Acórdão 4a Turma INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO DE EMPREGO RELAÇÃO DE TRABALHO RURAL E SOB A ORIENTAÇÃO DE PREFEITURA. Verifica-se por meio do conjunto probatório que não ficou comprovado que a autora estava subordinada à Ré. A testemunha do autor afirma peremptoriamente que o presidente da Ré, que é uma associação, não permanecia no lugar do plantio. Afirma, ainda, que era o Sr. Serafim, empregado do Município, que atuava no projeto e era quem dava as orientações sobre o cultivo, confirmando o depoimento do preposto da Reclamada no sentido de que as orientações sobre o cultivo eram prestadas pela prefeitura. Penso que de fato a autora não comprovou vínculo de emprego com a Reclamada. Visto, relatado e discutido o presente apelo de RECURSO ORDINÁRIO, interposto da sentença de fls. 57/58, proferida pelo M.M. Juízo da 1ª Vara do Trabalho de Barra Mansa, na pessoa da Juíza Flávia Alves Mendonça Aranha, em que figuram como partes: TEREZINHA DA SILVA OLIVEIRA, recorrente e ASSOCIAÇÃO DA FEIRA DA ROÇA, recorrida. Inconformado com a sentença às fls. 57/58, que julgou improcedente o pedido a Reclamante recorre. Em seu apelo, às fls. 60/62, sustenta que a prova dos autos confirma que trabalhou como empregada da Ré com subordinação jurídica e demais requisitos do 4699 1
artigo 3º da CLT e não na condição de autônoma como defende a Reclamada, pleiteando, assim, a reforma da sentença. A Reclamada não apresentou contrarrazões, embora notificada para fazê-lo, conforme fl. 65. Não houve remessa dos autos ao douto Ministério Público do Trabalho, por não se vislumbrar qualquer das hipóteses previstas no anexo ao Ofício PRT/1ª Reg. Nº 27/08-GAB, de 15.01.2008. CONHECIMENTO É o relatório. recurso. Presentes os pressupostos recursais, conheço o VÍNCULO EMPREGATÍCIO A autora afirma em seu apelo que as provas dos autos confirmam o vínculo empregatício com a Reclamada. Na peça inicial a autora informa que foi admitida pela Ré em 01/06/2006 e foi dispensada em 01/08/2007, na função de trabalhadora rural, mas que a Reclamada não registrou o contrato de trabalho na CTPS. Alega que recebeu como último salário o valor de R$350,00. Postula o reconhecimento do vínculo; piso salarial dos trabalhadores rurais e o pagamento de saldo de salário referente ao mês de agosto, na forma do artigo 467 da CLT; reconhecimento da jornada de segunda a domingo das 7h às 19h, sem intervalo para refeição, sendo credora de horas extras além da 8ª hora e uma hora extra diária em face da inexistência mínima do intervalo, na forma do artigo 71, 4º da CLT, além dos reflexos, domingos e feriados trabalhados, na forma da OJ 93 da SDI-I do TST; verbas rescisórias, multa do artigo 477 da CLT e indenização substitutiva do seguro desemprego. 4699 2
A Ré em sua contestação, às fls. 38/42, nega o vínculo de emprego ao argumento de que trabalhadores rurais autônomos, participantes do cultivo de pepinos destinados à fabricação de conservas, firmaram convênio com o Município de Quatis para exportação para uma empresa da iniciativa privada e que cabia à Reclamada apenas o repasse das verbas, por questões burocráticas que desconhece. Sustenta que cada trabalhador recebia pagamento pela qualidade e peso da produção entregue à empresa, por meio de recibos de pagamento autônomo. Afirma que não havia poder de comando e direção sobre as atividades do Reclamante. O i. magistrada entendeu que embora não se sustente a tese da Ré de que o trabalho se deu de forma autônoma e que a Associação atuava apenas no repasse de verbas do Município de Quatis aos trabalhadores, considerou que o Município já explorava a atividade antes mesmo de utilizar a Ré como interveniente e indeferiu o pedido, ao fundamento de que a Reclamada não se enquadra no conceito de empregador rural (art. 3º da Lei 5.889/73), pois não explorava atividade agro-econômica, não havendo falar em reconhecimento do vínculo de emprego nos moldes da referida Lei. Vejamos: A autora não requereu que o Município de Quatis fizesse parte do polo passivo da demanda, não pleiteando, consequentemente, o vínculo com o Município, tampouco sua responsabilidade subsidiária. Sustenta a tese de que trabalhou como trabalhadora rural, na condição de empregada da Associação Reclamada. O convênio firmado entre o Município e a Associação (fls. 43/47), assinado em 25/09/2006, com previsão de vigência para seis meses, com efeitos retroativos à data de 3 de setembro de 2006 (cláusula quarta), estabelece a atuação da Ré como interveniente executor entre o MUNICÍPIO DE QUATIS e a empresa SESYMAR na continuidade do Programa de Plantio de Pepino Cornichon, através do Projeto de Produção e industrialização e comercialização 4699 3
de PEPINO CORNICHON, em vidros, latas e tambores, conforme plano de trabalho em anexo e planilha que passam a fazer parte integrante deste termo. A autora no depoimento à fl. 52, inicialmente declara que foi contratada pelo Sr. José Resende, presidente da reclamada; que ele fiscalizava seu horário e seu trabalho, além de efetuar os pagamentos. Após tal declaração, esclarece que foi chamada para trabalhar na plantação pelo Sr. Serafim, que lhe prometeu assinar a carteira e pagar horas extras e 13º salário; que trabalhou por uns 3 meses sob o comando do Sr. Serafim, de quem recebia salário; que não sabe para que empresa o Sr. Serafim trabalhava, que apresentou recibos de pagamentos entregues pelo Sr, Serafim, emitidos pelo Instituto Para o Desenvolvimento do MDO Vale do Paraíba do Sul; que depois de 3 meses, o Sr. José Resende assumiu a plantação; que iniciou em 5/11/2006 e trabalhou até 5/06/2007; que cultivava e lavava e pesava os pepinos, mas não sabe como eram vendidos; que recebia valor fixo, independentemente da quantidade de pepinos produzida no mês. O preposto da Ré, à fl. 53, declara que o Município de Quatis criou o projeto no qual a Reclamante trabalhou, para aprimorar a tecnologia do plantio de pepino cornichon para que depois a Reclamante passasse a trabalhar por conta própria; que inicialmente o Município administrava o projeto e posteriormente foi feito o convênio para que a Ré repassasse o pagamento aos trabalhadores autônomos; que o Sr. Jose Rezende era o coordenador, atuando basicamente na pesagem dos pepinos, que era acompanhada também por um representante do Município; que o Sr. Serafim era empregado do Município e atuava no projeto; que a Ré atuou no projeto por um período de 07 ou 10 meses; que a Ré atuava apenas na pesagem; que as orientações sobre o cultivo eram prestadas pela prefeitura; que a Ré não tinha controle do horário dos trabalhadores que trabalhavam no projeto. Já a testemunha da autora, à fl. 54, afirma que trabalhou no projeto de abril a junho de 2007; que combinou o trabalho com o Sr. Jose Resende; que mencionada pessoa não 4699 4
permanecia no lugar do cultivo; que era orientado pelo Sr. Serafim e pelo Sr. Ronaldo, que eram da Associação Reclamada. O Estatuto da Associação Reclamada, às fls. 15/25, estabelece em seu artigo 3º que a Associação tem como escopo a defesa econômica de seus associados, por meio de ajuda mútua, proporcionar melhores oportunidades para produção e comercialização dos produtos cultivados. Em seu artigo 5º, como objetivos, dentre outros: I -Ser o lugar onde o produtor rural, diretamente, oferece sua produção, isento de taxas, constituindo-se com isso, grande incentivo ao homem do campo. II -Uma feira, onde o consumidor pode comprar mais barato através de um levantamento de toda a região e o preço deverá ser o menor, ocasionando um barateamento nos produtos. Verifica-se por meio do conjunto probatório que não ficou comprovado que a autora estava subordinada à Ré. A testemunha do autor afirma peremptoriamente que o presidente da Ré, que é uma associação, não permanecia no lugar do plantio. Afirma, ainda, que era o Sr. Serafim, empregado do Município, que atuava no projeto e era quem dava as orientações sobre o cultivo, confirmando o depoimento do preposto da Reclamada no sentido de que as orientações sobre o cultivo eram prestadas pela prefeitura. Penso que de fato a autora não comprovou vínculo de emprego com a reclamada. Nego provimento, por não estarem preenchidos os requisitos configuradores do vínculo empregatício. CONCLUSÃO provimento. PELO EXPOSTO, CONHEÇO o apelo e NEGO-LHE 4699 5
ACORDAM os Desembargadores que compõem a 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, CONHECER o apelo e NEGAR-LHE provimento. Rio de Janeiro, 18 de Setembro de 2012. Juiz Ivan da Costa Alemão Ferreira Relator 4699 6