Assim se faz... Banking & Finance na Alemanha. 1ª Edição

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Transcrição:

Assim se faz... Banking & Finance na Alemanha 1ª Edição

ÍnDICE I. Ponto de partida: vantagens financeiras devido aos componentes do financiamento alemão 2 II. Financiamento por créditos bancários e contratos de arrendamento mercantil 2 1. O sistema bancário alemão 2 2. Crédito bancário clássico 3 3. Créditos de investimento 5 4. Financiamento de aquisição - financiamento da compra de uma empresa 8 5. Financiamento de projetos (Project Finance) 9 6. Financiamento de bens 11 7. Swaps cambial e de taxa de juros e swaps capitais 12 III. Financiamento através do mercado de capitais - obrigações emitidas por empresas 13 IV. Freshfields Bruckhaus Deringer LLP 15

2 I. Ponto de partida: vantagens financeiras devido aos componentes do financiamento alemão Para empresas brasileiras que planejam investir na Alemanha ou que querem adquirir bens de capital de grande valor, um financiamento feito pelo mercado financeiro alemão pode oferecer vantagens relevantes. O nível dos juros na Alemanha está bem mais baixo do que no Brasil há muitos anos. Além disso, na legislação alemã não há uma compensação automática da inflação, e tampouco essa compensação é uma prática comum do mercado alemão. Caso os contratos de financiamento não possam ser completamente cumpridos com os rendimentos dos negócios na Europa, os riscos cambiais devem ser cobertos por meio de operações de garantia (principalmente swaps). Caso o investidor brasileiro inaugure uma subsidiária na Alemanha, podem ser considerados, em princípio, tanto os instrumentos de capital próprio quando os de crédito. Na prática, porém, os instrumentos de crédito costumam ser dominantes nessas constelações. Nesse caso, é preciso se diferenciar entre créditos bancários e leasings, de um lado, e financiamentos baseados no mercado de capitais, de outro. O espectro dos instrumentos e condições de financiamento possíveis dependem muito da liquidez do devedor e da possibilidade de se disponibilizar proteções ao crédito. II. Financiamento por créditos bancários e contratos de arrendamento mercantil 1. O sistema bancário alemão O sistema bancário alemão é composto de três pilares: os bancos privados, os bancos cooperativos e os bancos públicos (Sparkas-

3 sen bancos municipais e bancos estaduais). Com uma participação no mercado de mais de 40%, o peso dos bancos públicos no sistema bancário alemão, em uma comparação internacional, é muito alto. No que concerne ao financiamento de empresas, no entanto, sua participação assim como a dos bancos cooperativos é muito mais baixa. Quando os bancos públicos são atuantes no setor de financiamento de empresas, eles financiam principalmente pequenas e médias empresas. A legislação alemã de fiscalização do setor bancário não prevê uma separação entre bancos de investimento, comerciais ou de varejo. Sendo assim, as grandes instituições financeiras alemãs participam normalmente de todas as três áreas de negócios. Junto com o crédito bancário, o arrendamento mercantil (leasing) tem uma enorme importância no financiamento empresarial na Alemanha. Em 2010, o volume de investimentos financiados por meio de operações de arrendamento mercantil chegou a 43,6 bilhões de Euros. Os financiamentos por arrendamento mercantil são bastante relevantes, principalmente para a aquisição de bens de capital por empresas de médio porte. Operações de leasing são oferecidas, por um lado, por bancos ou por subsidiárias especiais de bancos; mas por outro, uma porcentagem significante do mercado vai para sociedades de arrendamento mercantil independentes e sociedades de arrendamento mercantil associadas aos fabricantes de bens de capital. 2. Crédito bancário clássico O crédito bancário é a forma clássica de financiamento de empresas e ainda tem um papel dominante no mercado alemão. Essa conclusão aplica-se a uma ampla paleta de atividades de financiamento (por exemplo, investimentos, capital circulante, incorporação e saneamento de empresas, assim como a aquisição de empresas). Há uma série de motivos para a dominância do crédito bancário. Em comparação com produtos do mercado de

4 capitais, o crédito bancário apresenta uma maior flexibilidade, ou seja, ele pode ser adequado individualmente às necessidades do financiamento em questão quanto ao seu vencimento, ao volume, às condições de pagamento de juros e da restituição, assim como às modalidades de amortização. Já que o processamento técnico do crédito, por outro lado, é em grande parte padronizado, os custos da transação frequentemente estão abaixo dos custos decorrentes da estruturação de obrigações emitidas por empresas e de outros produtos do mercado de capitais. Isso também está associado ao fato de haver normalmente uma maior exigência de transparência para os financiamentos do mercado de capitais. Essa diferença, no entanto, só é relevante para empresas que ainda não estão representadas de outra forma no mercado de capitais (por exemplo, por meio de uma cotação de suas ações na bolsa). Por fim, nas crises empresariais, as negociações de reestruturação necessárias com os credores podem ser mais facilmente realizadas se nenhuma dívida da empresa foi emitida no mercado de capitais público sob a forma de obrigações, mas sim, primordialmente, absorvida em créditos bancários. Contrato de abertura de crédito crédito operacional Previamente à concessão de crédito a uma empresa, é de praxe o fechamento de um contrato de abertura de crédito (em parte também chamado promessa de crédito). Esse contrato tem o caráter de um contrato-base relativo à futura relação comercial. Ele constitui em uma obrigação para o banco de conceder crédito à empresa creditada sob condições determinadas (juros, limite etc.), mas apenas sob demanda. Ademais, a natureza jurídica do contrato de abertura de crédito pode variar se ele se referir a um empréstimo em dinheiro, ou seja, se tiver de suprir diretamente a necessidade de liquidez de uma empresa, ou se tratar-se de um crédito em forma de garantia (por exemplo, fianças, garantias). No primeiro caso, a legislação sobre empréstimos do código civil alemão, BGB, (artigos 488 e ss.) pode

5 ser aplicada; no segundo, aplica-se a legislação sobre a gestão de negócios (artigo 675 BGB) ou os princípios gerais do contrato de garantias. Para o banco, o contrato de abertura de crédito fundamenta a obrigação de manter disponível o valor do crédito acordado e pagá-lo sob demanda. A empresa tomadora do crédito, por sua vez, obriga- se a pagar uma taxa pela disponibilização do dinheiro. O direito de demandar o crédito é um direito formativo, portanto não implica na obrigação de demandar o crédito concretamente. No momento em que a empresa decidir demandar o crédito, nasce um contrato individual de crédito. Apesar de as condições desse contrato de crédito já estarem definidas no contrato de abertura de crédito (segundo sua natureza jurídica de contratobase), trata-se de um contrato juridicamente independente. Caso tenha sido acordado no contrato de abertura de crédito que o creditado pode voltar a demandar o crédito depois da sua amortização, fala-se em um crédito rotativo, o qual ocorre tipicamente nos casos de créditos operacionais. O processamento dos pagamentos ocorre regularmente através de uma conta corrente mantida pela empresa no banco credor (crédito em conta corrente). Além disso, é também característico do crédito operacional o fato de seu uso não estar limitado a um fim específico. O contrato de crédito termina com o vencimento do prazo acordado pelas partes, com a rescisão por uma das partes ou por um contrato de rescisão consensual. Caso surja um motivo relevante para a rescisão a favor do banco e ele faça uso do mesmo, então ele pode também exigir o pagamento da taxa pela disponibilização do dinheiro. 3. Créditos de investimento Diferentemente do crédito operacional, o crédito de investimento está associado a um fim específico. Ele é tipicamente utilizado

6 para o financiamento da compra de bens para os ativos fixos ou dos investimentos necessários para se ampliar as operações comerciais ou renovar objetos dos ativos fixos. Os créditos de investimento têm duração normalmente de médio a longo prazo. Diferentemente do contrato de abertura de crédito para crédito operacional, o contrato de crédito de investimento implica para o creditado na obrigação de realmente utilizar o crédito. Após o vencimento do prazo contratualmente determinado para disponibilidade do crédito, este deixa de estar disponível. O período de duração de créditos de investimento é normalmente de 3 a 5 anos. Períodos de duração mais longos podem ser considerados sob circunstâncias especiais quando, por exemplo, tratar-se de um bem econômico de longo prazo de vida útil que pode ser dado como garantia do empréstimo por meio do penhor em favor do credor (por exemplo, imóveis, navios e aviões). Quanto ao volume de crédito, os créditos de investimento são muito flexíveis. O limite é dado a partir da solvência do creditado, analisada caso a caso (considerando-se as garantias pessoal e real disponíveis), assim como a partir da situação atual do mercado de créditos sindicalizados. Pois, diferentemente dos créditos operacionais, por exemplo, grandes créditos de investimento não são disponibilizados por um único banco, mas tipicamente por vários bancos consorciados por meio de um crédito sindicalizado. Muitas vezes, os contratos de créditos de investimento incluem a opção de moeda estrangeira, ou seja, a empresa tomadora do crédito pode demandar o valor do crédito na moeda principal do contrato de crédito (por exemplo, em Euro) ou em outra moeda disponível e negociável (por exemplo, US$). No que diz respeito ao pagamento de juros e à restituição, as condições do crédito seguem os acordos pertinentes, os quais por sua vez se orientam pelos planos de investimento em questão. A taxa de juros pode ser fixa ou variável, sendo que, no caso de créditos empresariais comerciais, as taxas de juros variáveis são

7 mais frequentes. No caso de juros variáveis, convenciona-se o uso da EURIBOR (taxa de referência para créditos em Euro) ou da LI- BOR (taxa de referência para créditos em outras moedas) como referências para o cálculo dos juros. Ambas as taxas referem-se ao mercado interbancário. A taxa de juros a ser paga pelo cliente bancário é calculada então a partir da taxa de referência (EURIBOR ou LIBOR) acrescida da margem acordada. Quanto à restituição, ela pode ocorrer em diversos formatos: amortização em parcelas durante o período do contrato, no vencimento final ou de forma mista. Os juros, por outro lado, normalmente devem ser pagos durante a vigência do contrato nos intervalos de tempo acordados. Dependendo da solvência da empresa tomadora do crédito e do montante do crédito, o banco ou o consórcio de bancos pode exigir que a empresa forneça garantias. Os instrumentos de garantia considerados segundo a legislação e prática de mercado alemãs correspondem amplamente ao instrumentário utilizado no Brasil para concessão de créditos. Além das clássicas garantias pessoal e real, os contratos de crédito incluem normalmente cláusulas com obrigação de fornecer informações (information covenants) e de fazer e de não fazer (covenants positivos e negativos, inclusive covenants financeiros). Dessa forma, os bancos pretendem identificar o mais cedo possível eventuais problemas financeiros do projeto e evitar que medidas político-econômicas que possam ter um impacto duradouro sobre a solvência e a liquidez da empresa sejam tomadas pelos investidores sem a sua autorização. A estrutura dos contratos de crédito empresarial sindicalizado, também na Alemanha, baseia-se principalmente no caso de créditos consorciados amplamente no contrato padrão desenvolvido pela Loan Market Association (LMA) em Londres, com base na legislação inglesa. Isso se aplica, em princípio, mesmo quando o contrato de crédito está submetido à legislação alemã. A adequação do contrato padrão da LMA à legislação alemã, porém, quase sempre possibilita uma documentação menos volumosa do que se ele estiver de acordo com a legislação inglesa.

8 4. Financiamento de aquisição - financiamento da compra de uma empresa Para financiamentos de aquisições são adotados complexos contratos de crédito cuja estrutura está fundamentada principalmente no fluxo de caixa (prognosticado) da empresa-alvo, ou seja, da empresa cuja aquisição o investidor pretende financiar. Os possíveis investidores são principalmente empresas de private equity assim como investidores estratégicos, que não visam, pelo menos não a médio prazo, à integração completa da sociedade adquirida à sua empresa já existente. Se 60% ou mais do preço de venda da sociedade visada for financiado por crédito, fala-se em um leveraged buyout (LBO). Financiamentos de aquisições implicam em uma alta exigência quanto à sintonia precisamente ajustada entre o contrato de compra da empresa e o de financiamento. Nesse caso, a aquisição em questão deve ser analisada à luz de parâmetros legais societários, creditícios e financeiros. Financiamentos de aquisições são customizações baseadas na seguinte estrutura fundamental: o investidor funda uma nova sociedade de capital cujo único fim consiste em adquirir as sociedades-alvo e manter suas quotas sociais (sociedade de propósito específico). Para tanto, a sociedade de capital deve ser provida pelo investidor com capital próprio e por um consórcio bancário com o crédito para um propósito específico. O objetivo dessa estrutura é principalmente limitar a responsabilidade e o risco do investidor o mais possível ao investimento aplicado por ele. Por isso, o investidor normalmente não dá aos bancos nenhuma (ou apenas algumas muito limitadas) segurança ou garantia. A principal garantia para os bancos é a sociedade adquirida. Suas quotas sociais e todos os seus objetos patrimoniais são transferidos para o consórcio bancário ou penhorados como garantia. Com esse extenso pacote de garantias, assegura-se principalmente a integridade da sociedade como unidade operacional. Normalmente, as receitas das vendas, respectivamente os valores de liquidação,

9 não poderiam cobrir o volume do crédito e dos juros. Por isso, a decisão sobre a concessão do crédito e a formatação das condições de financiamento baseiam-se principalmente na análise do fluxo de caixa (futuro). Logo que o procedimento de aquisição é finalizado, normalmente são necessárias medidas de reestruturação, a fim de se otimizar a situação das empresas envolvidas no que diz respeito às condições de financiamento, tributação e gestão empresarial (corporate governance). 5. Financiamento de projetos (Project Finance) Assim como o financiamento de aquisições, o financiamento de projetos também toma como base o fluxo de caixa da sociedade de propósito específico financiada. No entanto, nesse caso a situação é ainda mais complexa e arriscada, pois não se trata do financiamento de uma empresa já existente (sobre a qual existem dados concretos de sua atividade no passado), mas sim do financiamento de um projeto empresarial com investimento de longo prazo que, em um primeiro momento, ainda não é real. Consequentemente, o fluxo de caixa, nesse caso, baseia-se em uma análise do projeto ou dos contratos (de longo prazo) por meio dos quais a futura empresa (projeto) deve ser constituída. Consequentemente, a obrigação de fornecimento de informações e as obrigações de fazer e de não fazer mencionadas acima têm uma importância fora do comum nos contratos de financiamento de projetos. Estruturas de financiamento de projetos são adequadas apenas para financiamentos de longo prazo (10-30 anos) de um projeto de investimento (empresa futura) que possa ser gerenciado de forma economicamente independente da operação comercial já existente do iniciador do projeto (investidor). A chamada condição stand-alone é pré-requisito para que a limitação da responsabilidade do investidor ao capital próprio investido (capitalização da

10 sociedade de propósito específico) seja aceita pelos bancos credores. O objetivo ideal dos investidores é reduzir o mais possível seu risco de responsabilidade pela restituição do crédito, por meio da sociedade de propósito específico. Para os bancos, o risco durante a fase de finalização do projeto é especialmente alto (principalmente quando há riscos técnicos); por isso, eles frequentemente exigem do investidor uma garantia limitada a essa fase. A clássica alternativa ao financiamento de projeto é o crédito de investimento, para o qual não apenas a futura empresa-projeto (sociedade de propósito específico) responsabiliza-se pela restituição do crédito, mas também a empresa já existente. Qual alternativa será a escolhida depende de muitos fatores. Se, por um lado, a empresa já existente (o investidor) apresenta um alto grau de endividamento, ou está envolvida em vários projetos de expansão e, por outro lado, a lucratividade do projeto a ser complementarmente financiado é avaliada como muito alta, então as condições de financiamento podem ser mais vantajosas no âmbito de um financiamento de projeto do que em um clássico crédito de investimento (complementar). De qualquer forma, as despesas para a estruturação de um financiamento de projeto são altas. Por isso, os financiamentos de projetos são apenas considerados a partir de um volume de investimento de no mínimo EUR 100 milhões. Em um financiamento de projeto, diversos instrumentos de financiamento costumam ser combinados. No centro está o crédito a termo, o qual é pago tipicamente de acordo com as fases do projeto (milestones). A estrutura da restituição baseia-se no desenvolvimento prognosticado do projeto principalmente no desenvolvimento prognosticado do fluxo de caixa e, portanto, quase sempre prevê no início uma fase isenta de amortizações. A prática contratual e a prática mercadológica de financiamentos de projetos na Alemanha estão amplamente de acordo com os padrões internacionais. Há especificidades no que diz respeito aos pacotes de garantias (todos os bens patrimoniais da empre-

11 sa-projeto são penhorados em favor do consórcio bancário ou alienados a título de garantia) e às regras gerais do direito societário. A estruturação do financiamento sempre demanda uma customização que exige muito dos bancos envolvidos e dos consultores jurídicos. 6. Financiamento de bens arrendamento mercantil Para o financiamento de bens de capital, muitas vezes, o financiamento por meio de arrendamento mercantil (leasing) é considerado, além do clássico crédito de investimento associado a um fim específico, garantido por meio do penhor ou por uma alienação temporária a título de garantia. Isso se aplica principalmente quando há um mercado secundário com uma relativa liquidez para os bens de capital da categoria em questão (por exemplo, aviões comerciais ou mesmo veículos sobre trilhos). O arrendamento mercantil é atraente, por um lado, porque o arrendatário poupa sua liquidez, pois ele não precisa levantar logo o volume total dos custos da compra do bem de capital de seus próprios recursos. Por outro lado, ele tampouco precisa como ocorre em um financiamento de crédito emprestar capital no valor dos custos de compra do bem; ou seja, o patrimônio líquido do arrendatário não é reduzido devido à transação de leasing. Além disso, o arrendamento mercantil pode ter mais vantagens tributárias do que um financiamento de crédito. Para tanto é necessário se atentar às especificações da administração tributária alemã para o tratamento tributário de transações de arrendamento mercantil. Essas especificações regulamentam que parte (arrendador ou arrendatário) está qualificada como proprietária econômica do objeto do investimento para fins tributários. Isso determina o direito de incluir as amortizações do crédito como despesas de depreciação. A legislação alemã qualifica os contratos de arrendamento mercantil dentro do direito civil como contratos de concessão de uso

12 e utiliza uma regulamentação análoga à do código civil sobre contratos de locação. Isso tem também como consequência o fato de que, na medida em que as condições gerais de comercialização são incluídas no contrato de arrendamento mercantil como costuma ser o caso, a liberdade para a formatação do contrato é limitada. Pois a jurisprudência controla o conteúdo das cláusulas frequentemente utilizadas em contratos de arrendamento mercantis tomando como base comparativa as determinações legais para o aluguel. Cláusulas que sejam divergentes dos princípios gerais do direito de locação são qualificadas como inválidas. Desde 2009, a negociação do arrendamento mercantil é explicitamente abordada na lei referente ao sistema bancário; ou seja, a operação de arrendamento mercantil é agora considerada um serviço financeiro regulamentado e que somente pode ser oferecido por entidades previamente autorizadas. 7. Swaps cambial e de taxa de juros e swaps cambiais Existem diversos riscos cambiais em financiamentos que ultrapassam fronteiras. Por meio de swaps cambiais e de taxas de juros, esses riscos podem ser assegurados (também) a longo prazo. Nesse tipo de swap, as partes contratuais comprometem-se a trocar, além das dívidas de juros que devem ser anualmente ajustadas, o montante de capital no início do período de financiamento pela taxa de câmbio do momento. No final do período do financiamento, as taxas de câmbio recebidas são então destrocadas pela mesma taxa de câmbio. No que diz respeito às dívidas de juros, são possíveis diversas formas de pagamento (fixo, variável ou uma combinação de ambos). Os swaps cambiais e de taxas de juros devem ser diferenciados dos swaps cambiais. Enquanto os swaps cambiais e de taxas de juros baseiam-se em uma combinação da transação de câmbio à vista e a transação de câmbio a prazo, no swap cambial clássi-

13 co não são realizados pagamentos de juros. A operação de troca nesse caso consiste simplesmente na combinação de valores cambiais segundo a taxa de câmbio à vista com valores cambiais segundo a taxa de câmbio do mercado futuro. Aqui a taxa do mercado futuro refere-se ao momento posterior da destroca. Enquanto houver uma diferença no nível dos juros em ambos os espaços cambiais, as diferenças entre os juros podem ser levadas em consideração na taxa de câmbio convencionada mediante um acréscimo ou uma dedução na taxa de câmbio. Por outro lado, no swap cambial e de taxa de juros, a diferença de juros entre as duas moedas é compensada pelo fato de que os juros devem ser pagos nas datas acordadas. A forma de cálculo dos fluxos de pagamento de juros é acordada previamente assim como o período de duração, o início do período, as duas moedas, valores nominais nessas moedas, pagador/ recebedor de taxa fixa, taxa de swap, taxa de juros de referência, prazo fixado para cobrança de juros e frequência dos pagamentos. A destroca de ambas as moedas no swap cambial e de taxa de juros ocorre segundo a taxa à vista convencionada para o câmbio no fechamento da transação de swap. III. Financiamento através do mercado de capitais obrigações emitidas por empresas Como alternativa à aquisição de crédito, podemos considerar o financiamento através do mercado de capitais por meio de obrigações emitidas por empresas. Essa possibilidade existe não apenas para grandes empresas que já atuam no mercado de capitais devido à participação na bolsa, ou seja, que já precisam mesmo cumprir a grande transparência exigida das empresas participantes, mas também para empresas de médio porte. Recentemente formou-se na Alemanha, além do segmento de mercado de obrigações clássicas de empresas e do segmento de obrigações

14 high yeld inovadoras, ambas emitidas por sociedades anônimas cotadas na bolsa, também um segmento especial de obrigações de médio porte. O volume de emissões dessas obrigações de médio porte está entre 25 e 150 milhões de Euros, com uma divisão normalmente de EUR 1.000,00. Com isso, esse segmento é atraente principalmente para investidores privados. Diversas bolsas alemãs oferecem plataformas de negociação especiais para esses empréstimos, nas quais as obrigações emitidas por investidores privados podem ser até mesmo compradas diretamente na subscrição. Dependendo da situação da empresa que busca capital e das condições do mercado de créditos empresariais, a emissão de uma obrigação pode ser mais barata que um crédito bancário. As exigências de transparência associadas ao registro de títulos no segmento de médio porte (mercado de balcão organizado) são menores que as do mercados de capitais regulados. No entanto, são pré-requisitos um prospecto aprovado pela autoridade de supervisão bancária alemã, Bafin, um rating para a emissão e a publicação de balanços anuais e semestrais auditados. Todas as informações contidas nesta publicação foram cuidadosamente pesquisadas. Entretanto, o Freshfields Bruckhaus Deringer LLP não pode se responsabilizar pela completude e veracidade das mesmas.

15 IV. Freshfields Bruckhaus Deringer LLP O Freshfields Bruckhaus Deringer LLP é um escritório de advocacia internacional mundialmente integrado. Prestamos consultoria a indústrias líderes nacionais e multinacionais, a instituições financeiras e a estatais em projetos e transações complexas e exigentes. Nossa meta é aplicar nossa expertise jurídica com perfeição para nossos clientes por meio de advogados altamente qualificados e de eficientes equipes de consultores com amplos conhecimentos jurídicos e econômicos, inovadores em suas especialidades e que entendem o pensamento empresarial em todo o mundo. Nossos mais de 2.500 advogados auxiliam internacionalmente nossos clientes a partir de 27 escritórios localizados em diversos países, prestando um serviço dedicado em todas as regiões econômicas importantes. Na Alemanha, já atuamos há mais de 150 anos e hoje temos mais de 500 advogados em seis escritórios, dentre os quais profissionais que dominam o português ou têm o português do Brasil como língua materna. Os rankings de advogados que atuam nas maiores transações empresariais da economia alemã incluem o Freshfields há vários anos nas primeiras posições. Nenhuma outra banca de advogados tem uma avaliação de tanto destaque em tantas áreas jurídicas e setores industriais do mercado alemão quanto o Freshfields Bruckhaus Deringer LLP. É o que chamamos de Premium Full Service. Seus contatos no Freshfields Bruckhaus Deringer LLP são: Gunnar Schuster: sócio desde 1999, trabalha em nosso escritório em Frankfurt. Ele é membro de nosso grupo de direito societário e financeiro e é especialista em questões bancárias, seguros e fundos de investimento, assim como mercados de capitais e fusões e aquisições. Ele também é co-head de nosso grupo setorial de instituições financeiras e, nessa função, mantém estreito

16 contato com o BaFin, o regulador alemão de serviços financeiros. Ele é o country partner para o Brasil na Alemanha. Christoph Gleske: sócio desde 2002, trabalha em nosso escritório em Frankfurt. Ele é membro de nosso grupo de direito societário e financeiro e é especialista em mercados de capitais (debt e equity), produtos financeiros estruturados e regulação bancária e de valores mobiliários. Ele tem extensa experiência em emissões e ofertas de distribuição de ações nos mercados alemão e internacional, ofertas de debêntures convertíveis e outros valores mobiliários e estruturação de produtos de capital híbrido para fins contábeis e/ou de rating.

Junho de 2011 A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo agradece a Freshfields Bruckhaus Deringer LLP pela parceria e patrocínio desta publicação. Publicado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo.

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O acesso a informações atualizadas é um fator decisivo na abordagem de um mercado tão exigente como a Alemanha. A série Assim se faz... vem justamente fornecer às empresas brasileiras um conjunto de informações iniciais, de forma clara, precisa e prática, sobre as diversas questões levantadas por empresários que buscam entrar nos mercados alemão e europeu. Os temas são tratados por especialistas locais e editados pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo. A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha em São Paulo atua há mais de 90 anos a serviço da colaboração entre as macroeconomias da Alemanha e do Brasil. A Câmara está estruturada para atender a um crescente número de empresas e instituições interessadas em expandir seus negócios, encontrar oportunidades para entrar em novos mercados ou dar início a projetos inovadores. Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha Rua Verbo Divino 1488 BR 04719-904 São Paulo-SP Tel.: (55 11) 5187-5100 Fax: (55 11) 5181-7013 E-mail: juridico@ahkbrasil.com www.ahkbrasil.com