O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO DO ALUNO COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (TDAH)

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Transcrição:

O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO DO ALUNO COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (TDAH) Bárbara Alquimena Heck Maia Nobre Email: babi_heck@hotmail.com Karina de Mendonça Vasconcellos Email: prof.karinavasconcellos@gmail.com RESUMO O Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é um transtorno comportamental que aparece na infância e possui como principais características a desatenção, inquietude e impulsividade. Devido a isso, uma criança afetada pode apresentar dificuldades no âmbito escolar que podem acarretar em fracasso. Dessa forma, o objetivo do trabalho em questão é compreender o papel do professor na aprendizagem do aluno com o transtorno. Para tanto, é importante reconhecer as especificidades e fazer adaptações necessárias para atender efetivamente o indivíduo. O artigo se subdivide em duas seções: a primeira visa o conhecimento sobre o transtorno, contendo uma breve explanação sobre a temática e conceituação, etiologia, diagnóstico e tratamento. Já a segunda parte refere-se à aprendizagem do aluno com TDAH e o papel do docente frente à situação. PALAVRAS-CHAVE: Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Criança. Professor. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objetivo compreender o papel do professor na aprendizagem do aluno com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). Para tanto, faz-se necessário conhecer o transtorno e como ele afeta a vida de um indivíduo. Alguns autores o tratam como uma doença ou um distúrbio, mas entende-se que é um transtorno comportamental que apresenta seus primeiros sintomas na infância, trazendo consequências para a vida escolar e adulta. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais/DSM-5 (2014), a partir da visão da psiquiatria, é conceituado da seguinte forma: O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento definido por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividadeimpulsividade. Desatenção e desorganização envolvem incapacidade de permanecer em uma tarefa, aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento. Hiperatividade-impulsividade implicam atividade excessiva, inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão em atividades de outros 1

e incapacidade de aguardar - sintomas que são excessivos para a idade ou o nível de desenvolvimento. É classicamente caracterizado por alterações dos sistemas motores, perceptivos, cognitivos, de comportamento, comprometendo o aprendizado de crianças com potencial intelectual adequado (POSSA et. al, 2005, p. 479). Conforme o DSM-5 (2014), a prevalência do TDAH ocorre em cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos. Possa et al. (2005) afirma que a prevalência do TDAH ocorre, em sua maioria, em indivíduos do sexo masculino, no meio urbano e aumenta em função de condições socioeconômicas precárias. O TDAH traz repercussões na formação das crianças por ser um transtorno de aprendizagem e possuir maior incidência na infância. As características muitas vezes são vistas na escola, onde as crianças passam grande parte do tempo. Sendo assim, fica perceptível ao educador os sintomas apresentados pelo aluno. Dessa forma, o professor tem papel importante no diagnóstico e na condução do aluno com o transtorno, pois o mesmo reflete diretamente em seu desempenho e está associado com o fracasso escolar. Frente a isso, à grande prevalência, ao número crescente de diagnósticos e às possíveis consequências nota-se a relevância do tema. 2 O TDAH 2.1 ETIOLOGIA Muitos autores associam a causa do TDAH a fatores ambientais e genéticos e/ou hereditários, porém, ainda não existem dados de pesquisa conclusivos quanto a real origem do transtorno. A Associação Brasileira do Déficit de Atenção (s/d) acredita que fatores como hereditariedade, substâncias ingeridas na gravidez, sofrimento fetal, exposição a chumbo, problemas familiares, entre outros, podem ocasionar. Sena e Souza (2008) chamam atenção à questão familiar como fator desencadeador, através de cuidados durante a gravidez e interação familiar com o sujeito. As autoras ressaltam a 2

importância de um bom acompanhamento de pré-natal e apoio as famílias em condição de risco social. De acordo com uma pesquisa realizada por Pires, Silva e Assis (2012), brigas entre os pais ou responsáveis, conflitos familiares, violência familiar atingem emocionalmente as crianças e se associam ao surgimento do TDAH. O estudo constatou que famílias que apresentam essas características possuem 2,7 vezes mais indivíduos com o transtorno do que famílias com estratégias mais funcionais. A presença de agressão verbal da mãe sobre a criança, manifestada por atos como xingamentos, irritação da criança e destruição de objetos, é aspecto fundamental para a ocorrência de TDAH (PIRES; SILVA; ASSIS, 2012, p.629). 2.2 DIAGNÓSTICO No que se refere ao TDAH, não há consenso em relação aos critérios de diagnóstico e a idade em que os sintomas começam a aparecer. Sabe-se que se origina na infância, em crianças em idade escolar, porém, a idade na qual a criança começa a transparecer os primeiros indícios presentes no transtorno ainda não é certa, sendo divergente entre os autores. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais/DSM-5 (2014), os sintomas começam a aparecer em crianças menores de 12 anos de idade. Para Sena e Souza (2008, p. 247) os sintomas devem ter início antes dos seis anos de idade e serem evidentes em diferentes contextos. Mattos et al (2006) questiona o diagnóstico realizado em crianças menores de 7 anos devido à ausência de fundamentação empírica, estabelecendo dificuldades práticas. De acordo com o DSM-5 (2014), o sujeito que possui TDAH deve apresentar seis ou mais sintomas em um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividadeimpulsividade por pelo menos seis meses e ser manifesto em mais de um ambiente, como por exemplo, na escola e em casa. O Manual utiliza como exemplo de desatenção a dificuldade em manter o foco em atividades lúdicas, não conseguir terminar trabalhos escolares, não seguir instruções até o fim, entre outros. Já em relação à hiperatividade/impulsividade, o 3

sujeito tende a levantar várias vezes da cadeira em situações em que espera-se que permaneça sentado, fala demais, responde perguntas antes mesmo delas serem concluídas, entre outros. Os sintomas de TDAH costumam ser mais evidentes em ambiente escolar em função da imposição de limites e regras e da comparação com o comportamento de outras crianças. Dessa forma, os educadores podem identificar sintomas que passam despercebidos aos pais, embora os primeiros não conheçam, em sua maioria, tais sintomas. Os professores não são, entretanto, responsáveis pelo diagnóstico ou tratamento do TDAH, mas importantes sinalizadores dos sintomas desse transtorno (SENA; SOUZA, 2008, p. 253). Graeff e Vaz (2008) ao fazerem menção ao diagnóstico do TDAH acreditam é um processo que envolve muita reflexão, conhecimento teórico acerca do transtorno e um profissional com experiência clínica. De Souza et al (2007, p. 15) afirma que o processo de diagnóstico é complexo não só pelo caráter dimensional dos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade, mas também pela alta freqüência de comorbidades psiquiátricas apresentadas pelos pacientes. Para haver o diagnóstico do TDAH, faz-se necessário realizar uma entrevista com os pais da criança, buscar informações na escola e não apenas examinar o indivíduo (COUTINHO et al, 2009). Maia e Confortin (2015) relatam a necessidade de um profissional especializado para realizar o diagnóstico, ou seja, a junção entre profissionais que acompanham o caso da criança (médico psiquiatra, psicólogo, terapeuta, pedagogo, psicopedagogo) a fim de efetivar o diagnóstico. Coutinho et al (2009) argumenta que os professores são os primeiros a indicar que a criança possivelmente tem TDAH, mostrando a necessidade de relato da escola para o diagnóstico. Já Graeff e Vaz (2008) reforçam a importância da troca de informações entre os diversos profissionais para que dessa maneira possam chegar num entendimento global do caso em questão. É indispensável que o profissional tenha conhecimento clínico de psicopatologia e que possa se valer de outros recursos (como escalas, testes 4

psicológicos e neuropsicológicos) e de outros profissionais para auxiliá-lo nessa tarefa (GRAEFF; VAZ, 2008, p. 342). 2.3 TRATAMENTO Muitos autores e profissionais mencionam o uso do metilfenidato para tratamento do transtorno. Essa substância está presente na Ritalina, que é um dos medicamentos mais utilizados. Quando necessário, o medicamento é acompanhado da psicoterapia. Devido ao transtorno se tornar mais conhecido e existir um acesso fácil a informações sobre o mesmo, há um crescimento no número de indivíduos diagnosticados. Em consequência a isso, aumenta-se o número de indivíduos que fazem uso de medicamentos e isso se torna vantajoso para indústria farmacêutica. Meira (2012) acredita que os grandes laboratórios estimulam o uso de remédios com o intuito de resolver os problemas que o ser humano possui através do controle psicofarmacológico. O acompanhamento médico, psicopedagógico e de assistência social ao sujeito com TDAH deve ser sempre utilizado, independente do uso de medicamentos ou não (MAIA; CONFORTIN, 2015). Segundo Funayama (2008, p. 42) o tratamento medicamentoso contribui para normalização do comportamento do indivíduo, enquanto outras formas de ação terapêutica estão sendo utilizadas. Através de uma pesquisa realizada por Landskron e Sperb (2008) em professoras das séries iniciais e do ensino fundamental, constatou-se que muitas delas indicaram que o medicamento traz uma mudança no comportamento, auxiliando na concentração e reduzindo a agitação dos alunos. O tratamento do TDAH é multimodal, envolvendo intervenções psicossociais e psicofarmacológicas (GOMES et al, 2007, p.95). No entanto, outros autores defendem que há casos em que as crianças podem ser tratadas apenas com terapia comportamental e, em situações mais graves, deve haver uma ação multidisciplinar, englobando os pais, professores, médicos e a utilização de medicamentos (MUZETTI; DE LUCA VINHAS, 2011, p. 247). 5

3 A APRENDIZAGEM DO ALUNO COM TDAH NA ESCOLA O TDAH apresenta na educação características que podem levar ao fracasso escolar. Muzetti e De Luca Vinhas (2011) consideram que os sujeitos com o transtorno possuem uma autoestima baixa e se veem em inúmeros insucessos, tanto no âmbito escolar, como familiar e social, pois não respondem às expectativas, e são sempre criticados ou se autocriticam com facilidade. Para o professor entender seu papel frente a um aluno com TDAH, faz-se necessário conhecer o transtorno. O despreparo dos professores gera um fracasso escolar para si e para o aluno, pois a má compreensão do indivíduo com TDAH pode aumentar a inquietação, desatenção, irritação, prejudicando a comunicação em sala de aula (MAIA; CONFORTIN, 2015). Ao realizar uma pesquisa, Landskron e Sperb (2008) identificaram que o conhecimento das professoras participantes estava restrito às características presentes no transtorno. Algumas apresentaram outras características que não possuem relação com o TDAH, demonstrando ausência de conhecimento sobre a temática. Os professores precisam estudar e discutir mais sobre o tema, as escolas precisam se preparar melhor para receber esses alunos, a gestão e a equipe pedagógica precisam ter tempo hábil para trabalhar com alunos com TDAH (SILVA, 2015, p. 229). Para que a criança adquira um bom desempenho e progresso em sala de aula, o ideal é criar uma junção de estratégias. Elogiar, dar respostas positivas, criar um programa de recompensas, são algumas das alternativas (BARKLEY, 2007). De acordo com Cunha (2012), propiciar atividades do interesse da criança, colocá-la sentada próxima ao docente, alternar atividades de baixo e alto interesse, criar uma rotina clara e previsível, dar reforços positivos para ajudar a aumentar a autoestima, são algumas das estratégias que o professor pode adotar. Os alunos com TDAH apresentam dificuldades no processamento das informações, que comprometem as faculdades cognitivas de atenção e memória, bem como a motivação para aprender. Tendo por objetivo adequar o processo de ensino e aprendizagem às reais capacidades 6

desses alunos, o professor precisa criar e manter um ambiente estruturado e estável, informando o aprendiz sobre os objetivos concretos das tarefas, mediante instruções não somente orais, mas também visuais. Importam, do mesmo modo, a disposição das cadeiras em fileira, o estabelecimento de rotina com regras da sala, períodos curtos para a realização de tarefas, como também a alternância do exercício intelectual e físico, permitindo, assim, a movimentação regular do aluno. As metodologias de ensino e avaliação devem enfatizar estratégias atencionais, com o uso de: frases curtas, claras e objetivas; conceitos chave; pausas periódicas durante as explicações e organização das informações com os conhecimentos já construídos pelo aluno (ALENCAR, apud FERNANDES; VIANA, 2009, p.314-315). O ensino a alunos com TDAH deve ser significativo, participativo e questionador, deve motivar e envolver os alunos, a fim de que eles não sejam impelidos a buscar, durante as aulas, atividades paralelas que liberem a sua energia e criatividade (REIS; CAMARGO, 2008, p. 96). Quando necessário, deve haver uma flexibilidade e adaptação no currículo escolar para o aluno com necessidades educacionais especiais, promovendo um currículo dinâmico, alterável e passível de ampliação (TAVARES, 2008). Para Fernandes e Viana (2009) o professor deve estimular a capacidade do aluno para que dessa forma a criança possa superar os fracassos que houve e os que poderiam surgir. Já a escola deve acolher e incluir todos os alunos, sem exclusão, tirando proveito de cada um e promovendo atendimento especifico para cada particularidade. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS É fundamental que a escola atual aprimore suas ações pedagógicas, visando o atendimento às diferenças (DE ALMEIDA et al, 2007, p. 330). Para tanto, a educação inclusiva se faz muito importante ao sujeito com TDAH, pois, dessa forma a criança pode desenvolver sua capacidade com a segurança de que a escola irá se adaptar as necessidades individuais de cada um a fim de consagrar a aprendizagem ao aluno e evitar exclusões. Dentro dessa perspectiva inclusiva visando garantir igualdade de acesso e permanência na escola, fica evidente a importância do professor, pois sua atuação é 7

imprescindível no processo de aprendizagem do aluno. Perceber as diferenças dos alunos, fazer as adaptações em sala de aula são alguns dos papéis do docente. Ter conhecimento sobre o transtorno é de extrema importância para saber lidar e adaptar o ensino da maneira mais efetiva ao indivíduo com TDAH, então é fundamental que a temática seja mais discutida nas universidades e na formação inicial e continuada dos professores. Formar o professor, então, é muito mais que informar e repassar conceitos; é prepará-lo para um outro modo de educar, que altere sua relação com os conteúdos disciplinares e com o educando (DE ALMEIDA et al, 2007, p. 336). Sendo assim, é notório o papel e a importância do docente no ensinoaprendizagem do indivíduo com TDAH, porém, o trabalho deve ser conjunto, envolvendo também a escola, a família e os profissionais que atuam no tratamento da criança, pois dessa forma é possível obter um resultado satisfatório, fazendo com que o sujeito supere todas as possíveis dificuldades que possam vir a surgir. REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5a ed.). Porto Alegre: Artmed, 2014. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO ABDA. O que é o TDAH. Disponível em: <http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.html> Acesso em: 30 Jun. 2016. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO ABDA. Diagnóstico em crianças. Disponível em: <http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.html> Acesso em: 12 Jul. 2016. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO ABDA. Tratamento. Disponível em: <http://www.ongtdah.org.br/br/sobre-tdah/tratamento.html> Acesso em: 27 Jul. 2016. BARKLEY, Russel A.. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade TDAH. Porto Alegre: Artmed, 2007. COUTINHO, Gabriel et al. Concordância entre relato de pais e professores para sintomas de TDAH: resultados de uma amostra clínica brasileira. Rev. psiquiatr. 8

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