MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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1 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Nº 154/13 MJG HABEAS CORPUS N /PR PACTE: SILVIO LUIS DIAS FOGAÇA IMPTE: JOSE EDERVANDES VIDAL CHAGAS IMPDO: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RELATOR: EXMO. SR. MIN. MARCO AURÉLIO HABEAS CORPUS. HIPÓTESE DE FLEXIBILIZAÇÃO DA SÚMJULA 691 DO STF. POSSE DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO, MUNIÇOES E PEQUENA PORÇÃO DE MACONHA. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM PREVENTIVA. RISCO À ORDEM PÚBLICA NÃO DEMONSTRADO. AUSENTES OS REQUISITOS DO ART. 312 DO CPP, QUE AUTORIZAM A CUSTÓDIA CAUTELAR. POSSIBILIDADE DE IMPOSIÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO, NOS TERMOS DA LEI Nº /2011. CONSTRANGIMENTO ILEGAL VERIFICADO. - Parecer pela concessão da ordem, devendo ser facultado ao juízo de origem a imposição de medida cautelar diversa da prisão. EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR em epígrafe, diz a V.Exa. o que segue: O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, nos autos

2 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 2 Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de SILVIO LUIS DIAS FOGAÇA, contra decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça nos autos do Habeas Corpus nº /PR. Extrai-se dos autos que o paciente foi preso em flagrante delito no dia 09/10/2012, porque policiais militares, após o recebimento de denúncia anônima, teriam encontrado em sua residência 1 (um) revólver de calibre 44; 18 (dezoito) munições de calibre 44; 3 (três) munições de calibre 25, e 16 (dezesseis) munições de calibre 38, todas intactas, bem como uma pequena porção de maconha. O juízo de Direito da 4ª Vara Criminal da Comarca de Maringá/PR converteu a prisão em flagrante em preventiva, para preservação da ordem pública. Pleiteando a revogação da custódia cautelar, foi impetrado habeas corpus perante o Tribunal de origem, que indeferiu a liminar, por considerar não haver excepcionalidade a ensejar a concessão da medida. Por sua vez, o Superior Tribunal de Justiça, ao analisar o Habeas Corpus nº /PR, interposto pela defesa do paciente, decidiu por indeferi-lo liminarmente, por considerar que não havia flagrante ilegalidade ou abuso de poder a justificar o abrandamento da Súmula 691 do STF. Nesta via, o impetrante alega haver constrangimento ilegal que viabiliza a flexibilização da referida súmula, ante a ausência de motivação concreta do decreto prisional.

3 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 3 Sustenta que o Paciente não se encontrava em sua residência quando da apreensão da arma de fogo, cartuchos e da droga, pois estaria internado no Hospital Universitário de Maringá/PR, em virtude de ter sido vítima de atentado. Por tal motivo, teria formulado o pedido de relaxamento da prisão em flagrante, ou, alternativamente, a liberdade provisória. Todavia, segundo o impetrante, mesmo com o parecer favorável do Ministério Público, o Juiz de primeiro grau indeferiu o pleito. Pugna liminarmente pela revogação da prisão preventiva, e, no mérito, a concessão definitiva da ordem, confirmando o pleito liminar. A liminar foi deferida de ofício pelo Min. Relator Marco Aurélio, que determinou a expedição de alvará de soltura em favor do paciente, se por outro motivo não estiver preso. República para elaboração de parecer. Vieram os autos a esta Procuradoria Geral da É o relatório. Preliminarmente, no caso em apreço, verifica-se a configuração de circunstância excepcional, que permite o abrandamento da Súmula 691 do STF, que assim determina: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.

4 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 4 Convém destacar que não procedem as alegações do Impetrante, no sentido da ilegalidade da sua prisão em flagrante, porque não estaria em sua residência no momento da apreensão das armas, cartuchos e drogas encontradas em sua residência. Ora, no concernente ao delito de posse de arma de fogo de uso restrito, trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo, ou seja, o flagrante dura enquanto perdurar a conduta ilícita. Nesse tipo de delito, é dispensável, inclusive, a expedição de mandado de busca e apreensão 1. Todavia, ainda que assim seja, no presente caso verifica-se a ocorrência de constrangimento ilegal, porquanto o magistrado de primeiro grau, ao determinar a segregação cautelar do paciente, amparou o decisum sob os seguintes fundamentos: Cumpre salientar que embora o doutor Promotor de Justiça tenha opinado pela concessão de liberdade provisória, verifica-se, in casu, que a necessidade da custódia está bem delineada, o que constitui razão suficiente para motivar a manutenção do indiciado, pelo menos por hora, na prisão, o que deverá ocorrer, acrescenta-se, a bem do resguardo da ordem pública, valendo ser observado, ainda, que conforme informações obtidas pelo Sistema Oráculo, possui ele diversas passagens perante a Autoridade Policial. (...) Quanto aos pressupostos secundários vale ressaltar que o requisito concernente ao resguardo da ordem pública está presente na medida em que, conforme notícia estampada às fls. 34/40, o fato ensejador da prisão do indiciado teve grande repercussão e clamor social, já que decorrente de tentativa de homicídio realizada contra ele e que acabou por resultar na morte de uma criança de 03 (três) anos de idade, que foi atingida por 01 (uma) bala perdida dirigida à sua pessoa, uma vez que ele estava 1(HC /SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 06/09/2011, DJe 21/09/2011)

5 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 5 sendo cobrado, ao que consta, por uma dívida decorrente da compra de outra arma de fogo de calibre 44, que foi apreendida em outro feito que tramita perante este Juízo (fl. 77, sem grifos no original). Ocorre que tais fatos não se mostram suficientes para a decretação da prisão preventiva do paciente, sob o fundamento da garantia da ordem pública, visto que não restou demonstrada a periculosidade concreta do reú, para motivar a necessidade da sua prisão cautelar. Há que se lembrar que a prisão ou a sua manutenção precisam ser devidamente motivadas, pois é medida excepcional, ao contrário da liberdade, que é a regra. Nesse sentido: CARÁTER EXTRAORDINÁRIO DA PRIVAÇÃO CAUTELAR DA LIBERDADE INDIVIDUAL NÃO SE DECRETA NEM SE MANTÉM PRISÃO CAUTELAR, SEM QUE HAJA REAL NECESSIDADE DE SUA EFETIVAÇÃO, SOB PENA DE OFENSA AO 'STATUS LIBERTATIS' DAQUELE QUE A SOFRE PRECEDENTES 'HABEAS CORPUS' CONCEDIDO DE OFÍCIO (HC , Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 06/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-230 DIVULG PUBLIC ). No caso concreto estão ausentes os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal, que autorizam a medida acauteladora. Ademais, trata-se de crime cometido sem violência contra a pessoa que, em caso de condenação, poderá ser-lhe aplicado uma pena não privativa de liberdade, nos termos dos arts. 44 e seguintes do Código Penal. Por conseguinte, não se mostra razoável o encarceramento cautelar.

6 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 6 Deve-se conceder a liberdade provisória do paciente, substituindo-se a prisão preventiva por outra medida cautelar, nos termos do art. 319 do Código de Processo Penal, sendo observadas as condições pessoais do acusado, bem como as particularidades do caso concreto. Destarte, opinamos pela concessão da ordem, para o fim de revogar a prisão preventiva do paciente, salvo se por outro motivo não estiver preso, ou a superveniência de fatos novos e concretos que autorizem a sua decretação, podendo o Juízo de primeiro grau impor-lhe medidas cautelares alternativas, nos termos do art. 319 do Código de Processo Penal. Brasília, 15 de março de MARIO JOSÉ GISI Subprocurador-Geral da República