LIVRO DIDÁTICO E ENSINO HISTÓRIA: UM ESTUDO DE EIXOS TEMÁTICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL II.

Documentos relacionados
UM ESTUDO DE EIXOS TEMÁTICOS NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL II

UMA ANÁLISE DOS CONTEÚDOS DE PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA NOS LIVROS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE JATAÍ

UMA ABORDAGEM SOBRE COMO TRABALHAR COM IMAGENS DOS LIVROS DIDÁTICOS, ENQUANTO RECURSO PEDAGÓGICO NO ENSINO DE HISTÓRIA

O ENSINO DE HISTÓRIA E O LIVRO DIDÁTICO EM FONTES DE INFORMAÇÃO DISPONÍVEIS EM MÍDIAS DIGITAIS

Práticas linguísticas, currículo escolar e ensino de língua: um estudo inicial.

Instituto de História Colegiado dos Cursos de Graduação em História PLANO DE ENSINO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E INTERDISCIPLINARIDADE: UMA PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO DA PRÁTICA

Palavras-Chave: Prática Formativa. Desenvolvimento Profissional. Pibid.

DIAGNÓSTICO DA UTILIZAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO NO ENSINO DE BIOLOGIA

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Prof. Dra. Eduarda Maria Schneider Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curso Ciências Biológicas Licenciatura Campus Santa Helena

PALAVRAS-CHAVE Educação. Letramento. Extensão e pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História, Currículo, Currículo do Estado de São Paulo.

Conhecimento e imaginação. sociologia para o Ensino Médio

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER PARA AS ESCOLAS MUNICIPAIS DO RECIFE: SUAS PROBLEMÁTICAS E POSSIBILIDADES

PLANO DE ENSINO. Curso: Pedagogia. Disciplina: Conteúdos e Metodologia de Educação Física. Carga Horária Semestral: 40 Semestre do Curso: 7º

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

Agente de transformação social Orientador do desenvolvimento sócio-cognitivo do estudante Paradigma de conduta sócio-política

Prof. Eduarda Maria Schneider Universidade Tecnológica Federal do Paraná Curso Ciências Biológicas Licenciatura Campus Santa Helena

MATEMÁTICA, AGROPECUÁRIA E SUAS MÚLTIPLAS APLICAÇÕES. Palavras-chave: Matemática; Agropecuária; Interdisciplinaridade; Caderno Temático.

APRENDER E ENSINAR: O ESTÁGIO DE DOCÊNCIA NA GRADUAÇÃO Leise Cristina Bianchini Claudiane Aparecida Erram Elaine Vieira Pinheiro

Habilidades Cognitivas. Prof (a) Responsável: Maria Francisca Vilas Boas Leffer

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PRÁTICA TRANSFORMADORA NO ESPAÇO ESCOLAR

A UTILIZAÇÃO DAS FERRAMENTAS SCRATCH E KTURTLE NO ENSINO E PRATICA DA INFORMATICA

Eixo Temático 3-Currículo, Ensino, Aprendizagem e Avaliação

O CURRÍCULO ESCOLAR EM FOCO: UM ESTUDO DE CASO

4 Ano Curso Bacharelado e Licenciatura em Enfermagem

Palavras-chave: Deficiência Intelectual, aluno, inclusão. Introdução

A avaliação no ensino religioso escolar: perspectiva processual

Comunicação Científica de Iniciação à Docência O ENSINO DE ESTATÍSTICA NA ESCOLA

PROGRAMA DE DISCIPLINA

CONSTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE

O LIVRO DIDÁTICO, ESCOLHA E UTILIZAÇÃO: ALGUNS ASPECTOS DO GUIA DIGITAL

DIDÁTICA MULTICULTURAL SABERES CONSTRUÍDOS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM RESUMO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

ASPECTOS DAS RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS NATURAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

CARGA HORÁRIA SEMANAL: 04 CRÉDITO: 04 CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 60 NOME DA DISCIPLINA: FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA HISTÓRIA

Água em Foco Introdução

Texto produzido a partir de interações estabelecidas como bolsistas do PIBID/UNIJUÍ 2

FORMAÇÃO CONTINUADA DE DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR: POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO GRUPAL DE SABERES DOCENTES EM INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE ENSINO

Plano de Ensino Docente

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

Formação inicial de professores de ciências e de biologia: contribuições do uso de textos de divulgação científica

Sugestões para a melhoria da formação pedagógica nos cursos de licenciatura da UFSCar, extraidas dos respectivos relatórios de auto-avaliação

Estágio I - Introdução

ALVARES, M. N. et alii. Valores e temas transversais no currículo. Porto Alegre: Artmed, 2002, 184 p.

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso Licenciatura em Matemática. Ênfase. Disciplina A - Temas Transversais em Educação

SESSÃO DIRIGIDA CURRÍCULO BASEADO EM PROJETOS

A PRÁTICA PEDAGÓGICA E O PROCESSO DE INCLUSÃO DOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NOS ANOS INICIAIS

DELL ISOLA, Regina Lúcia Péret. Aula de português: parâmetros e perspectivas. Belo Horizonte: FALE/ Faculdade de Letras da UFMG, 2013.

LABORATÓRIO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA: UM AMBIENTE PRÁTICO, DINÂMICO E INVESTIGATIVO

O curso terá a duração de 40 horas, com início em 26 de março de 2013 e término em 18 de abril de Além dos quatro módulos de estudo que abordam

VII Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da Faculdade de Educação Física da USP- SEMEF Relato de Experiência

Presente em 20 estados Unidades próprias em Curitiba Sede Administrativa em Curitiba Parque Gráfico em Pinhais - Pr

PROGRAMA DE DISCIPLINA

PIBID - RECURSOS DE ATIVIDADES LÚDICAS PARA ENSINAR APRENDER HISTÓRIA

PLANOS DE AULAS. 2º BIMESTRE - AULA 01 - Data: 24/04/ Tempo de duração: 1 hora 40 TEMA DA AULA: CARACTERIZAÇÃO DA PERSONAGEM

O PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO DO ENSINO PAE E A FORMAÇÃO DOS FORMADORES DO ENSINO SUPERIOR

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

COORDENAÇÃO GERAL DE ENSINO. RS 377 Km 27 Passo Novo CEP Alegrete/RS Fone/FAX: (55)

O ESTÁGIO DOCENTE NA POS-GRADUAÇÃO ESPAÇO OU LUGAR DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO?

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E DIVERSIDADE JUSTIFICATIVA DA OFERTA DO CURSO

Parecer sobre o Projeto Pedagógico do Curso Bacharelado em Tradução e Interpretação em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS)

PROGRAMA DE DISCIPLINA

A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO AGENTE FACILITADOR NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

ESCOLA ESTADUAL SENADOR FILINTO MULLER MARTA ROQUE BRANCO A INSERÇÃO DAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Campus de Presidente Prudente PROGRAMA DE ENSINO. Área de Concentração EDUCAÇÃO. Aulas teóricas:08 Aulas práticas: 08

PLANO DE ENSINO. Disciplina: Fundamentos e Metodologia na Educação de Jovens e Adultos II

LIVRO DIDÁTICO E O ENSINO DE HISTÓRIA

POLÍTICAS DE CURRÍCULO PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL ( ): DISPUTAS DISCURSIVAS PARA A FIXAÇÃO DE UMA IDENTIDADE PARA O PROFESSOR

MAIS RESENHA: UMA PROPOSTA PARA FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO NA ESCOLA

A INTERDISCIPLINARIDADE COMO EIXO NORTEADOR NO ENSINO DE BIOLOGIA.

Plano de Ensino Docente

ENSINO DE GEOMETRIA NOS DOCUMENTOS OFICIAIS DE ORIENTAÇÃO CURRICULAR NO ENSINO MÉDIO: BREVE ANÁLISE

Dom+Coordenação. Planejamento Curricular Uma oportunidade para repensar

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM QUIMICA DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO NA ESCOLA CÔNEGO ADERSON GUIMARÃES JÚNIOR

A INSERÇÃO DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE SOMBRIO

INTERDISCIPLINARIDADE NA BNCC: QUAIS PERSPECTIVAS?

IV Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência

EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE PEDAGOGIA/IRATI (Currículo iniciado em 2009)

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PLANO DE ENSINO. Curso: Pedagogia. Disciplina: Conteúdos e Metodologia de Língua Portuguesa. Carga Horária Semestral: 80 Semestre do Curso: 6º

Atividade externa Resenha. MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva, p.

A base foi aprovada, e agora? Reflexões sobre as implicações da BNCC para o currículo da Educação Infantil e do Ensino Fundamental

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO

Instituto de História Colegiado dos Cursos de Graduação em História PLANO DE ENSINO

AVALIAÇÃO: INSTRUMENTO DE ORIENTAÇÃO DA APRENDIZAGEM

A TECNOLOGIA NAS DIRETRIZES CURRICULARES DA PEDAGOGIA: UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS RESOLUÇÕES DE 2006 E

IV Jornada de Didática III Seminário de Pesquisa do CEMAD A PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES SOBRE PLANEJAMENTO E A AÇÃO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR

A QUÍMICA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE CURRICULAR

PROGRAMA DE DISCIPLINA

ABORDAGENS DA HISTÓRIA DA ÁFRICA NO CURRÍCULO REFERÊNCIA DA REDE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE GOIÁS

CURSO DE VERÃO. PROPOSTA: Com a intenção de atender aos diferentes atores interessados na temática da disciplina,

VISÃO GERAL DA DISCIPLINA

CURRÍCULO E PLANEJAMENTO: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

CONTEÚDOS MATEMÁTICOS NOS CURRÍCULOS NACIONAIS Z A Q U E U V I E I R A O L I V E I R A

AÇÃO PEDAGÓGICA NAS CRECHES: CONTRIBUIÇÕES PARA O PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ENSINO MÉDIO INTEGRADO: Princípios, conceitos e relações com a pedagogia de multiletramentos

PALAVRAS-CHAVE: Currículo escolar. Desafios e potencialidades. Formação dos jovens.

ENSINANDO UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA ALUNOS SURDOS: SABERES E PRÁTICAS

Transcrição:

LIVRO DIDÁTICO E ENSINO HISTÓRIA: UM ESTUDO DE EIXOS TEMÁTICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL II. Isabella Santana Oliveira 1 Resumo: Esta pesquisa visa à análise dos eixos temáticos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de História, no quarto ciclo do Ensino Fundamental público da rede estadual da cidade de Itabuna. A pesquisa está sendo realizada com professores de 7ª e 8ª séries de cinco unidades escolares previamente selecionadas e estamos propondo uma discussão acerca da compreensão e aplicação dada aos conteúdos e currículos apresentados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. Além disso, este estudo analisa os conteúdos dos livros didáticos adotados pelas escolas participantes da pesquisa, pois pretende visualizar até que ponto as sugestões dos Parâmetros estão inseridas nestes materiais didáticos e de que forma estão sendo utilizados em sala de aula. Palavras-chave: Ensino de História. Parâmetros Curriculares Nacionais. Livro Didático. UMA DISCUSSÃO ACERCA DO LIVRO DIDÁTICO E DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL II. O ensino de História nas escolas públicas brasileiras sempre foi foco de discussões tanto por conta de suas práticas metodológicas e aperfeiçoamento de materiais didáticos quanto pela necessidade de aprimoramento dos profissionais da área e de seus currículos estando aí inseridos diretamente os conteúdos que são aplicados em sala de aula. Nesta relação professor/conteúdo/educando o que mais importa não é o conteúdo em si, mas a forma como estes são transmitidos, seja através do uso de um livro didático ou de outros meios mais acessíveis à realidade escolar do profissional e do educando. Neste sentido podemos perceber que a maioria dos professores de escolas públicas, por conta de variadas situações (falta de tempo, excesso de trabalho, formação inadequada, etc.), fixa seu conteúdo a partir do que está inserido no livro didático de História, muitas vezes 1 Graduação em andamento no curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz/BA. bellasantanaoliveira@hotmail.com

ignorando a realidade na qual o seu aluno está inserido. Esta situação deixa de lado a percepção de que todo conteúdo é construção (CABRINI, 2000, pg.63) e por conta disso a disciplina é relegada, pelos estudantes, e apontada apenas como o estudo do passado, sem que eles se percebam agentes históricos. Assim sendo, percebendo o livro didático como um instrumento presente no cotidiano do processo de ensino-aprendizagem principalmente no Ensino Fundamental se faz necessário discutir o quanto este livro pode estar influenciando a construção de um saber histórico crítico na escola, até que ponto ele induz o aluno a afirmar preconceitos e como pode ajudar a desenvolver as capacidades cognitivas dos educandos. O uso do livro didático, aqui, não será descartado ou criminalizado. O que se pretende nesta pesquisa, ainda em fase de coleta de dados, é mostrar até que ponto o professor pode se orientar por um currículo inovador e transformador, adequando as informações do livro didático a esse currículo e à realidade do seu aluno, para que este possa se expressar e pensar criticamente a sociedade à sua volta. Esta proposta está explícita nos Parâmetros Curriculares Nacionais 1 para o Quarto Ciclo do Ensino Fundamental II 7ª e 8ª séries. Publicados em 1998, os PCN s para o Ensino Fundamental II concebem a educação como uma prática transformadora da sociedade, trazendo duas questões básicas na sua proposta: a interdisciplinaridade e a transversalidade de temas os quais devem estar presentes nas discussões de todas as disciplinas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados procurando, de um lado, respeitar diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país e, de outro, considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras. (MEC/SEF, 1998, pg.09). De modo geral os PCN s têm a intenção de construir uma base nacional curricular que sirva de orientação para estados e municípios na construção de suas próprias diretrizes curriculares e, que sirva de apoio ao desenvolvimento da educação nas escolas, da cidadania 1 Abreviaremos, a partir deste ponto, o termo Parâmetros Curriculares Nacionais para PCN s.

3 na sociedade, da reflexão quanto à prática pedagógica e planejamento do processo educativo, bem como à análise e seleção de materiais e recursos didáticos. Refletindo sobre o currículo, a proposta dos PCN s interfere diretamente na produção, seleção e uso do livro didático escolar, pois a partir de seus fundamentos e objetivos é que os conteúdos escolares e currículos de História devem ser arranjados, adequando-se à realidade escolar e do educando. Neste sentido, a presente pesquisa pretende colocar este debate no contexto regional analisando como as orientações dos PCN s estão dispostas nos livros didáticos adotados por algumas escolas públicas da cidade de Itabuna principalmente após terem convivido com o manual didático por mais de dois anos, já que estes foram adotados para o período 2006- e como os professores de História estão utilizando este material em sala de aula, trazendo para a sua realidade novas práticas e conteúdos. A proposta de uma base curricular nacional comum para o Ensino Fundamental parte do pressuposto de que a prática educativa possui uma complexidade e que por esse motivo o professor deve ser auxiliado no seu exercício profissional. Além disso, os PCN s pretendem contribuir de forma relevante para que sejam realizadas transformações, que há muito tempo são desejadas, no meio educacional público brasileiro. Os PCN s não se apresentam como uma imposição, mas sim como uma proposta aberta e flexível, que desde sua publicação em 1998 no caso dos PCN s para o Fundamental II visam à implantação gradual destes de forma que cada Estado concretize, juntamente com as escolas, as propostas ali apresentadas, podendo aproveitar o que melhor se encaixe na realidade educacional na qual serão inseridas. Os PCN s oferecem diretamente propostas de aperfeiçoamento do profissional da educação bem como de sua prática pedagógica. Concomitante a isso, eles projetam o aluno como parte do processo de ensino-aprendizagem, que para a área de História enriquece a construção do saber escolar histórico e torna o aluno um agente de observação, interpretação e transformação do meio no qual se insere. A proposta para o Quarto Ciclo do Ensino Fundamental dentro dos PCN s se apresenta em duas partes: na primeira verificamos a presença de algumas concepções curriculares para área de História, uma caracterização do saber histórico escolar, a apresentação dos objetivos da área para o Ensino Fundamental e a articulação que a disciplina deve ter/fazer com os temas transversais.

Num segundo momento do documento são apresentadas propostas de ensino e aprendizagem para as séries finais do Ensino Fundamental, objetivos, conteúdos e avaliações dos ciclos bem como orientações didáticas para uso em sala de aula e para a utilização específica do professor, visando assim seu aprimoramento na formação. O Documento nacional toca no cerne que diz respeito ao material didático a ser adotado bem como na ação de como estes conteúdos devem ser apresentados ao aluno e ao professor. Desta forma podemos perceber a preocupação com uma transmissão crítica dos temas em sala de aula e nos livros didáticos, pois a forma de trabalhar do professor é que vai delimitar ou ampliar o que está contido no livro de História. CABRINI (2000) aborda estas questões e em sua obra Ensino de História: revisão urgente discute a prática do professor no uso inadequado de materiais ou no uso de materiais inadequados como fator relevante para o desinteresse dos educandos pela disciplina e como ponto crucial na disseminação de ideologias e preconceitos em sala de aula. Ou seja, a autora defende uma transmissão de conteúdos em que o professor é mediador do saber e estimula seus alunos a desenvolverem senso crítico histórico dos fatos, além de oferecer propostas de trabalho com outros materiais, como documentação primária e imagens. A autora de O livro didático de História no Brasil: a versão fabricada também debate a questão do livro e do conteúdo nele contido de forma a avaliar o seu uso no espaço escolar. FRANCO (1982), que faz uma análise no segundo grau de escolas públicas sobre o que os professores utilizam para ministrar as suas aulas, percebe o livro didático como um mecanismo presente por conta da falta de tempo ou de recursos, que vão obrigar o professor a limitar sua atuação pelos conteúdos contidos neste. Além de tudo, a autora destaca o caráter de mercadoria do livro didático uma questão também levantada por CASSIANO (2004) que apesar de ser pago pelos alunos ou pelos seus pais, através dos impostos não são escolhidos a partir deles ou por eles, mas sim impostos a eles. Essa imposição, segundo a autora, vai determinar uma aproximação ou distanciamento da realidade fazendo com que aluno não se perceba no processo histórico e apenas reproduza ideologias. É a autora também que coloca em debate a necessidade de adequação da linguagem dos livros para a realidade do aluno e particularidades regionais, tema que se apresenta constantemente na proposta dos PCN s.

5 CAIMI, et.al. (1999), na construção de suas argumentações da obra O livro didático e o currículo de História em transição, discute a disparidade que, muitas vezes, está presente entre o conteúdo contido no livro didático em muitos casos, ainda mantendo posturas tradicionais e lineares e o currículo proposto para a disciplina de História nas escolas. CAIMI, et.al. (1999) também trás em sua obra os motivos mais freqüentes para que o professor supervalorize o livro didático e o torne sua referência principal, são eles: o conteúdo seqüenciado e simplificado; apresentação de sugestões para planejamento; facilidade de manuseio; nele podem ser encontrados outros instrumentos didáticos de forma simplificada; e o excesso de carga horária de trabalho. Mais, uma vez o livro aparece não como aliado, mas como uma opção prática e simplificada. As políticas públicas voltadas para o livro didático estão diretamente relacionadas com o período do estado Novo, que foi o momento crucial de se pensar o livro como lugar privilegiado na formação da nacionalidade (MIRANDE & DE LUCA, 2004, pg. 124-5). No momento atual da educação se fala muito em afirmação da identidade nacional, valorização das culturas locais, aceitação das diferenças e peculiaridades no outro e inserção da realidade do aluno no processo de ensino-aprendizagem. Ou seja, o livro assumiu novas funções diante do cenário educacional da atualidade. O livro didático é tão importante no processo de ensino e aprendizagem que existe um Grupo de Trabalho e Discussão coordenado pelo Professor Kazumi Munakata na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e na internet. MUNAKATA (2004) inclusive é autor de diversos escritos que tratam da temática dos livros didáticos, como por exemplo, o artigo Dois manuais de história para professores: histórias de sua produção, o qual faz um breve histórico do processo de implantação e construção do livro didático no Brasil a partir de 1952, ano em que se realizou a Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino (CALDEME). Com tantos papéis assumidos ao longo da história o livro didático deve ser tratado em seus aspectos materiais que estão diretamente ligados às leis de mercado pois estes interferem diretamente em seus aspectos educacionais que implicam no currículo e conteúdos de História. É necessário perceber os papéis que o livro alcança sociais, culturais e educacionais para dimensionar seu impacto na formação dos cidadãos que já convivem na sociedade. Percebendo o livro como parte do universo da cultura escolar será mais fácil compreender as práticas escolares ligadas ao seu uso, além disso, no contexto regional a

análise da aplicabilidade, na rede pública, da proposta dos eixos temáticos dos PCN s, se faz necessária, pois vai ajudar a perceber em que medida os professores compreendem e aplicam os conteúdos, currículos e materiais indicados nestes documentos para a área de História. A PESQUISA A problemática é instigante para o contexto regional, pois não há maiores aprofundamentos das discussões em torno do tema para a área de História e, além disso, trás à tona uma investigação crítica do que realmente está sendo ensinado em sala de aula depois da proposta curricular nacional dos PCN s, que sugeriu melhorias estruturais (físicas e pedagógicas) para as escolas. No contexto das produções voltadas para a educação na área de Licenciatura em História na região, pouco se discutiu, até hoje sobre as políticas públicas voltadas para o livro didático de História, que será uma ferramenta presente e constante, se não fundamental, para os historiadores/educadores que estão se formando na região. Por conta dos PCN s trazerem uma proposta curricular nacional para o ensino público geral o alvo desta pesquisa são as escolas públicas da cidade de Itabuna, o que amplia o leque de opções para a pesquisa em campo e discute o ensino numa esfera que, apesar de ser paga por todos os cidadãos, ainda não oferece condições plenas de qualidade. Para realizar este trabalho se faz necessário a pesquisa em campo de cinco unidades escolares da cidade de Itabuna, que foram selecionadas após visitas técnicas em cada uma. São elas: o Colégio Estadual Josué Brandão, o Colégio Estadual de Itabuna, o Centro Integrado Oscar Marinho Falcão, o Colégio Polivalente de Itabuna e o Colégio Sesquicentenário (CISO). Nas escolas serão selecionados de acordo com a disponibilidade de cada um os professores da área de História que lecionem nas últimas séries do Fundamental II 7ª e 8ª ou seja, o Quarto Ciclo, pois eles serão parte integrante da análise dos objetivos desta pesquisa, que percebe a prática pedagógica do professor de História como fundamental para desenvolver o senso crítico do educando. Os livros adotados pelas escolas serão analisados baseados em alguns aspectos, tópicos e questões que surgiram com as leituras de referência e de acordo com a necessidade do tema proposto.

7 Em suma, o que se pretende com esta pesquisa é chamar a atenção dos professores de História que atuam na rede pública e os futuros professores que estão se formando sobre a importância de se conhecer as políticas públicas voltadas para a educação, em específico para a disciplina histórica, pois são estas referências que irão direcionar uma prática mais adequada à realidade escolar em que se atua e que contribuirão para a construção e prática de um currículo real da disciplina na sala de aula. REFERÊNCIAS BITTENCOURT, Circe. Livro didático e conhecimento histórico: uma história do saber escolar. São Paulo: FEUSP, Tese de Doutorado, 1993. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Documento introdutório. Brasília: MEC/SEF, 1996.. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental: História. Brasília: MEC/SEF, 1998. CABRINI, Conceição. et. al. Ensino de História: revisão urgente. ed. rev. e ampl. São Paulo: EDUC, 2000. CAIMI, Flávia Eloísa Caimi. O livro didático: algumas questões. In: DIEHL, Astor Antônio. (Org.). O Livro didático e o currículo de história em transição. Passo Fundo: Ediupf, 1999. CASSIANO, Célia Cristina de Figueiredo. Aspectos políticos e econômicos da circulação do livro didático de História e suas implicações curriculares. In: http://www.scielo.br/pdf/his/v23n1-2/a03v2312.pdf. Acesso em: 03 de junho de 2009. CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. O livro escolar como fonte de pesquisa em História da Educação. In: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v20n52/a02v2052.pdf. Acesso em: 14 de maio de 2009. FARIA, Ana Lúcia G. de. Ideologia no livro didático. São Paulo: Cortez, 1991. FERNANDES, Antônia Terra de Calazans. Livros didáticos em dimensões materiais e simbólicas. In: http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n3/a11v30n3.pdf. Acesso em: 03 de junho de 2009. FRANCO, Maria Laura P. Barbosa. O livro didático de História no Brasil: a versão fabricada. São Paulo: Global, 1982. FRANÇA, Júnia Lessa. VASCONCELLOS, Ana Cristina de. Manual para normatização de publicações técnico-científicas. 8. ed. rev. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2009. FREITAG, Bárbara. O livro didático em questão. São Paulo: Cortez, 1989.

LOPREATO, Christina da Silva. (Org.). O livro didático em discussão. vol.2. ano II. Uberlândia: LEAH, 1995. MARTINO, Vânia Fátima. O ensino de História nas séries iniciais do Ensino Fundamental: um estudo dos eixos temáticos. In: Revista Urutágua. nº. 18. 2009. pg.20-28. MIRANDA, Sônia Regina. LUCA, Tânia Regina de. O livro didático de história hoje: um panorama a partir do PNLD. In: http://www.scielo.br/pdf/rbh/v24n48/a06v24n48.pdf. Acesso em: 13 de maio de 2009. MUNAKATA, Kazumi. Dois manuais de história para professores: histórias de sua produção. In: http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n3/a10v30n3.pdf. Acesso em: 13 de maio de 2009. VIEIRA, Maria do Pilar Araújo. PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. KHOURY, Yara Maria Aun. A Pesquisa em História. São Paulo: Ática, 1989.