APROPRIAÇÃO DE RECEITAS INDIRETAS POR UMA UNIDADE DE TRIAGEM E COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

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Transcrição:

CONTATO APROPRIAÇÃO DE RECEITAS INDIRETAS POR UMA UNIDADE DE TRIAGEM E COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS Fernando R. da Matta Baptista - CESAN Irene T. Rabello Laignier ABES -ES Irene T Rabello Laignier, ABES ES, R. José Farias 98, sala 505, Santa Luzia, CEP: 29.045-430, Vitoria, ES. Telefax: 55 27 3324 5211. e-mail: irene_laignier@yahoo.com.br RESUMO TÉCNICO A continuidade dos processos operacionais de uma Unidade de Triagem e Compostagem (UTC) dependerá diretamente de seu modelo gerencial e, principalmente, de sua inserção como instrumento de logística operacional dentro do Sistema de Limpeza Urbana (SLU). A contabilidade de UTCs, com relação às receitas operacionais, normalmente contempla apenas os resultados financeiros obtidos pela comercialização do material reciclável recuperado e do composto orgânico produzido, não contemplando as receitas indiretas e muito menos as economias geradas pela recuperação e utilização direta de resíduos orgânicos, antes aterrados, em processos de compostagem. O presente trabalho teve por objetivo levantar as receitas direta e indireta apuradas pela Unidade de Triagem e Compostagem de Vitória - ES (UTCV), conhecendo assim a receita real por ela obtida. Buscou-se, inicialmente, o conhecimento das atividades relacionadas ao SLU, em todas as suas etapas, principalmente a coleta e/ou remoção de resíduos sólidos urbanos. Implantou-se um processo de codificação de cada tipo de resíduo sólido coletado pelo SLU, em função de suas características peculiares, durante a pesagem dos veículos na UTCV, antes e depois da descarga de seu conteúdo. Posteriormente realizaram-se estudos específicos sobre a quantidade e a qualidade do material reciclável potencialmente e efetivamente comercializável presente no lixo urbano municipal. A integração da UTCV com o SLU foi um passo decisivo para a melhoria da qualidade dos serviços prestados pela Prefeitura aos cidadãos, bem como para a otimização dos custos globais desses serviços e uma mudança no perfil da UTCV, no que se refere aos seus resultados contábeis. Terminada a fase de codificação e quantificação de cada resíduo recebido pela UTC foi possível se realizar o levantamento das despesas correntes, da receita direta e das receitas indiretas. A apuração da receita operacional de uma UTCV deve considerar não apenas a comercialização direta do material reciclável recuperado e do adubo orgânico produzido, mas também contemplar as receitas indiretas advindas da utilização do adubo orgânico pela prefeitura local, bem como a apuração das economias geradas ao SLU, no que se refere à redução do quantitativo de resíduos a serem destinados ao aterramento sanitário. Neste contexto, as receitas apuradas podem ser duplicadas ou triplicadas, em relação apenas à receita direta de comercialização do material reciclável e composto orgânico.

INTRODUÇÃO A continuidade dos processos operacionais de uma Unidade de Triagem e Compostagem (UTC) dependerá diretamente de seu modelo gerencial e, principalmente, de sua inserção como instrumento de logística operacional dentro do Sistema de Limpeza Urbana (SLU). Na visão de MONTEIRO (2001), as receitas diretas dificilmente cobrirão os custos de uma usina de reciclagem e compostagem, nem esta deve ser encarada como um empreendimento industrial lucrativo, segundo um ponto de vista estritamente comercial. Todavia, o quadro se mostra altamente favorável quando se ponderam as receitas indiretas, ambientais e sociais com o potencial expressivo de retorno político. D ALMEIDA (2000) considera ser a redução do lixo aterrado a principal meta de uma UTC e a taxa de desvio o melhor indicador da eficácia da unidade. A taxa de desvio pode ser obtida dividindo-se o resultado da soma do material compostado e daquele destinado à reciclagem, pela tonelagem de lixo levada mensalmente ao local para tratamento. D ALMEIDA (2000) cita ainda que unidades bem gerenciadas conseguem reduzir pela metade ou mais a quantidade aterrada. A contabilidade de UTCs, com relação às receitas operacionais, normalmente contemplam apenas os resultados financeiros obtidos pela comercialização do material reciclável recuperado e do composto orgânico produzido, não contemplando as receitas indiretas e muito menos as economias geradas pela recuperação e utilização direta de resíduos orgânicos, antes aterrados, em processos de compostagem. Dois principais custos que podem ser reduzidos a partir da triagem e compostagem de resíduos sólidos urbanos são o transbordo e aterramento de parte desses resíduos, a partir de sua recuperação e inserção em algum processo produtivo. Este é um processo que vem sendo amplamente difundido e tem por objetivo principal minimizar os impactos ambientais que este procedimento acarreta, bem como proporcionar economias ao SLU e, consequentemente, ao cidadão que paga seus tributos. O presente trabalho teve como objetivo levantar as receitas direta e indireta apuradas pela Unidade de Triagem e Compostagem de Vitória - ES (UTCV), conhecendo assim a receita real por ela obtida. A Unidade de Triagem e Compostagem de Vitória Inaugurada em 1990 a UTCV foi administrada pela Companhia de Desenvolvimento de Vitória até fevereiro de 1997 e, basicamente, efetuava a triagem e compostagem do lixo urbano municipal. A partir dessa data, a Secretaria Municipal de Serviços da PMV (SEMURB) assumiu sua administração, criando assim condições para o início de sua integração ao Sistema de Limpeza Urbana (SLU), que já detinha o controle sobre as atividades de varrição, coleta, transbordo e destinação final de resíduos sólidos. A partir do ano 2000, alguns procedimentos foram implantados objetivando a perfeita integração da UTCV ao SLU, conforme descrito a seguir. Metodologia 1) Inicialmente buscou-se o pleno conhecimento das atividades relacionadas ao SLU, em todas as suas etapas, principalmente a coleta e/ou remoção de resíduos sólidos urbanos. Diante da necessidade de se destinar corretamente os resíduos coletados, dividiu-se o SLU em duas frentes de trabalho:

a) Coleta de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU): Coleta de Resíduos Sólidos Domiciliares (RSD); Coleta de Resíduos Sólidos Inertes (RSI); Coleta de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS); Limpeza e remoção de Resíduos Sólidos de Origens Diversas (RSOD) oriundos de terrenos baldios, calçadas, etc.; Limpeza e remoção de resíduos de locais específicos (mangues, baías, praias, eventos, etc.). b) Coleta de resíduos provenientes da varrição de vias públicas. 2) Foi implantado um processo de codificação de cada tipo de resíduo sólido coletado pelo SLU, em função de suas características peculiares, durante a pesagem dos veículos na UTCV, antes e depois da descarga de seu conteúdo. 3) Visando minimizar a quantidade de resíduos a ser transbordada e aterrada avaliou-se o potencial de reuso, recuperação para reciclagem ou utilização direta/indireta de cada tipo de resíduo, num determinado processo produtivo, conforme apresentado no Quadro 1. Quadro 1 - Código aplicado aos resíduos durante a pesagem do veículo transportador na UTCV e identificação de suas potencialidades. 4) Posteriormente realizou-se a quantificação dos resíduos gerados pelos diversos serviços executados pelo SLU, visando o levantamento de informações necessárias para se avaliar o potencial de reaproveitamento de cada resíduo dentro da UTCV (Quadro 2). Com relação aos resíduos com características orgânicas apenas o lixo pós-triagem era utilizado no processo de compostagem até 1996. A partir de 1997, iniciou-se a produção de adubo orgânico a partir de outras fontes orgânicas que foram sendo inseridas no

processo de triagem, após avaliação de seu potencial e viabilização de coleta em separado de outros resíduos com características diferentes. Assim, foi-se inserindo, de forma temporal, cada tipo de resíduo de característica orgânica distinta dentro do processo produtivo de compostagem ou outro processo de reaproveitamento: bagaço de cana (1997); galhos finos triturados (2000); algas marinhas (2000); aparas de grama (2000); segregação e comercialização madeiras contidas nos resíduos de podas de árvores (2000); coco verde (2002) e resíduos orgânicos de feiras livres (2002). Quadro 2 - Codificação e quantificação dos resíduos recebidos na UTCV 5) Em 2001 realizaram-se estudos específicos sobre a quantidade e a qualidade do material reciclável potencialmente e efetivamente comercializável presente no lixo urbano municipal, levando-se em consideração os diferentes roteiros de coleta. Buscou-se assim a otimização do processo de triagem do material reciclável, uma vez que se priorizou a triagem do lixo urbano com maior potencial de recuperabilidade do material reciclável. Isto proporcionou a manutenção do quantitativo de material reciclável recuperado anualmente, mesmo com a explosão da catação autônoma nas ruas do município de Vitória. RESULTADOS A integração da UTCV com o SLU foi um passo decisivo para a melhoria da qualidade dos serviços prestados pela Prefeitura aos cidadãos, bem como para a otimização dos custos globais desses serviços e uma mudança no perfil da UTCV, no que se refere aos seus resultados contábeis. Depois de terminada a fase de codificação e quantificação de cada resíduo recebido pela UTCV foi possível se realizar o levantamento das despesas correntes (operacionais, administrativas e custo com mão de obra), da receita direta, obtida a partir da comercialização do material reciclável recuperado e parte do composto orgânico produzido, e das receitas indiretas, advindas da utilização, pela PMV, do adubo orgânico

produzido e proveniente, também, da utilização de outros resíduos orgânicos no processo de compostagem, uma vez que cada tonelada de resíduo orgânico ou material reciclável recuperado ou utilizado como matéria-prima em outros processos produtivos, reduz o quantitativo de material a ser transbordado e aterrado. Os detalhamentos da receita operacional bruta da UTCV, nos períodos 1995-1999 e 2000-2004, encontram-se descritos na Figura 1. Até 1999 a UTCV contabilizava apenas a receita indireta proveniente do uso, pela PMV, do adubo orgânico produzido. A não utilização de outros resíduos orgânicos como fonte de matéria-prima ao processo de compostagem não proporcionava nenhuma economia indireta ao SLU, além de se ter uma baixa produção de adubo. Figura 1- Composição da receita operacional da UTCV A partir do ano 2000, com a integração da Unidade de Triagem e Compostagem de Vitória ao Sistema de Limpeza Urbana, as receitas indiretas começaram a se sobressair em relação às receitas diretas, principalmente pela redução nas despesas com transbordo e aterramento dos resíduos a serem destinados ao aterro sanitário, bem como pelo aumento da produção de adubo orgânico. Esta mudança no perfil da receita operacional da UTCV pode ser mais bem visualizada na Figura 2.

Figura 2 - Perfil da receita operacional da UTCV CONCLUSÂO A instalação de uma UTC em um município deve ser precedida de estudos de viabilidade técnica e financeira visando verificar também sua viabilidade operacional, com a devida sustentabilidade necessária a qualquer investimento planejado e que vise a preservação do meio ambiente e a melhoria de aspectos relacionados ao SLU. A apuração da receita operacional de uma UTC deve considerar não apenas a comercialização direta do material reciclável recuperado e do adubo orgânico produzido, mas também contemplar as receitas indiretas advindas da utilização do adubo orgânico pela prefeitura local, caso isso venha a ocorrer, bem como a apuração das economias geradas ao SLU, no que se refere à redução do quantitativo de resíduos a serem destinados ao aterramento sanitário. Neste contexto, as receitas apuradas podem ser duplicadas ou triplicadas, em relação apenas à receita direta de comercialização do material reciclável e composto orgânico. As condições para que se possam mensurar as economias geradas dependem da integração da UTC com o SLU, pois a minimização do quantitativo de resíduo a ser descartado depende de sua caracterização, codificação e quantificação, visando a avaliação do potencial de cada tipo de resíduo coletado pelo SLU e sua recuperação, reutilização ou inserção direta em um novo processo produtivo. Existe um enorme potencial de aproveitamento direto de resíduos orgânicos coletados pelo SLU em processos de compostagem visando a produção de adubo orgânico para uso agrícola, bastando apenas que se efetue a coleta segregada desses resíduos e que se proceda à sua destinação ao processo de compostagem, ao invés do transbordo e aterramento.

REFERÊNCIAS D ALMEIDA, M. L. O. et al. (2000): Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. 2.ed. São Paulo: IPT/CEMPRE MONTEIRO et al. (2001): Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. IBAM, p. 130.