Segurança Alimentar. Parasitas nos produtos da pesca

Documentos relacionados
QUALIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR / GESTÃO DE RECLAMAÇÕES. Susana Sousa Consultoria e Formação

Higiene e Segurança Alimentar

1.1. Enumere as principais características e tendências da distribuição alimentar em Portugal.

O que é? HACCP Obrigação legal. HACCP Conceitos Gerais e aplicação na produção alimentar

alocação de custo têm que ser feita de maneira estimada e muitas vezes arbitrária (como o aluguel, a supervisão, as chefias, etc.

Vários tipos / níveis de controlo

GUIA PRÁTICO ATENDIMENTO AÇÃO SOCIAL

Jornal Oficial da União Europeia

Obrigações Legais dos Estabelecimentos Prestadores de Serviços de apoio social

Registo de Representantes Autorizados e Pessoas Responsáveis

REGULAMENTO DELEGADO (UE) N.º /.. DA COMISSÃO. de

Seminário Transportes & Negócios Transporte Rodoviário de Mercadorias Susana Mariano 24 Maio 2012

BOAS PRÁTICAS EM MATÉRIA DE AMBIENTE, SEGURANÇA E HIGIENE

GUIA PRÁTICO SUPLEMENTO ESPECIAL DE PENSÃO

PROGRAMA. (Ação cofinanciada pelo Fundo Social Europeu PRO-EMPREGO) Segurança e Higiene no Trabalho

Informação Voluntária do Produto baseada no formato da ficha de dados de segurança para abrasivos flexíveis

Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira. Processos de registo e homologação prévia à exportação para o Brasil Área Alimentar

REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES Secretaria Regional da Agricultura e Ambiente. Orientação

Objeto Alteração ao Regulamento que estabelece Normas Comuns sobre o Fundo Social Europeu [ ]

Vale Inovação. Dezembro de Sistema de Incentivos à Qualificação e Internacionalização de PME (SI QUALIFICAÇÃO PME)

PREPARATIVOS PARA A NOVA LEGISLAÇÃO SOBRE EFICIÊNCIA E ROTULAGEM ENERGÉTICAS

Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Solidariedade

Marcação de embalagens abrangidas no âmbito de atuação da VALORMED. 17 de novembro de 2015

Organização Internacional do Trabalho. Convenção OIT 187 Convenção sobre o quadro promocional para a segurança e saúde no trabalho, 2006

Seminário Uso Sustentável de Produtos Fitofarmacêuticos. Aplicação Aérea. Foto: C. Machado

Fiscalização de Produtos Certificados: Acordo de Cooperação entre Inmetro e Receita Federal

REGIME JURÍDICO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

CÂMARA MUNICIPAL DE ALBUFEIRA. Licenciamento industrial

MÓDULO V. Pré-requisitos do Sistema HACCP. Formador: Vera Madeira. Data:11/02/15

Fritura O processo de fritura é uma alternativa de preparação de alimentos rápida, sendo que também confere características sensoriais diferenciadas T

Desafios de PLDFT no Mercosul e MoU para disseminar melhores práticas de PLDFT no uso regional de moedas

A NOVA REGULAMENTAÇÃO DE ESTRUTURAS EM BETÃO ARMADO

REGISTO DE ENTIDADES NA ANPC (Portaria n.º 773/2009, de 21 de Julho e Despacho 10738/2011 de 30 de Agosto) PERGUNTAS MAIS FREQUENTES

Sistemas de segurança na produção de alimentos

Qual é a função do cólon e do reto?

Notas de Orientação da Corporação Financeira Internacional: Padrões de Desempenho sobre Sustentabilidade Socioambiental

Programa Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental relacionada à Qualidade da Água para Consumo Humano - VIGIAGUA

INSTRUÇÃO N.º 27/ (BO N.º 9, )

ANEXO 3 GERENCIAMENTO DE MODIFICAÇÕES

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2006 (De autoria do Senador Pedro Simon)

Comissões de Segurança nas Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador RICARDO SANTOS

Regulamento paraa Certificação do Sistema de Gestão da Saúde e Segurança Ocupacional

Escopo examinado: inspeção das instalações e condições do sistema de prevenção de incêndios

Desafios da Segurança Alimentar

INDICAÇÃO DE PREÇOS. Regime jurídico relativo à indicação de preços dos bens vendidos a retalho. Decreto-Lei nº 138/90 de 26 de Abril

Desconto de 10% nos produtos e serviços abaixo indicados, sobre o preço em vigor em cada momento.

28 de abril - Dia Nacional de Prevenção e Segurança no Trabalho Jorge Maia Alves Subdiretor

CONCURSO PÚBLICO PARA BOLSA DE ESTÁGIO SECRETARIA DE AÇÃO SOCIAL E CIDADANIA

Ficha de dados de segurança

PERIGO? AVALIAÇÃO DE RISCOS?? ANÁLISE DE PERIGOS? ANÁLISE DE RISCOS? RISCO? HACCP

IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL

Requisitos legais. Para obter mais informações, consulte o documento Homologação de tipo.

Daniela CASTELLANI Bióloga, Dr., PqC do Pólo Noroeste Paulista / APTA daniela.castellani@apta.sp.gov.br

FICHA DE DADOS DE SEGURANÇA MOD.QAS.033 / 03

Regulamento do Estatuto do Funcionário Parlamentar Estudante

Crianças em trabalho perigoso

Atividades de investigação de Infecções e Surtos em Serviços de Saúde

REGULAMENTO DE FUNCIONAMENTO E EXPLORAÇÃO DO AERÓDROMO MUNICIPAL DE BRAGANÇA Tendo em conta o aumento da utilização do Aeródromo Municipal de

FICHA DOUTRINÁRIA. Diploma: CIVA. Artigo: 36º, nº 5, f) Assunto:

D.G.F.C.Q.A. Segurança Alimentar em Portugal. Maria de Lourdes Gonçalves

Sextante Ltda. Rua da Assembléia, 10 sala 1817 Rio de Janeiro RJ (21) Programa Setorial da Qualidade

Relatório Anual de Transparência Ano de 2015

CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA. Bruxelas, 9 de Dezembro de 2008 (OR. en) 14288/2/08 REV 2 ADD 1. Dossier interinstitucional: 2005/0236 (COD)

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Certificação A Base da Confiança do Consumidor. FERNANDO SERRADOR 11 de Abril de 2007 Lipor

UNIÃO DE ASSOCIAÇÕES DO COMÉRCIO E SERVIÇOS

MINISTERIO DE Estado e da SAUDE Direcção Geral da Saúde Programa Nacional de Nutrição

IMPUGNAÇÃO 1 PREGÃO 09/2016

ACSS Administração Central do Sistema de Saúde, I.P. - Erros mais Comuns. Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica.

Base de dados de Suplementos Alimentares. Paulo Fernandes

Livros Espaços Confinados

Serviço de importação de encomendas destinados à Rússia Serviço disponível apenas para importadores comerciais.

Programa Integrado de Fruta - PIF. Mauricely Franco Gestora de Acreditação CGCRE/DICOR/Sesit_Eqpep

Palavras Chave: RDC 216; Segurança Alimentar; Boas Práticas de Fabricação

COMO VALIDAR O HACCP Um Exemplo na Indústria de Carnes e Derivados

EURÍPIDES DE MARÍLIA

Campanha de Segurança e Saúde no Trabalho da Condução Automóvel Profissional

A VIGILÂNCIA E A CONDUTA DA HIGIENE SANITÁRIA DOS AMBIENTES

MESTRADO EM ECOLOGIA APLICADA 2006/2008. Propinas: 1250 /Ano

Tabaco. Legislação aplicável:

Nota Fiscal Eletrônica para Consumidor Final NFC-e. PROJETO NFC-e NOTA FISCAL ELETRÔNICA PARA CONSUMIDOR FINAL

Procedimento de Gestão. Resolução/ Remediação de Situações de Trabalho de Menores

SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADO - SGI (MEIO AMBIENTE, SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO) CONTROLE DE DOCUMENTOS e REGISTROS

DECISÕES. (Texto relevante para efeitos do EEE)

AUDITORIA INTERNA Secretaria de Educação

Come On Labels. Common appliance policy All for one, One for all Energy Labels. Contrato N : IEE/09/628/SI

Código de Boas Práticas para a correta Gestão de Resíduos de Construção e Demolição (RC&D) Serviço de Ambiente

ACSS. Instalações frigoríficas em edifícios hospitalares ACSS. ACSS Unidade de Instalações e Equipamentos. Especificações técnicas para.

PROCEDIMENTO GERAL Melhoria contínua

ANEXO ll DA RESOLUÇÃO Nº 023/11/DPR GERÊNCIA DE ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAS - GAPES

Saúde Ocupacional e Regulamentação dos Planos de Saúde

Nesta sequência, cumpre destacar algumas das medidas que, em relação aos diplomas anteriores, são inovadoras.

QUANDO A VIDA. DOS BRASILEIROS MUDA, O BRASIL MUDA TAMBÉM. Saiba como participar dessa mudança. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME

Transcrição:

Segurança Alimentar Direção Geral de Alimentação e Veterinária Parasitas nos produtos da pesca Esclarecimento 1/2014 Resumo: Clarificam-se as regras aplicáveis ao controlo de parasitas nos produtos da pesca, nomeadamente as responsabilidades que estão imputadas aos operadores e às autoridades competentes na matéria. A presença nos produtos da pesca de parasitas, externos e internos, e as suas implicações na saúde do consumidor, na qualidade do produto final e no seu valor comercial, a par das responsabilidades que devem competir às autoridades e aos operadores no controlo de pescado parasitado, têm sido temas muito discutidos em diversas sedes, resultando muitas vezes controversos, de difícil obtenção de consensos, interpretações e normas de objetividade facilitadoras da atuação dos diversos agentes. Para isso contribuem diversos fatores, como sejam a diversidade de parasitas que podem ser detetados no pescado, externos e internos, visíveis a olho nu ou apenas detetáveis por outros métodos, potencialmente zoonóticos ou não ou a possibilidade de provocarem alterações no pescado que o tornem impróprio para consumo. Razões ligadas à ecologia do pescado, de interação e intimidade com o meio (água) em que vivem e com os outros organismos marinhos, incluindo as formas parasitárias infestantes, conduzem a que se possa admitir, sem demasiado excesso, que todo o peixe está de algum modo parasitado. Divisão de Comunicação e Informação A atual regulamentação comunitária (Regulamento CE nº 854/2004, Anexo III) impõe às autoridades competentes a realização de controlos ao longo da cadeia de comercialização para verificar o cumprimento da legislação comunitária sobre parasitas. Em resultado desse controlo, os produtos da pesca devem ser declarados impróprios para consumo se for revelado que não cumprem a legislação comunitária na matéria. 1 de 5

Reg. CE nº 852/2004 relativo à higiene e aplicável a todos os estabelecimentos dos géneros alimentícios, incluindo retalho Em termos específicos, apenas, refere que os operadores não devem aceitar matérias-primas contaminadas por parasitas, na medida em que o produto final possa resultar impróprio para consumo (Cap. IX). Reg. CE nº 853/2004 (Secção VIII) relativo à higiene dos produtos de origem animal, também aplicável aos estabelecimentos retalhistas nos requisitos que se seguem Os operadores devem garantir que os produtos da pesca foram submetidos a exame visual para deteção de parasitas visíveis; Os produtos obviamente contaminados por parasitas não podem ser colocados no mercado; Os peixes ósseos e moluscos cefalópodes destinados a serem consumidos crus (sushi, etc.) e os prontos a consumir que não tenham sofrido um processamento suficiente para eliminar os parasitas viáveis (marinados, fumagem fria, etc.) devem ser submetidos a um tratamento de congelação adequado, exceto se, São já ou derivam de produtos devidamente congelados; Estão destinados a sofrer tratamento térmico que elimine as formas viáveis; Alguns casos especiais, com dados epidemiólogos seguros ou de produção aquícola controlada, a serem sempre previamente autorizados pela DGAV. 2 de 5

Reg. CE nº 2074/2005 (Anexo II, Secção I) Com medidas de execução relativas à deteção dos parasitas Define que o exame ou inspeção visual é um exame não destrutivo; Impõe que nos estabelecimentos em terra e nos navios-fábrica sejam realizadas essas inspeções por pessoal qualificado, numa dimensão e frequência em função do risco; Esta inspeção deverá ser contínua pelo manipulador durante a evisceração manual e durante o corte (postas, filetes); Prevê também situações de inspeção por amostragem e por transiluminação. Da conjugação das diversas componentes sumariamente abordadas, tais como a realidade da produção pesqueira, a segurança alimentar e as determinações legais aplicáveis ao tema, com realce também para as elevadas prevalências de parasitas após a captura e os nossos hábitos de consumo de pescado, normalmente cozinhado mas com crescente consumo no estado cru, podem-se inferir as seguintes interpretações, expoentes das regras aplicáveis por forma mais simplificada: 1. A presença de parasitas no pescado é uma situação que não deve ser apreciada como anormal; 2. Existem diferentes tipos de parasitas, visíveis ou não, que podem alterar em maior ou menos grau as diversas espécies de pescado ou torná-lo simplesmente repugnante. 3. São poucas as espécies de parasitas que podem representar algum perigo para o consumidor. A mais vulgar é o Anisakis sp., frequentemente observável com larvas de 1 a 2cm nas vísceras e paredes abdominais do peixe, podendo migrar para o músculo. São destruídas pela congelação ou pelo calor durante a confeção (ultrapassar os 60ºC). 3 de 5

4. Quando possível, a evisceração precoce é uma boa prática que deve ser incentivada. 5. Apesar do tradicional consumo de pescado fresco, no nosso país não têm sido reportados casos de doença nas pessoas devido ao consumo de pescado parasitado. 6. No entanto, como todos os perigos associados aos géneros alimentícios, os parasitas no pescado devem ser controlados pelos operadores ao longo da cadeia de produção e comercialização. 7. Os produtos da pesca manifestamente parasitados não podem ser colocados no mercado (não é o mesmo dizer que, na produção, distribuição e comércio, o pescado não pode conter parasitas). 8. Obrigatório é cada operador, incluindo os do retalho, ter implementado procedimentos adequados de inspeção visual para controlo dos parasitas. A remoção dos parasitas é admitida. 9. Os operadores que coloquem no mercado produtos (apenas peixes ósseos e moluscos cefalópodes) insuficientemente tratados ou destinados a serem consumidos crus, ou os sirvam (restauração), têm responsabilidades acrescidas na prevenção do risco. Salvo exceções possíveis, estes produtos da pesca devem ter sofrido um tratamento por congelação. 10. Podem existir outras manifestações adversas no consumidor para além das associadas à ingestão de formas viáveis dos parasitas (alergias, por exemplo). 11. Recorda-se o objetivo superior de proteção dos interesses do consumidor, no qual não há risco zero, e que quaisquer perigos relacionados com parasitismo ou de outra natureza devem ser, no âmbito dos procedimentos baseados nos princípios HACCP, devidamente listados, analisados e controlados pelos operadores. 4 de 5

12. Às autoridades oficiais, além de tarefas paralelas na inspeção dos produtos, compete verificar a observância das regras exigidas aos operadores e a tomada de medidas adequadas e proporcionadas para repor a conformidade. Ler mais: GUIDANCE ON VIABLE PARASITES IN FISHERY PRODUCTS THAT MAY REPRESENT A RISK TO THE HEALTH OF THE CONSUMER - http://ec.europa.eu/food/food/biosafety/areas_cyprus/20111214_scfcah_guidance_parasites_en.pdf Para mais informações contacte a DGAV: DSSA Direção de Serviços de Segurança Alimentar seguranca.alimentar@dgav.pt Imagens reproduzidas dos sites: Divisão de Comunicação e Informação www.cocina.conmirobot.com fishparasite.fs.a.u-tokyo.ac.jp Elaboração: DGAV - 17 de fevereiro 2014 5 de 5