Agência de Notícias Brasil-Árabe - SP 29/01/2004-07:00 Brasil quer exportar gado vivo para os países árabes Representantes da Associação dos Criadores de Zebu vão participar de feira no Cairo em março. Setor quer faturar este ano US$ 14,8 milhões com as vendas externas de animais, sêmen e embriões de bovinos. Alexandre Rocha Alexandre Rocha São Paulo As empresas ligadas à Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) querem entrar de cabeça no mercado internacional de animais vivos, sêmen e embriões de bovinos. Entre os mercados em que os produtores pretendem ingressar ainda este ano está o dos países árabes, tanto que em março representantes da associação vão participar da Feira Internacional do Cairo, no Egito. Identificamos o Egito, que além de ser uma porta de entrada para os mercados árabe e do Norte da África é um grande importador de animais vivos, disse à ANBA o gerente de relações internacionais da ABCZ, Gerson Pedro Nunes Simão. A participação da feira no Cairo faz parte de um convênio de cooperação técnica e financeira assinado entre a associação e a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex), em outubro passado, com vistas a aumentar as exportações do setor. No total, 12 empresas que trabalham com inseminação artificial, transferência de embriões, venda de animais vivos e serviços de melhoramento genético fazem parte do projeto, do qual Simão é também gerente-executivo.
Potencial do mercado De acordo com Simão, o Egito importou no ano passado 92.492 cabeças de gado e os 22 países árabes compraram cerca de 440 mil animais. Os dados, de acordo com ele, são da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e não discriminam as reses adquiridas para abate e aquelas destinadas à reprodução. No entanto, Simão acredita que o mercado dos países árabes é mais propício para a venda de animais para abate. Na minha avaliação, os árabes deixam suas reservas de terras agriculturáveis para a agricultura em si. E com a importação de animais para abate o país gera mão-de-obra local e aproveita os subprodutos, afirmou. De acordo com ele, o único negócio do gênero feito recentemente com os árabes foi a exportação de 946 cabeças de gado Nelore para o Líbano, todas para abate. Com a participação na feira do Egito, Simão espera fazer contatos e conhecer melhor a demanda local para impulsionar as vendas. Antes mesmo do evento, ele pretende fazer uma visita técnica a frigoríficos, fazendas e centrais de inseminação artificial, para poder ter um quadro mais claro da demanda. Se existe, por exemplo, além da venda de animais, possibilidades de exportação de sêmen, embriões e serviços. Hoje os árabes compram muito da Austrália e por isso o gado viaja muito. Nós estamos mais próximos e temos qualidade, garantiu Simão. Além disso, ele lembrou que a Austrália passou por um período de seca grave no ano passado, o que prejudicou sua produção. Este foi um dos motivos que levaram o Brasil a assumir a primeira colocação no ranking dos exportadores mundiais de carne em 2003. Programa Simão disse que a idéia de fazer o projeto em parceria com a Apex, batizado de Brazilian Cattle Genetics, surgiu quando a associação percebeu que o número de visitantes estrangeiros em feiras do setor, especialmente a ExpoZebu realizada em Uberaba (MG), tornou-se significativo, assim como as oportunidades de negócios com outros países. Nossa intenção é abrir novos mercados, afirmou Simão. Hoje o Brasil exporta zebuínos vivos
para o Senegal, Benin, Burkina Fasso, Angola, Colômbia, Uruguai e Paraguai, além do Líbano. No entanto, ele disse que as vendas ainda são pequenas em comparação com o que o setor acredita ser o seu potencial. Em 2002, de acordo com Simão, foram embarcadas 1.014 cabeças de gado, no valor de US$ 677 mil. Em 2003 o número subiu para 2.657 animais, o que gerou receitas de US$ 1,3 milhão. Para 2004, já dentro do convênio com a Apex, a meta é exportar 22 mil cabeças, faturando cerca de US$ 9 milhões. Ele ressaltou que, à exceção do Líbano, todas as vendas do ano passado foram de animais destinados à reprodução. No caso do sêmen, em 2002 foram exportadas 29,5 mil doses, no valor de US$ 128 mil. Em 2003 foram embarcadas quase 54 mil doses, a US$ 219 mil. Em 2004 a meta é vender 100 mil doses no mercado internacional. Já no caso dos embriões, segundo Simão, não há registro de exportações. No total, o setor espera faturar US$ 14,8 milhões em 2004 com as exportações de gado e material genético. O total de investimentos no Brazilian Cattle Genetics, dividido meio a meio entre a ABCZ e a Apex, será de R$ 2,6 milhões. Entre outras ações, o projeto prevê a participação do setor em uma série de feiras internacionais de negócios, a começar por uma em Houston, no Texas, depois a do Cairo, seguidas por eventos em Xangai, na China, Angola, Equador, Colômbia, Bolívia, Peru e em Caracas, na Venezuela. Simão afirmou que está em estudo também a participação em alguma feira no Sudeste Asiático, nas Filipinas, Malásia, ou Tailândia. Além disso, 20 formadores de opinião estrangeiros, entre jornalistas e pessoas ligadas ao setor, serão convidados para o Salão Internacional, que ocorrerá dentro da ExpoZebu em maio. Entre eles deverão estar dois egípcios. Possibilidades de negócios Entre os mercados que Simão vê maior potencial de negócios estão, em primeiro lugar, os da América do Sul, principalmente o da Colômbia, país que, de acordo com ele, tem 27 milhões de cabeças de gado. O executivo vê também possibilidades boas na América Central, que podem ser ainda maiores se o os produtores brasileiros conseguirem uma fatia do mercado do México, que já fica na América do Norte. A África também é vista com interesse. Na África há mercado para todos os nossos produtos, pois a pecuária lá está devastada, disse Simão.
Além disso, há a China, que é a menina dos olhos de todos os que lidam com mercado exterior hoje. O governo chinês, segundo Simão, decidiu recentemente comprar 20 mil embriões de bovinos por mês só de gado leiteiro, o que é, segundo ele, mais do que o Brasil produz. O projeto prevê a exportação não só de material genético e gado de corte, mas também de leite. Entre as raças zebuínas destinadas à produção de carne criadas no Brasil, e que devem fazer parte do programa, Simão citou o Nelore, Nelore Mocho, Guzerá e Brahman. No caso de gado leiteiro as raças são Gir e Girolando. O Brasil tem 182 milhões de cabeças de gado, 80% são zebus, afirmou Simão. Vaca louca No final do ano passado, uma nova variável surgiu no caminho do projeto brasileiro de exportação de gado e material genético: A ocorrência de um caso do mal da vaca louca em uma fazenda no estado de Washington (EUA). Com isso vários países, entre eles o Brasil, suspenderam as importações de carne dos EUA. Simão acredita que isso pode ajudar os negócios por aqui. Segundo ele, o medo da contaminação já trouxe efeitos positivos para os exportadores de carne. Neste momento, uma comissão de representantes do setor está visitando o Japão, outro país que suspendeu as compras dos EUA, e posteriormente uma comitiva japonesa virá ao Brasil para avaliar a biossegurança da produção. Isso, em sua avaliação, deverá impulsionar na seqüência os negócios com animais vivos e material genético e, mais para frente, a melhoria genética do plantel brasileiro. Segundo ele, o país não tem hoje animais em quantidade suficiente para atender à demanda dos mercados que podem deixar de comprar dos EUA. Para atender a essa demanda serão necessários investimentos em melhoramento genético, como a correção da garupa dos animais, para colocar mais carne na parte traseira. Isso vai reverter para a melhoria dos produtos, além de abrir novos mercados, ressaltou. Ele acrescentou ainda que, para o Brasil se firmar nesse mercado, é preciso que o governo invista forte em programas de erradicação da febre aftosa, não só no Brasil, mas também nos países vizinhos. Com uma fronteira deste tamanho nós corremos um risco constante, completou. A ABCZ hoje conta com 13 mil associados no Brasil e no exterior e centraliza as atividades relativas ao gado zebu nas áreas técnica, política e econômica. As empresas que fazem parte do Brazilian Cattle Genetics são: ABS Pecplan. Alta Genetics, Agroexport, Brasif Pecuária, Cenatte Embriões, Gencenter, Gertec Embriões, Lagoa da Serra Genética, Yakult, Vitrogen,
Central Bela Vista e Cauêmbryo. Contato ABCZ - (034) 3319-3900 www.abcz.com.br http://www.anba.com.br/ www.inovsi.com.br