DIAGNÓSTICO DA PRODUÇÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DA SAÚDE ESTUDO DE CASO: HOSPITAL UNIVERSITÁRIO FLORIANÓPOLIS - SC

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Transcrição:

DIAGNÓSTICO DA PRODUÇÃO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DA SAÚDE ESTUDO DE CASO: HOSPITAL UNIVERSITÁRIO FLORIANÓPOLIS - SC Sebastião Roberto Soares (1) Engenheiro Sanitarista. Doutor em gestão e tratamento de resíduos pelo Institut National des Sciences Appliquées de Lyon (França). Professor visitante do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina. Armando Borges de Castilhos Jr. FOTO Engenheiro Sanitarista. Doutor em gestão e tratamento de resíduos pelo Institut National des Sciences Appliquées de Lyon (França). Professor adjunto III do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina. Maria Cláudia de Macedo Engenheira Sanitarista. Estagiária do Departamento de Saúde Pública do Estado de Santa Catarina. Endereço (1) : Universidade Federal de Santa Catarina - Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - Campus Universitário - Florianópolis - SC - CP 476 - CEP: 88010-970 - Tel: (048) 231-9597 - Fax: (048) 231 9770 - e-mail: soares@ens.ufsc.br. RESUMO A produção de resíduos hospitalares - resíduos de serviços da saúde ou simplesmente RSS - é relativamente pequena quando comparada àquela dos resíduos domésticos de uma comunidade. Porém, considerando a própria origem dos RSS, parte deles vêm a apresentar um potencial de risco à saúde pública inúmeras vezes maior do que aqueles gerados domiciliarmente. Estas constatações associadas à indisponibilidade de dados quantitativos e qualitativos, cientificamente estabelecidos para a realidade catarinense, e a necessidade de otimização dos tratamentos (leia-se, separação de elementos a risco de elementos banais), motivaram a elaboração deste artigo. Portanto, este trabalho visou a concepção e aplicação de uma metodologia de diagnóstico da produção de RSS. Este estudo, realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, além da validação da metodologia proposta, permitiu definir e quantificar os RSS à risco propriamente dito e estabelecer indicadores de produção destes. Os trabalhos de campo tiveram uma duração de quatro meses, durante os quais foi estabelecido um acompanhamento completo do ciclo de vida (geração à eliminação) dos RSS do Hospital Universitário. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos, Resíduos Hospitalares, Resíduos de Serviço de Saúde, Caracterização, Diagnóstico, Quantificação. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1783

INTRODUÇÃO Generalidades Os resíduos sólidos da saúde (RSS) são constituídos de uma grande variedade de elementos, alguns similares aos domésticos outros específicos e intrínsecos aos setores da saúde. Tais resíduos são compostos em geral por elementos e materiais rejeitados ou descartados nos processos, operações e procedimentos relacionados aos ramos de medicina, farmácia, enfermagem, veterinária e áreas de atuação congêneres incluindo as atividades de prevenção, diagnóstico, controle, tratamento de doenças, e nutrição e dietética. Pode-se citar ainda certos elementos radioativos como fração integrante dos resíduos hospitalares. Entretanto, por serem classificados como especiais (NBR 12808), estes resíduos requerem conhecimentos técnicos específicos. Eles estão sob a tutela do Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN). A primeira etapa de um processo de gestão racional passa obrigatoriamente pela caracterização qualitativa e quantitativa do elemento a gerir. No caso dos RSS, esta operação consiste em uma adequada identificação de materiais que os compõem, sobretudo os resíduos sépticos, ou contaminados, e os não sépticos ou comuns (NBR 12808).. Entretanto, a preocupação brasileira com a gestão e tratamento de RSS é ainda incipiente quando comparada aos resíduos sólidos domésticos (!). Esta situação é confirmada pela escassez de dados locais e atualizados. Levantamentos de informações, como os realizados por Lima e Castro & Figueiredo (1996), constituem-se ainda em casos isolados. Este pesquisadores estabeleceram para um hospital da cidade de Campinas - SP um protocolo de caracterização dos RSS que permitiu a determinação da taxa de produção de 4,63 kg/leito. Nesse mesmo estudo, eles compilaram resultados de estudos realizados por outros autores, cujos valores estão apresentados na tabela da pagina seguinte. A variação das taxas registradas é marcante dado ao tipo de estabelecimento, às condições de funcionamento (temporal e espacial) e aos procedimentos de caracterização. Entretanto, Maes (1992), a partir do acompanhamento da produção de resíduos de alguns estabelecimentos hospitalares franceses de características semelhantes, pressupôs a existência de uma relação linear entre a produção unitária de resíduos e a capacidade do estabelecimento (figura 1) Produção de resíduos 3 2,5 kg/leito/dia 2 1,5 1 y = 0,0092x - 0,6532 0,5 R 2 = 0,9614 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Número de leitos Figura 1 : produção específica de resíduos em função do número de leitos. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1784

De posse de conhecimentos como os recém-citados (aplicáveis a uma situação particular), pode-se, em uma etapa subsequente, diferenciar e dimensionar os sistemas de acondicionamento, de coleta, de transporte e de tratamento. Estes últimos procedimentos deveriam seguir a Resolução n 5 de 5 de agosto de 1993, do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) que define planos de ações sobre os resíduos sólidos, incluindo os estabelecimentos prestadores de serviços da saúde. Para o estado de Santa Catarina, as diretrizes relativas aos RSS são definidas pela Legislação Ambiental Básica do Estado, Lei Nº5.793, de 15 de outubro de 1980, Decreto N.º 14.250 de 05 de julho de 1981, Capítulo II, seção II, Artigos de 20 à 26. Tabela: Taxa de geração de resíduos de serviços de saúde. Local Unidade Leitos Taxa kg/leito.dia Estados Unidos Hospital Não consta 6,8 Austrália Hospital Não consta 9,1 Colômbia Hospital Geral 114 1,4 Colômbia Hospital Geral 130 2,2 Grã-Bretanha Hosp. Emergência Não consta 2,5 Grã-Bretanha Hospital Não consta 0,25 Grã-Bretanha Hosp. Psiquiátrico Não consta 0,5 Grã-Bretanha Maternidade Não consta 3,0 Argentina Hospital Não consta 4,2 Peru Hospital Não consta 6,0 Argentina Hospital Não consta 3,65 Paraguai Hospital Não consta 4,5 São Paulo -SP Hospital Vários 2,63 Campinas - SP Hospital Geral 77 4,46 Taiwan Hosp. Universitário 100 4,6 Venezuela Hospital Geral 616 4,63 Venezuela Policlínica 104 11,0 Espanha Hospital geriátrico Não consta 1,2 Espanha Hospital Geral Não consta 2,8 Espanha Maternidade Não consta 3,4 Espanha Hosp. Universitário Não consta 4,4 Reino Unido Hospital geriátrico Não consta 0,25 Reino Unido Hospital Geral Não consta 2,5 Reino Unido Maternidade Não consta 3,0 Reino Unido Hosp. Universitário Não consta 3,3 Holanda Hosp. Universitário 800-900 6,5 Holanda Hospital Geral 300-400 2,3 Holanda Centro Médico <100 5,0 Holanda Especializado 100-200 6,0 Holanda Inst Defic Mentais 400-500 1,8 Fonte : Lima e Castro & Figueiredo (1996) No tocante ao município de Florianópolis, a Lei N.º 3890/92 rege os RSS. Ela dispõe sobre separação, coleta e fornece outras providências relativas aos resíduos de serviços da saúde, onde em seu Art. 1º obriga a separação destes resíduos em três espécies: resíduos infectantes, especiais e comuns. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1785

Estas leis são apoiadas fundamentalmente por quatro normas da Associação Brasileiras de Normas técnicas (ABNT):? NBR 12807: Resíduos de Serviços de Saúde, Terminologia.? NBR 12808: Resíduos de Serviços de Saúde, Classificação.? NBR 12809: Manuseio de Resíduos de Serviços de Saúde, Procedimento.? NBR 12810: Coleta de Resíduos de Serviços de Saúde, Procedimento. Contexto do Estudo Um programa de gerenciamento otimizado dos RSS, passa necessariamente por uma caracterização quali-quantitativa destes resíduos. Esta última operação fornece subsídios para o dimensionamento do sistema de eliminação (e de redução e valorização), pelo estabelecimento das potencialidades de produção das diferentes categorias de resíduos que englobam os RSS. Neste sentido, além de uma aplicação específica, este estudo vem a contribuir com o desenvolvimento de uma metodologia de caracterização RSS e com o fornecimento de dados para outras instituições hospitalares similares ao Hospital Universitário de Santa Catarina. Os objetivos desta pesquisa podem, então, ser assim resumidos: Geral Estabelecer o perfil dos resíduos sólidos produzidos pelo Hospital da Universidade Federal de Santa Catarina (H.U). Esta operação consistiu em caracterizar os resíduos (e o fluxo de resíduos), entre outras, segundo a noção de septicidade estabelecida na NBR 12808 da ABNT. Específicos? Quantificar e qualificar setorialmente os resíduos do Hospital Universitário.? Determinar a produção global dos resíduos, a partir dos valores obtidos em cada setor;? Estabelecer valores específicos, considerando as diversas características do hospital (porte, número de leitos, número de setores, número de funcionários, etc.). Assim, a partir dos dados estabelecidos nas etapas anteriores, buscou-se a determinação de índices do tipo : massa específica; massa resíduo contaminados/leito ativo/dia; massa resíd uo comum/leito/dia; massa resíduo contaminados/paciente atendido/dia; massa resíduo contaminados /setor/dia ; massa resíduo comum/funcionário/dia, etc.. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1786

METODOLOGIA Os objetivos propostos foram alcançados através da seguinte metodologia de trabalho: Levantamentos de dados gerais. Esta fase consistiu em levantar dados associados a produção específica de resíduos, tais como número de leitos e respectiva taxa de ocupação, de funcionários, de refeições, etc., buscando sempre associá-los aos diferentes setores do hospital. O coleta de plantas arquitetônicas do estabelecimento também integrou este procedimento. Localização das fontes geradoras de resíduos. Todos os recintos de um hospital geram resíduos. Sobre as plantas arquitetônicas assinalou-se os pontos de coleta e suas características (número de recipientes, tipo, etc.). Definição do ciclo e do circuito de coleta. De posse dos pontos de produção dos resíduos, a etapa seguinte consistiu a conhecer a periodicidade e os diferentes circuitos de coleta. Esta operação permitiu, nas etapas posteriores, identificar alguns pontos sensíveis do sistema (mistura ou separação indevidas de resíduos) que poderiam influenciar nos resultados finais. Estabelecimento do protocolo de medições. O estudo foi realizado entre os meses de junho e outubro de 1996. Para os resíduos sólidos ditos "comuns" (similares aos resíduos domésticos) e resíduos sólidos ditos "contaminados" foi feita uma quantificação diária no ponto externo de concentração. Durante este mesmo período foram realizadas ainda duas campanhas de medição da produção diária para cada um dos 29 recintos produtores de resíduo do hospital. Obtevese, assim, os valores relativos à produção média diária dos resíduos sólidos (total, comum e contaminado) do estabelecimento e associados à produção específica de cada setor. O processo consistiu em uma separação absoluta (assegurando o cumprimento das especificações da ABNT/NBR 12809, de condicionamento de resíduos de serviço da saúde), durante 24 horas, das duas classes de resíduos. Para tanto, uma orientação prévia foi dispensada aos funcionários encarregados da coleta e sobretudo àqueles envolvidos em cada recinto amostrado. Na seqüência, a quantificação foi feita em termos de massa (kg) e volume (litros). As medições foram realizadas nos horários de coleta dos pontos de armazenagem internos. Tratamento de dados. Os dados obtidos ao longo das campanhas de quantificação do fluxo de resíduos foram tabulados de modo a garantir a perfeita distinção entre produção específica de cada setor e produção total. A primeira análise, após tratamento estatístico dos dados, consistiu em estabelecer um balanço de massa para cada dia de medição : o somatório das medições realizadas nos pontos geradores deveria ser igual à medição realizada no ponto de concentração externo. Pode-se estimar então as perdas ocorridas ao longo do processo e a influência de resíduos externos ao hospital. A partir de então, calculou-se os valores médios das produção de resíduos (produção total/dia, produção recinto/dia, massa específica). O passo seguinte, consistiu em associar estes valores aos dados gerais do hospital, visando o estabelecimentos de índices de produção de resíduos : massa resíduo contaminados/leito 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1787

ativo/dia ; massa resíduo comum/leito/dia; massa resíduo contaminados/paciente atendido/dia; massa resíduo contaminados/setor/dia ; massa resíduo comum/funcionário/dia, etc.. RESULTADOS E CONCLUSÃO Ente os meses de junho e outubro de 1996, a produção média diária de resíduos do Hospital Universitário foi de 855 kg. Deste total, 73% podem ser assimilados a resíduos domésticos e os 27% restantes são classificados como resíduos contaminados. A origem dos resíduos seguiu a distribuição apresentada na figura 2 abaixo. O estudo permitiu ainda classificar os resíduos oriundos de todos os setores mencionados. Assim, por exemplo, os resíduos provenientes da cozinha (45% do total) são compostos de 35% de resíduos contaminados (sobretudo restos alimentares retornando de recintos específicos) e 65% de resíduos ditos comuns. Desta última fração, 68% podem ser considerados "biotratável" e 32% seriam inertes. 45,1% Distribuição da produção de resíduos (% massa) 4,5% 3,8% 3,6% 2,0% 2,9% 2,2% 1,8% 2,5% 1,7% 0,4% 3,4% 4,0% 1,9% 1,9% 3,6% 1,1% 2,0% 0,4% 1,8% 1,4% 1,0% 2,2% 4,9% Cirúrgica I Cirúrgica II Diálise UTI Centro Cirúrgico Masculina I Masculina II Feminina Centro de Esterilização Centro Obstétrico Cirurgia Ginecológica Alojamento Conjunto UTI neonatal Pediatria Radiologia Hemoterapia Clínicas ambulatorial Laboratório de análises clínicas Anátomo-patologia Cirurgia ambulatorial Emergência Cozinha Administração Demais locais Figura 2: Distribuição setorial dos resíduos do Hospital Universitário. Na seqüência, calculou-se diversos índices de produção específica de resíduos do hospital, dentre os quais citamos a seguir alguns exemplos : 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1788

Números de leitos total: 246 ativos: 187 (média)? 4,57 kg de resíduos/leito ativo/dia 3.35 kg resíduo comum/leito ativo/dia 1.22 kg resíduo contaminado/leito ativo/dia? 3,47 kg de resíduos/leito/dia O procedimento considerando "leitos ativos" é um avanço com relação aos dados fornecidos por outras fontes bibliográficas. O leito é a unidade de referência dos hospitais, entretanto, no tocante a produção de resíduos, a representação em termos de leito ocupado aumenta a margem de segurança, pela melhor representatividade, de utilização dos resultados obtidos. Funcionários: 1529? 0,56 kg de resíduo/funcionário/dia 0.41 kg de resíduo comum/funcionário/dia 0.15 kg de resíduo contaminados/funcionário/dia Refeições (média): 1226 * /dia Resíduos da cozinha (média): 386 kg/dia (251,5 kg comuns + 134,5 kg contaminados)? 0,31 kg de resíduo de cozinha/refeição/dia 0,11 kg de resíduo de cozinha contaminado/refeição/dia 0,20 kg de resíduo de cozinha comum/refeição/dia REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. LIMA e CASTRO, V. e FIGUEIREDO, R. Caracterização de resíduos de serviços de saúde através da quantificação - caso do centro médico, campinas S. P. Simpósio Ítalo- Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Gramado,RS 1996. Artigo III-025 2. MAES, M. Options déchets. Pierre Johanet et ses fils editeurs. Paris 1992. * Este valor inclui todas os tipos de refeições preparadas na cozinha do hospital: almoços, jantares, lanches etc.. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1789