JUIZADO ESPECIAL (PROCESSO ELETRÔNICO) Nº200970510093467/PR RELATORA : Juíza Márcia Vogel Vidal de Oliveira RECORRENTE : Aparecido Caetano Campanini Instituto Nacional do Seguro Social RECORRIDO : Os mesmos VOTO Pretendendo a parte autora a concessão de aposentadoria especial, mediante a conversão dos períodos de 01.05.1975 a 02.02.1976; 04.02.1976 a 20.03.1976; 23.03.1976 a 30.09.1976, exercidos em atividade comum para especial, bem como o reconhecimento da especialidade e conversão dos períodos de 01.10.1976 a 29.05.2002; 01.08.2002 a 14.10.2004; 15.10.2004 a 28.04.2006; 20.04.2006 a 22.02.2008; 16.02.2008, julgou a sentença parcialmente procedente o pedido, para condenar o INSS a reconhecer o caráter especial dos períodos de 01/02/81 a 30/09/86 e 01/10/86 a 04/03/97. Julgou o autor carecedor de ação em relação aos períodos de 01.08.2002 a 14.10.2004; 15.10.2004 a 28.04.2006; 20.04.2006 a 22.02.2008; 16.02.2008 até a DER, por não ter apresentado requerimento administrativo, tampouco formulários ou laudos. Inconformadas, recorreram as partes. O INSS insurge-se contra o reconhecimento dos períodos especiais. O autor, por sua vez, pede a reforma da sentença, para serem reconhecidos os períodos especiais 05.03.1997 a 29.05.2002; 01.08.2002 a 14.10.2004; 15.10.2004 a 28.04.2006; 20.04.2006 a 22.02.2008; 16.02.2008 até a DER, e a conversão de comum para especial dos períodos de 01.05.1975 a 02.02.1976; 04.02.1976 a 20.03.1976; 23.03.1976 a 30.09.1976. Analisando os intervalos de 01.08.2002 a 14.10.2004; 15.10.2004 a 28.04.2006; 20.04.2006 a 22.02.2008; 16.02.2008 até a DER, cujo pedido de reconhecimento da especialidade foi julgado extinto sem resolução do mérito, por falta de interesse de agir, deve ser mantida a decisão recorrida. Isso porque a parte, com exceção do período de 16.02.2008 a DER (documento 59 do evento 1 indica exposição a ruído de 61dB, que não caracteriza insalubridade), não apresentou nenhum documento comprovando a exposição a algum agente nocivo, de modo que, para evitar a reformatio in pejus, mantenho a extinção. 200970510093467 [MLR /MLR] 1/5
Com relação aos demais períodos especiais impugnados pelas partes, também não merece reparo a sentença prolatada. Sobre a possibilidade de conversão de tempo comum em especial, esta 1ª Turma Recursal tem entendimento de que é possível até a edição da Lei nº 9.032/95. Nesse sentido, segue a ementa referente ao julgamento dos autos nº 200870510050040, Relator Juiz Federal José Antonio Savaris: APOSENTADORIA ESPECIAL. CONVERSÃO DE TEMPO COMUM EM ESPECIAL. TEMPO DE SERVIÇO ANTERIOR À LEI 9.032/95. TEMPUS REGIS ACTUM. POSSIBILIDADE. VIGILANTE. USO DE ARMA DE FOGO. NECESSIDADE. 1. O tempo de serviço é disciplinado pela lei em vigor à época em que efetivamente exercido, passando a integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador. Precedentes do STJ: AGREsp nº 493.458/RS e REsp nº 491.338/RS. 2. O artigo 57 da Lei 8213/1991, em sua redação originária, bem como o artigo art.64 do Decreto 611/92 e o art. 35, 2º, do Decreto 89.312/84 permitiam a conversão de tempo comum para especial, aplicando-se o fator 0,71. 3. Se a prestação a prestação do serviço ocorreu sob a égide de legislação que permitia a conversão pretendida pelo autor, o segurado adquiriu o direito à contagem como tal, a ele não se aplicando retroativamente uma lei nova que venha a estabelecer restrições à conversão de tempo comum em especial. 4. Ainda que os requisitos para a concessão da aposentadoria somente venham a ser cumpridos após a edição da Lei 9032/95, o segurado faz jus à conversão do tempo comum em especial trabalhado sob a égide da legislação anterior. 5. Conforme jurisprudência uniformizada pela TRU, a atividade de vigilante enquadra-se como especial, equiparando-se à de guarda, elencada no item 2.5.7 do Anexo III do Decreto n. 53.831/64 como atividade perigosa, desde que comprovado o efetivo uso de arma de fogo durante a jornada de trabalho (Súmula nº 10 da TRU da 4ª Região). 6. Não havendo comprovação do uso de arma de fogo e não sendo possível a sua presunção, deve ser reformada a sentença que reconheceu a especialidade da atividade, neste ponto. Saliento que mesmo que os requisitos para a concessão da aposentadoria somente venham a ser cumpridos após a edição da Lei 9032/95, o segurado faz jus à conversão do tempo comum em especial trabalhado sob a égide da legislação anterior. Esse é o entendimento do TRF/4: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. ATIVIDADE ESPECIAL. CONVERSÃO DE TEMPO COMUM EM ESPECIAL ANTES DA LEI N. 9.032/95. POSSIBILIDADE. CUMPRIMENTO IMEDIATO DO ACÓRDÃO. 1. É devida a aposentadoria especial se comprovada a carência e o tempo de serviço exigidos pela legislação previdenciária. 2 e 3. Omissis. 4. O tempo de serviço é disciplinado pela lei em vigor à época em que efetivamente exercido, passando a integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do 200970510093467 [MLR /MLR] 2/5
trabalhador. O fato de os requisitos para a aposentadoria terem sido implementados posteriormente, não afeta a natureza do tempo de serviço e a possibilidade de conversão segundo a legislação da época. 5. A Lei n. 9.032, de 28-04-1995, ao alterar o 3º do art. 57 da Lei n. 8.213/91, vedando, a partir de então, a possibilidade de conversão de tempo de serviço comum em especial para fins de concessão do benefício de aposentadoria especial, não atinge os períodos anteriores à sua vigência, ainda que os requisitos para a concessão da inativação venham a ser preenchidos posteriormente, visto que não se aplica retroativamente uma lei nova que venha a estabelecer restrições em relação ao tempo de serviço. 6. e 7. Omissis. (TRF4, APELREEX 2009.70.09.000158-2, Sexta Turma, Relator Eduardo Vandré Oliveira Lema Garcia, D.E. 05/02/2010) O autor pleiteia a conversão dos períodos de 01.05.1975 a 02.02.1976; 04.02.1976 a 20.03.1976; 23.03.1976 a 30.09.1976 (documento 23 e 24 do evento 1 e CNIS em anexo). Assim, merece reforma a sentença, para que no cálculo do tempo de serviço seja considerada a possibilidade de conversão do tempo comum em tempo especial, mediante aplicação do fator 0,71. Ressalto apenas que o segurado deve optar pela conversão do tempo comum em especial para que, somados os períodos especiais reconhecidos, se verifique se foram atingidos os 15, 20 ou 25 anos de tempo de serviço especial. Ou então, deve optar pela conversão do tempo especial em tempo comum, a fim de que seja atingido o tempo mínimo para a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. O que não é possível é a conversão do tempo comum em tempo especial e, concomitantemente, a conversão de tempo especial em tempo comum. Desse modo, o recurso do autor merece parcial provimento, para que seja para que seja assegurado o direito à contagem do tempo de serviço, mediante a soma dos períodos especiais e a conversão do tempo comum em tempo especial com base no fator 0,71. A verificação do direito do segurado ao recebimento de aposentadoria por tempo de serviço ou de contribuição deve partir das seguintes balizas: a) A aposentadoria por tempo de serviço (integral ou proporcional) somente é devida se o segurado não necessitar de período de atividade posterior a 16/12/98, sendo aplicável o art. 52 da Lei 8.213/91. 200970510093467 [MLR /MLR] 3/5
b) Em havendo contagem de tempo posterior a 16/12/98, somente será possível a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Nesse aspecto, ressalvo entendimento pessoal no sentido de que é possível a concessão da aposentadoria por tempo de serviço com a contagem do tempo até a entrada em vigor da Lei nº 9.876/99. c) Cumprido o requisito específico de 35 anos de contribuição, se homem, e 30 anos, se mulher, o segurado faz jus à aposentadoria por tempo de serviço (se não contar tempo posterior a 16/12/98) ou à aposentadoria por tempo de contribuição (caso necessite de tempo posterior a 16/12/98). Se poderia se aposentar por tempo de serviço em 16/12/98, deve-se conceder a aposentadoria mais vantajosa, nos termos do art. 122 da Lei 8.213/91. d) Cumprido o tempo de contribuição de 35 anos, se homem, e 30 anos, se mulher, não se exige do segurado a idade mínima ou período adicional de contribuição (EC 20/98, art. 9º, caput, e CF/88, art. 201, 7º, I). e) O segurado filiado ao RGPS antes da publicação da Emenda 20/98 faz jus à aposentadoria por tempo de contribuição proporcional. Seus requisitos cumulativos: I) idade mínima de 53 (homem) e 48 (mulher); II) Soma de 30 anos (homem) e 25 (mulher) com o período adicional de contribuição de 40% do tempo que faltava, na data de publicação da Emenda, para alcançar o tempo mínimo acima referido (EC 20/98, art. 9º, 1º, I). f) A aposentadoria especial será devida se após a soma dos períodos reconhecidos como especiais, ao tempo resultante da conversão do tempo comum trabalhado até a lei 9032/95 mediante o fator 0,71, o segurado contar com 25 anos de tempo de trabalho. Em todos os casos, deve ser observado o cumprimento da carência, nos termos do art. 142 e art. 55, 2º, ambos da Lei nº 8.213/91. Nos termos do art. 49, II, c/c art. 54 da Lei 8.213/91, a aposentadoria é devida desde a data do requerimento administrativo (DER). A consequência da concessão de aposentadoria impõe à Administração Previdenciária que pague ao segurado as parcelas devidas desde a data de início do benefício, corrigidas monetariamente pelo IGP-DI (de 05/1996 a 03/2006 art. 10 da lei n.º 9.711/1998) e pelo INPC (de 04/2006 a 06/2009 art. 31 da Lei n.º 10.741/2003), as quais devem ser acrescidas de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, contados da citação, até 30/06/2009. Após 07/2009, para fins de atualização monetária e juros de mora, haverá incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, 200970510093467 [MLR /MLR] 4/5
dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança (art. 1º-F da Lei n.º 9.494/1997, com redação dada pela Lei n.º 11.960/2009), observada a prescrição quinquenal e valor de alçada dos Juizados Especiais Federais de 60 (sessenta) salários mínimos na data do ajuizamento da ação (incluindo as doze parcelas vincendas). Uma vez reconhecido o direito do segurado ao acréscimo na contagem de tempo de contribuição, impõe-se ao INSS: a) a averbação de tais períodos de tempo de contribuição; b) desde que alcançado o requisito específico, a concessão de aposentadoria com estrita observância à norma contida no art. 122 da Lei 8.213/91, no prazo de 30 dias a contar da intimação do trânsito em julgado. Condeno o recorrente vencido (RÉU) ao pagamento de honorários advocatícios que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, observada a Súmula 76 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região ( Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, devem incidir somente sobre as parcelas vencidas até a data da sentença de procedência ou do acórdão que reforme a sentença de improcedência ). Ante o exposto, voto por DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DO AUTOR e NEGAR PRVIMENTO AO RECURSO DO INSS. Márcia Vogel Vidal de Oliveira Juíza Federal Relatora 200970510093467 [MLR /MLR] 5/5