Arte no Brasil/ Arte do Brasil Identidades, modernização e a busca de uma arte brasileira desde o século XIX Por Daniela Labra
Arte Brasileira: Antecedentes Coloniais e a Arte Acadêmica Em meados do século XVI chegam ao Brasil os primeiros artistas e artesãos de procedência européia. São barreiros e entalhadores, santeiros e prateiros, arquitetos, mestres-deobras, pedreiros, marmoristas, carpinteiros e marceneiros que, acompanhando o avanço da catequese e da colonização, constróem e adornam as capelas e igrejas do litoral e do sertão.
Nos séculos XVI e XVII, a imaginária brasileira, em especial a paulista, é caracterizada pelas imagens de barro cozido. O anonimato é predominante na produção colonial, com exceção daquela de origem beneditina. Os artistas do período costumavam ser autodidatas ou então eram orientados por religiosos, nos moldes da tradição ibérica. Assim, aos poucos a pintura começa a aparecer nas construções nordestinas, principalmente em Salvador, cidade sede do Governo.
Ao lado dos artistas eruditos pertencentes a instituições religiosas, surgem os artistas populares que dão interpretação própria aos modelos clássicos.
Planta de Salvador. Teixeira Albernaz, 1631
No Século XVII surgem os primeiros sinais de desvinculação da arte à religião. Um exemplo é o teto da Igreja da Santa Casa da Misericórdia, em Salvador, que apresenta figuras como santos e anjos, com roupas segundo a moda da época. Também os rostos são pintados com mais liberdade, lembrando o biotipo dos habitantes da cidade baiana.
A ocupação holandesa em Pernambuco, também no século XVII, traz pintores e naturalistas ao país que iriam, pela primeira vez, registrar a natureza brasileira. O conde Maurício de Nassau, que aqui permaneceu entre 1637 e 1644, foi o responsável por grandes projetos de urbanização na cidade de Recife e trouxe com ele artistas holandeses como Franz Post e Albert Eckhout.
Entretanto, apesar da ocupação holandesa e da estada desses pintores no Brasil serem de grande importância, seu legado foi apenas o registro de paisagens e costumes. Tratou-se de um acontecimento isolado. Esses pintores não deixaram aprendizes ou começaram alguma tradição que pudesse dar continuidade aos seus trabalhos. Não se pode deixar de destacar, contudo, que foram possivelmente as primeiras manifestações de pintura efetivamente fora do domínio religioso.
Franz Post. Séc. XVII
Franz Post
No Século XVIII, a pintura tem maior desenvolvimento com artistas aglomerados nos centros, como Rio de Janeiro, Salvador e Vila Rica (hoje Ouro Preto). Desde então pode-se falar em escolas distintas no país, como a fluminense, com pintores como José de Oliveira Rosa, Leandro Joaquim e Manuel da Cunha. Em Salvador, na então escola baiana, vivia-se a transição do barroco ao rococó, e eram típicas as pinturas de perspectiva ilusionista.
Leandro Joaquim Vista da Glória e Retrato de Luis Vasconcelos Sousa c. 1790
A mais famosa dessas escolas, entretanto, é a mineira. O ciclo da mineração possibilitou a concentração de riquezas em Minas Gerais e a transformação de algumas cidades em verdadeiros centros urbanos da colônia. O estilo mineiro de então era o barroco, com forte presença do rococó, já com formas brasileiras impressas. O escultor Aleijadinho talvez seja o artista mais conhecido dessa escola.
Durante o século XVIII e meados do XIX, artistas brasileiros despontam em várias províncias. Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, e Rio de Janeiro passam a ostentar uma arquitetura e arte religiosa suntuosas. É o apogeu do Barroco no Brasil.
Ainda no século XVIII, destaca-se João de Deus Sepúlveda com a pintura "São Pedro Abençoando o Mundo Católico", em Recife, na Igreja de São Pedro dos Clérigos. Em 1800 há a primeira iniciativa de ensino de arte no país com a Aula Pública de Desenho e Figura, no Rio de Janeiro e seu regente, Manuel de Oliveira.
Em 1808, a Família Real e a Corte Portuguesa transferem-se para o Brasil. Em 1816 chega a então denominada Missão Artística Francesa, um grupo de artistas e artífices franceses de formação neoclássica que iriam exercer uma profunda influência na pintura brasileira, da metade do Século 19 até praticamente a Semana de Arte Moderna de 1922.
Na Missão Artística Francesa encontravam-se artistas como Nicolas-Antoine Taunay e Jean Baptiste Debret. Este último, em 1826, instala a Academia Imperial de Belas-Artes no Rio de Janeiro e três anos depois eram abertas as primeiras exposições oficiais de arte brasileira.
Pela primeira vez, chegava ao país um estilo artístico sem defasagem com o que estava acontecendo na Europa: o neoclassicismo. Seu prestígio, tanto pela "modernidade" quanto por ter caráter de arte oficial foi enorme. O academicismo passa a ser o dominante no Século XIX.
Nas segunda metade do século XIX, tendências realistas e românticas surgiam entre nossos artistas. Porém, essas tendências manifestavam-se efetivamente mais na escolha temática, como Moema, de Victor Meirelles, do que na forma, que continuava acadêmica e presa ao Neoclassicismo.
Em meados do século XIX, o Império Brasileiro conheceu certa prosperidade econômica, proporcionada pelo café, e certa estabilidade política, depois que D.Pedro II assumiu o governo e dominou as muitas rebeliões que agitaram o Brasil até 1848. Nesse contexto, o imperador procurou dar ao país um desenvolvimento cultural mais sólido, incentivando as letras, as ciências e as artes, que ganharam um impulso de tendência conservadora, ainda refletindo os modelos clássicos europeus.
Desse período, destacam-se como os principais artistas brasileiros: Victor Meireles, Pedro Américo, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, além do escultor Rodolfo Bernardelli, que foi o diretor da Escola Imperial de Bellas Artes por quinze anos.
VICTOR MEIRELLES Florianópolis (1832-1903) A Primeira Missa no Brasil, 1861
Victor Meirelles Moema, 1866
PEDRO AMÉRICO Areia, Paraíba (1843-1905) O Grito do Ipiranga, 1888
Paz e Concórdia, 1895
ALMEIDA JÚNIOR Itu, SP (1850-1899) Descanso do Modelo, 1882
Leitura, 1892 Picando Fumo, 1893
Saudade, 1899
O Modernismo no Brasil O século XX inicia-se no Brasil com muitos fatos que vão moldando a nova fisionomia do país. O período é de progresso técnico, resultante da criação de novas fábricas surgidas principalmente da aplicação do dinheiro obtido através do café. Ao lado disso, outro fato contribuiu para fazer o Brasil crescer e alterar sua estrutura social: a massa de imigrantes que em apenas oito anos chega a quase 1 milhão de novos habitantes. Surgem greves, como a de 1917, em São Paulo, organizada pelo movimento anarquista, constituído principalmente por imigrantes, os primeiros a questionar o capitalismo paulista. Esses tempos novos vivem, então, "à espera de uma arte nova que exprima a saga desses tempos e do porvir", (Mário da Silva Brito, História do Modernismo Brasileiro)
"Negação do passado e libertação da arte (1919) Essa arte nova aparece inicialmente com a atividade crítica e literária de Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e alguns outros artistas. Antes dos anos 20, são feitas duas exposições de pintura que colocam a arte moderna de um modo concreto para os brasileiros: Lasar Segall, em 1913, e Anita Malfatti, em 1917, em São Paulo. São quadros que refletem as idéias renovadoras das artes plásticas na Europa. A exposição de Anita Malfatti provocou uma grande polêmica com os adeptos da arte acadêmica. Provocou muitas críticas, e a mais violenta, de Monteiro Lobato, intitulada Paranóia ou Mistificação?.
Lasar Segall Vilna, Rússia 1891- SP, 1957 Bananal, 1927 Interior de Indigentes, 1920
ANITA MALFATTI São Paulo, 1886-1974 O Farol de Monhegan, 1915 Tropical, 1917
DI CAVALCANTI, Emiliano. RJ, 1897-1976 Samba, 1925
TARSILA DO AMARAL Retrato de Mário de Andrade, 1922
A Negra, 1923
Abaporu, 1928 Urutu, 1928
ISMAEL NERY Rio de Janeiro, 1920
Eva, 1923
Duas Figuras em Azul, 1926
FASE CONSTRUTIVA (depois de 1930) As conquistas do modernismo se institucionalizam. Fica definido, nas palavras de Mário de Andrade, "o direito permanente da pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; a estabilização de uma consciência criadora nacional e, notadamente, a conjugação desses três elementos num todo orgânico de consciência coletiva". A década se inicia com a quebra da bolsa de NY e a ruína de inúmeras fazendas de café, um dos pilares da economia paulista. A questão nacionalista continua valorizada mas a preocupação social será a tônica.
Destaques da Fase Construtiva: Arquitetura: Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, Robeto Burle Marx. Pintura: Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, Di Cavalcanti,Cândido Portinari, Cícero Dias, José Pancetti, Flávio de Carvalho. Escultura: Victor Brecheret, Bruno Giorgi, Mário Cravo. Música: Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone e Camargo Guarnieri. Sociologia: Gilberto Freire. Literatura: Mário e Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Cassiano Ricardo, Cecília Meireles.
ISMAEL NERY Visão Interna-Agonia, 1931
PORTINARI, Cândido Retrato de Manuel Bandeira, 1931
PORTINARI Mestiço, 1934
GUIGNARD, José Jarra com Flores, 1930
GUIGNARD, JOSÉ Flores, 1937
PANCETTI, José Os Fundos da Minha Casa, 1937
PANCETTI, José Marinha, 1945
PANCETTI, José Praia da Gávea, 1955
O Brasil Moderno 1947 - Fundação do MASP 1948 Fundação do MAM-RJ 1949 - Fundação do MAM-SP 1951 Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes; 1ª Bienal de Artes de São Paulo
IVAN SERPA Formas, 1951
IVAN SERPA Sem Título, 1953
IVAN SERPA Pintura Número 206, ca.1957
GERALDO DE BARROS, SP 1923-1998 Fotoforma, 1949
Fotoforma, 1950
Função Diagonal, 1952
LUIS SACILOTTO Ritmos Sucessivos, 1952
Luis SACILOTTO Composição Abstrata, déc. 1960