ACÓRDÃO Registro: 2016.0000121592 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº 2267220-75.2015.8.26.0000, da Comarca de Mauá, em que é paciente TIAGO SANTANA DE JESUS e Impetrante DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Denegaram a ordem. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 1 de março de 2016. Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica
HABEAS CORPUS nº 2267220-75.2015.8.26.0000 Comarca: Mauá Impetrante: Daniel Durvault Roitberg Paciente: TIAGO SANTANA DE JESUS VOTO Nº. 12.788 Habeas corpus. Roubo majorado pelo emprego de arma, concurso de agentes e restrição de liberdade das vítimas. Pedido de revogação da prisão preventiva. Impossibilidade. Efetiva presença dos requisitos da custódia cautelar. Gravidade em concreto do delito. Agentes que, armados com revólver, renderam uma das vítimas no momento em que ingressava em sua residência e, no interior desta, exigiram que as demais permanecessem trancadas em um dos quartos do imóvel, enquanto a 'rei furtivae' era subtraída. Paciente reincidente específico e possuidor de maus antecedentes, tendo sido condenado por roubo majorado, associação criminosa, corrupção de menores e tráfico de drogas. Periculosidade. Necessidade de manutenção da prisão em prol da garantia da ordem pública. Ordem denegada. Trata-se de Habeas Corpus, com pedido liminar, impetrado em favor de TIAGO SANTANA DE JESUS, contra ato do MM. Juíz de Direito, Dr. Kleber Leles de Souza, da 2ª Vara Criminal do Foro da Comarca de Mauá, sob a alegação de o paciente sofrer constrangimento ilegal, consistente na manutenção da prisão cautelar. Sustenta o impetrante, em síntese, a ilegalidade da decisão coatora, que manteve a prisão cautelar do paciente, sujeito primário e possuidor de bons antecedentes, Habeas Corpus nº 2267220-75.2015.8.26.0000 2
entendendo ausentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva, nos termos do artigo 312 do Código de Processo Penal. Postula, destarte, a concessão de liminar e a posterior confirmação desta, com a imediata expedição de alvará de soltura em favor do paciente ou, subsidiariamente, a aplicação das medidas cautelares, previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal. Indeferiu-se a liminar (fls. 28/30). A autoridade impetrada prestou as informações necessárias (fls. 33/35). Em seu parecer, a Procuradoria Geral de Justiça opinou pela denegação da ordem (fls. 37/38). É o relatório. Processado o presente writ, a ordem deve ser denegada. Conforme consta dos autos, o paciente foi preso, em 28 de maio de 2015, pela suposta pratica do crime de roubo majorado, porquanto adentrou à casa da vítima Ailton José da Silva, com mais dois comparsas, e exigiu, mediante grave ameaça exercida com emprego de arma de fogo, que todos os membros da família ficassem em um dos quartos, enquanto subtraía diversos objetos. Por telefone, os agentes criminosos foram notificados de que a polícia, avisada por um vizinho da vítima, estava a caminho, momento em que se evadiram do local, levando a rei furtivae. Ao analisar o caso, a autoridade coatora Habeas Corpus nº 2267220-75.2015.8.26.0000 3
posicionou-se quanto à decretação da prisão preventiva, mencionando, além da autoria e materialidade, que a gravidade da conduta tornaria necessária a segregação cautelar do paciente. No presente caso, soma-se à gravidade abstrata do delito, a sua gravidade concreta, representada pelo modus operandi escolhido pelo paciente e seus comparsas, que optaram por abordar uma das vítimas no momento em que ingressava em sua residência, intimidando-a com arma de fogo, e, no interior do imóvel, renderam os seus familiares e os mantiveram trancados em um dos quartos do local, enquanto subtraíam os bens que ali se encontravam. De plano, ante a referida gravidade, denotam-se presentes os requisitos para manutenção da custódia cautelar, visando a garantir a ordem pública, consoante assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça em idênticos casos, in litteris: Se a conduta do agente - seja pela gravidade concreta da ação, seja pelo próprio modo de execução do crime - revelar inequívoca periculosidade, imperiosa a manutenção da prisão para a garantia da ordem pública, sendo despiciendo qualquer outro elemento ou fator externo àquela atividade. (HC 296.381/SP, 5ª Turma, rel. Marco Aurélio Habeas Corpus nº 2267220-75.2015.8.26.0000 4
Bellizze, 26.08.2014, v.u.) A preservação da prisão preventiva está justificada, com base em fatores concretos, na garantia da ordem pública, dada a periculosidade social do agente e o risco efetivo de continuidade no cometimento do comércio ilícito. (RHC 47.200/MG, 5ª Turma, rel. Jorge Mussi, 21.08.2014, v.u.) Assim, ao escolher como modus operandi o emprego de arma de fogo e a restrição de liberdade das vítimas, no interior de sua própria residência, o agente demonstra a gravidade concreta de sua conduta, bem como de sua periculosidade, colocando em efetivo risco a vida do ofendido e demonstrando a necessidade de manutenção da prisão cautelar como garantia da ordem pública. Outro fator agravante, presente no caso em análise, reside no fato de o paciente ser reincidente específico e possuidor de maus antecedentes, tendo sido condenada por roubo majorado, além de outros delitos graves como associação criminosa, corrupção de menores e tráfico de drogas, conforme informação trazida por meio de consulta no sistema informatizado deste E. Tribunal, reforçando a necessidade de manutenção de sua custódia cautelar, ante a sua constatada periculosidade e probabilidade de reiteração Habeas Corpus nº 2267220-75.2015.8.26.0000 5
delitiva, como vimos entendendo: Outro fato responsável pela repercussão social que a prática de um crime adquire é a periculosidade (probabilidade de tornar a cometer delitos) demonstrada pelo réu e apurada pela análise de seus antecedentes e pela maneira de execução do crime. Assim, é indiscutível que pode ser decretada a prisão preventiva daquele que ostenta, por exemplo, péssimos antecedentes, associando a isso a crueldade particular com que executou o crime 1 Portanto, considerando as condições pessoais do paciente no presente caso, cuja folha de antecedentes registra a presença de outros feitos criminais, inclusive com condenação precedente, não enseja dúvida quanto à presença dos requisitos autorizadores da manutenção de sua prisão, restando escorreita a decisão a quo. Pelo exposto, denego a ordem do presente habeas corpus, mantendo-se, in totum, a decisão do magistrado a quo, por suas jurídicas razões. 1 NUCCI, Guilherme de Souza, Código de Processo Penal Comentado, Forense, 13ª Ed, nota 11 art. 312. Habeas Corpus nº 2267220-75.2015.8.26.0000 6
GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Habeas Corpus nº 2267220-75.2015.8.26.0000 7