PREVALÊNCIA DE DOR DECORRENTE DA EPISIOTOMIA NO PÓS- PARTO IMEDIATO DAS PUÉRPERAS DO HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO SC PREVALECY OF DECURRENT PAIN OF THE EPISIOTOMY IN THE IMMEDIATE CHILDBIRTH OF THE PUEPERAS OF THE HOSPITAL OURS LADY OF CONCEICAO SC Mariele Soares Graciano 1 ; Amanda Jung Prates Hartmann 2. 1 Fisioterapêuta e professora da disciplina ginecologia e obstetrícia do curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL. 2 Estagiária do curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL. Trabalho realizado no Hospital Nossa senhora da Conceição, Tubarão SC, da Universidade do Sul de Santa Catarina UNISUL. RESUMO O objetivo deste trabalho é qualificar o grau de dor decorrente da episiotomia das puérperas no pós parto imediato, verificar a relação da idade, número de gestações e posicionamento com o grau de dor das puérperas do HNSC Tubarão/SC, durante o período de maio a setembro de 2006. A amostra estudada foi composta de 100 puérperas do alojamento conjunto no HNSC, as quais realizaram parto via vaginal com episiotomia. Os instrumentos utilizados consistiram de um questionário e uma escala análoga visual de dor destinados as puérperas selecionadas. Os dados foram tratados de forma estatística e apresentados na forma de gráficos. Os resultados obtidos revelaram que 93,0% sentiram dor na região da episiotomia sendo desde dor leve, moderada a severa e a predominância foi em jovens entre 15 a 25 anos sendo a maioria multigestas. Em relação ao posicionamento das puérperas no momento da entrevista a maioria apresentavam-se deitadas. Este sentido, a efetiva inclusão do fisioterapeuta no pré e pós-parto torna-se imprescindível, a fim de aliviar o desempenho físico, melhorar a dor na região perineal, bem como favorecer a cicatrização do local. Palavras - chave: episiotomia, dor, fisioterapia.
ABSTRACT The objective to characterize the degree of decurrent pain of the episiotomy of puérperas in the one after immediate childbirth, to verify the relation of the age, number of gestations and positioning with the degree of pain of puérperas of the HNSC - Tubarão/SC, during the period of May the September of 2006. The studied sample was composed of 100 puérperas of the joint lodging in the HNSC, which had carried through childbirth saw vaginal with episiotomy. The used instruments had consisted of a questionnaire and a visual analogous scale of selected pain destined puérperas. The data had been dealt with form statistics and presented in the form of graphs. The results had disclosed that 93.0% had felt pain in the region of the episiotomy being since light pain, the severe one moderate and the predominance was in young between 15 the 25 more than one childbirth years being the majority. In relation to the positioning of puérperas at the moment of the interview the majority was presented lying. In this direction, the effective inclusion of the physiotherapist in the daily pay and after-childbirth becomes essential, in order to alliviate the physical performance, to improve pain in the perineal region, as well as favoring the scaring of the place. Key-words: episitomy, pain, physiotherapy INTRODUÇÃO A episiotomia etiologicamente é o corte do púbis, mas exprime hoje a secção do períneo (RESENDE 2005, p. 348). Polden e Mantle (2000), define episiotomia como uma incisão cirúrgica no períneo para aumentar o orifício vaginal. Nos Estados Unidos, 50 a 90% das primíparas são submetidas à episiotomia, o que torna essa técnica o ato cirúrgico mais freqüente deste país. Outros centros são mais conservadores quanto ao uso da episiotomia. Nos Países Baixos, a prevalência gira em torno de 24,5% das parturientes (BRASIL, 2001). Uma revisão sistemática da Biblioteca Cochrane sobre a prática e os efeitos da episiotomia, comparando o uso de rotina com o uso em casos em que ela realmente havia indicação mostrou que em somente 27,6% das mulheres havia indicação para o ato. Nesse mesmo trabalho foi mostrado que a episiotomia de uso restrito associou-se a menor risco de trauma de períneo posterior, necessidade de sutura ou complicações de cicatrização, porém o uso restrito associou-se o maior risco de trauma de períneo anterior (BRASIL, 2001). O objetivo da episiotomia é impedir ou minorar o trauma dos tecidos do canal do parto, favorecendo a descida e liberação do feto, especialmente de seu pólo cefálico, evitando assim lesões desnecessárias a que a cabeça do concepto está submetida por motivo da impulsão violenta sofrida de encontro a um períneo resistente. A mesma deve ser realizada imediatamente antes do nascimento, quando a cabeça distende a abertura vaginal, sendo também realizada previamente a anestesia do local. Tecnicamente, uma episiotomia é sempre uma perineotomia, pois toda incisão feita nessa região (períneo) é assim denominada. (BURROUGHS, 1995).
A episiotomia também é utilizada para evitar bordas irregulares, as quais são mais difíceis de reparar; distensão excessiva dos músculos perineais e para facilitar as manobras do parto (BURROUGHS, 1995). Sua indicação é restrita nos casos em que o feto seja macrossômico, feto prematuro, apresentação pélvica, parto a fórcipes e períneo com pouca elasticidade e com a possibilidade de laceração (CARVALHO, 1990). A dor é conceituada pela International Association for the Study of Pain, como experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um dano real ou potencial dos tecidos, ou descrita em termos de tais lesões (ALMEIDA et al, 2005) A dor pode ser considerada como um sintoma ou manifestação de uma doença ou afecção orgânica, mas também pode vir a constituir um quadro clínico mais complexo, sendo classificada em três tipos: dor aguda, crônica e recorrente. A dor do pós parto e dor da episiotomia é considerada como dor aguda, que se manifesta transitoriamente durante um período relativamente curto, de minutos a algumas semanas, associada a lesões em tecidos ou órgãos, ocasionadas por inflamação, infecção, traumatismo ou outras causas (TEIXEIRA, 2006). Este trabalho pretende avaliar o grau de dor das puérperas nas primeiras 24 horas na região genital; verificar a relação da idade, número de gestações com grau de dor na episiotomia; avaliar o grau de dor em relação ao posicionamento das puérperas no momento do entrevista. PACIENTES E METODOS Esta pesquisa teve como base metodológica uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, procedimento de caráter documental e estatístico. A amostra estudada constituiu-se de 100 mulheres que deram a luz, com parto via vaginal tendo realizado episiotomia, internadas no alojamento conjunto do Hospital Nossa Senhora da Conceição do município de Tubarão, no período de maio a setembro de 2006. Obteve-se o consentimento livre e esclarecido de todas as puérperas que responderam o questionário em questão. O instrumento utilizado para a pesquisa foi um questionário e uma escala análoga visual da dor adaptada para identificar a intensidade da dor, em que a puérpera posiciona o indicador, exatamente no local em que considera estar a intensidade de sua dor. A pontuação da intensidade de dor referida pelo paciente é lida numa reta que assume os valores de zero a dez. A subdivisão da escala consta de 0 sem dor, dor leve (1 3), dor moderada (4 6) e dor severa (7 10). O questionário foi aplicado pelo entrevistador, e foi averiguada a posição que a puérpera estava no momento da entrevista (deitada, sentada ou bípede). Este questionário foi aplicado para avaliar o grau de dor das puérperas nas primeiras 24 horas após o parto. Foi explicado para as pacientes sobre o questionário e o porquê da realização desta pesquisa e a importância da sua participação. Os dados foram armazenados e analisados através do programa Epi-info 6.04 (EPI-INFO, 1990).
RESULTADOS A amostra pesquisada quanto à idade das puérperas demonstra 35,0% entre 20 a 25 anos, 32,0% entre 15 a 19 anos, 18,0% entre 30 a 42 anos e 15% entre 26 a 30 anos. Obteve-se predominância com 67,0% em puérperas com faixa etária de 15 a 25 anos. Os resultados da aplicação escala de dor das puérperas que realizaram episiotomia nas primeiras 24 horas, 7,0% apresentavam sem dor, ou seja grau 0. 48,0% referiram dor leve (1 a 3), 28,0% referiram dor moderada (4 a 6) e 17,0% referiram dor severa (7 a 10). Isto é 93,0% das puérperas sentiram dor. O questionário aplicado para saber o grau de dor da episiotomia, foi realizado nas primeiras 24 horas após a realização do parto, em que as puérperas estavam sem o efeito analgésico. Analisando o gráfico 01 podemos confirmar que o procedimento de episiotomia é doloroso apesar da dor leve ter sido predominante. Gráfico 01: Grau de dor na região da episiotomia. Observamos que as puérperas jovens sentem mais dor. A dor leve nas puérperas de 15 a 25 anos totalizou 39,0% e as puérperas de 26 a 42 anos apresentaram 9,0%. Sentiram dor moderada as puérperas de 15 a 25 anos com 19,0% e puérperas de 26 a 42 anos com 9,0%. E as que sentiram dor severa, puérperas de 15 a 25 anos com 10,0% e puérperas de 26 a 42 anos com 7,0%. Indiferente de dor leve, moderada e severa, as puérperas jovens de 15 a 25 anos relataram mais dor do que as puérperas de 26 a 42 anos. Como demonstra o gráfico 02. Gráfico 02: Faixa etária das puérpera com relação ao grau de dor. Foi avaliado o número de gestações das puérperas com o grau de dor, e constatou-se grau 0 (sem dor) 3,0% nas primigestas e 4,0% nas multigestas (entre
elas 1 era secundigesta, 2 tercigesta e 1 quadrigesta). Com dor leve foram 25,0% em primigesta, 29,0% em multigestas, dor moderada 12,0% em primigestas e 16,0% multigestas e dor severa 7,0% em primigestas e 11,0% em multigestas. Com os resultados citados a cima, observamos que as multigestas apresentaram maior grau de dor do que as primigestas. Gráfico 03. Gráfico 03: Número de gestações das puérperas com o grau de dor Em relação ao posicionamento das puérperas com o grau de dor os resultados foram: com grau 0 (sem dor) 1,0% estava deitada, 4,0% estavam sentadas e 2,0% estavam em pé. As puérperas com dor leve 25,0% estavam deitadas, 19,0% estavam sentadas e 4,0% estavam em pé. Com dor moderada, 17,0% estavam deitadas, 10,0% sentadas e 1,0% em pé. E dor severa, 12,0% estavam deitadas, 4,0% sentadas e 1,0% em pé. Gráfico 04: Posicionamento das puérperas com o grau de dor. DISCUSSÃO / CONCLUSÃO Com este estudo, foi possível observar que a episiotomia é realizada sem um enfoque seletivo e este procedimento prevalece em muitos hospitais. Apesar do grande número de episiotomias realizadas, foi verificado que a maioria das puérperas apresentaram dor, indiferente de sua classificação. É importante enfocar que nenhuma das puérperas estava sob efeito da analgesia no momento em que foi realizado a entrevista. Pode-se dizer que talvez no momento em que as puérperas responderam o questionário, devido ao fato histórico cultural de que o parto é doloroso e se encontravam emocionadas com o filho não acharam que a dor era um motivo para tanto desconforto. A episiotomia é frequentemente realizada de forma rotineira, sem respeito a sua indicação e possíveis complicações. É necessário um olhar profissional sobre as vantagens e desvantagens da episiotomia, respeitar critérios individuais de indicação
para o referido procedimento, porém não se pode negligenciar a presença do quadro de dor no período pós-parto imediato (POLDEN; MANTLE, 2000). É importante a explicação para todas as gestantes a respeito do procedimento da episiotomia, vantagens, complicações atuais e/ou futuras. Informar a necessidade de uma boa preparação pré-natal das gestantes para que elas aceitem e contribuem favoravelmente para o parto normal sem o tal procedimento quando possível, ou que elas tenham melhor desempenho quando este procedimento for realizado (POLDEN; MANTLE, 2000). Podemos analisar que muitas gestantes não conhecem os procedimentos fisioterapêuticos para a preparação do pré e pós parto, devido a pouca realização de atividade física no recorrer da gestação e da falta de informação sobre o assunto. O importante seria deixá-las conscientizadas que a fisioterapia pré-parto prepara as gestantes utilizando diversos exercícios de fortalecimento tanto para a musculatura perineal, e membros superiores e inferiores quanto em técnicas de respiração e relaxamento para o parto, favorecendo a gestante (POLDEN; MANTLE, 2000). O objetivo da fisioterapia pré e pós-parto é garantir à gestante uma gravidez mais saudável e tranqüila. Estudos comprovam que a fisioterapia ajuda a reduzir as conseqüências do parto vaginal, quando utiliza exercícios perineais específicos no pré e pós parto, bem como a massagem perineal no pré parto. Os exercícios pós parto para o assoalho pélvico são valiosos pelas suas propriedades fortificantes e de alívio da dor, eles irão apressar a cura reduzindo complicações decorrentes da episiotomia estimulando uma boa circulação (POLDEN; MANTLE, 2000). Este trabalho é de fundamental relevância para que a fisioterapia obstétrica e ginecológica continue evoluindo, já que tem extrema validade na saúde da mulher.
REFERÊNCIAS ALMEIDA, Nilza Alves Marques et al. Utilização de técnicas de respiração e relaxamento para alívio de dor e ansiedade no processo de parturição. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Fev 2005, vol.13, nº.1, p.52-58. BRASIL; Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério : assistência humanizada à mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 199 p. BURROUGHS, Arlene. Uma introdução à enfermagem materna. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 456 p. CARVALHO, Geraldo Mota de. Enfermagem em obstetrícia. São Paulo: EPU, 1990. 118 p. POLDEN, Margaret; MANTLE, Jill. Fisioterapia em obstetrícia e ginecologia. 2. ed. São Paulo: Santos, 2000. 442 p. REZENDE, Jorge de. Obstetrícia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 1565p. TEIXEIRA, Manoel J. SBED Sociedade Brasileira para Estudo da dor. Disponível em: http://www.dor.org.br/dor_intro.asp. Acesso em: 29 abr. 2006.