Supremo Tribunal Federal

Transcrição

1 RELATOR : MIN. EROS GRAU PACIENTE(S) : ALFREDO ANTONIO CANEVER IMPETRANTE(S) : WALTER BORGES CARNEIRO COATOR(A/S)(ES) : TURMA RECURSAL ÚNICA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DE CURITIBA EMENTA: HABEAS CORPUS. DESACATO. CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. SENTENÇA PROFERIDA POR JUIZ DE DIREITO DA JUSTIÇA COMUM. RECURSO PARA O TRIBUNAL DE JUSTIÇA. A competência para julgar recurso de apelação interposto contra sentença proferida por Juiz de Direito da Justiça Comum é do Tribunal de Justiça, não da Turma Recursal. As disposições concernentes a jurisdição e competência se aplicam de imediato, mas, se já houver sentença relativa ao mérito, a causa prossegue na jurisdição em que ela foi prolatada, salvo se suprimido o Tribunal que deverá julgar o recurso (Carlos Maximiliano). Ordem parcialmente deferida. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Senhor Ministro Sepúlveda Pertence, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, deferir em parte o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Brasília, 31 de maio de EROS GRAU - RELATOR

2 RELATOR : MIN. EROS GRAU PACIENTE(S) : ALFREDO ANTONIO CANEVER IMPETRANTE(S) : WALTER BORGES CARNEIRO COATOR(A/S)(ES) : TURMA RECURSAL ÚNICA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DE CURITIBA R E L A T Ó R I O O SENHOR MINISTRO Eros Grau: O paciente, advogado, foi absolvido pelo Juiz de Direito da Comarca de Cianorte/PR da acusação do crime de desacato (CP, art. 221) por ter ofendido promotor de justiça nas dependências de delegacia policial, chamando-o de mentiroso. 2. O Ministério Público apelou para o Tribunal de Alçada, que declinou da competência para a Turma Recursal do Juizado Especial. 3. A apelação foi provida para condená-lo à pena de 10 (dez) meses de detenção, substituída por prestação de serviços à comunidade. 4. Alega-se neste writ: (i) ofensa ao princípio do juiz natural, porque o julgamento do recurso interposto contra decisão de juiz de direito compete ao Tribunal de Alçada e (ii) ausência de justa causa para a condenação, por atipicidade, eis que o promotor de justiça, além de estar atuando 17km distante de sua Comarca, defendia interesses particulares em disputa cível. Além disso, o advogado estaria amparado pela imunidade material, prevista no artigo 2º, 3º da Lei n /94.

3 HC / PR 5. Requer a... concessão do habeas corpus, liberando-se o paciente do constrangimento ilegal imposto pela autoridade impetrada. 6. O Ministério Público Federal é pela concessão parcial da ordem. É o relatório.

4 V O T O O SENHOR MINISTRO Eros Grau (Relator): Embora haja duas causas de pedir --- incompetência do juízo e ausência de justa causa para a condenação --- a primeira compreende a segunda. Logo, definida a competência do Tribunal de Alçada, rectius, Tribunal de Justiça (EC 45/05), para julgar a apelação, a este competirá a análise do segundo fundamento. 2. Tem razão o impetrante no que tange à incompetência da Turma Recursal para julgar apelação interposta contra sentença proferida por juiz de direito da Justiça Comum. A Lei n /01, que instituiu os juizado especiais no âmbito da Justiça Federal, dispõe, em seu artigo 25, que Não serão remetidas aos Juizados Especiais as demandas ajuizadas até a data de sua instalação. Em situações idênticas, esta Corte já se manifestou em pelo menos duas oportunidades: HHCC , sendo Relator o Ministro Nelson Jobim e , sendo Relator o Ministro Joaquim Barbosa, cuja ementa, no que interessa, é a seguinte: INJÚRIA. CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO JULGADO PELA JUSTIÇA COMUM. PRELIMINAR. INCOMPETÊNCIA DA TURMA RECURSAL. JULGAMENTO DE MÉRITO PREJUDICADO. ORDEM DEFERIDA EM PARTE. É incompetente a Turma Recursal para julgar apelação de processo referente a crime de menor potencial ofensivo julgado na Justiça Comum, porquanto se trata de competência do Tribunal de Alçada. 3. Por fim, vale destacar conhecida observação de Carlos Maximiliano:

5 HC / PR As disposições concernentes a jurisdição e competência se aplicam de imediato, mas, se já houver sentença relativa ao mérito, a causa prossegue na jurisdição em que ela foi prolatada, salvo se suprimido o Tribunal que deverá julgar o recurso. Ante as circunstâncias, defiro parcialmente o writ para anular o acórdão proferido pela Turma Recursal e determinar que o TJ/PR julgue o recurso, como entender adequado.

6 O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Senhor Presidente, no caso, houve a prolação de uma sentença pelo Juiz de Direito e não por órgão investido da função de Juizado Especial. A apelação interposta foi remetida ao Tribunal de Alçada que determinou fosse julgada pela Turma Recursal. Acompanho o relator, concedendo a ordem. A competência para o julgamento é do Tribunal hoje de Justiça.

7 PRIMEIRA TURMA EXTRATO DE ATA RELATOR : MIN. EROS GRAU PACIENTE(S) : ALFREDO ANTONIO CANEVER IMPETRANTE(S) : WALTER BORGES CARNEIRO COATOR(A/S)(ES) : TURMA RECURSAL ÚNICA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DE CURITIBA Decisão: A Turma deferiu, em parte, o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Unânime. 1 a. Turma, Presidência do Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes à Sessão os Ministros Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto e Eros Grau. Subprocurador-Geral da República, Dr. Eitel Santiago de Brito Pereira. Ricardo Dias Duarte Coordenador