DEPARTAMENTO DE LETRAS. CIBERLETRAMENTO: MULTIMÍDIA E MULTIMODALIDADE COMO PROPOSTAS DE LETRAMENTO Marcela Cockell (UERJ)

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Transcrição:

DEPARTAMENTO DE LETRAS CIBERLETRAMENTO: MULTIMÍDIA E MULTIMODALIDADE COMO PROPOSTAS DE LETRAMENTO Marcela Cockell (UERJ) marcelacockell@hotmail.com INTRODUÇÃO A prática de leitura e escrita está inserida entre a cultura do papel e a cultura da tela ou cibercultura. Dessa forma é possível constatarmos que o conceito de letramento confronta as diferenças relativas ao espaço da escrita e seus mecanismos de produção, reprodução e difusão seja ela no papel ou na tela. Podemos afirmar que existem letramentos, de forma pluralizada, desse modo o ciberletramento seria um destes letramentos. Para situarmos o ciberletramento é necessário limitar os mecanismos práticos que atuam na leitura e na escrita, são eles os recursos de multimídia, hipertexto, hipermídia e multimodalidade. O objetivo desta breve pesquisa é verificar a ideia de multiletramento, ou seja, o letramento no sentido pluralizado, tendo em vista observar o ciberletramento com os recursos tecnológicos de multimídia e multimodalidade. NOVAS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA: CIBERLETRAMENTO A noção de letramento atualmente estabelece uma diferenciação entre a cultura do papel e a cultura da tela ou ciberletramento. Ambas compreendem conceitos de letramento e se confrontam como tecnologias tipográficas e tecnológicas de leitura e escrita e cada uma delas tem efeitos sociais, cognitivos e discursivos que resultam em diferentes modalidades de letramento. Isto significa que além da habilidade de ler e escrever, é necessário saber lidar com a informação visual, integrando seus sentidos e significados que acompanham rapidamente todas as mudanças do mundo. SOLETRAS, Ano IX, Nº 17 Supl. São Gonçalo: UERJ, 2009 81

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Como sugestão Soares (2002) propõe uma pluralização do letramento, dessa forma ele não seria definido como um conceito e sim conceitos, ou seja, uma diversidade de ênfases na caracterização do fenômeno (Soares, 2002, p. 144). Dentro deste contexto podemos afirmar que o ciberletramento é considerado um letramento compreendendo aspectos culturais e sociais: Letramento é (...) o estado ou condição de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de escrita, participam competentemente de eventos de letramento. (Soares, 2002, p. 145) Estas novas modalidades de práticas de leitura e de escrita impulsionadas pela tecnologia proporcionam dentro da perspectiva da cibercultura que além do multiletramento adquire uma visão multimodal. O advento destes meios tecnológicos no âmbito da educação permitiu a evolução dos recursos de multimídia e posteriormente dos conceitos de hipertexto e hipermídia. De forma simplificada é possível descrever as principais características destes conceitos que veremos a seguir. A multimídia na educação pode ser definida como a utilização de recursos tecnológicos tais como computador, áudio, vídeo, i- lustrações etc. Segundo Mayer (2001): Defino multimídia como a apresentação de um material usando tanto a escrita quanto as imagens. Através da escrita, o material é apresentado na forma verbal como no texto escrito ou falado. Através das imagens o material é apresentado na forma ilustrada, como em gráficos (com ilustrações), fotos, mapas, ou ainda animações e vídeos. (Mayer, 2001, p. 2). O autor afirma que o computador permitiu a evolução da tecnologia visual com ilustrações e gráficos mais elaborados e ainda a utilização de animação. Podemos afirmar que estes recursos fazem parte da cibercultura e influenciam qualquer informação nela inserida. Estes recursos audiovisuais são indispensáveis no ciberespaço, pois permitem a visualização mental e verbal da informação. De a- cordo com Mayer, a aprendizagem através dos recursos multimídia será responsável pela revolução da educação, influenciando principalmente o livro didático. Através da Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimídia, o autor propõe um uso consciente da multimodalidade no processo de ensino-aprendizagem, concluiu-se que os a- lunos aprendem melhor através de palavras e imagens que de pala- 82 SOLETRAS, Ano IX, Nº 17 Supl. São Gonçalo: UERJ, 2009

DEPARTAMENTO DE LETRAS vras apenas (Mayer, 2001, p. 184). Isto ocorre porque palavras e imagens são sistemas diferentes de representação 38 de conhecimento e qualitativamente diferentes. No espaço da escrita 39 (ou ainda no ciberespaço) referente ao texto na tela ele pode ser denominado hipertexto. Este espaço pode ser definido como o lugar em que a escrita está inserida. No computador este espaço seria a tela ou a janela dessa forma o leitor é exposto ao espaço que é representado na tela, logo em determinado momento algumas janelas ficam ocultas. O chamado hipertexto pode ser definido por Lévy (1999, p. 56 apud Soares, 2002, p. 150) como um texto móvel : O texto no papel é escrito e é lido linearmente, sequencialmente da esquerda para a direita, de cima para baixo, uma página após a outra; o texto na tela o hipertexto é escrito e é lido de forma multilinear, multisequencial, acionando-se links ou nós que vão trazendo telas numa multiplicidade de possibilidades, sem que haja uma ordem predefinida. (Soares, 2002, p. 150). Podemos dizer que este ciberespaço traz mudanças nas formas de interação entre leitor, escritor e texto, ou seja, entre o homem e o conhecimento. Estas mudanças têm consequências sociais, cognitivas e discursivas e pode ser definida também como letramento digital 40 inserido na cibercultura: Pode-se concluir que a tela como espaço de escrita e de leitura traz não apenas novas formas de acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas formas de conhecimento, novas maneiras de ler e de escrever, enfim, um novo letramento, isto é, um novo estado ou condição para aqueles que exercem práticas de escrita e de leitura na tela. (Soares, 2002, p. 152). De um modo mais específico em relação à multimídia, a hipermídia é caracterizada como a integração de texto, gráficos, animação e som em um programa multimídia usando elos interativos (Tway, 1993, p. 225 apud Primo, 1996, p. 85). Dessa forma, a hipermídia é uma extensão do hipertexto quando não existe apenas o 38 Referente à representação verbal e pictorial. 39 Soares (2002, p. 148) considera pertinente ao estudo do letramento a análise da interação on-line como os Chats, e-mail, listas de discussões, fóruns e etc. 40 Soares afirma a pluralidade do conceito de letramento, inclusive admite o uso de letramentos. SOLETRAS, Ano IX, Nº 17 Supl. São Gonçalo: UERJ, 2009 83

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES texto, mas imagens, sons e animações que podem ser visualizados na tela do computador e acessíveis através de links. Segundo Santaella, (2008, p. 68) a combinação de hipertexto com multimídias, multilinguagens é que passou a ser chamada hipermídia : Ela vai além da informação escrita, permitindo acrescentar aos textos não apenas os mais diversos grafismos (símbolos matemáticos, notações, diagramas, figuras), mas também todas as espécies de elementos audiovisuais (voz, música, sons, imagens fixas e animadas). Em ambos os casos, o termo hiper se reporta à estrutura complexa alinear da informação. (Santaella, 2008, p. 63) Cabe ressaltar que a hipermídia refere-se ao tratamento digital de todas as informações com uma mesma linguagem universal das máquinas (como uma linguagem própria delas). A princípio os sistemas hipermídia só podiam ser armazenados em um computador ou em uma unidade móvel (como o CD-ROM). Atualmente, a Internet permite uma grande evolução nesta área. Podemos afirmar que todo o texto é multimodal, ou seja, possui aspectos semióticos próprios e identificáveis ao leitor. Em uma perspectiva do letramento, o trabalho realizado com gêneros textuais em sala se aula está intimamente ligado aos conceitos de multimodalidade dos textos. Segundo Kress & Van Leeuwen (1996), mesmo um texto verbal tem outros modos de comunicação que contribuem para o seu significado. Logo, os textos são multimodais, ou seja, um conjunto de múltiplas formas de representação ou códigos semióticos que realizam um sistema de significado através de meios próprios e independentes. CIBERLETRAMENTO E A APRENDIZAGEM Conforme mencionamos, os avanços tecnológicos permitiram novas práticas de leitura e escrita que podem ser considerados como um letramento na cibercultura ou ciberletramento. O letramento pode ser considerado um fenômeno plural que reconhece diferentes tecnologias de escrita e diferentes práticas conforme Soares (2002, p. 156): diferentes espaços de escrita e diferentes mecanismos de produção, reprodução e difusão da escrita resultam em diferentes letramentos. 84 SOLETRAS, Ano IX, Nº 17 Supl. São Gonçalo: UERJ, 2009

DEPARTAMENTO DE LETRAS Os recursos de multimídia na cibercultura permitem no âmbito pedagógico, uma nova visão do ensino-aprendizagem. Para Mayer (2001), a aprendizagem multimídia permite aos estudantes uma construção do conhecimento através de processos mentais com estruturas coerentes, ou seja, a informação não é simplesmente memorizada, mas construída com uma rede de informações individuais, sociais e culturais de cada aprendiz. Dentro desta perspectiva, o aluno é responsável pelo seu conhecimento, ele é ativo e o professor admite um papel de facilitador que auxilia e dá suporte. O objetivo deste método é promover o processo cognitivo através da informação e permitir que o aluno organize seu conhecimento mentalmente. Podemos notar que existe uma preocupação dos professores em trabalhar gêneros textuais com diversos recursos tecnológicos em sala de aula e multiletramentos e gêneros multimodais podem ser ensinados, no entanto segundo Lemke (2000, p. 269 apud Dionísio, 2008, p. 128) é necessário que: professores e alunos estejam plenamente conscientes da existência de tais aspectos: o que eles são; para que eles são usados; que recursos empregam e como eles podem ser integrados; como eles são tipicamente formatados e quais seus valores e limitações. Dessa forma, o professor deve estar consciente que ao ministrar uma aula utilizando a Internet, por exemplo, diversas práticas de letramento, gêneros e representação (visão, audição, por exemplo) serão utilizadas e admitem uma complexidade. O professor deve estar convicto de que a utilização de um recurso multimídia é pertinente ao seu conteúdo e que se tornará um recurso importante para a aprendizagem. Os materiais didáticos utilizam cada vez mais a diversidade de gêneros como textos de jornais, revistas e quadrinhos e podem auxiliar se usado conjuntamente com recursos tecnológicos. Além do uso da Internet em aulas, podemos dizer que qualquer contato dos estudantes com a cultura da tela é considerado ciberletramento, e para se obter um resultado plenamente positivo de aprendizagem os recursos de multimídia é fundamental para o aprendizado visual e verbal: Aprender pelo audiovisual significa compreender pela afetividade e isso possibilita ao pensamento dos alunos uma dosagem de audácia, criatividade e fantasia, que os afastam daquele pensamento linear ensinado em nossas escolas. Quanto maior for o desafio maior será o seu poder em solucionar o problema, e desta maneira, o aprendiz não encontrará apenas uma resposta, mas várias. (Nascimento, 2001, p. 39) SOLETRAS, Ano IX, Nº 17 Supl. São Gonçalo: UERJ, 2009 85

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Para Mayer (2001) a aprendizagem multimídia em relação ao aprendiz é qualitativa e não quantitativa, mas apresenta três possíveis resultados: o não aprendizado, a rotina de aprendizado (memorização) e o significado da aprendizagem. Este último, quando alcançado, permite ao estudante a possibilidade de compreender o porquê daquela informação ou o quão importante ela será posteriormente. Ao atingir este estágio, este aluno já assumiu um comportamento de aprendiz, ou seja, ele utilizará a tecnologia como uma ferramenta de aprendizado que só trará benefícios, principalmente a aprendizagem ativa. Segundo o autor, esta aprendizagem busca a melhor forma de promover resultados positivos de aprendizado e dependem da atividade cognitiva e da atividade comportamental do aprendiz durante a aprendizagem. É importante observar que os recursos tecnológicos não pretendem substituir o papel do professor. O uso da tecnologia em sala de aula criou o mito da substituição do professor pela tecnologia. No entanto, atualmente é possível constatar que esta afirmação foi apenas um receio causado pelo choque das mudanças. Segundo Mayer (2001, p. 10) a tecnologia precisa do homem e deve adaptar-se a ele e não substituí-lo. Existem benefícios que só os recursos tecnológicos podem oferecer, e estes recursos devem ser considerados como um complemento das atividades humanas. Logo, no âmbito da educação, o computador e os recursos de multimídia são fundamentais para novos métodos de aprendizagem, novos recursos visuais que antes não eram possíveis e, ainda, novas formas de trabalhar o livro didático, admitindo conceitos que antes não eram levados em consideração, como por exemplo, a multimodalidade. Desse modo, foi dada a real importância da visão multimodal nos textos e dos recursos visuais que hoje sabemos é parte do processo de aprendizado. Por outro lado, o livro didático também foi beneficiado com pesquisas específicas e recursos multimodais que tem como objetivo o uso da língua e da imagem. Em suma, hoje sabemos que uma ilustração ou a disposição de um texto é quase tão importante quanto o texto em si. Cabe ressaltar que informação não deve ser confundida com conhecimento. Uma informação corresponde a um conjunto de dados organizados de maneira lógica. Já o conhecimento ocorre uma inte- 86 SOLETRAS, Ano IX, Nº 17 Supl. São Gonçalo: UERJ, 2009

DEPARTAMENTO DE LETRAS gração da informação ao referencial do aprendiz, tornando-a significativa para o mesmo. Conforme já explanado anteriormente, o conhecimento é construído levando em consideração os aspectos sociais e culturais do aprendiz. CONSIDERAÇÕES FINAIS A evolução tecnológica permite que novas práticas de leitura e escrita, consequentemente tornam-se mais aparentes as diferenças entre a cultura do papel e a cultura da tela, ou cibercultura. Podemos concluir que concomitante com Soares (2002) que se pluralize a palavra letramento para que se reconheça que diferentes tecnologias de escrita criam diferentes letramentos. Desse modo, o ciberletramento pode ser definido como um conceito de letramento, pois permite a interação com a palavra escrita designando efeitos cognitivos, culturais e sociais. Enfim, vai além do letramento digital e compreende práticas contemporâneas relacionadas com a multimídia, hipertexto, hipermídia e a multimodalidade. A multimodalidade e os recursos de multimídia tornam-se indispensável na cibercultura, pois a interação do aprendiz através do computador deve ser o mais estimulante possível, logo o uso de imagens, e material audiovisual como animações, por exemplo, são extremamente importantes. Cabe ressaltar, conforme Mayer, já citada anteriormente, o uso do computador e suas tecnologias de multimídia, por exemplo, será responsável por uma revolução na educação para oferecer benefícios que só a tecnologia pode oferecer, auxiliando as atividades humanas. SOLETRAS, Ano IX, Nº 17 Supl. São Gonçalo: UERJ, 2009 87

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIONÍSIO, A. P. Gêneros multimodais e multiletramento. In: KARWOSKI, A.; GAYDECZKA, B. & BRITO, K. (orgs.). Gêneros textuais: Reflexões e ensino. 3ª ed. rev. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, p. 119-132. FERRARI, Pollyana (org.). Hipertexto, hipermídia: as novas ferramentas da comunicação visual. São Paulo: Contexto, 2007. KRESS, G. & VAN LEEUWEN, T. Reading images: The grammar of visual design. London: Routledge, 1996. MAYER, R. Multimedia Learning. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. NASCIMENTO, G. O professor e as tecnologias intelectuais: uma parceria que pode dar certo. In: ALVES, L & SILVA, J. (orgs.). E- ducação e cibercultura. Salvador: EDUFBA, 2001, p. 26-34. PRIMO, A. F. T. Multimídia e Educação. Revista de divulgação cultural. Blumenau, ano 18, n. 60, p. 83-88, set - dez. 1996. Disponível em: http://www.usr.psico.ufrgs.br/~aprimo/pb/educa.htm. Acesso em 10 nov. 2008. SANTAELLA, L. O novo estatuto do texto nos ambientes de hipermídia. In: SIGNORINI, I. (org.). (Re)discutir texto, gênero e discurso. São Paulo: Parábola, 2008, p. 47-72. SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br. Acesso em: 20 dez. 2007. 88 SOLETRAS, Ano IX, Nº 17 Supl. São Gonçalo: UERJ, 2009