Ativos do Campo - Nº 04/2013 Efeito dos custos dos insumos na rentabilidade dos projetos florestais Mesmo sendo as plantações florestais intensivas em utilização de mão de obra, sobretudo em regiões montanhosas, elas dependem também de insumos de capital como fertilizantes, defensivos e herbicidas. À medida que a oferta de mão de obra no campo diminui mais insumos são utilizados no reflorestamento. É o caso, por exemplo, da substituição da capina manual pela química com o uso de herbicidas. A aplicação de fertilizantes é indispensável nas áreas de reflorestamento em virtude do estado físico e químico dos solos, na maioria das vezes exauridos por pastagens mal manejadas, além do nível de produtividade requerido de acordo com o potencial de cada região. As plantações florestais, ao contrário das culturas agrícolas, são pouco atacadas por pragas e doenças, fato alcançado com os avanços do melhoramento genético obtendo clones resistentes a diversas pragas e doenças. As doenças ocorrem principalmente na fase de mudas no viveiro, onde o controle e o combate são mais fáceis de realizar. O ataque de pragas é mais comum no campo, sendo a formiga a principal praga combatida, a partir do uso de formicidas e do controle por meio de iscas. O ataque de cupins no campo é combatido com o uso de cupinicida que é aplicado nas mudas antes do plantio. Tem sido comum o surto de outras pragas nas plantações de eucalipto como o percevejo bronzeado, o psilídeo de concha, a vespa da galha e a lagarta desfolhadora dentre outras. Como existem poucos produtos registrados no mercado, destinados ao combate das pragas para utilização na silvicultura, prejudicando ou impedindo o controle quando o ataque é constatado. Mais esforço dos órgãos competentes deve ser despendido para a obtenção do registro de novos produtos. Geralmente estes ataques ocorrem a partir da fase juvenil das plantações, quando as árvores atingem um tamanho que impossibilita o combate por meio de aplicações manuais e até mesmo com pulverizadores comumente usados na fruticultura, mas inadequados e ineficientes no caso das florestas. Recentemente tem sido usada a aplicação aérea, que é de custo alto e dependente de uma área extensa e contígua, além de não ser permitida em certas regiões por questões legais.
Diferente do impacto dos custos dos fertilizantes e herbicidas, o agravante dos defensivos não está no preço, mas no custo operacional em virtude da frequência de sua aplicação. Isso porque a maioria das pragas, mesmo após um primeiro combate, tem capacidade de reinfestação, sendo necessárias várias aplicações até o seu controle total. Mesmo assim, reunir condições ideais para esta aplicação tem sido o desafio, uma vez que a ocorrência é bastante imprevisível. Essa imprevisibilidade pode ser reduzida com a realização de monitoramento, que ao contrário do defensivo propriamente dito, tem um alto custo para as empresas florestais. Os pequenos produtores rurais, quando capacitados, realizam o monitoramento de suas florestas, mas na maioria das vezes existe a necessidade de contratação de assistência técnica para acompanhamento, o que é extremamente positivo, porém pode ter maior custo. Desta forma, o objetivo deste documento é apontar os impactos dos custos dos insumos sobre a rentabilidade do projeto florestal de modo a evidenciar a importância da gestão florestal como forma de obter índices máximos de produtividades para reduzir os impactos destes custos porque os preços têm se elevado ao longo dos últimos anos, especialmente após a crise de 2008, em detrimento da estagnação dos preços da madeira. Impacto dos custos dos fertilizantes na produção florestal Os avanços da silvicultura brasileira a partir da política dos incentivos fiscais, que vigorou de 1965 a 1988, são visíveis e inegáveis. Os ganhos em produtividade são de duas a três vezes o que era antes desta política, ou seja, de 10 a 15 m³ por hectare por ano para 40 m³ por hectare por ano, atualmente. Esses avanços podem ser atribuídos principalmente à evolução do melhoramento genético e das pesquisas na área de solos e nutrição florestal. No início dos primeiros plantios incentivados, a aplicação de fertilizantes se fazia sem análises de solos ou a devida recomendação técnica. Com o desenvolvimento das pesquisas, obtiveram-se ganhos significativos em produtividade, a partir da utilização de fertilizantes na dose certa e aplicados no momento correto. Os reflorestamentos no Brasil são realizados em solos de baixa fertilidade. Assim, o uso adequado de fertilizantes aliado ao melhoramento genético acaba sendo condição indispensável para se conseguir índices de produtividade elevados. Em qualquer atividade agrícola ou florestal o objetivo é sempre obter produtividade máxima. Desta forma, o custo com fertilizantes, no caso florestal, varia de acordo com a fertilidade do solo e exigência da planta, já que os plantios florestais, ao contrário dos plantios agrícolas, são realizados, principalmente, em áreas de baixa fertilidade natural. Além disso, a elevação nos preços dos fertilizantes ao longo dos anos, influenciada também pela cotação do dólar, contribui significativamente para onerar os custos da implantação florestal. Desta forma, é importante que o produtor fique atento para a época ideal para a compra de fertilizantes e, para conseguir mais eficiência, aplicar adequadamente o produto de acordo com o regime pluviométrico da região, seguindo ainda a recomendação de um técnico especializado. De acordo com os dados obtidos nos painéis do Campo Futuro realizados nas regiões de Curvelo (MG), Teixeira de Freitas (BA), Palmas (TO) e Campo Grande (MS) reitera-se a importância dos fertilizantes para a cultura, uma vez que os custos com os mesmos representam entre 15 e 25% do Custo Operacional Efetivo (COE), conforme a Figura 1. O custo com fertilizantes foi menor em Campo Grande (MS), representando 15,76% do COE, enquanto em Palmas (TO) foi o maior, 24,04%, devido ao maior número de aplicações. Cabe ressaltar que em Curvelo-MG e Teixeira de Freitas- BA são realizadas cinco aplicações de fertilizantes incluindo a calagem, enquanto que nas regiões de Palmas (TO) e Campo Grande (MS) são realizadas seis aplicações, incluindo também a calagem.
Fonte: Dendrus, 2013 Figura 1 - Custo Operacional Efetivo e de fertilizantes para as regiões de realização dos painéis da cultura do eucalipto. Estabilização do preço da madeira aumenta a relação de troca com os insumos A estabilização do preço da madeira tem prejudicado a relação de troca do metro cúbico de madeira pelos insumos como o glifosate, superfosfato e calcário. O levantamento foi realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Dendrus Projetos Florestais e Ambientais em parceria com a Universidade Federal de Viçosa. O glifosate é o princípio ativo dos herbicidas mais utilizados na silvicultura, para limpeza da área antes do plantio e controle de plantas daninhas após a implantação. Na região de Curvelo (MG), em novembro de 2012, ocasião de realização do painel, era necessário 0,27 m³ de madeira para comprar um litro do herbicida Já em julho de 2013 esse valor saltou para 0,34 m³. O mesmo foi observado na região de Teixeira de Freitas (BA). No entanto, o aumento da relação de troca foi bem superior, saltando de 0,13 m³ de madeira, em novembro de 2011, para 0,25 m³ em julho de 2013. O superfosfato simples é aplicado, na região de Curvelo (MG), juntamente com a operação de subsolagem no preparo do solo. Esse nutriente que irá fornecer fontes de fósforo, cálcio e enxofre às plantas é essencial nos primeiros meses do plantio. O preço do produto subiu 4,06% entre novembro de 2012 e julho de 2013, elevando a relação de troca de 19,11 para 19,89 m³ de madeira para compra de uma tonelada do insumo. O calcário é utilizado mais para fornecimento de nutrientes do que correção do solo, uma vez que o eucalipto possui maior tolerância à acidez no solo. Por esse motivo o tipo mais utilizado é o calcário dolomítico, que contém teores mais elevados de cálcio e magnésio. Seu preço teve uma elevação de 5,9%, na região de Curvelo (MG), e de 20,0%, em Teixeira de Freitas (BA). As relações de troca para este insumo passaram de 1,89 m³ de madeira/tonelada de calcário para 2,00m³/ ton, entre novembro de 2012 e julho de 2013, na região de Curvelo/MG. Para a região de Teixeira de Freitas/BA, essa relação passou de 2,00m³/ton para 2,40 m³/ ton, entre novembro de 2011 e agosto de 2013. O aumento nas relações de troca dos insumos citados pode ser atribuído principalmente à estabilização do preço da madeira: em todas as regiões acompanhadas pelo Projeto Campo Futuro não foi constatado reajuste no preço do
produto. Em Teixeira de Freitas a madeira é destinada para celulose e a estabilidade no preço pode ser explicada ao papel de player das empresas compradoras e atribuída à crise europeia, destino de grande parte da celulose brasileira. Já em Curvelo, o problema é o efeito da crise internacional sobre o mercado de produtos siderúrgicos, refletindo no preço do carvão vegetal. Influência do aumento da produtividade na rentabilidade do projeto florestal Produtividade, taxa de juros e preço da madeira são as principais variáveis que influenciam a rentabilidade dos projetos florestais. As mais importantes características desse tipo de projeto, que o torna refém dessas variáveis, são o longo prazo e o alto investimento inicial na implantação florestal. Dessa forma, é extremamente importante o profissionalismo neste projeto por meio de uma gestão exitosa. Uma análise de sensibilidade percebe-se o quanto variações mínimas na produtividade refletem em alterações significativas na rentabilidade. Por exemplo, na região de Curvelo um Incremento Médio Anual (IMA) de 35 m³ por hectare por ano gera um lucro de R$1.648,87/ha que equivale a R$7,85/m³. No entanto, se houver uma variação negativa do IMA e cair para 30 m³ por hectare por ano, queda de 14,28%, o lucro reduz para R$301,72/ha (81,70%). Uma simples falha de gestão numa determinada atividade de manutenção por exemplo, um combate a menos de formiga - pode ocasionar esta redução do IMA. O inverso também é verdadeiro, quando o IMA aumenta em 14,28% (Figura 1). Figura 2 - Análise de sensibilidade da rentabilidade do Projeto florestal na região de Curvelo-MG Seguindo esta tendência, as Figuras 3 e 4 apresentam a análise de sensibilidade para as regiões de Palmas (TO) e Teixeira de Freitas (BA). Na primeira, com IMA de 30 m³ por hectare por ano e lucro de R$3.565,59/ha, variando entre 25 e 35 m³ por hectsre por ano, o lucro altera em R$1.397,69 e R$5.733,49/ha, respectivamente. Já para Teixeira de Freitas, variando o IMA de 40 m³ por hectare por ano em 5 m³ para mais e para menos, tem-se o lucro de R$7.976,99/ha (IMA 45) e de R$4.126,99/ha (IMA 35), respectivamente. A partir desses resultados, reitera-se a importância da gestão do projeto para obtenção de produtividades mais elevadas, pois pequenas variações no IMA são suficientes para alterar significativamente a viabilidade de um projeto florestal.
Figura 3 - Análise de sensibilidade da rentabilidade do Projeto florestal na região de Palmas-TO Figura 4 - Análise de sensibilidade da rentabilidade do Projeto florestal na região de Teixeira de Freitas-BA