AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 600.549 RIO GRANDE DO SUL RELATOR AGTE.(S) ADV.(A/S) AGDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. LUIZ FUX :ADALTO BIANCHINI : LÉO IOLOVITCH E OUTRO(A/S) :FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG/RS :PROCURADOR-GERAL FEDERAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. INCORPORAÇÃO DE QUINTOS APÓS A VIGÊNCIA DA LEI Nº 8.168/1991. MANUTENÇÃO DA BASE DE CÁLCULO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO A REGIME JURÍDICO. RE 563.965/RG-RN. 1. O regime jurídico pertinente à composição dos vencimentos nas hipóteses em que a eventual modificação introduzida por ato legislativo superveniente preserve o montante global da remuneração e, em consequência, não provoque decesso de caráter pecuniário não viola o direito adquirido. Precedente: RE 563.965-RG/RN, Rel. Ministra Cármen Lúcia, DJe 19/3/2009. 2. In casu, o acórdão recorrido assentou: ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. LEGITIMIDADE PASSIVA DA AUTORIDADE COATORA. INCORPORAÇÃO DE QUINTOS. 3. Decisão agravada RECONSIDERADA e recurso extraordinário DESPROVIDO.
DECISÃO: Trata-se de agravo regimental interposto por ADALTO BIANCHINI e OUTROS em face da decisão da relatoria do Ministro Eros Grau, por meio da qual negou seguimento ao recurso extraordinário, in verbis: Trata-se de recurso extraordinário interposto com fundamento no disposto no artigo 102, inciso III, alínea a, da Constituição do Brasil contra acórdão prolatado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 2.Os recorrentes sustentam que o provimento judicial violou o disposto nos artigos 5º, XXXVI, 7º, VI, e 37, XV, da Constituição do Brasil. 3.O recurso não merece provimento. A controvérsia foi decidida com fundamento na legislação infraconstitucional de regência. Eventual ofensa à Constituição dar-se-ia de forma indireta, circunstância que impede a admissão do extraordinário [AI n. 204.153-AgR, DJ de 30.6.00, e AI n. 231.836-AgR, DJ de 3.9.99]. 4.Este Tribunal fixou jurisprudência no sentido de que a ofensa à Constituição, que autoriza admissão do recurso extraordinário, é a ofensa direta, frontal, e não a ofensa indireta, reflexa. Se para demonstrar a contrariedade à Constituição tem-se, antes, de demonstrar a ofensa à norma infraconstitucional, é esta que conta para a admissibilidade do recurso [AI n. 204.153 AgR, 1ª Turma, DJ de 30.6.00, e AI n. 231.836 AgR, 2ª Turma, DJ de 3.9.99]. 5.Ademais, O Supremo tem reiteradamente decidido que as alegações de desrespeito aos postulados da legalidade, do devido processo legal, da motivação dos atos decisórios, do contraditório, dos limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional podem configurar, quando muito, situações de ofensa meramente reflexa ao texto da Constituição, circunstância que não viabiliza o acesso à instância extraordinária [AI n. 238.917-AgR, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 20.10.00]. Nego seguimento ao recurso com fundamento no disposto no artigo 21, 1º, do RISTF (fl. 631). 2
Inconformados com a decisão supra, os recorrentes interpõem o agravo regimental alegando, em síntese, a violação direta aos artigos artigos 5º, XXXVI, 7º, VI, e 37, XV, da Constituição Federal. Aduz, para tanto, que os quintos incorporados durante a vigência da Lei nº 7.596/87, em decorrência do exercício das Funções Comissionadas e Gratificadas estabelecidas pela Portaria- MEC n. 474/87, constituem direito adquirido, não estando sujeitos à redução perpetrada pela Lei n. 8.168/91 (fl. 640). Inicialmente, reconsidero a decisão agravada e passo à análise do recurso. Trata-se de recurso extraordinário, manejado com arrimo no art. 102, inciso III, alínea a, da Carta Magna, contra acórdão assim ementado: "ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. LEGITIMIDADE PASSIVA DA AUTORIDADE COATORA. INCORPORAÇÃO DE QUINTOS. 1. - Os quintos já incorporados na vigência das Leis n.º 6.732/79 e 7.596/87 não podem ser reduzidos pela Lei n.º 8.168/91, quando da transformação da função comissionada (FC) em cargo de direção (CD), em virtude da garantia constitucional da irredutibilidade de vencimentos e do direito adquirido. Em contrapartida, após esta lei não mais é possível incorporar quintos de função comissionada, porque transformada em Cargos de Direção (CD) e em Funções Gratificadas (FG). 2. - A recomendação do Ofício-Circular n.º 30 SRH/MARE de 11.07.96, baseado na decisão 322/95-TCU, de 12.07.95, para o decesso remuneratório dos quintos incorporados antes do advento da Lei n.º 8.168/91, que transformou a função comissionada (FC) em cargo de direção (CD) ou função gratificada (FG), reduzindo os seus valores, afronta os princípios da irredutibilidade de vencimentos (art. 7º, VI, c/c art. 37, XV) e do direito adquirido (art. 5º, XXXVI). 3. - Induvidosa a legalidade da incorporação dos quintos por desempenho da antiga função comissionada (FC) calculados com base nas Leis nº 6.732/79 e 7.596/87, esta última regulada pelo Decreto n.º 94.664/87 e operacionalizada pela Portaria n. 474/MEC. 4. - Apelos improvido e remessa oficial parcialmente provida." (fl. 426). 3
Nas razões do apelo extremo alega violação aos artigos 5º, XXXVI, 7º, VI, e 37, XV, da Constituição Federal. É o relatório. DECIDO. Não merece prosperar o presente recurso. O Tribunal a quo entendeu que os quintos não incorporados durante a vigência da Lei nº 7.596/1987 podem sofrer redução, em virtude da transformação das funções de confiança em cargos de direção, nos moldes da Lei nº 8.168/1991. Nesse contexto, o acórdão recorrido está em sintonia com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que se pacificou no sentido de que, uma vez respeitada a irredutibilidade dos vencimentos, não existe direito adquirido a regime jurídico. Esse entendimento foi reafirmado pelo Plenário no julgamento do mérito do Recurso Extraordinário 563.965/RN, da relatoria da Ministra Cármen Lúcia, em 11 de fevereiro de 2009. Trata-se do Tema n.º 41 da Gestão por Temas da Repercussão Geral. O acórdão desse julgado restou assim ementado: DIREITOS CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ESTABILIDADE FINANCEIRA. MODIFICAÇÃO DE FORMA DE CÁLCULO DA REMUNERAÇÃO. OFENSA À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA IRREDUTIBILIDADE DA REMUNERAÇÃO: AUSÊNCIA. JURISPRUDÊNCIA. LEI COMPLEMENTAR N. 203/2001 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE: CONSTITUCIONALIDADE. 1. O Supremo Tribunal Federal pacificou a sua jurisprudência sobre a constitucionalidade do instituto da estabilidade financeira e sobre a ausência de direito adquirido a regime jurídico. 2. Nesta linha, a Lei Complementar n. 203/2001, do Estado do Rio Grande do Norte, no ponto que alterou a forma de cálculo de gratificações e, conseqüentemente, a composição da remuneração de servidores públicos, não ofende a Constituição da República de 1988, por dar cumprimento ao princípio da irredutibilidade da remuneração. 3. Recurso extraordinário ao qual se 4
nega provimento. Por fim, para se chegar a conclusão contrária à adotada pelo acórdão recorrido acerca do período de implementação dos requisitos para a incorporação dos quintos pelos recorrentes, seria necessário o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que atrai a incidência da Súmula 279 desta Corte. Ex positis, RECONSIDERO a decisão agravada e DESPROVEJO o recurso extraordinário, com fundamento no artigo 21, 1º, do RISTF. Publique-se. Brasília, 16 de outubro de 2014. Ministro LUIZ FUX Relator Documento assinado digitalmente 5