IMPRESSO FECHADO. PODE SER ABERTO PELA ECT. Revista Técnica da Bovinocultura de Leite - Número 52 - Ano 7 julho 2013 um produto um produto Efeitos da estratégia de agrupamento na saúde de vacas no período de transição Como reduzir o intervalo de partos das vacas leiteiras? Nossa História: conheça a Fazenda Santo Isidoro, em Coxilha/RS Uso adequado da cama afeta a saúde da glândula julho REVISTA LEITE INTEGRAL 49 mamária 2013 de vacas leiteiras
sanidade Texto: Aline G. Dibbern Marcos V. dos Santos Uso adequado da cama afeta a saúde da glândula mamária de vacas leiteiras Existem várias opções de materiais para serem utilizados em camas de vacas leiteiras. As taxas de mastite clínica e subclínica causada por microrganismos ambientais estão relacionadas com a contagem de bactérias na cama e com o tipo de material utilizado. A decisão em relação à escolha do material depende da disponibilidade do mesmo, do conforto animal, da relação custo x benefício relacionada com implantação e manutenção, e da facilidade de limpeza e manejo de resíduos. Introdução ra. As características desejáveis de uma para cama em fazendas leiteiras, o que O manejo e uso adequado de ca- área de descanso incluem: conforto inclui o custo, a disponibilidade, a estru- mas em sistema de confinamento de para deitar, superfície uniforme, tempe- tura das instalações, o conforto das va- fazendas leiteiras contribuem para o ratura adequada, material não abrasivo, cas, a facilidade de uso e de manuten- conforto da vaca, saúde do úbere e qua- e proporcionar locomoção adequada ção, o armazenamento e a facilidade de lidade do leite. Uma cama limpa e seca sem lesões ou contusões. Para tanto, manejo de resíduos dentro da fazenda. possibilita manter a limpeza das vacas, busca-se utilizar um material para cama A cama ideal deve ser seca, inerte (para pois inibe o crescimento e a transferên- que tenha crescimento microbiano bai- reduzir o crescimento microbiano), de cia de microrganismos para a pele do xo, drenagem de umidade adequada, baixo custo e deve contribuir para o teto. Uma cama adequada e confortá- facilidade de limpeza e manutenção de conforto e limpeza da vaca, além da fa- vel evita lesões, aumenta o tempo que mão de obra nas baias, e baixo custo de cilidade de manejo. as vacas ficam deitadas e facilita perda implantação e manutenção. de calor. Em muitos rebanhos leiteiros, O dimensionamento e o posicionamento das instalações também podem o uso adequado da cama pode reduzir Escolha do material interferir na manutenção das camas e a mastite ambiental, uma das principais Diversos fatores devem ser conside- no material a ser escolhido. Instalações causas de prejuízos na atividade leitei- rados na seleção de materiais utilizados com ventilação inadequada, muitas julho 2013 REVISTA LEITE INTEGRAL 36
vezes, têm um microclima que pode aumentar o nível de umidade e estimular o crescimento de bactérias na cama, ocasionando futuros casos de mastite clínica ou subclínica. A superlotação de vacas é outro fator que pode contribuir para a rápida deterioração da cama. A cama é um importante fator que influencia o conforto animal e, consequentemente, a rentabilidade e a produção da atividade leiteira. Tipos de materiais O tipo de material escolhido e o manejo da cama pode ter grande impacto sobre a saúde do úbere. Os tipos mais comuns de cama incluem a areia, a serragem, a maravalha, as palhadas, a compostagem de esterco, e os colchões construídos a partir de materiais como borracha e espuma. Os materiais da cama podem ser orgânicos e inorgânicos, os quais apresentam vantagens e desvantagens. Materiais orgânicos Os materiais orgânicos mais usados são a palha, ou o feno, a serragem, a maravalha, resíduos de culturas (de milho, espigas, casca de café, e outros), resíduo de polpa de papel e de papel picado, compostagem de esterco seco, e materiais similares. Estes materiais são usados como cama devido à alta absorção de umidade, compatibilidade com sistemas de tratamento de esterco e alta disponibilidade em fazendas leiteiras. Uma das principais desvantagens destes materiais é que podem facilitar o crescimento microbiano rápido e favorecer o aumento da contaminação ambiental, o que pode aumentar os casos de mastite ambiental. Uso da palha ou feno como material de cama O tamanho da partícula também para utilização em camas em sistema pode influenciar o aumento de microrganismos contaminantes na cama. O com bastante umidade. Estas condições de confinamento do tipo Free Stall ou número de patógenos aumenta com a representam um grande risco para as diminuição do tamanho das partículas. vacas, pois podem aumentar o número Materiais muito finos, tais como serragem, podem ter baixa contaminação pelo crescimento de bactérias indesejá- de novos casos de mastite ambiental antes da utilização, mas o tamanho veis, uma vez que a umidade, a partir de pequeno da partícula facilita o crescimento rápido de bactérias e exige Estudos revelam que em algumas regi- urina e fezes, é adicionada diariamente. manutenção mais intensiva da cama. ões onde a umidade do ambiente e as Os materiais de partículas muito finas temperaturas não são favoráveis para o são mais propensos a aderir à pele do uso eficaz da compostagem, há maior teto, o que aumenta a população de exposição aos patógenos ambientais e bactérias nos tetos e o risco de infecção incidência de mastite. intramamária. Os resíduos de madeira, A compostagem (Compost Bedded Pack Barns) tem sido utilizada com como a maravalha, que possuem maior tamanho de partícula, suportam crescimento mais lento de bactérias. dos Estados Unidos, no estado de Min- maior frequência em algumas fazendas Estes materiais têm sido utilizados nesota, e mais recentemente no Brasil. em algumas fazendas, onde as condições climáticas contribuem para um de camas, no sistema de compostagem, Ao contrário do sistema convencional ambiente seco durante a maior parte a cama é manejada duas vezes ao dia, do ano, sendo geralmente livres dos durante a ordenha das vacas, para incorporar o esterco fresco aos demais principais patógenos causadores de mastite ambiental quando aplicados resíduos secos, a fim de proporcionar inicialmente. No entanto, o esterco seco uma superfície fresca e seca, com aproximadamente 25 cm de profundidade. é um excelente meio de crescimento microbiano, tornando-se inadequado A principal meta para a construção des- julho 2013 REVISTA LEITE INTEGRAL 37
sanidade Uso adequado da cama afeta a saúde da glândula mamária de vacas leiteiras te tipo de instalação é melhorar o conforto e o bem estar animal, a saúde das vacas, e aumentar a longevidade, além de facilitar o manejo. Este tipo de cama pode proporcionar menor benefício para a redução de patógenos ambientais em países tropicais devido à grande variação de temperaturas e condições climáticas. Estes agentes possibilitam a contaminação da extremidade do teto, o que aumenta o risco de novos casos de infecção intramamária (IIM). As principais implicações econômicas com a utilização de compostagem para cama incluem maquinários, mão de obra especializada e custos associados com o manejo da cama, como implantação e manutenção adequada. Materiais de cama inorgânicos: Os materiais inorgânicos mais utilizados são a areia e os colchões. Muitos pesquisadores e produtores consideram a areia como o melhor material para cama, uma vez que é inerte e não permite o crescimento de bactérias. A areia deve ser de boa qualidade e armazenada adequadamente em galpões fechados, fora do alcance da chuva (umidade), e com pouca lama ou argila. O número de coliformes e estreptococos ambientais encontrados na areia é quase sempre menor do que os encontrados em materiais orgânicos, e a diminuição da contagem bacteriana está associada com taxas reduzidas de novas infecções por patógenos ambientais. As pesquisas indicam que a areia é o melhor material de cama para a saúde do úbere, para a limpeza e o conforto das vacas. A areia possui uma baixa Compost Bedded Pack Barns julho 2013 REVISTA LEITE INTEGRAL 38
capacidade de retenção de água e uma textura solta que se ajusta ao tamanho e ao peso das vacas, além de evitar lesões e problemas de aprumos. No entanto, a baia requer quantidade considerável de areia e cuidados no manejo de dejetos comparados com outros materiais de cama. Os estudos indicam maior preferência da vaca por superfícies mais macias e pela areia do que pelos colchões, no entanto, em climas mais frios, a preferência pela areia diminui, e a preferência pelos colchões aumenta. Este efeito sazonal está relacionado com a capacidade da areia de conduzir o calor da vaca e proporcionar uma superfície mais fria, o que é uma vantagem em climas mais quentes. A Uso da areia como principal material para cama reciclagem da areia também pode ser utilizada nas fazendas, possibilitando a redução dos custos com reposição. A principal recomendação é que a areia apresente no máximo 3% de matéria orgânica (MO) para evitar crescimento bacteriano. As principais características desejadas na areia são o baixo teor de matéria orgânica, sem detritos ou pedras, textura e granulometria apropriada e sem umidade. O tamanho das partículas de areia não deve ultrapassar 3 mm, e nem todos os fornecedores de areia são adequados para o materiais de camas, necessitando atenção na hora da compra, para garantir que ela esteja em conformidade para o uso em sistema de confinamento do tipo Free Stall. Outra alternativa no sistema Free Stall é a utilização de colchões, construídos a partir de borracha e de espuma. Comparado com a areia e outros tipos de materiais de cama orgânicos e inorgânicos, o custo inicial é maior, no Tipos de granulometrias da areia C A S C A L H O > 2 mm Granulometria Pedra 4-64 mm Grânulos 2-4 mm Arrendondamento Angular Sub-arredondada Bem arredondada Classificação Areia grossa 0.5-2 mm Areia média 0.25-0.5 mm Mal ordenada Areia fina 0.06-0.25 mm Lodo - Silt Bem ordenada 0.004-0.06 mm Argila < 0.004 mm Grão Matriz julho 2013 REVISTA LEITE INTEGRAL 39
sanidade Uso adequado da cama afeta a saúde da glândula mamária de vacas leiteiras Uso de Colchões em sistema de confinamento do tipo Free Stall entanto, o custo de mão de obra associado à manutenção é inferior, além da higienização ser mais fácil. As principais considerações ao selecionar um colchão é o conforto animal, o peso das vacas, o tipo de material do colchão, a disponibilidade do material na região, a longevidade das vacas e do material, e a relação custo x benefício. Os materiais utilizados em alguns colchões tendem a compactar e a deteriorar com o tempo devido ao peso do animal, e assim perder suas principais propriedades, diminuindo o conforto e aumentando problemas nas articulações. Em um estudo realizado com 50 rebanhos selecionados aleatoriamente em confinamento do tipo Free Stall no estado de Minnesota (EUA), verificou- -se que a prevalência de claudicação (problemas nos membros locomotores) foi maior para rebanhos com colchões (27,9%) do que rebanhos com camas de areia (17,1%), em vacas com escore de locomoção superior a 3, na escala de 1 a 5 (onde 1 = Normal e 5 = Severa). Além disso, a prevalência de lesão no jarrete foi de 71% com o uso de colchões e de 29% para camas de areia, em vacas com escore de lesão superior a 2 na escala de 1 a 3 (em que 1 = Normal, 2 = Perda de pêlo, e 3 = Inchaço). Conclusão Atualmente, existem várias opções de materiais para serem utilizados em camas de vacas leiteiras. As taxas de mastite clínica e subclínica causada por microrganismos ambientais estão relacionadas com a contagem de bactérias na cama e com o tipo de material utilizado. A decisão em relação à escolha do material depende da disponibilidade do mesmo, do conforto animal, da relação custo x benefício relacionada com implantação e manutenção, e da facilidade de limpeza e manejo de resíduos. Os colchões podem reduzir as necessidades de trabalhos diários, mas os custos iniciais são maiores, além da maior incidência de lesões. A areia é uma das opções mais utilizadas pelos grandes produtores de leite, devido à menor ocorrência de lesões e ao maior conforto e bem estar das vacas. No entanto, a areia necessita cuidado redobrado na higienização das camas, evitando resíduo acima de 3% de matéria orgânica, o que pode proporcionar crescimento bacteriano e incidência de mastites. Aline Gerato Dibbern Mestranda em Nutrição e Produção Animal Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade de São Paulo Email: aline.dibbern@hotmail.com Marcos Veiga dos Santos Professor Associado do Departamento de Nutrição e Produção Animal Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia -Universidade de São Paulo. E-mail: mveiga@usp.br julho 2013 REVISTA LEITE INTEGRAL 40