PRODUÇÃO DE TEXTOS NA ALFABETIZAÇÃO: ALGUNS DESAFIOS LEIVA DE FIGUEIREDO VIANA LEAL

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Transcrição:

PRODUÇÃO DE TEXTOS NA ALFABETIZAÇÃO: ALGUNS DESAFIOS LEIVA DE FIGUEIREDO VIANA LEAL

Agradecimento ao Ceale, em especial, no âmbito do programa PNAIC Agradecimento pela oportunidade de, juntos e juntas, refletirmos sobre como melhorar a qualidade pedagógica do nosso trabalho e melhor cumprirmos nossa incumbência nesse mundo.

"A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra se apóia sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor (Bakhtin, 1997,133)

Iniciando nossa conversa Em geral a maioria dos educadores manifesta insegurança quando a questão é o ensino e a aprendizagem de produção de texto. Não os culpamos, afinal, do muito que já se produziu, e melhor cumprirmos nossa incumbência nesse mundo, há ainda muito no que avançar. Desejamos que essa nossa conversa seja um momento para esse avanço, ainda que tênue.

Vislumbramos avanços significativos em relação ao ensino de produção de texto Há evidências de que: os gêneros textuais estão na sala de aula e que os alunos estão aprendendo a ler com textos mais significativos e reais. situações de sala de aula têm colocado o texto oral como ponto de partida para o texto escrito. o texto produzido pelo aluno deixou de ser mero pretexto para correção ortográfica. que a mediação do professor é imprescindível para o desenvolvimento potencial do aluno. enfim, que muito já se sabe sobre um conjunto de conhecimentos necessários a ensinar a produzir texto.

Pensar a produção de texto na alfabetização exige compreender que: Aprender a escrever significa dominar um novo conjunto funcional discursivo, semântico e formal, que se faz paralelamente a uma nova função psicológica. Deve ser visto como uma construção de uma nova prática social que, tomando o mesmo código, realiza-se de um outro modo, com nova dinâmica cognitiva e discursiva. O processo ocorre por meio das interações sociais, dos usos e das funções sociais da linguagem, como meio de apreender a realidade.

Qual é o desafio, então? Mudar o posto de observação, saindo do produto para olhar o processo: de que modo crianças constroem suas práticas no contexto escolar? que práticas e que estratégias pedagógicas a escola promove no sentido de formar o produtor de texto?

Convite a olhar para a própria criança e para as próprias práticas: Ponto de partida para entender o processo: a produção de texto é um processo de interação, de diálogo, de constituição de sujeitos; a linguagem é, assim, uma atividade constitutiva que marca os processos interativos dos sujeitos.

Dedução prévia 1- o que acontece fora da interação afeta o processo de desenvolvimento do produtor de texto. Dedução prévia 2- considerar ERRO o que é processo de aprendizagem é, no mínimo, uma incoerência pedagógica.

Desenvolvimento: Convite a olhar para a própria criança e para as próprias práticas: Para nossa reflexão, selecionamos alguns eventos e situações.

1- O processo de tematização: uma operação cognitiva complexa. Os modos como as crianças se relacionam com a organização textual, com a construção da malha temática do texto são muito diferenciados. (e, no entanto, a escola busca a homogeneização). O que cria a diferença? É indiscutível que crianças que convivem em meios multiletrados, em contextos culturais favorecidos, tendem a processar esse movimento mais rapidamente que outros. A questão, no entanto, é que, para produzir textos, além de precisar ter o que dizer, precisa realizar uma operação mental, que é da ordem da cognição.

E mais: Trata-se de uma operação cognitiva de maior complexidade. Por exemplo: quando o aluno lê um texto, as relações já estão postas e, quando vai escrever, é ao contrário: ele é quem vai tecer, organizar o que será dito.

O que dizer de um bilhete, enviado à família, como o que se segue?

O que dizer de um recado como esse que se encontra no texto?

Como compreender o texto abaixo?

Que ação discursiva se revela aqui? Uma enunciação clara e uma tematização por construir. Resumindo: uma questão de coerência A aula de produção de texto serve para a gente é...aprender a fazer textos...a gente vai colocando cada palavrinha na nossa cabeça e vai escrevendo... (depoimento de aluna em período de alfabetização).

2- O processo de textualização Pesquisas como as de OCHS (1979) revelam que estruturas morfossintáticas complexas são adquiridas mais tarde, isto é, são uma evolução gradual e contínua. Isso nos leva a compreender por que algumas crianças precisam de mais tempo para planejar as ideias.(grau de planejamento verbal). Leva-nos, do mesmo modo, a pensar nos investimentos práticos que a escola pode oferecer nessa direção.

O planejamento verbal inscreve-se no discurso. Exemplo 1-receita 2-notícia 3-fábula Questão: que relações lógico-discursivas, que tempos e modos verbais, que processos de remissão...configuram esses gêneros?

O CARANGUEJO O caranguejo estava passando derepente passou uma carangueja o caranguejo ficou soperapaixonado mais a carangueja já tem um namorado o nome dele é Tiago eu esquesi si que tenho que comer auguma coisa já sei eu vou comer uma lagarta O caranguejo foi andando e viu que não tinha lagarta o caranhguejo ainda estava com fome sentou e não domorou muito o caranguejo teve uma ideia de comer um pasarinho os pasarinhos estavão tudo encima da arvore o caranguejo pensou pesou outra ideia maluco do caranguejo tive uma ideia de comer um hipopotamo o caranguejo axou que esta ideia era muito estranha ai pensou outra vez teve uma ideia de comer uma formiga tinha um piopleminha o caranguejo é tão medroso ele tinha mede de formiga.

3- A criança e sua relação com a ação cognitiva proposta: Exemplo 1

Difícil...é quando a professora manda...é a gente...fazer...um texto já pronto aí...e ela manda a gente continuar o texto, aí eu demoro pra pensar. (depoimento de aluna em período de alfabetização)

Embora não se possa generalizar, a voz dessa criança alerta sobre alguns cuidados na mediação do processo, tais como: continuar ou completar uma história. Embora pareça uma operação simples na vida do adulto, para a criança, nem sempre:

-precisa recuperar uma ideia ou um conteúdo que não foi ela quem criou; (contextualização) -precisa entrar no pacto comunicativo, concordando ou não; (enunciação) -precisa encontrar no seu repertório cultural algo que seja compatível com o conteúdo expresso; (tematização) -precisa estabelecer continuidade adequada Tematicamente (textualização)

Exemplo 2 A professora levava uma caixa para a rodinha, contendo um objeto desconhecido pelos alunos. A intenção é que eles adivinhassem qual era o objeto presente na caixa. A caixa passava nas mãos de cada aluno e os mesmos falavam suas supostas características, sacudiam a caixa para sentirem seu peso, o barulho provocado e outros aspectos.

Exemplo 3

O que se deseja aqui é alertar para uma leitura compreensiva em casos como esse e que pode, também acontecer, em caso de a criança se encontrar diante de um desafio semelhante ao apresentado.

4- A difícil tarefa de escrever diante de propostas pouco claras: o dilema entre obedecer e infringir. Uma das razões para eventos dessa natureza é a representação que se faz da própria criança como potencial produtor de texto e das expectativas que adotamos ao solicitar a produção de um texto ou a de ler ou avaliar os textos de aprendizes. Se, por um lado, muitas vezes a escola olha para o texto do aluno buscando encontrar um texto de alguém já competente(adulto); por outro, procura amenizar sua postura no que solicita ao aluno que elabore.

O que dizer da proposta abaixo?

E dessa?

5-As condições de produção: O olhar da interação busca avançar em uma questão sobre a qual todos consideramos consenso: as condições de produção. Primeira constatação: a concepção de gênero do discurso deixa claro que para se processar um texto é necessário que a situação comunicativa esteja garantida.

No entanto, temos tido exemplos de que a escola olha o texto, mas nem sempre considera as condições de produção e que grande parte das atividades de produção na alfabetização deixa de lado essas condições. Deixa de lado o discurso:

DISCURSO Mobiliza estruturas de uma outra ordem, diferente das da frase É contextualizado: não se pode atribuir sentido a um enunciado fora de suas condições de produção É uma forma de ação, orientada para um fim: atuar sobre o outro e modificar contextos Supõe uma outra instância à qual o locutor se dirige e em relação à qual ele constrói seu próprio discurso (dialogismo) Adquire sentido no interior de um universo de outros discursos (interdiscurso)

Um exemplo para análise:

Partindo do se encontra na proposta, deduz-se que a intenção é a de que os alunos demonstrem conhecimento a respeito de uma boa alimentação e que o façam a partir do que gostam ou não gostam de comer. Nesse exemplo, o aluno precisa assumir duas enunciações: dizer para o outro o que sua mãe lhe diz... AINDA que escrevesse um texto menos longo, o ideal seria algo mais ou menos assim:

1- Responda: o que é uma boa alimentação. Responda : Você se alimenta bem? (argumentação) Depoimentos coletados para um mural 2-Ou: Redigir um verbete sobre sobre Vida Saudável) Boa alimentação(exposição) (livreto 3-Ou: Orientar a como se alimentar bem (injunção) (panfletinho) 4-Ou: Alertar para riscos de uma alimentação mal feita, por meio de um cartaz que será afixado na escola( argumentação)

Um aceno conclusivo -O que vive a criança no seu momento de alfabetização em relação à produção de texto? Vive o processo de APROPRIAÇÃO DE GÊNEROS DISCURSOS em que sai da esfera dos gêneros primários para os secundários (Bakhtin). Significa sair de uma esfera de experiências pessoais; para um outro, com motivações mais complexas. Orientação básica: Sequências Didáticas na perspectiva de SCHNEUWLY e DOLZ

-Novo desafio :por que escrever textos só com papel e caneta, se podemos fazer textos usando outras linguagens, com diferentes formatações,explorando cores, imagens, animação,sons? Quem vai ensinar tudo isso a elas?(pergunta de COSCARELLI,2010) O que as crianças precisam saber? Como alfabetizar em tempos que inúmeras novidades digitais surgem e são disponibilizadas? O que devemos ensinar? Além do lápis, da borracha e da caneta, temos teclado, mouse, pincel mágico, caneta invisível, telas sensíveis ao toque, interfaces multitoque.

Por que escrever textos só com papel e caneta, se podemos fazer textos usando outras linguagens, com diferentes formatações, explorando cores, imagens, animação,sons? Quem vai ensinar tudo isso a elas? (pergunta de COSCARELLI,2010, 514) -Ninguém pode ensinar eficazmente sem um domínio dos próprios saberes que ensina. -Diferenciação pedagógica: capacidade de alterar diferentes abordagens ou estratégias ao longo de um determinado tempo, a fim de que a mesma capacidade, conteúdo /saber seja desenvolvido sucessiva e complementarmente.

Entender a construção da escrita como uma nova função discursiva, em que se destacam dois processos psicológicos: Planificação autogerada do texto (abstração) Instauração de uma relação mediada por uma materialidade (concreto)

Como é que nos formamos leitores e produtores de texto? É na comum-unidade (comunidade),na relação com o outro. Não é no rigor do olhar, nem na benevolência, nem nos atos de indiferença que se encontra a saída. Ela está, fundamentalmente, no quanto aquele que ensina e aquele que aprende se abrem, cada vez mais, para a compreensão ativa. (LEAL, 2005)

Aprendi a ensinar, quanto mais amava ensinar e mais estudava a respeito Paulo Freire

Referências BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo. Martins Fontes, 1997 BOSCO, Cláudia S. Os gêneros textuais nas práticas escritas de crianças do primeiro ciclo de alfabetização em situações reguladas pela professora e pelo grupo. Dissertação de Mestrado. FAE/UFMG,2010. CRUZ, Flávia A. Mendes. Produção de Texto na Alfabetização : análise de uma prática do primeiro ano do ensino fundamental. Dissertação de Mestrado.Departamento de Ciências da Educação. Universidade Federal de Sâo Joâo del Rey. Março. 2012 COSCARELLI,Carla. Cultura escrita e letramento.bh:autêntica.2010, p.515. LEAL, Leiva de F. Viana. A Formação do Produtor de Texto Escrito na Escola: uma análise das relações entre os processos interlocutivos e os processos de ensino. IN: COSTA, Val e ROCHA, G.(org). Reflexões sobre práticas de produção de texto na escola B.H, Editora Autêntica, 2002. OCHS,E. Planned and unplanned discourse.in: GIVÓN, T.(org.) Sintax and semanctics;discourse and sintax. Ney York, Academic Press,1979. V.12. SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução de Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2004.

OBRIGADA! leivaleal.l@gmail.com