ANÁLISE DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO BAIRRO SÃO MIGUEL EM ILHÉUS (BA) APÓS A CONSTRUÇÃO E AMPLIAÇÃO DO PORTO INTERNACIONAL DE ILHÉUS

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Coordenador: Prof. Dr. Paolo Alfredini Professor Livre-Docente da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Descrição da área de estudo

Transcrição:

ANÁLISE DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO BAIRRO SÃO MIGUEL EM ILHÉUS (BA) APÓS A CONSTRUÇÃO E AMPLIAÇÃO DO PORTO INTERNACIONAL DE ILHÉUS 1. INTRODUÇÃO Karla Verônica dos Santos Costa Mestranda em Geografia UNICAMP/UESC Ilhéus -BA E-mail: kveronica23@yahoo.com.br Cláudia Patricia Silveira Sales Licenciada em Geografia UESC Ilhéus -BA E-mail: Silveira992000@yahoo.com.br Namara Santos Lopes Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente UESC Ilhéus -BA E-mail: namaralopes@hotmail.com Telynisson Pereira Souza Mestrando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente UESC Ilhéus -BA E-mail: tecogeo@hotmail.com A pesquisa desenvolvida propôs um estudo sobre o Porto Internacional de Ilhéus e os impactos socioambientais do processo de erosão costeira no bairro São Miguel em Ilhéus (BA). Os impactos sofridos no bairro São Miguel, localizado na cidade de Ilhéus, foram investigados a partir da perspectiva da comunidade do bairro, bem como pela análise da dinâmica costeira. Conforme Andrade (2003, p. 49): a formação do bairro São Miguel iniciou-se a partir da construção de barracos cobertos de palha de coqueiro, situados à beira mar para abrigar os pescadores. Após a construção do Porto Internacional de Ilhéus na Enseada das Trincheiras, os barracos desapareceram, restando apenas alguns casebres em meio às casas de veraneio que surgiram com o loteamento de uma fazenda. O conhecimento do espaço é fundamental para a organização sócio-espacial das atividades humanas, pois tudo que acontece tem uma relação espacial. Buscando 1

compreender as categorias de análise do espaço geográfico, especificamente na área de estudo, o autor Milton Santos (1997, p. 49) afirma que: o espaço impõe sua própria realidade; por isso a sociedade não pode operar fora dele. Conseqüentemente, para estudar o espaço cumpre apreender sua relação com a sociedade, pois é esta que dita a compreensão dos efeitos dos processos (tempo e mudança) e especifica as noções de forma, função e estrutura, elementos fundamentais para a nossa compreensão da produção do espaço. Sendo a forma um aspecto visível de uma coisa (SANTOS, 1997, p. 50), o bairro São Miguel que teve sua formação a partir da construção de barracos cobertos de palha de coqueiro, situados à beira mar para abrigar os pescadores e sua expansão após o loteamento de uma fazenda, vem sofrendo alterações na sua paisagem devido o processo de erosão costeira. Segundo Costa (2004), o processo erosivo, foi provavelmente desencadeado pela mudança na direção da propagação das ondas incidentes no trecho da praia ao norte do rio Almada. Essa mudança gerou uma nova dinâmica sedimentar e inverteu o sentido da deriva litorânea a ser de norte para sul. A evolução desse processo trouxe, para a comunidade do bairro São Miguel lhéus (BA), problemas irreversíveis de ordem social, uma vez que muitas pessoas tiveram que deixar seu lugar de origem em busca de outro, mais seguro, para viver, além da desvalorização imobiliária, que fez diminuir a procura por casas, terrenos e aluguéis em temporada de verão. De acordo com Santos (1997, p. 51): as formas são governadas pelo presente, e enquanto se costuma ignorar o seu passado, este continua a ser parte integrante das formas. No município de Ilhéus não foi diferente, para atender a demanda da região cacaueira ao escoamento da produção do cacau, o Laboratório de Hidráulica do Departamento Nacional de Portos em 1958 começou a estudar a dinâmica costeira de Ilhéus para indicar a localização do novo porto em Ilhéus que veio a ser chamado Porto do Malhado, o qual anos depois passou a ser chamado Porto Internacional de Ilhéus. Foram previstas no estudo, possíveis modificações que posteriormente poderiam ocorrer no litoral de Ilhéus. A partir da década de 60 as mudanças começaram a surgir, principalmente erosão na praia do Norte e acréscimo de areia na praia da Avenida (APOLUCENO, 1998; ANDRADE, 2003). 2

A zona costeira possui uma das feições mais dinâmicas do planeta e sua posição varia em inúmeras escalas temporais, afetadas por grande número de fatores de origem natural intrinsecamente ligados, e outros, provocados por intervenções humanas em suas proximidades, como drenagens, portos, represas entre outras ações antrópicas. No bairro São Miguel a erosão costeira além de prejudicar os moradores e proprietários de imóveis no local, prejudicou também o turismo, o qual representa uma das atividades econômicas mais rentáveis para esta região. Desta forma, a presente pesquisa entende-se por Impacto Socioambiental, qualquer alteração das propriedades físico-biológico ou químico do meio ambiente social e ambiental que afetem: a saúde, a segurança e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade dos recursos ambientais. O Porto Internacional de Ilhéus possui uma bacia artificial de evolução formada por um molhe de proteção com 2.322 metros, sendo considerado o primeiro ancoradouro em mar aberto da América Latina. A bacia de evolução tem 200 metros de largura e uma profundidade de 10 metros que permite a entrada de navios de médio calado, enquanto que a extensão de 832 metros do cais permite que vários navios ancorem ao mesmo tempo (ANDRADE, 2003). Diante desse contexto, Santos (1997, p. 51) diz que: estrutura implica a inter-relação de todas as partes de um todo; o modo de organização ou construção e processo pode ser definido como uma ação contínua, desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer, implicando conceitos de tempo (continuidade) e mudança. 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Identificar os impactos socioambientais no bairro São Miguel em Ilhéus (BA) causados pela instalação do Porto Internacional de Ilhéus na Enseada das Trincheiras, por meio de análise da dinâmica costeira, bem como pela perspectiva da comunidade. 3

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Avaliar as mudanças na dinâmica costeira no bairro São Miguel. Identificar os impactos socioambientais no bairro São Miguel pela perspectiva de alguns membros (pescador, morador, comerciante, empresário e veranista) da comunidade, bem como através de fotografias aéreas. Analisar as modificações ocorridas na estética do bairro São Miguel. 3. MATERIAIS E MÉTODOS A área de estudo está localizada ao norte da desembocadura do rio Almada no litoral norte de Ilhéus, bairro São Miguel (figura 1), entre as coordenadas geográficas, 14º46 25 S e 14º44 24 S / 39º03 13 W e 39º03 49 W compreendendo uma faixa litorânea de aproximadamente 4 Km de extensão. 4

Figura 01: Localização do bairro São Miguel em Ilhéus-BA. Quanto aos objetivos esta pesquisa foi do tipo exploratório sobre os impactos socioambientais do processo de erosão costeira no bairro São Miguel em Ilhéus (BA) causados pela instalação do Porto Internacional de Ilhéus na Enseada das Trincheiras, por meio de análise da dinâmica costeira, bem como pela perspectiva da comunidade. De acordo com Marconi e Lakatos (2003) as análises exploratórias são investigações cujo objetivo é a formulação de questões com a finalidade de aumentar a familiaridade do pesquisador com o ambiente, fato ou fenômeno ajudando a clarificar conceitos. Através do método dedutivo utilizado na pesquisa, foi realizada uma abordagem qualitativa, que segundo Costa & Costa (2001), não se pode quantificar a realidade, pois trabalhará com o subjetivo dos sujeitos. Para a realização do presente artigo utilizou-se aerofotografias dos anos de 1973 e 2002 fornecidas pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e pelo Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia (IESB), respectivamente. A análise das imagens foi 5

feita por meio do software ArcGIS 9.3 utilizando-se técnicas de Processamento Digital de Imagem (PDI) e fotointerpretação. Uma das técnicas de pesquisa utilizada foi o do Estudo de Caso, segundo Yin (2005, p.20): como estratégia de pesquisa, utiliza-se o estudo de caso em muitas situações, para contribuir com o conhecimento que temos de fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além de outros fenômenos relacionados. Outra ferramenta foi a técnica de pesquisa de campo Marconi e Lakatos (2003, p. 186) ressaltam que: é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. Aliado às técnicas apresentadas foi realizada uma vasta revisão bibliográfica acerca do tema envolvendo a área de estudo e os dados foram coletados através da ficha de acompanhamento de campo e da aplicação de questionários com representantes da comunidade (líder de bairro, líder da associação de pescador, veranista, comerciante e empresário) e após a coleta foram tratados qualitativamente e interpretados. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com as entrevistas realizadas durante a pesquisa, os cincos moradores (líder do bairro, líder da associação de pescador, veranista, comerciante e empresário) da comunidade local atribuíram o problema dos impactos socioambientais à construção e ampliação do Porto Internacional de Ilhéus bem como as estruturas fixas (molhes) construídas para proteger a praia e o bairro São Miguel. Para compreendermos melhor o problema dos impactos socioambientais estruturamos as entrevistas com as seguintes variáveis: moradia, atividades sociais e econômicas, serviços públicos, condições estéticas e sanitárias do meio ambiente. 4.1. ANÁLISE DO TIPO DE MORADIA DO BAIRRO ESTUDADO 6

Quando o pescador e morador mais antigo do bairro São Miguel, Sr. Sertão (92 anos), pseudônimo de Francisco da Silva Santos, chegou na comunidade em 1935 só existia 30 barracos cobertos de palha de coqueiro e todos ficavam próximo da beira da praia na rua dos Coqueiros. O Sr. Francisco nos disse que:...uma grande enchente em 1964 destruiu a rua dos Coqueiros e a rua Beira Rio arrastando o mangue... antigamente a foz do rio era estreita e tinha muito manguezal (Figura 02). 7

Figura 02. Foz do rio Almada e praia de São Miguel em 1973. Antes das pessoas irem morar no bairro São Miguel, elas moravam na zona rural do município de Ilhéus e algumas moravam em outras cidades. Muitos pescadores conseguiram 8

doações de terreno através da Marinha para construírem as suas casas outras compraram lotes por meio de terceiros sem documentação. As pessoas que tem documentação das casas ou dos terrenos existentes no bairro São Miguel são os comerciantes, empresários e alguns moradores. Muitos pescadores e moradores não possuem documentos da propriedade porque invadiram terrenos e construíram as suas casas, problema este que continua acontecendo pois os filhos dos pescadores estão constituindo família e invadindo terrenos para construir suas moradias. Esse processo deu origem a duas vilas (Guerreiro da Paz e Esperança) no bairro pesquisado. Conforme as informações coletadas durante a pesquisa, a maioria das casas dos pescadores é do tipo taipa ou tábua existindo poucas que são de alvenaria. Enquanto que todas as casas de veraneios são de alvenaria igualmente as casas dos comerciantes e empresários. Já as casas dos moradores a maioria são de alvenaria, existindo também casas de taipa e tábua. 4.2. CARACTERIZAÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICA E SOCIAL DO BAIRRO ESTUDADO Conforme as informações coletadas em campo percebemos que a produção pesqueira foi bastante afetada após a construção do Porto Internacional de Ilhéus. Durante a entrevista realizada com o pescador e morador mais antigo da comunidade o Sr. Sertão ele disse:...até alguns anos atrás pescávamos 80 cestos de peixes (Rancador, Pescado, Cavalas e Calção)...chegamos a pescar 3000 kg de Sororoca... hoje não passa de apenas 4 cestos de peixes. A pesca de arrastão foi a mais prejudicada com a construção dos espigões transversais na praia do bairro São Miguel. A maior parte da produção pesqueira é comercializada na Colônia de Pescadores Z-34, a outra parte, os peixes menores miúdos, serve para o consumo dos pescadores. Os pescadores que pescam (Camarão, Lagosta e Robalo) recebem auxílio financeiro do governo (seguro desemprego) durante o período de reprodução. Os pecadores que pescam de tarrafa no rio Almada não recebem esse auxílio. 9

As atividades sociais desenvolvidas no bairro São Miguel foram prejudicadas, as informações fornecidas pelo presidente da associação de moradores do bairro demonstraram descaso com relação aos problemas enfrentados pelo bairro. O Sr. José Carlos disse:...a escola comunitária onde funcionavam várias atividades dos projetos sociais desenvolvidos no bairro foi fechada, hoje os projetos são desenvolvidos na minha casa. É importante ressaltar que o único posto de saúde que existe no bairro encontra-se fechado constantemente, exceto nos dias de vacinação. 4.3. SERVIÇOS PÚBLICOS PRESTADOS AO BAIRRO ESTUDADO A iluminação pública no bairro São Miguel é bastante precária, de acordo com o Sr. José Carlos:... em 2005 contamos 50 postes que estavam sem lâmpadas e 13 postes sem braços... se for contar novamente perceberemos que muita coisa não mudou, pois enviamos a prefeitura um ofício por mês para solicitarmos o conserto e pouco é feito para solucionar o problema. A Comerciante entrevistada nos informou que o bairro São Miguel não dispõe de sistema de rede de esgoto e os moradores que tem condições financeiras constroem fossas sépticas na área pertencente aos seus terrenos e os moradores que não disponibilizam de recursos lançam seus resíduos sólidos e dejetos no rio Almada, na rua e na praia, isso porque não existe fiscalização por parte da Secretaria de Serviços Urbanos. Até o ano de 1989 o abastecimento de água nas casas do bairro era por meio de poços artesianos, em 1990 foi criado o sistema de abastecimento de água e a EMBASA (Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A) começou fornecer água encanada ao bairro. Os entrevistados solicitaram urgentemente a construção de um posto policial, pois a violência no bairro cresce assustadoramente a cada dia. O morador mais antigo, Sr. Sertão disse:... antes podíamos dormir até nas ruas se quiséssemos, hoje os bandidos querem invadir as nossas casas. 4.4. PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE QUANTO AS CONDIÇÕES ESTÉTICAS E SANITÁRIAS DO BAIRRO ESTUDADO 10

A Srª Eliene proprietária de um empreendimento no bairro disse que:... já existem vinte anos que dizem que a água vai invadir o São Miguel. A sua esperança é que as autoridades responsáveis elaborem e aplique um projeto para proteger o bairro São Miguel. Nos meses de março e agosto no período de maré de sizígia a erosão costeria assusta os moradores, a maré chega a subir 6 metros de altura. A construção dos espigões transversais na praia gerou um aspecto negativo no litoral, pois as pessoas só conseguem caminhar pela praia desviando dos espigões (Figura 03). 11

Figura 03. Espigões transversais a praia de São Miguel. Os entrevistados reclamam da marginalização do bairro, o governo precisa olhar mais para o bairro São Miguel. Os moradores sentem-se excluídos só são lembrados em época de campanha política. A Srª eliene nos conta que:... quando os espiões foram construídos foi 12

próximo ao ano eleitoral que o prefeito da gestão da época se reelegeu... e após alguns anos que o mesmo prefeito fazia campanha eleitoral e apoiava um candidato que seria seu possível sucessor colocou esse asfalto no bairro erroneamente sem nenhum planejamento só para enganar os moradores. O Veranista entrevistado disse que:... a profundidade em que aparece a água no lençol freático (aproximadamente 1,80 metros), não permite a construção do sistema de rede de esgoto. Essas são as desculpas das autoridades locais para adiar a resolução dos problemas enfrentados pelo bairro. Os resultados de um trabalho de pesquisa servem, portanto, para mostra que o dilema está no campo dos valores. De um lado interesses cada vez mais a serviço da especulação financeira e cambial. De outro a luta para que os interesses sociais e ecológicos sejam ferramentas para se atingir uma melhor qualidade de vida. As questões tratadas nesse trabalho mostraram que interesses econômicos ainda se sobrepõem aos ambientais, sociais e comunitários quando da implantação de projetos governamentais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DUPONT, H.; ADDAD, J. Erosão costeira: a dança das praias. Revista Ciência Hoje. Rio de Janeiro, v. 22, n. 128. p. 42-5, jun / ago 1997. Trimestral. ANDRADE, M. P. Ilhéus: passado e presente. 2 ed. Revista e Ampliada. Ilhéus, BA: Editus, 2003. 144 p. APOLUCENO, D. M. A influência do Porto de Ilhéus BA nos processos de acresção/erosão desenvolvidos após sua instalação. 1998. 132 f. Dissertação (Mestrado em Geologia) - Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1998. COSTA, K. V. dos S. O porto do Malhado e os impactos ambientais. VII EBG Encontro Baiano de Geografia: o espaço geográfico no século XX. Jacobina: UESB, 2004. COSTA, M. A. F. da; COSTA, M. de F. B. da. Metodologia da pesquisa: conceitos e técnicas. Rio de Janeiro: Interciência, 2001. 135p. 13

MARCONI, M. de A. e LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisas. São Paulo: Atlas, 2003. SANTOS, M. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1997. YIN, Robert. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi. 3 ed. Porto Alegre:Bookman, 2005. 14