A obstrução colônica aguda é uma condição grave que traz risco de vida, e que requer tratamento cirúrgico imediato.



Documentos relacionados
PRÓTESES METÁLICAS AUTOEXPANSÍVEIS NO TRATAMENTO PALIATIVO DA OBSTRUÇÃO GASTRODUODENAL: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO

Luís Lourenço, David Horta Director de Serviço: Dr. Jorge Reis

Opções endoscópicas no tratamento das complicações do anel de restrição em pacientes pós by-pass gástrico. Série Endoscopia Bariátrica - junho 2018

Tratamento Endoscópico de Deiscências de Anastomose Esofágica em Pacientes Oncológicos - Série de Casos

PERFURAÇÃO COLORRETAL DURANTE POSICIONAMENTO DE STENT EM CÂNCER DE RETO ESTENOSANTE: RELATO DE CASO

I Data: 03/05/05. II Grupo de Estudo: Dra. Silvana M. Bruschi Kelles Dra. Lélia de Almeida Carvalho Dra. Marta Alice Campos Dr. Adolfo Orsi Parenzi

Emergência Oncológica: Oclusão do Cancro Colo-retal

Paciente de 80 anos, sexo feminino, com dor abdominal, icterícia progressiva e perda de peso não quantificada há 08 meses.

Complicações na Doença Inflamatória Intestinal

UFSM - Universidade Federal de Santa Maria Semana do Servidor Público 2017 e II Simpósio em Gestão Pública Santa Maria/RS De 28/10 a 01/11/2017

Estenoses Malignas do Esôfago. Everson L. A. Artifon, TCBC

CIRURGIA DO PÂNCREAS

Hemorragia Digestiva Baixa Aguda - abril 2018 Por Livia Arraes - Endoscopia Terapêutica -

Revisão de Literatura

Comparação de insuflação com dióxido de carbono e ar em endoscopia e colonoscopia: ensaio clínico prospectivo, duplo cego, randomizado - julho 2017

Diretrizes Assistenciais. Protocolo de Conduta da Assistência Médico- Hospitalar - Reto

Dongwook Oh, Do Hyun Park, Min Keun Cho, Kwangwoo Nam, Tae Jun Song, Sang Soo Lee, Dong-Wan Seo, Sung Koo Lee, Myung-Hwan Kim

RECTUM CANCER MANEGEMENT MANEJO DO CÂNCER DE RETO

QUIZ! Qual o diagnóstico? - março 2018

QUIZ! Rastreamento do Cancer Colorretal - setembro 2018

ENFERMAGEM DOENÇAS GASTROINTESTINAIS. Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Reirradiação após recidiva de tumor em cabeça e pescoço : Indicações e Resultados. Priscila Guimarães Cardoso R3 - Radioterapia

Características endoscópicas dos tumores neuroendócrinos retais podem prever metástases linfonodais? - julho 2016

Ingestão de corpo estranho

Os tumores neuroendócrinos retais expressam marcadores como cromogranina e sinaptofisina, embora nem sempre sejam positivo.

Centro de Referência de Cancro do Reto. Carteira de Serviços

CIRURGIA DO PÂNCREAS Câncer do Pâncreas. Dr. José Jukemura assistente doutor serviço de vias biliares e pâncreas da FMUSP

Sangramentos em Bypass Gástrico. Dr Roberto Rizzi Clinica Dr Roberto Rizzi Centro de Excelencia em Cirurgia Bariatrica - HMSL

Diretrizes Assistenciais. Protocolo de Conduta da Assistência Médico- Hospitalar Canal Anal

CONGRESSO BRASILEIRO DE CÂNCER COLORRETAL E PERITÔNIO 3º CONGRESSO CENTRO-OESTE DA SBCO

OBSTRUÇÃO INTESTINAL AGUDA

CIRURGIA HEPÁTICA MINIMAMENTE INVASIVA. Dr. Fabricio Ferreira Coelho

Ministério da Saúde COORDENAÇÃO DE ENSINO. Aperfeiçoamento nos Moldes Fellow em Endoscopia Oncológica JULIANA DELGADO CAMPOS MELLO

Cirurgia da mama em casos de câncer de mama metastático: entendendo os dados atuais

Estamos Tratando Adequadamente as Urgências em Radioterapia?

MINISTERIO DA SAÚDE INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA RESIDÊNCIA MÉDICA EM CANCEROLOGIA CIRÚRGICA JADIVAN LEITE DE OLIVEIRA

ASSUNTO: Me dico especialista solicita a SOBED um Parecer sobre o credenciamento de CPRE ambulatorial em clínicas isoladas ou consultórios

Lesões Ovarianas na Pré e Pós-Menopausa. Laura Massuco Pogorelsky Junho/2018

Urgências em Cirurgia

Braquiterapia Ginecológica

PERFIL DO PACIENTE ATENDIDO NO PROJETO DE EXTENSÃO:

NÚCLEO DE ECOENDOSCOPIA COMENTÁRIOS DO ARTIGO - EUS-guided gastroenterostomy: the first U.S. clinical experience

Registro Hospitalar de Câncer - RHC HC-UFPR Casos de 2007 a 2009

Mulher jovem, 29 anos, nulípara, com quadro de sangramento retal, sem outras queixas, submetida a colonoscopia para investigação.

Luciano Moreira MR3 Radioterapia Liga Norte Riograndense Contra o Cancer, Natal-RN

LISTA DE TRABALHOS CIENTÍFICOS APROVADOS

Complicações da pancreatite crônica cursando com dor abdominal manejo endoscópico - agosto 2016

Estado da arte da radiocirurgia na

Efficacy and Safety of Nonoperative Treatment for Acute Appendicitis: A Meta-analysis Pediatrics, Março 2017

Tipo histológico influencia no manejo local das metástases. Fabio Kater oncologista da BP oncologia

Lançamento de Novo Produto. Unimed Hospitalar

CURSO NACIONAL DE RECICLAGEM EM CARDIOLOGIA DA REGIÃO SUL ANGINA ESTÁVEL. Estudos Comparativos Entre Tratamentos ABDOL HAKIM ASSEF

Diretrizes no Tratamento do Câncer Obstrutivo do Cólon Esquerdo

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA CIRURGIA ONCOGINECOLÓGICA

PROGRAMAÇÃO DE ESTÁGIO COLOPROCTOLOGIA

Cirurgia no câncer de cólon em pacientes operados de emergência

TESTE SEUS CONHECIMENTOS BASEADO EM EVIDENCIAS

TRATAMENTO E SEGUIMENTO

Funcional - Pressão intracólica aumentada - Motilidade basal e propulsiva aumentada - Lume estreito contracções segmentares

Central de Gerenciamento Interno de Leitos e Agenda Cirúrgica

GASTRORECIFE 2019 MAR HOTEL 15 A 17 DE AGOSTO DE 2019

Indicações e passo-a-passo para realização de SBRT

Preparo pré-operatório do Paciente Diabético Manejo de insulina e antidiabéticos orais. Daniel Barretto Kendler GEMD 21/05/2016

câncer de esôfago e estômago Quais os melhores esquemas?

Diverticulite aguda: Como manejar? Paula Arruda do Espirito Santo Orientação: Professor Antonio Jose Carneiro

Sarcomas de partes moles do adulto Estudo Populacional/Institucional Regiões do Alentejo e Algarve

Perfil das apendicectomias realizadas no Sistema Público de Saúde do Brasil

COLECISTITE AGUDA TCBC-SP

Algoritmo de condutas para tratamento de câncer de pâncreas

ESPECIALIZAÇÃO DE FISIOTERAPIA EM SAÚDE DA MULHER

Imagem da Semana: Radiografia simples do abdômen

06 A 08 DE NOVEMBRO DE 2014 PROGRAMA

DESAFIO DE IMAGEM Aluna: Bianca Cordeiro Nojosa de Freitas Liga de Gastroenterologia e Emergência

AVALIAÇÃO APARELHO DIGESTIVO TC E RM

Melanomas Cutâneos em Cabeça e Pescoço. Dr. Bruno Pinto Ribeiro R4 em Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantídio - UFC

Concurso Público UERJ 2012

Doenças orificiais: Tratamento da doença hemorroidária.

Estéfane Lorraine Martins Vasconcelos

Metástase hepática

Declaração de possíveis conflitos de interesses

PROCESSO SELETIVO PARA INGRESSO NO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 EDITAL N. 001/2014 CRITÉRIOS DA AVALIAÇÃO DE HABILIDADES E COMPETÊNCIAS

RESIDÊNCIA em CIRURGIA DIGESTIVA

I PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E ATUALIZAÇÃO EM ANESTESIOLOGIA E DOR DA SARGS ANESTESIA PEDIÁTRICA: PODEMOS REDUZIR A MORBIMORTALIDADE?

Professor: Júlia Sousa Santos Nunes Titulação: Graduada em Enfermagem (UESB), pós-graduada em Obstetrícia (UESC) e PLANO DE CURSO

Exérese Percutânea de Lesões Benignas de Mama Assistida à Vácuo

ARNALDO BARBOSA DE LIMA JÚNIOR Presidente da Comissão

CAPÍTULO 18. MIOMAS SUBMUCOSOS: ESTADIAMEnTOS PARA TRATAMEnTO HISTEROSCÓPICO. 1. INTRODUçãO

Taxa de suspensão de cirurgia eletiva no Centro Obstétrico da ME - UFRJ

PLANOS DE TRATAMENTO MENOS INVASIVOS. Straumann Biomaterials> Biológicos. Straumann Emdogain FL Cultivando a regeneração periodontal.

APENDICITE AGUDA O QUE É APÊNCIDE CECAL? O QUE É APENDICITE E PORQUE OCORRE

CATÉTERES VENOSOS CENTRAIS DE LONGA DURAÇÃO Experiência com 1000 catéteres

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Hemangiomas: Quando operar e quando observar Orlando Jorge M.Torres Nucleo de Estudos do Fígado F - UFMA

Imagem da Semana: Colangioressonância

O PAPEL DA CIRURGIA NA PALIAÇÃO DO CANCRO GÁSTRICO. Maria João Ventura Nogueira

TX com Doador Vivo -Vantagens

5 / 5. Powered by TCPDF (

Vasos com Diâmetro de Referência < 2,5 mm

PLANO DE CURSO CIRURGIA GERAL

Transcrição:

INTRODUÇÃO: Cerca de 10 a 30% dos pacientes com câncer colorretal (CCR) vão apresentar obstrução colônica como apresentação inicial. A obstrução colônica aguda é uma condição grave que traz risco de vida, e que requer tratamento cirúrgico imediato. Dentre os diversos tratamentos cirúrgicos, a cirurgia de Hartmann é o procedimento mais comumente realizado. Entretanto a cirurgia realizada em caráter de emergência está associada a taxa de mortalidade de 10 a 30%, e de morbidade de 10 a 36%. Esses dados encorajaram o desenvolvimento de procedimentos alternativos, com maior destaque para o uso endoscópico de prótese metálica auto-expansível (PMAE), que permite o alívio temporário da obstrução colônica aguda (ver figuras abaixo). pela estenose tumoral. Radioscopia exibindo cintura no meio da prótese dada 1 / 6

de reto. Prótese metálica em paciente com câncer estenosante A PMAE pode ser utilizada em 2 indicações: Como ponte para cirugia; Para paliação dos sintomas obstrutivos. Como ponte para cirurgia, a PMAE permite que o paciente possa receber um preparo pré-operatório adequado do cólon, e também possibilita converter uma situação de emergência em um cenário eletivo. Com esta conduta, diminui-se a necessidade de realização de uma ostomia, bem como aumenta a chance de realização de anastomose primária em um único tempo cirúrgico. No tratamento paliativo da CCR irressecável, a PMAE permite a realização de radio e quimioterapia, e em comparação com a cirurgia está associada a menor tempo internação hospitalar, além de evitar a realização de ostomias. As complicações a curto prazo que podem ocorrer após a passagem da PMAE incluem perfuração, sangramento, tenesmo, dor e incontinência fecal. E a longo prazo as principais são reestenose e migração. Perfuração intestinal é a complicação mais grave pois pode levar a peritonite fecal, podendo ser fatal. ESTUDO DO INSTITUTO DO CÂNCER DO ESTADO DE SÃO PAULO (ICESP): Objetivo Reportar a experiência do ICESP com o uso de PMAE no manejo da obstrução colônica de origem maligna, tanto para a paliação dos sintomas, como para ponte antes da cirurgia. 2 / 6

Metodologia Análise retrospectiva de dados coletados prospectivamente, cm pacientes com obstrução colônica devido CCR submetidos a passagem de PMAE, entre julho de 2010 e Julho de 2014, no ICESP. Sucesso técnico foi definido como a liberação correta da PMAE através da estenose maligna. E o sucesso clínico foi definido como a resolução dos sintomas de obstrução dentro das primeiras 72 horas após passagem da PMAE. Resultados Foram realizados 42 procedimentos de passagem de PMAE não coberta em 40 pacientes, com mediana de idade de 60.2 anos, e predomínio do sexo feminino (52.5%). A intenção do tratamento foi paliação dos sintomas em 21 pacientes (52.5%), e ponte para cirurgia em 19 pacientes (47.5%). A localização da obstrução foi mais predominantemente no: reto (30%), junção retossigmóide (22.5%), descendente/sigmóide (22.5%). O aparelho de colonoscopia de 12.8 mm não pode traspor a estenose em 92.5% dos casos. A taxa de sucesso técnico foi de 97.6%, e de sucesso clínico de 88% (ver gráfico 1 abaixo): de prótese em pacientes com CCR. Gráfico 1: Taxas de sucesso técnico e clínico, após passagem 3 / 6

Dos 5 pacientes que foram submetidos a cirurgia de urgência após tentativa de PMAE sem sucesso, a taxa de criação de ostomia foi de 88% e de anastomose primária de 40%. Em comparação, dos 16 pacientes que receberam PMAE como ponte para cirurgia com sucesso, a taxa de criação de ostomia foi 50% e de anastomose primária de 75%. Ver gráfico 2 abaixo: Gráfico 2: Taxas de criação de ostomia e anastomose primária, após passagem de prótese, com e sem sucesso, em pacientes com CCR. A média de tempo para realização de cirugia foi de 40 dias, e houveram 3 casos (18.7%) de complicações pela prótese: 2 perfurações e 1 ingrowth (ver gráfico 3). Dos 21 pacientes que recebram PMAE para paliação dos sintomas obstrutivos, a taxa de sucesso foi de 91.3%. Quimio e/ou radioterapia foi realizada em 18 casos (85.7%). Durante uma mediana de acompanhamento de 3.12 meses, observaram-se complicações em 42.1%: 3 migrações, 2 ingrowth, 1 dor abdominal severa, 1 hematoquezia e 1 perfuração. A maioria desses casos foram manejados conservadoramente ou com uma segunda prótese, e apenas 1 paciente necessitou de cirurgia devido a perfuração relacionada à prótese. Ver gráfico 3 abaixo: 4 / 6

em pacientes com CCR. Gráfico 3: Taxas de complicações, após passagem de prótese Conclusão O tratamento da obstrução colônica aguda devido ao CCR com PMAE é seguro e efetivo. A PMAE evita a cirurgia de emergência, pode reduzir a taxa de criação de ostomia e permite a realização de tratamento oncológico de forma segura em pacientes com doença disseminada. Referências: Martins BC, Franco MC, Rios JT, Kawaguti FS, Lima MS, Safatle-Ribeiro AV, Sorbello MP, Pennacchi C, Retes FA, Uemura RS, Gusmon CC, Geiger SN, Baba ER, Marques CFS, Ribeiro U, Nahas SC, Maluf- Filho F. Self-Expanding metallic stents for the treatment of malignant colorectal obstruction are effective and safe. Gastrointest Endosc. 2015 May; 81(5):AB293. Lujan HJ, Barbosa G, Zeichen MS, Mata WN, Maciel V, Plasencia G, Hartmann RF, Viamonte III M, Fogel R. Self-expanding metallic stents for palliation and as a bridge to minimally invasive surgery in colorectal obstruction. JSLS. 2013 Apr-Jun;17(2):204-11. Repici A, de Paula Pessoa Ferreira D. Expandable metal stents for malignant colorectal strictures. Gastrointest Endosc Clin N Am. 2011 Jul;21(3):511-33. Tan CJ, Dasari BV, Gardiner K. Systematic review and meta-analysis of randomized clinical trials of selfexpanding metallic stents as a bridge to surgery versus emergency surgery for malignant left-sided large 5 / 6

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) Uso de prótese metálica no câncer colorretal - setembro 2015 bowel obstruction. Br J Surg. 2012 Apr;99(4):469-76. 6 / 6