpus de Bauru. 1604L/1605L Física.

Plano de Ensino. Curso. Identificação UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Câmpus de Bauru. 1604L/1605L Física.

Plano de Ensino. Curso. Identificação UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Câmpus de Bauru. 1604L Física.

Representação vetorial e grandezas físicas: uma convergência para além da Matemática.

A VISÃO DA DISCIPLINA DE FÍSICA PELA ÓTICA DOS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DO IFPI Apresentação: Pôster

ELABORAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO INVESTIGATIVO COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO EXPERIMENTAL DE QUÍMICA

Pró-Reitoria de Graduação. Plano de Ensino XX Quadrimestre de 20XX

Análise dos conceitos básicos de eletroquímica à luz da epistemologia de Bachelard. Santos, J. E 1 ; Silva, F. J. S 2

UMA ANÁLISE DA TRANSIÇÃO PROGRESSIVA DE UMA PROFESSORA DO ENSINO MÉDIO EM SEUS MODELOS DE ENSINO DE CINÉTICA QUÍMICA

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DOS CONCEITOS DE MECÂNICA NUMA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA

AS NECESSIDADES DE PRÁTICAS EXPERIMENTAIS NAS AULAS DE FÍSICA DO ENSINO MÉDIO DO MUNICÍPIO DE ARARUNA-PB

PERSPECTIVAS NA FORMAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE DOS ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA DA UESB

Influência das atitudes dos professores em relação à matemática

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Licenciatura em Educação Física no ano de

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE ENSINO. CÓDIGO DISCIPLINA OU ESTÁGIO SERIAÇÃO IDEAL/PERÍODO 1107 Pesquisa em Educação Científica II 4ª série

48 Aula prática: 0 Câmpus: SA horária: horas Código da. Turma: Turno: Quadrimestre: Ano: turma: Docente(s) responsável(is):

PORTFÓLIO - DO CONCEITO À PRÁTICA UNIVERSITÁRIA: UMA VIVÊNCIA CONSTRUTIVA

A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO III NA FORMAÇÃO DOCENTE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso 1605L - Licenciatura em Física. Ênfase

A CONCEPÇÃO DE ENSINO ELABORADA PELOS ESTUDANTES DAS LICENCIATURAS

RESOLVENDO PROBLEMAS ABERTOS USANDO WEBQUESTS

Formação inicial: reflexão de licenciandos em biologia sobre o ensino de ciências a partir do estágio supervisionado

PERSPECTIVAS ATUAIS EM ENSINO DE QUÍMICA: OBSTÁCULOS E POSSIBILIDADES

Impacto da formação continuada na atuação dos professores de matemática: um estudo de caso

Didática Aplicada ao Ensino de Ciências e Biologia

O CURSO DE PEDAGOGIA COMO LÓCUS DA FORMAÇÃO MUSICAL INICIAL DE PROFESSORES Alexandra Silva dos Santos Furquim UFSM Cláudia Ribeiro Bellochio UFSM

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

PIBID: FAVORECENDO UMA FORMAÇÃO DOCENTE CRÍTICO/REFLEXIVA

ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS APLICADAS NO ENSINO DA CONTABILIDADE GERENCIAL: UM ESTUDO COM DISCENTES E DOCENTES DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

ETNOMATEMÁTICA E LETRAMENTO: UM OLHAR SOBRE O CONHECIMENTO MATEMÁTICO EM UMA FEIRA LIVRE

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO PLANO DE ENSINO

INVESTIGAÇÃO NO ENSINO MÉDIO: PESQUISA ESCOLAR EM DISCUSSÃO 1

SUBPROJETO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PIBID UFG/CAMPUS JATAI

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso 1605L - Licenciatura em Física. Ênfase. Disciplina A - Didática das Ciências

O USO DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA POR PROFESSORES NO ENSINO FUNDAMENTAL

INOVAÇÃO PEDAGÓGICA NO ENSINO DE FÍSICA NO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA REITORIA ANEXO I. PROJETO DE

REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO PELA PESQUISA SEGUNDO PROFESSORES DO ENSINO MEDIO POLITÉCNICO 1

Bachelard. A Ciência é contínua?

1.OBJETIVOS 1.1. Objetivo Geral Discutir as bases teóricas e metodológicas da Pesquisa em Educação.

Programa Analítico de Disciplina EDU382 Metodologia da Pesquisa em Educação

IDENTIFICANDO OBSTÁCULOS EPISTEMOLÓGICOS EM CONTEÚDOS DE CINÉTICA QUÍMICA

Palavras-chave: Educação Física. Produção Colaborativa de Práticas Corporais Inclusivas. Alunos público alvo da Educação Especial. 1.

A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DOS EXPERIMENTOS DEMONSTRATIVOS NAS AULAS DE QUÍMICA

PIBID Relações entre a Escola Básica e a Universidade a Partir da Perspectiva de um Professor Supervisor

Palavras-chave: Formação e Profissionalização docente; Estado da arte; ANPEd

Educação em Química no Brasil: conquistas e perspectivas da pesquisa. Ensino de Química III 2011 Profª Tathiane Milaré.

EXPERIMENTAÇÃO ALTERNATIVA PARA IDENTIFICAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS ÁCIDAS E BÁSICAS

PLANO DE ENSINO. Professor: Paulo Ricardo da Silva Rosa Turma(s): 01 Carga Horária: 60 h H/Aula Semanais : 04 h Curso: Mestrado em Ensino de Ciências

PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DE UM ALUNO COM SÍNDROME DE DOWN EM UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL DA CIDADE DE REMÍGIO.

PIBID: USANDO EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA * Leonardo Santos Souza 1 Sandra Hunsche (Orientador) 2

22/08/2014. Tema 6: Ciência e Filosofia. Profa. Ma. Mariciane Mores Nunes. Ciência e Filosofia

Plano de Ensino Docente

COORDENAÇÃO GERAL DE ENSINO. RS 377 Km 27 Passo Novo CEP Alegrete/RS Fone/FAX: (55)

Resultados e discussão

Modelos de Ação Didática

RELAÇÃO ENTRE A CONTEXTUALIZAÇÃO E A EXPERIMENTAÇÃO ACERCA DAS QUESTÕES DO ENEM EM QUÍMICA

ABORDAGEM DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE A PESQUISA: ATIVIDADES PRÁTICAS EM SALA DE AULA. 1

Plano de Ensino Docente

PESQUISAS ATUAIS EM ENSINO DE BIOLOGIA: TEMÁTICAS DISCUTIDAS NO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DISCIPLINA. Carga Horária Teóric Prática Total a Crédito (s) (*) Metodologias para o ensino da genética PGM847

Edital de Seleção para a Coordenação da Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama EDITAL CLÍNICA DE DIREITOS HUMANOS LUIZ GAMA

ATIVIDADES EXPERIMENTAIS DE BAIXO CUSTO COMO ESTRATÉGIA PARA UM MELHOR DESEMPENHO NO ENSINO DE FÍSICA.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

RELATOS DE EXPERIÊNCIA: UMA ANÁLISE DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES-PNAIC

FORMAÇÃO CONTINUADA DE DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR: POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO GRUPAL DE SABERES DOCENTES EM INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE ENSINO

TÍTULO: AULAS EXPERIMENTAIS DE CIÊNCIAS A PARTIR DE ATIVIDADES INVESTIGATIVA

DIVISÃO DE ASSUNTOS ACADÊMICOS Secretaria Geral de Cursos PROGRAMA DE DISCIPLINA

PLANO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DO LICENCIANDO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: ANSEIOS E DIFICULDADES

EDITAL PROEXT Nº 04/2017 Seleção de voluntários para o Projeto Universidade Aberta à Maturidade

Proposta de Desenvolvimento de Modelos Computacionais e Estratégias para sua Integração em Disciplinas dos Cursos de Graduação em Física e Biologia

ENSINO MÉDIO: INOVAÇÃO E MATERIALIDADE PEDAGÓGICA EM SALA DE AULA 1. Palavras-Chave: Ensino Médio. Inovação Pedagógica. Pensamento docente.

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso 1605L - Licenciatura em Física. Ênfase

A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DE LIMITE E OS ALUNOS DA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DO LICENCIADO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS

A docência no ensino superior: a formação continuada do professor-formador e a reflexão crítica da sua ação docente

APRENDENDO A ENSINAR MATEMÁTICA POR MEIO DOS RECURSOS DIDÁTICOS: MONITORIA, JOGOS, LEITURAS E ESCRITAS E LABORATÓRIO DE ENSINO DE MATEMÁTICA.

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TRABALHO DAS PEDAGOGAS NA ESCOLA: UM ESTUDO DE CASO 1

TÍTULO: A CAPOEIRA COMO FERRAMENTA DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Sérgio Camargo Setor de Educação/Departamento de Teoria e Prática de Ensino Universidade Federal do Paraná (UFPR) Resumo

O PENSAMENTO TEÓRICO NO ENSINO TÉCNICO

Licenciatura em Ciências Exatas PIBID- Subprojeto Física DIÁRIO DO PIBID. Bolsista: Tamiris Dias da Rosa. Reunião dia 28/07/2016

Mestrado Acadêmico em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde. Ementas 2016

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ENSINO DE QUÍMICA III. Aula

Uma experiência sobre Galileu em um Curso de Licenciatura em Física na Modalidade à Distância

A prática do professor que ensina matemática nos anos iniciais

ATIVIDADES DIGITAIS, A TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS E O DESENVOLVIMENTO DOS CONCEITOS DE PROPORCIONALIDADE

CONCEPÇÕES ACERCA DA EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO INICIAL

Eixo Temático: Eixo 01: Formação inicial de professores da educação básica. 1. Introdução

SITUAÇÃO DE ESTUDO: UMA ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO DOCENTE NO MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO

A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: CONTRIBUIÇÕES NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SECRETARIADO EXECUTIVO

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso 1605L - Licenciatura em Física. Ênfase. Disciplina A - Filosofia da Ciência

ENSINO E CONCEPÇOES DE ALUNOS SOBRE TRANSFORMAÇÃO QUÍMICA

MARCO TEÓRICO. PALAVRAS CHAVE: história e filosofia da ciência, educação do campo, ciências da natureza, campos conceituais.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS COLEGIADO DO CURSO DE MATEMÁTICA

Transcrição:

A experimentação no Laboratório didático do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás: uma análise dos possíveis obstáculos epistemológicos na construção do conceito de força. Sabrinna Aparecida Rezende MACEDO Licenciada em Física; Pós-Graduanda em Educação em Ciências e Matemática - UFG E-mail: sabrinnaaparecida@gmail.com Juan Bernardino Marques BARRIO Professor do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais UFG E-mail: juan@planetario.ufg.br Palavras-chave: Laboratório didático; Ensino de Física; Obstáculos Epistemológicos; Conceito de Força. JUSTIFICATIVA Várias pesquisas, Alves Filho (2000), Araújo e Abib (2003), Borges (2006), Hodson (1994, 1996), Gil-Perez et al. (2006), Grandini e Grandini (2008), dentre outras, analisam as atuais situações de utilização do Laboratório didático no ensino. Estas análises referem-se às aulas de Ciências e de Física, tanto no Ensino Médio; Fundamental ou no Ensino Superior, e propõem sugestões para fazer com que a sua utilização alcance maiores êxitos no que se refere à formação do sujeito e à construção/consolidação de conceitos. Em particular no caso do uso do laboratório didático de Física, é consenso que este possui uma função importante na consolidação dos conteúdos conceituais e procedimentais, ou seja, nos processos de ensino e de aprendizagem dos conceitos e dos procedimentos próprios da Física. No entanto, a postura do professor frente aos modos de inserção e utilização do experimento ao longo de sua prática docente está intimamente ligada às suas representações e concepções em relação ao Laboratório didático, e que tais concepções vêm desde sua formação básica, podendo consolidar-se ou modificar-se durante a formação em nível superior. O possível despreparo do professor em relação à utilização do Laboratório didático, evidenciado em algumas das pesquisas citadas, pode ser decorrente, em grande medida, de uma formação conceitual e técnica fragmentada ou deficitária durante as aulas no Laboratório didático de Física, durante sua formação como professor, no curso de Licenciatura em Física. Nesta investigação, parte-se da base de que o Laboratório didático é um importante momento para construção do conhecimento científico, e que suas funções perpassem a mera perspectiva de se aprender a manusear equipamentos, realizar medidas, executar cálculos ou, ainda, a função exclusiva de confirmação de teorias.

Para tanto, propõe-se a adoção de um laboratório de Física com enfoque epistemológico, pois se acredita que somente a aquisição de saberes experienciais, ou seja, a prática de sala de aula, não é o suficiente para que um professor seja capaz de refletir sobre sua práxis, de analisar criticamente suas concepções filosóficas e, mesmo, o conhecimento com o qual trabalha. Neste sentido, a ausência da reflexão epistemológica durante a formação deste profissional pode tornar-se um empecilho ao avanço no ensino das ciências, particularmente falando, do avanço no ensino da Física. Por isso, optamos por trabalhar com o conceito de força por tratar-se de um conceito central que perpassa toda a Física desde suas características macroscópicas até as microscópicas. Apesar de ser um conceito central, pouco se discute acerca do conceito de força (JAMMER, 2011) e, possivelmente, daí surgem diversos empecilhos à aprendizagem de conceitos derivados deste entendimento. REFERENCIAL TEÓRICO Como referencial teórico principal consideramos a epistemologia histórica de Gaston Bachelard, o filósofo da desilusão. Bachelard vivencia o momento em que as concepções mecanicistas do universo, até então entendidas como o encerramento da Física cotidiana, caem por terra devido ao advento da Física Moderna. Neste momento histórico assiste-se a diversos embates entre duas concepções acerca da Física e observa-se que muitos estudiosos não conseguem conviver com estas possibilidades de análise do universo. Neste sentido, Bachelard vem alertar para a necessidade da formação de um novo espírito científico. Um espírito científico que seja capaz de suplantar tais embates em prol de certas rupturas epistemológicas. Para isso, alerta sobre a existência de obstáculos epistemológicos que freiam a consolidação deste novo espírito científico. Neste sentido, ele faz uma série de questionamentos, acerca de: a filosofia desatenta afogada em seu sono dogmático; o saber maculado pelo utilitarismo; e o dever da filosofia científica. Ao mesmo tempo, Bachelard afirma que a ruptura entre o conhecimento de senso comum e o conhecimento científico, traz à tona os obstáculos epistemológicos capazes de estagnar o pensamento; elogia o erro e a polêmica; defende o dissenso como a prova da possibilidade de coexistência de várias racionalidades (as racionalidades setoriais).

Trazendo estas discussões para nossa investigação, pretende-se contribuir com uma nova abordagem para o Laboratório didático de Física 1 oferecido no curso de Física da UFG, ao trabalharmos os experimentos não apenas por meio de objetivos a serem cumpridos, mas também por meio de problemas a serem resolvidos. Segundo Bachelard (1996), o conhecimento é sempre a resposta a uma pergunta, e sem polêmica, não é possível contribuir para a formação de um espírito científico. Para Bachelard (1996) o ato de conhecer se dá contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização (p.17). Alicerçados, então, nesta epistemologia histórica, pretende-se analisar alguns obstáculos epistemológicos que são capazes de entravar a construção do conhecimento acerca do conceito de força. METODOLOGIA Nesta investigação, adota-se a metodologia da pesquisa qualitativa (BOGDAN & BIKLEN, 1992), num estudo de caso (STAKE, 1982), com o objetivo de buscar compreender quais são os possíveis obstáculos epistemológicos (BACHELARD, 1996) presentes na construção do conceito de força por estudantes do 1º semestre do curso de Licenciatura em Física da UFG, matriculados em Laboratório didático. Algumas questões sobre o conceito de força e seu uso são utilizadas do material produzido por Rade (2005) e Jammer (2011). Em fase de coleta de dados, participam desta investigação cerca de 12 alunos e foram acompanhadas até agora, 4 (quatro) aulas diferenciadas no Laboratório didático de Física I onde a intenção principal era a de promover uma discussão a respeito do conceito de força envolvendo os experimentos que seriam realizados nestas quatro aulas. Os experimentos realizados foram: (1) 1ª Lei de Newton e Movimento Retilíneo Uniforme; (2) 2ª Lei de Newton; (3) Teorema Trabalho-Energia Mecânica; e (4) Conservação da Energia Mecânica. As aulas foram registradas em caderno de campo e/ou filmadas, dependendo da disponibilidade do recurso tecnológico. Também foi respondido, pelos estudantes/sujeitos interessados em participar da investigação, um questionário com perguntas que tratavam sobre seus entendimentos a respeito da epistemologia, das funções do laboratório didático e do conceito de força.

Uma terceira etapa para a construção dos dados se dará pela realização de entrevistas semi-estruturada com alguns sujeitos onde se espera identificar mais detidamente os obstáculos epistemológicos presentes no entendimento de cada um deles a respeito do conceito de força e da construção deste conceito no laboratório didático. Pretende-se também, verificar em que medida estas discussões contribuem ou não para sua formação enquanto professor. Estas entrevistas devem ser filmadas. Os dados obtidos serão tratados, posteriormente, por meio de análise de conteúdo (BARDIN, 2010; ORLANDI, 2009) onde buscaremos analisar por meio das falas dos sujeitos da investigação, em seus contextos, os obstáculos presentes na construção do conceito de força nas aulas do laboratório didático de Física. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Nestes primeiros contatos com os licenciandos em Física pode-se observar que as discussões a respeito do conceito de força são poucas e muito frágeis. Isto dificultou o deslanchar das discussões nas primeiras aulas no laboratório didático. Ao mesmo tempo, a modificação na abordagem da experimentação dotando-a de uma vertente epistemológica evidenciou o interesse dos estudantes por aspectos históricos e epistemológicos a respeito do conceito e do experimento. Isto pode indicar, ainda que forma discreta e inicial, o potencial do laboratório didático para construção e consolidação de conceitos. REFERÊNCIAS ALVES FILHO, J. P. Regras da transposição didática aplicadas ao laboratório didático. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 17, n. 2, ARAÚJO, M. S. T. DE; ABIB, M. L. V. S. Atividades Experimentais no Ensino de Física: Diferentes Enfoques, Diferentes Finalidades. Revista Brasileira de Ensino de Física, 25, 2, 176-194, 2003. BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70 Ltda., 2010. BOGDAN, R. & BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução a teoria e aos métodos. Porto: Porto, 1992. BORGES, A. T. Novos rumos para o laboratório escolar de ciências. In: STUDART, N. (Org). Física: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 2006. (Coleção Explorando o Ensino; volume 7). GRANDINI, N. A.; GRANDINI, C. R. Laboratório didático: Importância e utilização no processo de ensinoaprendizagem. XI Encontro de Pesquisa em Ensino de Física, 2008, Curitiba (PR). Disponível em < http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/epef/ xi/sys/resumos/t0269-1.pdf> acesso em jan. 2011.

GIL-PÉREZ, D. et al. Papel de la Atividade Experimental en la Educación Científica. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 23, n. 2: p. 157-181, ago. 2006. HODSON, D. Hacia un enfoque, más crítico del trabajo de laboratório. Enseñanza de las ciencias: revista de investigación y experiências didácticas, Vol. 12, Nº 3, pags. 299-313, 1994.. Practical Work in Schools Science: Exploring some Directions for Change. International Journal of Science Education, v. 18, n. 7, p. 755-760, 1996. JAMMER, M. Conceitos de força: estudo sobre os fundamentos da dinâmica. Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2011. ORLANDI, E.P. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 8ª Ed., Campinas, SP: Pontes, 2009. RADÉ, T. da S. O conceito de força na física evolução Histórica e perfil conceitual. Dissertação de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Luterana do Brasil, Canoas, 2005. STAKE, R.E. Estudos de caso em pesquisa e avaliação educacional. Disponível em < http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/es/artigos/55.pdf> acesso em 31 ago. 2009.