PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 fls. 95 HABEAS CORPUS Nº COMARCA: Carapicuíba VARA DE ORIGEM: 1ª Vara Criminal IMPETRANTES: Ricardo Algarve Gregório e Wilma Moretti PACIENTE: Isac Franco dos Reis Vistos. Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pelos advogados Ricardo Algarve Gregório e Wilma Moretti em favor de Isac Franco dos Reis, que se encontra foragido, com o objetivo de obter a revogação da prisão preventiva decretada, com a consequente expedição de Contramandado de Prisão, bem como o trancamento da ação penal, em razão de inépcia da denúncia. Alegam, em breve síntese, a ausência dos requisitos autorizadores da custódia cautelar, assim como que a denúncia não preenche os requisitos do artigo 41, do Código de Processo Penal, pelo que é inepta. Relatei. A antecipação do juízo de mérito, na esfera do habeas corpus, requer demonstração inequívoca da ilegalidade do ato impugnado, o que não se verifica no caso.

2 fls. 96 Como se vê, o paciente foi preso preventivamente em processo no qual foi denunciado por infração ao artigo 2º, 4º, inciso II, da Lei /13, e ao artigo 299, parágrafo único, por 420 vezes, na forma do artigo 69, todos do Código Penal. É dos autos que o paciente, então Deputado Estadual e, posteriormente, Secretário de Gestão Administrativa da Prefeitura do Município de Carapicuíba, integrava organização criminosa, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, que tinha por objetivo obter, direta ou indiretamente, vantagem de natureza eleitoral, através da prática de crimes de prevaricação e falsidade ideológica, relacionados a fraudes em processos seletivos para a contratação de pessoal pela Prefeitura de Carapicuíba. Frise-se, desde já, que o trancamento da ação penal por falta de justa causa, por ser medida extrema, somente se justifica se a simples exposição dos fatos permite concluir que a conduta do agente é atípica, que se operou causa extintiva de punibilidade, ou, ainda, nos casos em que a autoria delitiva deve ser afastada de imediato. E, neste exame de cognição sumária, não se observa, de plano, a ocorrência de nenhuma destas hipóteses. No mais, cumpre consignar que não se constata, nesta análise perfunctória, com o que há nos autos, a ocorrência de constrangimento ilegal apto a ensejar o deferimento da liminar. O que se vê, em verdade, é que a douta juíza a quo

3 fls. 97 explanou, de maneira fundamentada, as razões de seu convencimento, no sentido da necessidade da prisão preventiva do paciente como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e, ainda, para assegurar a aplicação da lei penal. De se ressaltar que a acusação noticia que o paciente foi eleito vereador, na Comarca dos fatos, por duas vezes, bem como Deputado Estadual, posteriormente; cargo este para o qual não foi reeleito, nas eleições de 2014, tendo sido, então, nomeado para o cargo de Secretário de Gestão Administrativa da Prefeitura de Carapicuíba. Informa a impetração, ainda, que o paciente ocupa o cargo de Presidente do Diretório do Partido dos Trabalhadores (PT), na Comarca dos fatos. Na decisão que decretou a prisão preventiva do paciente há menção a fatos graves que envolvem a destruição de provas no âmbito da Câmara Municipal de Carapicuíba. Asseverou a douta juíza que, durante o cumprimento de Mandados de Busca e Apreensão nos gabinetes dos vereados denunciados, verificou-se que os computadores foram formatados, sendo que segundo relato de uma testemunha protegida a formatação não foi determinada pelo setor técnico especializado da Câmara, o que estaria a revelar possível tentativa de destruição de provas. Há menção, ainda, no decreto de prisão, de que uma testemunha protegida afirmou que funcionários da Câmara trituraram documentos por cerca de 2 horas, o que gerou dois sacos de lixo de

4 fls. 98 aproximadamente 100 litros. Constata-se, portanto, prima facie, que, ao que parece, há fundados elementos, nos autos, a indicar tentativa de embaraçar a instrução criminal, através da destruição de provas no âmbito da Câmara Municipal de Carapicuíba; ambiente no qual o paciente, seguramente, possui influência, ao contrário do que sustentado pelos impetrantes, na medida em que, como dito, já teria ele exercido o cargo de vereador na referida casa legislativa, bem como pelo fato de se tratar de indivíduo proeminente na política local, tanto que ocupou, também, o cargo de Deputado Estadual, bem como o de Secretário Municipal, além de exercer, segundo a impetração, o cargo de presidente do Diretório do Partido dos Trabalhadores na Comarca dos fatos. Não é o caso, também, nesta análise preliminar, de aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, pois, por ser o paciente, como afirmado, influente na Comarca dos fatos, a aplicação de medidas cautelares poderia revelar-se insuficiente, na medida em que não elidiria, de maneira plena, seu poder de influência na cidade, inclusive sobre integrantes da política e da funcionalidade pública municipal. Nessa esteira, seria prematuro reconhecer o direito invocado pelos impetrantes antes do processamento regular do writ, quando, então, será possível a ampla compreensão da questão submetida ao Tribunal. Indefere-se a liminar. Requisitem-se informações à douta autoridade judiciária indicada como coatora, a respeito, com as cópias pertinentes.

5 fls. 99 Justiça. Após, remetam-se os autos à Procuradoria Geral de Intime-se e cumpra-se. São Paulo, 2 de setembro de Mauricio Henrique Guimarães Pereira Filho Relator