11º Imagem da Semana: Ultrassonografia dos rins e vias urinárias



Documentos relacionados
Módulo 1 ABORDAGEM E OPÇÕES TERAPÊUTICAS NO DOENTE COM LITÍASE RENAL AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA CÓLICA RENAL 3 OBSERVAÇÃO 4 OPÇÕES TERAPÊUTICAS

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO RENAL

Abordagem do Paciente Renal. Abordagem do Paciente Renal. Abordagem do Paciente Renal. Síndromes Nefrológicas. Síndrome infecciosa: Infecciosa

AVALIAÇÃO METABÓLICA EM PACIENTES COM LITÍASE RENAL

Imagem da Semana: Cintilografia Renal c/99mtc

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

Prof. Ms. Elton Pallone de Oliveira. Exames laboratoriais: definição, tipos, indicação, cuidados pré e pós exame. Urinálise

Urinálise Sedimentoscopia Identificação

Alterações no Trato Urinário

XVI Reunião Clínico - Radiológica. Dr. RosalinoDalasen.

ProtocoloClínico-LitíaseRenal

TÍTULO: INCIDÊNCIA DE INFECÇÃO URINÁRIA ENTRE HOMENS E MULHERES NO MUNICÍPIO DE AGUAÍ EM PACIENTES QUE UTILIZAM O SUS

Avaliação e Distúrbios Renais e Urinários

PROTOCOLO MÉDICO CÓLICA NEFRÉTICA. Área: Médica Versão: 1ª

Tumores renais. 17/08/ Dra. Marcela Noronha.

Infecção do Trato Urinário na Infância

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

Imagem da Semana: Radiografia

TALITA GANDOLFI PREVALÊNCIA DE DOENÇA RENAL CRÔNICA EM PACIENTES IDOSOS DIABÉTICOS EM UMA UNIDADE HOSPITALAR DE PORTO ALEGRE-RS

Diagnóstico Diferencial das Síndromes Glomerulares. Dra. Roberta M. Lima Sobral

Medico Vet..: HAYANNE K. N. MAGALHÃES Idade...: 1 Ano(s) CRMV...: 2588 Data da conclusão do laudo.:24/04/2019 URINÁLISE

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 PROVA OBJETIVA

Imagem da Semana: Tomografia Computadorizada (TC)

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL DAS ANOMALIAS CONGÊNITAS DO TRATO URINÁRIO CONTRIBUIÇÕES DE 20 ANOS DE ESTUDOS LONGITUDINAIS

Litíase Renal. Introdução. Tipos de Cálculo

INTRODUÇÃO À BASES DIAGNÓSTICAS. Profa Sandra Zeitoun Aula 1

SUS A causa mais comum de estenose benigna do colédoco e:

Cistos e doença policística renal

PROCESSO SELETIVO PARA INGRESSO NO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 EDITAL N. 001/2014 CRITÉRIOS DA AVALIAÇÃO DE HABILIDADES E COMPETÊNCIAS

Imagem da Semana: Radiografia de abdome

Hematúria 1. DEFINIÇÕES 2. ETIOLOGIA. Revisão. Aprovação. Elaboração Joana Campos Dina Cirino Clara Gomes A Jorge Correia Data: Maio 2007

ENFERMAGEM EXAMES LABORATORIAIS. Aula 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

As funções dos rins incluem. Objetivos da aula. Medicina Nuclear Nefrourologia 17/10/2011. Walmor Cardoso Godoi, M.Sc.

As dúvidas mais comuns sobre a infecção urinária

LITOTRIPSIA: COBERTURA E CODIFICAÇÃO

GLOMERULOPATIAS. 5º ano médico. André Balbi

Efficacy and Safety of Nonoperative Treatment for Acute Appendicitis: A Meta-analysis Pediatrics, Março 2017

Avaliação e Distúrbios Renais e Urinários

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

APENDICITE AGUDA O QUE É APÊNCIDE CECAL? O QUE É APENDICITE E PORQUE OCORRE

Epidemiologia. Stamaleou et al. Kidney Int 2003 Campbell-Walsh Urology 9th edition

Glomerulonefrite pós infecciosa

Prostatic Stromal Neoplasms: Differential Diagnosis of Cystic and Solid Prostatic and Periprostatic Masses

1. Paciente com síndrome nefrótica que apresenta dor lombar, hematúria e varicocele à esquerda sugere o diagnóstico de:

Hemangioma hepático: Diagnóstico e conduta. Orlando Jorge Martins Torres Professor Livre-Docente UFMA Núcleo de Estudos do Fígado

INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA EM GATOS

Bárbara Ximenes Braz

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA CRÔNICA EM GATOS

UrináliseSedimentoscopia

Caracterização de lesões Nódulos Hepá8cos. Aula Prá8ca Abdome 2

Cintilografia com hemácias marcadas com 99mTc-PYP

Dia Mundial do Rim 2019

XIV Reunião Clínico - Radiológica Dr. RosalinoDalazen.

Proteção Radiológica Infantil

Nefropatia Diabética. Caso clínico com estudo dirigido. Coordenadores: Márcio Dantas e Gustavo Frezza

O DESAFIO DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA ASSOCIADO A GESTAÇÃO: ENSAIO PICTÓRICO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TROMBOEMBOLISMO PULMONAR EMERGÊNCIAS AÓRTICAS. Leonardo Oliveira Moura

PLANO DE CURSO PEDIATRIA

Exames Físicos da Urina. Professora Melissa Kayser

DESAFIO DE IMAGEM Aluna: Bianca Cordeiro Nojosa de Freitas Liga de Gastroenterologia e Emergência

Tomografia computadorizada. Análise das Imagens

PRÉ-REQUISITO R3 TRANSPLANTE RENAL / NEFRO (309)

1 a ETAPA - PROVA C/NP

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <

9º Imagem da Semana: Radiografia Tórax

DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS LESÕES MACROSCÓPICAS. Claudio Barros 1, Daniel Rissi 1 e Raquel Rech 2

DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA

Tomografia computadorizada

Avaliação e Interpretação da Pressão Arterial na Infância

PATOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR

QUESTÕES COMENTADAS INTRODUÇÃO À NEFROLOGIA

Data da conclusão do laudo.:22/07/2019 URINÁLISE. Resultados: SONDA MICÇÃO CISTOCENTESE

Obrigada por ver esta apresentação Gostaríamos de recordar-lhe que esta apresentação é propriedade do autor pelo autor

O SISTEMA URINÁRIO. Cap. 09 Profa. Jéssica Ciências

Transtornos de importância clínica no sistema urinário dos ruminantes

Avaliação Por Imagem do Abdome Introdução

1-Médico Residente do Programa de Residência Médica em Clínica Cirúrgica da FHAJ,

PATOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR

PLANILHA GERAL SÉTIMO PERÍODO - FUNDAMENTOS DA CLÍNICA III 2º / 2018

RELAÇÃO DE PONTOS PARA A PROVA ESCRITA E AULA PÚBLICA

Lesão Renal Aguda. Revista Qualidade HC. Autores e Afiliação: Área: Objetivos: Definição / Quadro Clínico:

Urinálise Sedimentoscopia Identificação

ENFERMAGEM EXAMES LABORATORIAIS. Aula 3. Profª. Tatiane da Silva Campos

Ultrassonografia no Abdome Agudo Pediátrico

Ultrassonografia na miomatose uterina: atualização

Caso Clínico #5. Identificação: MFS, feminina, parda, 35 anos; natural e procedente de Boa Vista - Roraima

INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO PEDIATRIA UNIDADE DE NEFROLOGIA PEDIÁTRICA HC - UFMG BELO HORIZONTE - BRASIL

Urinálise Sedimentoscopia Identificação

Urinálise Sedimentoscopia Identificação

INFECÇÃO TRATO URINÁRIO UDC 2 016

LITÍASE URINÁRIA NA CRIANÇA. Vítor Cavadas Serviço de Urologia Centro Hospitalar do Porto

PEDIDO DE CREDENCIAMENTO DO SEGUNDO ANO NA ÁREA DE ATUAÇÃO NEFROLOGIA PEDIÁTRICA

b) caso este paciente venha a ser submetido a uma biópsia renal, descreva como deve ser o aspecto encontrado na patologia.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Análise Clínica No Data de Coleta: 07/06/2019 1/6 Prop...: REBECCA ESMERALDO LIMA DA SILVEIRA Especie...: CANINA Fone...


ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

RESIDENCIA MÉDICA UFRJ

Transcrição:

11º Imagem da Semana: Ultrassonografia dos rins e vias urinárias Enunciado Paciente do sexo feminino, 8 anos, há 2 dias com hematúria macroscópica e dor abdominal difusa leve à esclarecer. Pressão arterial de 80/50 mmhg. Sem outros sintomas associados. Procurou pronto atendimento, onde foi realizado exame de urina e exame ultrassonográfico de rins e vias urinárias, com destaque para as 3 imagens ao lado. Resultado do exame de urina: Caracteres gerais Elementos anormais Sedimentoscopia Densidade 1014 Sangue + Piócitos 10 p/c ph 5,5 Nitrito negativo Hemácias 20 p/c Cor rósea Odor e aspecto Proteína negativo Cristais de oxalato de cálcio +++ sui generis

Com base nos dados clínicos, laboratoriais e de imagem, o possível diagnóstico é: a) Abscesso renal b) Síndrome nefrítica c) Nefrolitíase d) Indefinido. Deve-se estender a propedêutica Análise da Imagem Imagem 4: Ultrassonografia renal, mostrando corte longitudinal do rim esquerdo. O rim apresenta ecogenicidade normal, em que se destaca o parênquima renal (cor vermelha), que é hipoecóico, com pirâmides medulares (cor verde) um pouco menos ecogênicas em relação ao córtex. Apresentam-se hiperecóicas as estruturas envolvidas por tecido adiposo: a cápsula adiposa renal (cor amarela) e a gordura peripélvica (cor azul), que envolve o sistema pielocalicinal. O rim apresenta forma anatômica, semelhante a um grão de feijão, e contornos regulares.

Imagem 5: Ultrassonografia renal mostrando cortes longitudinais dos rins direito e esquerdo. O rim esquerdo (delimitado em azul) apresenta no seu terço médio um foco hiperecóico característico de um cálculo renal (cor vermelha). Suas dimensões são de cerca de 6,0x5,0mm. A imagem apresenta rim direito com forma anatômica e contornos regulares (cor amarela).

Imagem 6: Ultrassonografia renal mostrando corte transversal de rim esquerdo (delimitado em verde). Nessa imagem, é possível ver com mais destaque a presença do cálculo renal (cor vermelha), uma estrutura hiperecogênica. Também é possível visualizar a gordura peripélvica (cor amarela). Diagnóstico A dor abdominal difusa, hematúria macroscópica e ausência de outros sintomas, associado à presença de cálculo renal em exame ultrassonográfico confirma o diagnóstico de Nefrolitíase. Abscesso renal é uma complicação incomum de infecção do trato urinário em crianças. Na ultrasonografia é demonstrado como lesão cística redonda ou oval anecóica com realce periférico. A Síndrome nefrítica caracteriza-se por início súbito de hematúria associada à proteinúria, oligúria, hipertensão arterial sistêmica e déficit de função renal. Edema pode estar presente em grau variável. A opção Indefinido é excluída pelo diagnóstico apresentado no caso.

Discussão do caso A nefrolitíase pediátrica apresenta menor incidência em relação aos adultos e está presente em todas as faixas etárias, da fase neonatal à adolescência, com maior ocorrência em meninos e na raça branca. Fazem parte dos mecanismos litogênicos as infecções do trato urinário (ITU) recorrentes, principalmente se forem causadas por bactérias produtoras da enzima urease, como Proteus ou Klebsiella; anomalias do trato urinário, que predispõem infecções e estase renal de soluto, e alterações metabólicas que resultam na precipitação de cristais no rim. Mais da metade das crianças apresenta anormalidade metabólica subjacente, sendo mais comum a hipercalciúria, seguido por hiperoxalúria e hipocitratúria. Sua apresentação geralmente difere do início agudo clássico em adultos, que é a dor no flanco. Os sintomas na infância são variáveis e incluem dor abdominal difusa ou tipo renoureteral; hematúria macroscópica, que pode ser sintoma único; disúria e urgência, tendo ITU associada ou não. Cerca de 20% das crianças são assintomáticas. Dada a grande diversidade de sintomas, o diagnóstico diferencial é vasto e abrange gastroenterite, ITU, apendicite, pneumonia, doença glomerular, irritação do meato ou períneo e trauma. O diagnóstico é feito através da detecção de cálculo renal por estudos de imaginologia ou da recuperação de um cálculo eliminado. No diagnóstico de imagem podem ser usados tomografia computadorizada sem contraste, radiografia simples de abdome e ultrasonografia, que é o método preferido porque pode detectar cálculos radiolúcidos e obstrução urinária. O tratamento agudo é dirigido para o controle da dor e facilitar a passagem ou remoção do cálculo. Se houver sinais de infecção, obstrução completa, obstrução parcial em rim único, insuficiência renal, ou se o cálculo for maior do que 5 mm de diâmetro deve-se adotar outras medidas terapêuticas. As opções cirúrgicas incluem litotripsia extra-corpórea (LECO), nefrolitotomia percutânea e ureteroscopia. Após melhora do quadro agudo, é visada a prevenção de cálculo recorrente. O monitoramento inclui exames de imagem para detectar a formação ou aumento de cálculos

e exames laboratoriais para avaliar a resposta à terapêutica preventiva que se baseia na condição metabólica. Aspectos relevantes - A nefrolitíase pediátrica tem maior incidência em meninos e na raça branca. - Os sintomas são variáveis e incluem dor abdominal difusa ou tipo renoureteral; hematúria macroscópica, que pode ser sintoma único; disúria e urgência, tendo ITU associada ou não. - O diagnóstico é feito pela detecção de cálculo renal por estudos de imaginologia ou de recuperação de um cálculo eliminado. - No diagnóstico de imagem, a ultrasonografia é o método preferido, pois pode detectar cálculos radiolúcidos e obstrução urinária. - O diagnóstico diferencial abrange gastroenterite, ITU, apendicite, pneumonia, doença glomerular, irritação do meato ou períneo e trauma. - O tratamento agudo visa controle da dor e facilitar a remoção do cálculo, salvo casos de cálculo com mais que 5 mm de diâmetro, infecção, obstrução completa, obstrução parcial em rim único, insuficiência renal. - As opções cirúrgicas incluem litotripsia extra-corpórea (LECO), nefrolitotomia percutânea e ureteroscopia.

Referências - UPTODATE Clinical features and diagnosis of nephrolithiasis in children Epidemiology of and risk factors for nephrolithiasis in children Acute management of nephrolithiasis in children Prevention of recurrent nephrolithiasis in children - Jornal Brasileiro de Nefrologia, Volume XXVII - nº 2 - Supl. 1 - Junho de 2005. Disponível em: www.sbn.org.br/pdf/diretrizes/recomendacoes.pdf Responsável Fabiana Resende Acadêmica 9o período de Medicina-UFMG. E-mail: fabianaresende1[arroba]gmail.com Orientadora Mônica Vasconcelos Professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina UFMG