O PAPEL DOS PROFESSORES NO DESENVOLVIMENTO DA AVALIAÇÃO PARA AS APRENDIZAGENS



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Transcrição:

O PAPEL DOS PROFESSORES NO DESENVOLVIMENTO DA AVALIAÇÃO PARA AS APRENDIZAGENS Prof. Domingos Fernandes/Portugal* Os professores podem desempenhar um papel determinante no desenvolvimento da avaliação de uma variedade de aprendizagens que os seus alunos têm que adquirir. Nesse sentido é fundamental que, entre outros, eles sejam possuidores de profundos conhecimentos tais como os que são relativos: a) aos conteúdos científicos que têm que leccionar (e.g., Matemática; Física; Ciências da Terra e Da Vida; Língua Portuguesa); b) à didáctica específica da disciplina ou disciplinas que ensinam; e c) a uma diversidade de conteúdos de natureza pedagógica. Os professores são, necessariamente, profissionais altamente especializados e, por isso, têm que ter uma formação inicial e contínua sofisticada, profunda e abrangente para que possam responder à complexidade e às exigências do processo de ensino. A Figura 1 ilustra, por exemplo, a complexidade da rede de relações que se estabelecem no interior de uma sala de aula e, consequentemente, a diversidade de papéis que os professores têm necessariamente que desempenhar. Figura 1. Principais elementos a considerar na análise das relações que se estabelecem no interior de uma sala de aula. *DOMINGOS FERNANDES / PORTUGAL - Doutorado em Educação. Texas A&M University, EUA,. Mestrado em Educação. Boston University., EUA. Licenciado em Matemática pela Faculdade de Ciências da Universidade, Lisboa/ Portugal. Recebeu diversos prêmios na área de educação em Portugal e nos Estados Unidos. Autor de vários livros na área de avaliação. 36

A análise da Figura 1 mostra que as relações que se estabelecem entre os professores, o currículo e os alunos estão, de certo modo, no cerne de tudo o que de fundamental se deve passar no interior de uma sala de aula. Em particular, devo nesta altura fazer especial referência à Selecção de Tarefas porque, em última análise, é aí que reside o essencial do que poderá ser o desenvolvimento do currículo. Na verdade, é através das tarefas que os alunos podem aprender, que os professores podem ensinar e que ambos podem avaliar o seu trabalho no desenvolvimento de cada uma delas. As tarefas representam, invariavelmente, as únicas oportunidades que são criadas para que os alunos possam aprender nas salas de aula. Finalmente, é importante referir que cada tarefa deve estar associada a um qualquer processo de avaliação que permita, num dado momento do seu desenvolvimento, regular e reorientar as aprendizagens e o ensino. O contexto que aqui se ilustra através da Figura 1 permite que se possa reflectir acerca do papel, ou dos papéis, que os professores terão eventualmente que desempenhar para que todos os seus alunos possam aprender. Repare-se que se está a partir do elementar princípio de que embora aprender seja o processo central de toda a actividade pedagógica, ele é indissociável do processo de ensinar e também do processo de avaliar. Esta ideia, aparentemente simples, da integração dos três processos, Aprender-Ensinar-Avaliar, exige uma mudança muito significativa nos conhecimentos e nas concepções dominantes acerca da aprendizagem, do ensino e da avaliação, nas práticas pedagógicas e, inevitavelmente, nos papéis a desempenhar por alunos e professores. Os professores, obviamente, são elementos absolutamente incontornáveis na transformação e na melhoria que há muito se vêm reclamando para os sistemas educativos. É importante sublinhar que a investigação científica tem vindo a evidenciar de forma inequívoca que é possível melhorar substancialmente o que e como os alunos estão aprendendo. Estas conclusões estão baseadas numa sólida base empírica, através de trabalhos de investigação realizados dentro de salas de aula de todos os níveis de ensino, um pouco por todo o mundo. A título meramente ilustrativo indicam-se a seguir três resultados evidenciados no seminal trabalho de dois investigadores do Reino Unido (Black & Wiliam, 1998) que devem merecer a devida reflexão: 1. A avaliação formativa melhora de forma muito significativa as aprendizagens de todos os alunos. 2. Os alunos que mais beneficiam das práticas sistemáticas e deliberadas de avaliação formativa são os que, normalmente, revelam mais dificuldades nas aprendizagens. 3. Os alunos que frequentam aulas em que as práticas de avaliação formativa são predominantes obtêm melhores resultados em provas externas (e.g., exames nacionais, provas do tipo vestibular). Estes três resultados têm um grande alcance e não devem ser ignorados por todos aqueles que, de algum modo, têm responsabilidades no desenvolvimento dos sistemas educativos (e.g., investigadores, formadores, professores, gestores, supervisores, responsáveis políticos locais, regionais e nacionais). Para efeitos deste trabalho farei apenas referência ao papel que os professores poderão desempenhar neste contexto. E gostaria de dizer à partida que os professores podem realmente fazer muito para que a avaliação formativa seja um processo mais presente nas salas de aula, ajudando efectivamente os alunos a aprender mais e, sobretudo, melhor. Um dos mais relevantes papéis que os professores podem desempenhar é o de se assumirem como intelectuais que estudam e reflectem, desenvolvendo os conhecimentos que 37

possam orientar e fundamentar as suas práticas pedagógicas. Este é um ponto-chave do desenvolvimento profissional dos professores que tem que ser activamente apoiado pelas escolas e, em geral, pelas políticas públicas. É bom lembrar-se que o conhecimento é condição necessária, ainda que não suficiente, para transformar e melhorar as práticas. É, por exemplo, muito importante que os professores conheçam e discutam características de qualquer processo de avaliação tais como os que se apresentam na Figura 2. Para cada caso, para cada uma das características, devem desenvolver-se ideias bem claras acerca do seu real sentido e significado. O que significa afirmar que a avaliação das aprendizagens dos alunos tem que ser Eticamente Adequada, Exequível, Rigorosa e Útil, as quatro características basilares que qualquer avaliação de qualidade deve necessariamente possuir? O que significa que a avaliação deve ser Transparente e o que é possível fazer nas salas de aula para que tal possa ser uma realidade? Como assegurar que a avaliação seja um processo Participado e Democrático? A avaliação tem que ser necessariamente Consensual? O que fazer se tal consenso não se puder alcançar? Estas e outras questões devem ser debatidas e reflectidas pois as respostas e a consequente clarificação conceptual são essenciais para melhorar as práticas de avaliação em geral. Figura 2. Algumas características que devem fazer parte de qualquer processo de avaliação. Ainda na mesma linha de pensamento é crucial que se clarifiquem os conceitos de avaliação formativa e de avaliação sumativa. Curiosamente, um pouco por todos os sistemas educativos, existe a convicção generalizada de que o significado e o conteúdo de tais conceitos estão perfeitamente claros para a esmagadora maioria dos seus profissionais. No entanto, a investigação de concepções e de práticas de ensino e de avaliação de professores realizada quer em contexto de sala de aula, baseada em observações, quer noutros contextos, baseada em inquéritos por entrevista, mostra que, em geral, para um número muito significativo de professores aqueles conceitos estão longe de ser claros (Fernandes, 2008). Por exemplo, em muitos casos refere-se que a avaliação formativa é pouco rigorosa e eminentemente subjectiva em contraste com a avaliação sumativa que seria rigorosa e objectiva. Ora, como se sabe, 38

não há qualquer base científica que sustente quer uma ideia quer a outra. Ambas podem ser rigorosas ou não rigorosas e ambas implicam sempre a formulação de juízos que, por natureza, são subjectivos. Daí a relevância de se instituírem práticas de intersubjectividade que ajudem os professores a formularem juízos mais rigorosos acerca do que os seus alunos sabem e são capazes de fazer. Em suma, os papéis que os professores podem desempenhar como intelectuais, como profissionais reflexivos e, se quisermos, como investigadores, são basilares e têm que ser deliberadamente promovidos. Sem eles e, sobretudo, sem o que eles proporcionam, não é possível transformar e melhorar quaisquer práticas pedagógicas, que, na verdade, ajudem os alunos e os professores a aprender e a ensinar melhor. A Figura 3 pode ajudar-nos a reflectir acerca de alguns dos papéis que os professores podem desempenhar no processo de ensinar e de avaliar. É importante pensar acerca do que cada uma das possíveis opções pode significar e acerca das respectivas consequências para as práticas pedagógicas. Uma coisa será o professor assumir o papel de uma espécie de funcionário, que encara a sua profissão como um trabalho mais ou menos rotineiro. Outra, substancialmente diferente, será assumir-se como um intelectual empenhado no desenvolvimento de uma ampla variedade de conhecimentos que são necessários para o exercício de uma profissão complexa que está muito associada à imaginação criadora. Figura 3. Os professores no desenvolvimento do currículo e da avaliação. A melhoria das aprendizagens dos alunos está fortemente associada à utilização sistemática de práticas de avaliação formativa, que tem vindo ser recentemente designada como avaliação para as aprendizagens em contraste com a avaliação sumativa, designada como avaliação das aprendizagens. A avaliação para as aprendizagens é um processo eminentemente pedagógico, integrado no ensino e na aprendizagem, contínuo, interactivo e cujo principal propósito é o de melhorar o que, e como, os alunos aprendem. A sua plena concretização exige que os professores possam assumir uma variedade de responsabilidades tais como: organizar o processo de ensino; propor tarefas apropriadas aos alunos; definir prévia e claramente os propósitos e a natureza do processo de ensino e de avaliação; diferenciar as suas estratégias; 39

utilizar um sistema permanente e inteligente de feedback que apoie efectivamente os alunos na regulação das suas aprendizagens; ajustar sistematicamente o ensino de acordo com as necessidades; e criar um adequado clima de comunicação interactiva entre os alunos e entre estes e os professores (Fernandes, 2008, p. 59). Mas é também necessário que, ao longo dos anos de escolaridade, os alunos vão assumindo progressivamente responsabilidades tais como: participar activamente nos processos de aprendizagem e de avaliação; desenvolver as tarefas que lhes são propostas pelos professores; utilizar o feedback que lhes é fornecido pelos professores para regularem as suas aprendizagens; analisar o seu próprio trabalho através dos seus processos metacognitivos e da auto-avaliação; regular as suas aprendizagens tendo em conta os resultados da auto-avaliação e dos seus recursos cognitivos e metacognitivos; partilhar o seu trabalho, as suas dificuldades e os seus sucessos com o professor e com os colegas; organizar o seu próprio processo de aprendizagem (Fernandes, 2008, pp. 59-60). A definição dos papéis e responsabilidades de professores e alunos no desenvolvimento dos processos de ensino, de aprendizagem e de avaliação é importante porque dá sentido e significado à comunidade de aprendizagem que, em princípio, se vai construindo em cada sala de aula. Por isso, importa sublinhar neste momento que a avaliação formativa pressupõe uma partilha de responsabilidades entre alunos e professores. Os professores terão um papel que, como se viu mais acima, é, ou deve ser, preponderante em aspectos tais como a identificação dos principais domínios do currículo, a selecção de tarefas a propor aos alunos e a organização e distribuição de feedback, enquanto os alunos terão uma evidente preponderância no desenvolvimento dos processos que se referem à auto-avaliação e à autoregulação das suas aprendizagens. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Black, Paul e Wiliam, Dylan. (1998). Assessment and classroom learning. Assessment in Education: Principles, Policy & Practice, 5, 1, 7-74. Fernandes, Domingos (2008). Avaliar para aprender: Fundamentos, práticas e políticas. São Paulo: Editora UNESP. 40