EDUCAÇÃO: BLINDAGEM CONTRA A VIOLÊNCIA HOMICIDA?



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Transcrição:

CADERNO TEMÁTICO Nº 1 MAPA DA VIOLÊNCIA EDUCAÇÃO: BLINDAGEM CONTRA A VIOLÊNCIA HOMICIDA? Julio Jacobo Waiselfisz Julho de 2016 Recife

EDUCAÇÃO: BLINDAGEM CONTRA A VIOLÊNCIA HOMICÍDA? Julio Jacobo Waiselfisz 1. INTRODUÇÃO Os diversos Mapas da Violência, publicados a partir de 1998, permitiram evidenciar que a violência homicida no país vem avançando de forma progressiva e assustadora, atingindo, na atualidade, níveis de verdadeira pandemia, com sua taxa que ronda os 30 homicídios por 100 mil habitantes. As mesmas evidências apontam que, em todos os agrupamentos estudados (crianças, adolescentes, jovens, mulheres, etc.), o Brasil se encontra entre os 10 países mais violentos do mundo, chegando ao extremo de afirmar que: No Brasil, país sem disputas territoriais, movimentos emancipatórios, guerras civis, enfrentamentos religiosos, raciais ou étnicos, conflitos de fronteira ou atos terroristas, foram contabilizados, nos últimos quatro anos disponíveis 2008 a 2011 um total de 206.005 vítimas de homicídios, número bem superior aos 12 maiores conflitos armados acontecidos no mundo entre 2004 e 2007. Mais ainda, esse número de homicídios resulta quase idêntico ao total de mortes diretas nos 62 conflitos armados desse período, que foi de 208.349. Em função dessas magnitudes, de seu impacto social, político, econômico, na saúde pública, etc., resulta surpreendente a enorme escassez de estudos e de fontes de informação sobre o tema, quando comparado com outras áreas. Menos frequentes ainda são os estudos sobre as causas e/ou determinantes desses elevados níveis de violência homicida no país, notadamente, os níveis educacionais. E os poucos que existem, o fazem relacionando indicadores aglomerados: a. Algum indicador de níveis educacionais (cobertura escolar, anos de estudo da população, proporção da população que finalizou o ensino fundamental ou médio, etc.) da cidade, ou município, ou região. b. Taxas de homicídio dessa mesma área.

A partir dessas associações aglomeradas, os resultados, via de regra, decepcionantes. Uma das poucas exceções a essa regra é o excelente trabalho de Serguei Dillon Soares, de 2007 1, do qual este estudo é devedor. Nas palavras do próprio autor: O texto consiste tanto de uma análise exploratória que compara as taxas de mortalidade por homicídio por idade para diferentes níveis de instrução formal, quanto de uma análise de regressão para achar coeficientes de correlação parciais. As regressões são estimadas com a utilização de dados agrupados e pareados por células definidas por sexo, idade, região de residência, cor e escolaridade. Estimou-se um modelo linear de probabilidade de uma regressão logística. O texto reforça três resultados já conhecidos. O primeiro é que mulheres sofrem de homicídio a uma taxa quase dez vezes inferior à dos homens. O segundo, que negros têm maior probabilidade de morrer vítimas de homicídio que brancos. O terceiro é que jovens entre 16 e 36 anos perfazem o grande grupo de risco para a morte por homicídio. O principal resultado inovador é que a escolaridade reduz significativamente o risco de morte por homicídio, embora sua magnitude mais exata dependa do modelo estimado. Talvez pelas técnicas sofisticadas utilizadas, ou talvez não fosse essa a intenção do autor, mas o trabalho não teve a devida repercussão na época. 2. METODOLOGIA Se a abordagem utilizada neste estudo é diferente à utilizada por Dillao Soares, as fontes empregadas foram as mesmas, inclusive por serem praticamente as únicas existentes para os indicadores analisados: Homicídios. A fonte básica para a análise da mortalidade no país, em todos os Mapas da Violência até hoje elaborados, é o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério 1 Dillon Soares, Serguei. Educação: Um escudo contra o homicídio. IPEA. Textos para Discussão 1298. Brasília. 2007.

da Saúde (MS). Pela legislação vigente, nenhum sepultamento pode ser realizado sem a Certidão de Óbito correspondente, lavrada à vista da Declaração de Óbito, preenchida por médico ou, na falta dele, por duas pessoas qualificadas que tenham presenciado ou constatado a morte. As Declarações de Óbito, um instrumento padronizado nacionalmente, são coletadas pelas secretarias municipais de saúde, transferidas para as secretarias estaduais de saúde e centralizadas posteriormente no SIM/MS. Essa Declaração fornece dados relativos à idade, ao sexo, ao estado civil, à profissão e ao local de residência da vítima e também informa o local da ocorrência da morte. Outra informação relevante, exigida pela legislação, é a causa da morte. Tais causas são registradas pelo SIM, seguindo os capítulos da Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). A partir de 1996, o Ministério da Saúde adotou a décima revisão da CID, que continua vigente até os dias de hoje (CID-10). Nosso trabalho centrar-se-á nos homicídios que, de acordo com a última classificação da OMS, abrangem as categorias X85 a Y09: agressões intencionais (homicídios). População por Nível Educacional e idades, para o cálculo das taxas. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) anualmente, salvo em anos censitários, coleta informações populacionais numa amostra representativa por UF, em aproximadamente 100 mil domicílios e 400 mil pessoas de todas as idades. Para as análises do presente estudo, foram selecionadas as vítimas de homicídio de 15 ou mais anos de idade, por ter sua situação educacional relativamente consolidada. Também, dado o agrupamento dos dados na única referência ao tema que consta nas Declarações de Óbito, deveremos obrigatoriamente utilizar essa categorização. FAIXAS DE ANOS DE ESTUDO 0 a 3 anos de estudo; 4 a 7 anos de estudo; 8 a 11 anos de estudo; 12 e mais anos de estudo.

Devido às grandes diferenças nos resultados, deveremos agrupar as vítimas em 4 grandes grupos etários que representam fases diferenciadas do ciclo de vida: FAIXAS ETÁRIAS DAS VÍTIMAS DE HOMICÍDIO 15 a 19 anos de idade; 20 a 29 anos de idade; 30 a 59 anos de idade; 60 e mais anos de idade. O mecanismo proposto é relativamente simples: a. estimar as taxas de homicídio para cada faixa de escolaridade registrada na Declaração de Óbito; b. comparar as taxas de homicídio, calculando a diferença percentual entre as faixas extremas (de 0 a 3 anos de estudo e 12 anos ou mais); c. essa diferença percentual constitui a probabilidade diferencial de ser vítima de homicídio. 3. RESULTADOS a seguir: Os resultados para esses quatro grandes grupos etários serão expostos Jovens de 15 a 19 anos de idade Podemos ver pela tabela 1 que, segundo os registros do SIM, no ano de 2014, um total de 7.708 jovens de 15 a 19 anos de idade morreram, vítimas de homicídio. Para uma população estimada pela PNAD de 17,4 mi nessa faixa etária, teríamos uma taxa de homicídio de 44,3 2 jovens de 15 a 19 anos. Taxa bem acima da média nacional para todas as idades, que nesse ano foi de 29,4. a) 1.726 desse desses jovens assassinados só tinha de 0 (nenhum) a 3 anos de estudo. Para uma população estimada pela PNAD de 657 mil jovens 2 O símbolo representa por 100.000 indivíduos da população de referência.

nessa faixa etária, temos uma taxa de homicídios de 262,7 jovens de 15 a 19 anos de idade que tinham entre 0 e 3 anos de estudo. b) No extremo oposto, jovens com 12 anos e mais de estudo registraram um total de 34 vítimas nesse ano de 2014. Para uma população de 591,9 mil com esse nível de estudo, teríamos uma taxa de homicídios de 5,7, absolutamente inferior à faixa anterior. Tabela 1. Anos de Estudo das vítimas de homicídio de 15 a 19 anos de idade e probabilidade (%) de vitimização por homicídio. Brasil, 2014 População na Faixa Vítimas de Homicídio de Anos de Estudo Anos de Estudo Taxa Probabilidade diferencial de homicídio (%) de 0 a 3 1.726 22,4 262,7 657.048 3,8 4.473 de 4 a 7 4.473 58,0 107,7 4.152.428 23,9 1.775 de 8 a 11 1.475 19,1 12,3 12.008.608 69,0 114 12 e mais 34 0,4 5,7 591.876 3,4 -- Total 7.708 100,0 44,3 17.409.960 100,0 c) A última coluna da tabela probabilidade diferencial de homicídio (%) - quantifica a relação entre esses extremos de tempo de estudo, tomando como base as taxas de homicídio dos que possuem níveis educacionais mais elevados. Vemos, assim, que jovens de 15 a 19 anos de idade com 0 a 3 anos de estudo (analfabetos ou com alfabetização deficitária) têm 4.473% maiores chances de morrerem assassinados do que aqueles que têm 12 e mais anos de estudo (finalizaram o Ensino Médio ou mais). De forma proporcional ao tamanho de ambos os universos, por cada jovem de 15 a 19 anos com 12 ou mais anos de estudo vítima de homicídio, morrem 46 com 0 a 3 anos de estudo. Jovens de 20 a 29 anos de idade Pelas evidências disponíveis, é nesta faixa etária que a vitimização por homicídio atinge sua máxima expressão. Com um total de 16.591 vítimas na população de 31,3 mi de jovens de 20 a 29 anos de idade, resulta uma taxa de homicídio de 52,9. Todavia, essa é a faixa etária em que a blindagem educacional atinge seu máximo nível de proteção.

Tabela 2. Anos de Estudo das vítimas de homicídio de 20 a 29 anos de idade e probabilidade (%) de vitimização por homicídio. Brasil, 2014 População na Faixa Vítimas de Homicídio de Anos de Estudo Anos de Estudo Taxa Probabilidade diferencial de homicídio (%) de 0 a 3 3.713 22,4 264,0 1.406.481 4,5 6.516 de 4 a 7 8.234 49,6 198,0 4.158.042 13,3 4.863 de 8 a 11 4.339 26,2 23,9 18.137.213 57,9 500 12 e mais 305 1,8 4,0 7.643.609 24,4 -- Total 16.591 100,0 52,9 31.345.345 100,0 Se a taxa de homicídio para o grupo de 12 anos ou mais de estudo foi de 4,0, e a taxa para 0 a 3 anos de estudo foi de 264,0, a probabilidade diferencial para essa faixa etária é de 6.516%, isto é, de 1 para 66! Adultos de 30 a 59 anos de idade Já para a faixa etária adulta, essa capacidade protetiva perde ímpeto, mas não é de se desconsiderar, pesem as dificuldades de adultos recomeçarem a estudar: Na faixa de 12 anos e mais de estudos, a taxa de homicídios em 2014 foi de 4,1. Na faixa de 0 a 3 anos de estudo, de 41,6. O diferencial foi de 912%, isto é, 1 para 10. Proporcionalmente ao tamanho de ambas populações, por cada educado vítima de homicídio tivemos 10 vítimas no grupo de baixa ou nula escolaridade. Tabela 3. Anos de Estudo das vítimas de homicídio de 30 a 59 anos de idade e probabilidade (%) de vitimização por homicídio. Brasil, 2014 População na Faixa Vítimas de Homicídio de Anos de Estudo Anos de Estudo Taxa Probabilidade diferencial de homicídio (%) de 0 a 3 5.638 32,5 41,6 13.568.797 16,5 912 de 4 a 7 6.889 39,8 37,6 18.301.972 22,3 817 de 8 a 11 4.130 23,8 12,1 34.086.815 41,5 195 12 e mais 667 3,9 4,1 16.249.249 19,8 -- Total 17.324 100,0 21,1 82.206.833 100,0

Idosos de 60 e mais anos de idade Continuando a tendência vista na faixa anterior, aqui o diferencial protetivo é o menor de todas as faixas etárias analisadas: 86%, ou seja, por cada vítima na faixa superior de anos de estudo, morrem quase 2 na faixa inferior. Tabela 4. Anos de Estudo das vítimas de homicídio de 60 e + anos de idade e probabilidade (%) de vitímização por homicídio. Brasil, 2014 População na Faixa Vítimas de Homicídio de Anos de Estudo Anos de Estudo Taxa Probabilidade diferencial de homicídio (%) de 0 a 3 848 51,1 6,8 12.397.042 44,5 86 de 4 a 7 467 28,1 6,1 7.652.699 27,5 66 de 8 a 11 242 14,6 4,8 5.019.706 18,0 31 12 e mais 103 6,2 3,7 2.797.855 10,0 -- Total 1.660 100,0 6,0 27.867.302 100,0 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tema atual de discussões e controvérsias, a redução da maioridade penal e suas sequelas têm ganhado as ruas e o imaginário de diversos segmentos da população. Construir mais cárceres, mais delegacias especializadas, mais necrotérios e mais punição têm sido as saídas aconselhadas por essas propostas com escasso embasamento e nenhum estudo que aponte a necessária eficiência dessas políticas. Mas os dados oficiais disponíveis nos apontam os caminhos a seguir, se realmente queremos pensar em um futuro para nossos jovens: não vão ser delegacias especializadas, nem encarceramentos massivos que permitirão superar a onda de violência que afeta e atemoriza a população. Vai ser o singelo e histórico ato de escolarizar, avançar com nossa educação para a juventude, que vai atingir diversos problemas de um só golpe: cimentar o desenvolvimento econômico, social e político do país, o que não é pouca coisa. Tivemos oportunidade de evidenciar que essa capacidade protetiva, essa blindagem que o nível educacional permite, concentra-se primordialmente na faixa jovem, precisamente o setor mais afetado, de longe, pela violência homicida.