Entendendo uma avaliação física. Dra. Natália C. Oliveira

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Transcrição:

Entendendo uma avaliação física Dra. Natália C. Oliveira Os praticantes de atividades físicas e esportivas usualmente passam por uma avaliação física antes de iniciarem seu programa de treinamento. A avaliação física fornece subsídios para que os profissionais envolvidos conheçam o nível de aptidão e os objetivos do praticante, e com isso possam elaborar o programa e a dieta mais apropriados. Durante a avaliação física, é verificada a presença de quaisquer contraindicações que o indivíduo possa apresentar em relação a algum tipo específico de atividade ou exercício físico. Estas informações são essenciais para a segurança e eficiência do planejamento dos treinos, sem elas a elaboração de programas específicos e individualizados torna-se inviável. Cada indivíduo possui suas próprias características físicas, limitações e pontos fortes, objetivos em relação à saúde, performance e estética. Para que os benefícios desejados de um esporte ou atividade física sejam obtidos, é importante que estejam claras as condições iniciais do praticante em questão. Com a realização periódica da avaliação física também é possível acompanhar o progresso do praticante em sua atividade, verificar se seus objetivos iniciais estão sendo alcançados ou se existe a necessidade de se rever a prescrição do exercício e da dieta. A constatação de um desempenho insuficiente em uma segunda avaliação física, portanto, pode indicar tanto uma falha no programa de treinamento quanto na dieta prescrita para o praticante. A avaliação física pode ser composta por vários tipos de testes. As avaliações mais eficientes são as que analisam parâmetros específicos da atividade que se pratica e que são específicas para a população em questão. Cada atividade física e cada esporte possui demandas diferentes em termos das habilidades e capacidades físicas exigidas, portanto quanto mais próximos da realidade do praticante forem os testes, maior a probabilidade de a avaliação medir o que se deseja efetivamente. Anamnese Antes de iniciar qualquer tipo de teste físico, o praticante deve passar por uma anamnese nutricional e de saúde. As informações coletadas neste momento são de extrema importância, podendo inclusive contra indicar a realização de algum teste. A anamnese de saúde geralmente é composta por (1) : - Questionário de antecedentes clínicos; - Termo de consentimento informado;

- Avaliação médica (freqüência cardíaca, pressão arterial e eletrocardiografia em repouso); - Análise de fatores de risco. O American College of Sports Medicine (2) recomenda também que seja realizado um exame físico e alguns testes laboratoriais como parte da anamnese de saúde. Os exames laboratoriais incluem colesterol total e frações, triglicérides e glicemia. Após a anamnese, os testes físicos são realizados. Um conjunto de testes que atende às necessidades básicas de indivíduos adultos é (1) : - Teste de esforço cardio pulmonar; - Composição corporal; - Avaliação da flexibilidade; - Avaliação de força e resistência muscular. No caso de atletas, além destes testes, pode-se considerar a utilização de testes mais específicos, envolvendo as habilidades e os gestos esportivos mais utilizados em cada modalidade. Estes dados, somados à anamnese nutricional, permitirão aos profissionais envolvidos traçar um perfil fidedigno do praticante. Em conjunto, eles poderão analisar os resultados e elaborar uma prescrição que atenda às necessidades nutricionais e de treinamento do praticante. Avaliação da capacidade aeróbia O teste de esforço máximo (ergométrico) pode ser realizado em campo, em esteira ou bicicleta ergométrica. Nas duas últimas situações, existe a possibilidade de um controle maior das variáveis envolvidas, fato este que muitas vezes determina a escolha deste tipo de ergômetro para a realização do teste. Os principais parâmetros avaliados no teste de esforço máximo são: - Freqüência cardíaca em repouso, durante o exercício e na recuperação; - Pressão arterial em repouso, no esforço e na recuperação; - Consumo máximo de oxigênio; - Limiares ventilatórios. O consumo máximo de oxigênio (VO 2máx ) reflete a capacidade máxima de uma pessoa captar, transportar e utilizar o oxigênio (3), e está diretamente ligado ao gasto calórico durante uma atividade física. Os principais determinantes de desempenho de um esportista de endurance são o VO 2máx e a porcentagem do VO 2máx que ele pode manter durante um exercício prolongado (4). Quando o teste de esforço é realizado em conjunto com a análise de gases, conhecido como teste ergoespirométrico (Figura 1), outros dois parâmetros importantes podem ser precisamente determinados, os limiares ventilatórios.

Figura 1 - Teste ergoespirométrico. O primeiro limiar é também chamado de Limiar Anaeróbio e representa o ponto a partir do qual o indivíduo entra em atividade aeróbia, em que predomina o consumo de gordura como principal fonte energética. Já o segundo, o Ponto de Compensação Respiratória, representa o ponto em que há um aumento desproporcional na ventilação, ou seja, o metabolismo aeróbio não é mais suficiente para suprir a demanda imposta pelo exercício (5). Com isso em mente, sabe-se que durante a atividade física as fontes energéticas utilizadas variam de acordo com a intensidade e a duração do esforço. No início de um exercício, a maior parte da energia fornecida para a atividade vem de fontes energéticas primárias, trifosfato de adenosina (ATP) e creatina fosfato (CP). Com a continuidade da atividade física, o glicogênio muscular começa a ser mais utilizado, de forma que o metabolismo dos carboidratos passe a predominar sobre as outras fontes energéticas (6). O metabolismo dos carboidratos não é o mais eficiente em termos de fornecimento de grandes quantidades de energia para uma atividade física ou esportiva de longa duração, ou seja, uma atividade realizada entre os dois limiares citados anteriormente. Para este tipo de atividade, o metabolismo aeróbio é acionado como principal fornecedor de energia. Ao se planejar uma dieta para um praticante de atividades físicas, deve-se levar em consideração o tipo de treinamento ao qual ele será submetido, para que se possa identificar as principais fontes energéticas utilizadas. O teste ergoespirométrico fornece aos profissionais alguns detalhes essenciais sobre o condicionamento físico do praticante. Um teste com um intervalo de tempo muito curto entre os dois limiares ventilatórios pode indicar baixo condicionamento aeróbio, o que é muito importante para atividades de longa duração. Uma outra forma de se obter resultados comparáveis aos de um teste ergoespirométrico é por meio da detecção dos limiares de lactato sangüíneo. Os

parâmetros fornecidos pelo teste podem ser utilizados para prescrição e controle das intensidades do treinamento físico (7). Este tipo de teste é bastante utilizado em atletas pela possibilidade de ser realizado em campo. Para a prescrição de um treinamento e de uma dieta, o limiar de lactato pode funcionar da mesma forma que os limiares ventilatórios. Ele reflete o aumento da concentração de lactato sangüíneo, que ocorre concomitantemente com o aumento da demanda energética, causado pela crescente necessidade de utilização do sistema anaeróbio em um exercício de alta intensidade. O Gráfico 1 ilustra quando o limiar de lactato é atingido. A partir deste momento, o metabolismo aeróbio não é mais suficiente para suprir sozinho a demanda do exercício. Fontes energéticas anaeróbias passam a ser exigidas do atleta. Gráfico 1 - Limiar de lactato. Composição corporal Existem vários métodos para se avaliar a composição corporal de um atleta. Dentre eles destacam-se: pesagem hidrostática, densitometria e antropometria. A forma mais usual e de bom custo-benefício para se avaliar a composição corporal é a antropometria. Geralmente são utilizadas as medidas de circunferências e dobras cutâneas. Esta parte da avaliação é utilizada para predizer a densidade corporal e o percentual de gordura total do atleta (1). O índice de massa corporal (IMC) é outro parâmetro importante verificado nesta parte da avaliação que, juntamente com o percentual de gordura, pode ser utilizado para se estimar a adequação do peso à constituição corporal de um atleta. Existem diversos protocolos e fórmulas de cálculo para as medidas antropométricas. Há protocolos específicos para crianças, adultos e atletas, e a escolha deve sempre ser feita considerando as características do avaliado. Um praticante ou atleta que apresente percentual de gordura acima do ideal para a faixa etária e sexo pode e deve receber orientações quanto ao tipo de treino e dieta mais indicados para que este índice seja reduzido. O excesso de

peso gordo, além de ocasionar distúrbios metabólicos, pode contribuir para lesões osteoarticulares durante a prática de uma atividade física ou esportiva. Por outro lado, a porcentagem de gordura muito abaixo do ideal também pode ser prejudicial à saúde de um atleta, já que a gordura, além de ser a base para a síntese de alguns hormônios, é a fonte energética mais eficiente do organismo em exercício físico. Em uma avaliação física, o IMC e a relação cintura-quadril (RCQ) também são parâmetros usualmente estudados e devem ser analisados sempre em conjunto com o resultado do percentual de gordura. No caso de atletas, nem sempre um IMC acima de 25 significa sobrepeso. Praticantes de atividades que exigem muita força podem apresentar percentual de gordura dentro do ideal, alto percentual de massa magra e conseqüentemente um IMC elevado. Nesse caso, uma avaliação somente do IMC poderia levar a uma interpretação errada da condição do indivíduo. Avaliação da flexibilidade A flexibilidade é definida como a amplitude de movimento possível em uma articulação ou um conjunto de articulações (8). A goniometria (Figura 2) é uma das formas de se avaliar a flexibilidade. Ela envolve medidas de amplitude de movimento em cada articulação avaliada, uma vez que a flexibilidade é específica às articulações envolvidas, ao lado do corpo, à velocidade de execução do movimento e ao esporte praticado (8). Figura 2 - Goniometria da articulação do cotovelo. Um método simples e bastante utilizado para se avaliar a flexibilidade é o teste de sentar e alcançar (Figura 3). Este teste avalia a flexibilidade da musculatura isquiotibial e apresenta boa correlação com a flexibilidade geral de um indivíduo (9). Figura 3 - Teste de sentar e alcançar.

Os resultados obtidos nos testes de flexibilidade são geralmente comparados com valores preditos para a idade e o sexo do praticante, estabelecidos na literatura específica da área. Por ser uma capacidade física importante para o bom desempenho de um praticante em diversas modalidades, a flexibilidade costuma fazer parte de qualquer programa de treinamento, e por isso também deve ser avaliada periodicamente. Avaliação da força e da resistência muscular Força muscular é a capacidade de um músculo ou grupo muscular ir contra uma resistência em um esforço máximo (10). Este parâmetro normalmente é avaliado por testes de uma repetição máxima (1RM) nos exercícios de agachamento e supino. Nos atletas de modalidades que requerem força, geralmente se avalia esta variável em 1RM nos aparelhos onde o treino será realizado, de forma que o profissional tenha não somente um parâmetro objetivo para ajustar a carga nos diversos exercícios mas também dados para uma futura comparação de desempenho. Uma outra forma de se avaliar a força é por intermédio da avaliação isocinética. Este tipo de teste permite o diagnóstico de possíveis desequilíbrios musculares que possam afetar a prática esportiva e até mesmo as atividades da vida diária de um atleta. A avaliação isocinética é realizada com uma velocidade fixa e uma resistência adaptável, de modo que seja possível sobrecarregar um músculo de forma dinâmica até sua capacidade máxima. Por permitir uma enorme variedade de velocidades angulares, esse tipo de avaliação pode atender às demandas específicas de cada modalidade esportiva (10). A resistência muscular é definida como a habilidade de permanecer em atividade ou resistir à fadiga (11). Testes de resistência muscular localizada exigem que o atleta desempenhe um movimento o número máximo de vezes possível. Exemplos de testes de resistência muscular bastante utilizados são máximas repetições de flexão de braços, flexões abdominais e agachamentos. O resultado dos testes de força e resistência muscular podem ser utilizados tanto para prescrever a intensidade dos exercícios quanto para avaliar a adequação da força ou resistência de um atleta ao gesto esportivo que ele deverá desempenhar. Praticantes de atividades que exigem força muscular devem receber atenção especial não somente à ingestão calórica total relacionada à demanda da atividade mas também à ingestão diária de proteínas. Durante os exercícios de força, há uma degradação de substâncias estruturais e energéticas no músculo. Esta situação caracteriza o exercício como uma agressão, e como resposta ocorrem adaptações fisiológicas que capacitam o indivíduo a suportar melhor os próximos treinos. Essas adaptações fisiológicas

incluem o aumento muscular e ocorrem no período de descanso que se segue aos exercícios (12). A recuperação caracteriza-se pela síntese de proteínas além dos níveis anteriormente encontrados. Porém, quando os aminoácidos provenientes da dieta estão em baixa concentração no sangue, há uma diminuição no ritmo de formação de tecido muscular, o que não é desejável para um atleta. Avaliação da agilidade O teste Shuttle Run é muito utilizado para se avaliar a agilidade. Ele é considerado adequado para a avaliação deste parâmetro principalmente no caso de atletas (13). Existe na literatura uma adaptação do shuttle run com bola, que apresenta boa correlação com o original e é mais indicado para praticantes de atividades com bola (11). Os resultados deste teste podem ser comparados com valores preditos ajustados para idade, sexo e nível de atividade, mas sua principal utilização é para a comparação do desempenho de um atleta antes e depois de um programa específico de treinamento. Esportes que exigem agilidade são geralmente atividades de longa duração com estímulos curtos de alta intensidade, ou seja, atividades de metabolismo predominantemente aeróbio com picos anaeróbios. O profissional responsável pelo planejamento da dieta de praticantes deste tipo de atividade devem estar atentos a este detalhe para que a prescrição da dieta atenda à alta demanda energética e às necessidades individuais do atleta. Ao se realizar uma avaliação física, os profissionais envolvidos devem ter em mente as características pessoais e as restrições apresentadas pelo praticante em primeiro lugar. Depois, a demanda da modalidade praticada em termos de capacidades, habilidades físicas e gasto energético também deve influenciar a escolha dos testes e a interpretação dos resultados. A utilização correta destes dados para o treinamento físico e o desenvolvimento de um programa alimentar adequado é essencial para o bom desempenho de qualquer atleta. Referências bibliográficas 1. Pollock ML, Wilmore JH. Medical screening and evaluation procedures. In: Pollock ML, Wilmore JH, editores. Exercise in health and disease: evaluation and prescription for prevention and rehabilitation. Philadelphia: WB Saunders, 1990. p. 239-370. 2. American College of Sports Medicine. Guidelines for graded exercise testing and prescription. Philadelhia: Lea & Febiger, 1986. 3. Brooks GA. Anaerobic threshold: Review of the concept and directions for future research. Med Sci Sports Exerc 1985; 17:22.

4. Wilmore JH, Costill DL. Metabolismo e sistemas energéticos básicos. In: Wilmore JH, Costill DL, editores. Fisiologia do esporte e do exercício. Barueri: Manole; 2001. p. 114-54. 5. Wilmore JH, Costill DL. Regulação respiratória durante o exercício. In: Wilmore JH, Costill DL, editores. Fisiologia do esporte e do exercício. Barueri: Manole; 2001. p. 244-73. 6. Newsholme EA, LeEch AR. Biochemistry for the medical sciences. Nova York: John Willey, 1988. 7. Bacon L, Kern M. Evaluating a test protocol for predicting maximum lactate steady state. J Sports Med Phys Fitness 1999; 39(4):300-8. 8. Alter MJ. A modern overview of flexibility and stretching. In: Alter MJ. Science of flexibility. Champaign: Human Kinetics, 1996. p.1-10. 9. Jackson AW, Langford NJ. The criterion-related validity of the sit and reach test: replication and extension of previous findings. Res Q Exerc Sport 1989; 60:384-5. 10. Pedegana LR, Elsner RC, Roberts D, Lang J, Farewell V. The relationship of the upper extremity strength to trowing speed. Am J Sport Med 1982; 10(6):352-4. 11. Semenick, DM. Testing protocols and procedures. In: Baechle TR. Essentials of strength training and conditioning. Champaign: Human Kinetics, 1994. p.258-73. 12. Santarém, JM. Treinamento Avançado Para Competição. Santos: Atenas, 1991. 13. Oliveira, MC. Influência do ritmo na agilidade em futebol. [Dissertação Mestrado]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2000.