Fisiologia da circulação coronária,determinação do fluxo de reserva coronária Segmentação miocárdica e anormalidades de movimentação parietal

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Transcrição:

Fisiologia da circulação coronária,determinação do fluxo de reserva coronária Segmentação miocárdica e anormalidades de movimentação parietal Renato Sanchez Antonio

Introdução Circulação coronária normal capaz de aumentar 5-6x FSC=70-90 ml/100g/min Consumo O2 coração=8-10 ml/100g/min (30% saturação) O2 contido seio coronário=5 ml/100ml sangue Função de bomba

Aspectos Anátomo-Funcionais Sistema arterial coronário composto pelas artérias epicárdicas que fornecem ramos em direção ao endocárdio Em nível arteriolar encontram-se os esfincteres que regulam o fluxo sanguíneo determinando as resistências intravasculares Alto consumo de O2 causa gradientes hísticos de O2 entre epicárdio e endocárdio Consumo de O2 é maior no subendocárdio, a tensão hística de O2 está diminuída nesse segmento, com capilares dilatados e menor reserva

Aspectos Anátomo-Funcionais Sangue venoso é drenado pela veia cardíaca e seio coronário (65-75%) Circulação colateral constituída por conexões anastomóticas - Mesma a. coronária principal (homocoronária ou intracoronária) - Vasos distintos (heterocoronária ou intercoronária) - 40µ > 0,1-0,5 mm

Aspectos Anátomo-Funcionais Funcionalmente, a CC pode ser suficiente em repouso para suprir a circulação anterógrada comprometida, contudo geralmente não se evita isquemia com exercício

Determinantes do Fluxo Sanguíneo - FSC=PAom-PADm/R Lei de Poiseville Coronário - R=1xn(viscosidade)/PiXr4 Variação de raio determinada por diversos vasodilatadores e vasoconstrictores Múltiplas interações entre regulação nervosa, humoral (catecolaminas) e metabólicas MVO2

Determinantes do Fluxo Sanguíneo Coronário Início da contração isovolumétrica as a.coronárias intramurais do VE são comprimidas pela contração miocárdica com redução brusca do FSC No relaxamento isovolumétrico o efeito de compressão do miocárdio ventricular esquerdo cede rapidamente elevando FSC Variação fásica menos evidente na CD devido menor compressão vascular

Determinantes do Fluxo Sanguíneo Coronário Na fase diastólica o gradiente de pressão perfusão se manterá com as pressões diastólicas da Ao e CE e médias do AD Na obstrução ao fluxo coronário por compressão extravascular existe gradiente de compressão maior no subendocárdio que no subepicárdio, aumentando a tensão do VE e maior vulnerabilidade para isquemia Relação normal endoepicárdio 1:1

Determinantes do Fluxo Sanguíneo Coronário A diminuição do gradiente de pressão diastólica nas artérias coronárias (perfusão) como ocorre na hipotensão arterial ou choque, assim como a obstrução grave dos vasos coronários epicárdicos (queda da pressão pós estenótica), associada ao aumento da P telediastólica e a taquicardia, reduz a relação endoepicárdica do fluxo em detrimento do primeiro, com tendência a isquemia subendocárdica

Fatores Neuro Humorais 3 gânglios simpáticos inervam epicárdio, artérias e veias intramurais Coronárias têm inervação alfa e beta 2 e pequenos vasos predomínio beta 2 Receptores beta 1 se limitam ao miocárdio e fibras colinérgicas simpáticas Estimulação dos nervos cardíacos simpáticos produz vasoconstricção das coronárias, normalmente seguida de vasodilatação secundário ao aumento do metabolismo miocárdico com elevação da FC e contratilidade

Determinantes do Fluxo Sanguíneo Coronário Estimulação do nervo vago produz dilatação coronária mediada pela acetilcolina e pode ser bloqueada pela atropina Estimulação vagal produz bradicardia e pode deprimir contratilidade diminuindo MVO2 A resistência vascular coronária é determinada pela auto regulação metabólica e modulada pelo simpático pelos barorreceptores no seio carotídeo Quimiorreceptores carotídeos estimulados pela acidose, hipoxemia ou hipercapnéia causam vasodilatação pelo vago

Determinantes do Fluxo Sanguíneo Coronário A vasoconstricção coronária basal é mediada pelo receptor alfa adrenérgico Receptores: - Beta 1 ou miocárdicos e beta 2 coronários (vasculares) - B1=> FC e contratilidade - bloqueio dos receptores B2 (vasodilatadores) causa vaconstricção (predomínio alfa)

Determinantes do Fluxo Sanguíneo Coronário Noradrenalina causa vasoconstricção periférica e > contratilidade e FSC Adrenalina aumenta demanda O2 e FSC Dopamina causa vasodilatação coronária Angiotensina II causa vasoconstricção periférica devido stress na parede do VE Prostaglandinas E2 e E1 produzem vasodilatação coronária

Determinantes do Fluxo Sanguíneo Coronário Vasopressina produz vasoconstrição direta da coronária Tonus vascular não é significativamente afetado nas mudanças de concentrações de Na, K, Ca ou Mg Hormônio tireoideano, glucagon, adenosina e acetilcolina causam vasodilatação coronária Histamina causa efeitos inotrópico e cronotrópico positivos TXA2 pode causar vasoespasmo coronário

Fatores Metabólicos Coração em FV tem menor MVO2 do que em ritmo sinusal e o FSC se reduz PO2, PCO2, ácido láctico, H+ e histamina aumentam osmoralidade intersticial e nucleotídeos de adenina e adenosina (metabólitos vasoativos) suprindo territórios submetidos as breves e repetidas oclusões de um vaso coronário Adenosina é um vasodilatador potente e mediador mais importante na relação entre atividade metabólica e vasodilatação coronária

Determinação e Valores Normais do A) Óxido nitroso FSC B) Gases inertes radioativos como Xe e Kr C) Termodiluição mediante cateterismo seleivo do seio coronário e grande veia cardíaca

Ecocardiografia Demonstra anormalidades, reversíveis ou não, da motilidade segmentar por meio de técnicas que utilizam estresse pelo esforço físico ou farmacológico, seja ele inotrópico ou vasodilatador Contraste ultra-sônico à base de microbolhas preenchem a cavidade ventricular esquerda, permitindo precisa avaliação de alterações da motilidade segmentar e ao preencherem a microcirculação coronariana permitem a avaliação do fluxo sanguíneo intramiocárdico

Ecocardiografia

Ecocardiografia Alto risco são os que manifestam fração de ejeção do ventrículo esquerdo < que 35% Escore de motilidade parietal é obtido a partir da divisão ecocardiográfica do ventrículo esquerdo em 16 segmentos, aos quais atribuem-se valores de 1 a 4, de acordo com seu grau de motilidade Auxilia no estabelecimento do grau de disfunção ventricular esquerda porque tem mais relação com a massa total envolvida no processo de injúria isquêmica do que a própria fração de ejeção, a qual pode estar superestimada

Ecocardiografia Valor "1" identifica movimento contrátil normal Subseqüentemente, hipocinesia, acinesia e discinesia, recebem outros valores Índice do escore de motilidade ventricular esquerda (IEMVE) é criado pela soma dos escores dados aos 16 segmentos divididos por 16. Um escore entre 1 a 1,6 demonstra função ventricular normal ou com discreto comprometimento de 1,61 a 2,0, comprometimento moderado maior que 2,0, comprometimento importante

Ecocardiografia Análise da espessura miocárdica pode definir a ausência de viabilidade miocárdica e sua extensão no miocárdio, uma vez que está demonstrado que segmentos na região de infarto antigo, com menos de 6mm e com ecogenicidade aumentada, invariavelmente são formados de tecido cicatricial

Ecocardiografia Doppler e com mapeamento de fluxo em cores, é fundamental na determinação de complicações como disfunção diastólica e presença de regurgitação mitral, comunicação interventricular, pericardites, aneurismas e pseudo-aneurismas Metodologia de escolha no diagnóstico diferencial de doenças, como a estenose aórtica, cardiomiopatia hipertrófica e prolapso de valva mitral

Ecocardiografia Indução do estresse são o esforço físico (esteira ou bicicleta ergométrica), a estimulação atrial transesofágica, o uso de drogas vasodilatadoras (dipiridamol e adenosina) ou de estimulantes adrenérgicos (dobutamina) Indução de isquemia miocárdica pelo esforço físico, dobutamina e marcapasso transesofágico, baseia-se no aumento do duplo produto cardíaco e do consumo miocárdico de oxigênio Agentes vasodilatadores aumentam o fluxo sangüíneo coronariano e podem levar a uma perfusão miocárdica heterogênea devido ao roubo de fluxo que, em alguns pacientes, é suficiente para causar isquemia miocárdica