Joint Statement Learning Disabilities, Dyslexia and Vision



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Transcrição:

Resumo As perturbações da aprendizagem, que incluem as dificuldades de leitura e escrita, são diagnosticadas com frequência na infância. As suas causas são multifatoriais, refletindo influências genéticas e disfunções cerebrais. As perturbações da aprendizagem são complexas e requerem soluções de igual complexidade. A maioria dos especialistas acredita que a dislexia é uma perturbação da linguagem. Os problemas de visão podem interferir no processo de aprendizagem, contudo não são a primeira causa da dislexia ou das perturbações da aprendizagem. A evidência científica não dá suporte à eficácia dos exercícios oculares e da terapia do comportamento da visão. Ler é um processo que consiste em extrair significado a partir de carateres simbólicos escritos. A dificuldade de ler e compreender o que é lido é o obstáculo mais significativo na aprendizagem, o que pode ter consequências educacionais, sociais e económicas a longo prazo. As dificuldades de aprendizagem também impedem as crianças de desenvolver todo o seu potencial noutras áreas. Elas podem causar dificuldades em ouvir, falar, ler, soletrar, escrever, concentrar, resolver problemas matemáticos e organizar a informação. Estas crianças podem ter também dificuldades nas competências sociais e na coordenação motora. As dificuldades de aprendizagem são frequentemente associadas e aumentadas por perturbações da hiperatividade e défice de atenção. As dificuldades de aprendizagem podem causar frustração, baixa autoestima e risco aumentado de problemas psicológicos e emocionais. A dislexia é uma perturbação primária da leitura e resulta de um processamento anormal da palavra lida em termos cerebrais. É caracterizada por dificuldades no reconhecimento fluente das palavras escritas e por capacidades reduzidas ao nível da soletração e da descodificação. Estas dificuldades são inesperadas relativamente às restantes capacidades cognitivas da criança. A dislexia tem sido descrita como tendo uma base genética forte. A dislexia pode ser moderada ou severa, surge em todo o mundo, parece afetar mais rapazes do que raparigas, afeta crianças com vários níveis de inteligência e persiste ao longo

da vida. É identificada precocemente em algumas pessoas, mas noutras já é identificada muito tarde quando são necessárias competências de leitura e de escrita mais complexas. A dislexia deve ser separada de outras formas secundárias de dificuldades de leitura causadas por perturbações visuais ou auditivas, défice cognitivo e défices na experiência educativa (dificuldades de ensinagem ). Não nos devemos esquecer que as dificuldades precoces na leitura podem ser causadas por défices na experiência ou na instrução. O desenvolvimento da linguagem oral tem sido visto como tendo um papel muito importante na aprendizagem da leitura. Ao contrário da fala, a leitura e a escrita não se desenvolvem de forma natural e requerem uma aprendizagem ativa. Ler é mais difícil do que falar, porque a criança deve estar consciente da estrutura sonora da linguagem oral e em seguida utilizar o código alfabético para adquirir a correspondência grafema-fonema. A complexidade fonética da língua alfabética vai influenciar a prevalência da dislexia, apontando-se para a origem linguística desta perturbação. A leitura envolve a integração de múltiplos fatores relacionados com a experiência pessoal e o funcionamento neurológico. A maioria das pessoas com dislexia apresenta um défice neurobiológico no processamento da estrutura sonora da linguagem, a que se chama défice fonológico e que pode existir quando as restantes capacidades linguísticas estão intactas. As crianças com formas mais graves de dislexia podem ter um défice secundário na nomeação de letras, números e imagens, criando um défice duplo, podendo também apresentar problemas ao nível da atenção e na memória de trabalho. Outras crianças podem ter dificuldades de orientação, reconhecimento e memorização das combinações de letras. Estas dificuldades podem constituir uma perturbação neuromaturacional que aumenta com o desenvolvimento. Importa referir que a definição de dislexia não inclui a inversão de letras/ palavras ou a leitura/escrita em espelho, as quais costumam criar equívocos comuns nesta área. A maioria das crianças e adultos com perturbações da leitura revelam problemas diversificados em termos de linguagem que se devem a alterações nas funções cerebrais. Existe uma evidência científica sólida que suporta a base neurológica da teoria do défice fonológico nas perturbações da leitura. A leitura ocorre sobretudo no hemisfério esquerdo, incluindo o lobo frontal inferior, temporal superior, tempo-parietal, gyrus temporal medial e occipital medial nos leitores sem perturbações. As crianças com dislexia, por outro lado, usam áreas diferentes do cérebro

durante a leitura. As pessoas com dislexia demonstram uma disfunção no hemisfério posterior esquerdo (sistema de leitura) e manifestam um uso compensatório do gyrus frontal inferior de ambos os hemisférios e a área occipi-temporal direita. As pessoas com dislexia têm uma disfunção na análise das palavras, o que interfere com as suas capacidades para converter as palavras escritas em oralidade. A leitura exige capacidades visuais e neurológicas adequadas para identificar o que é visto. Embora a visão seja fundamental para a leitura, é o cérebro que interpreta as imagens observadas. Ao longo dos tempos, muitas teorias apontaram os defeitos no sistema visual como sendo a causa da dislexia. Hoje em dia, sabe-se que estas teorias estão incorretas. Há inúmeros estudos que comprovam que os défices no processamento visual (tais como na visualização, sequência visual, memória visual, perceção visual e capacidades percetivomotoras) não constituem a causa de base das dificuldades de leitura. As inversões nas palavras e os saltos na leitura, que podem ser encontrados nos leitores com dislexia, são o resultado da perturbação linguística e não das perturbações visuais ou percetivas. Há registo de dificuldades de leitura específicas num pequeno subgrupo de pessoas com dislexia que é atribuído por alguns investigadores a défices no sistema magnocelular visual. O sistema visual engloba dois sistemas paralelos: o magnocelular e o parvocelular. O primeiro responde a frequências altas no lobo temporal e ao movimento dos objetos, ao passo que o segundo é sensível às frequências baixas e aos detalhes espaciais. Tem sido proposto que um défice no sistema magnocelular produz um traço anormal da distância visual que cria um efeito de mascaramento e provoca alterações na acuidade visual durante a leitura em algumas crianças com dislexia. Muitas investigações concluíram que os défices no sistema magnocelular não constituem a causa das perturbações específicas de leitura. Atualmente, não há evidências científicas suficientes para o tratamento deste possível défice. A dislexia não está assim correlacionada com o olho ou com alterações nos movimentos dos olhos. Inúmeros estudos mostram que as crianças com dislexia ou outras perturbações da aprendizagem apresentam o mesmo funcionamento visual e a mesma saúde ocular que as crianças sem estes problemas. A investigação tem, deste modo, mostrado que a maioria das perturbações de leitura não é causada por um funcionamento visual alterado. Quando na história familiar há perturbações da aprendizagem, os pais, professores e médicos devem estar atentos a esta possibilidade. Um historial de problemas no desenvolvimento da fala e da linguagem, na aprendizagem de ritmos ou no reconhecimento

de letras e da correspondência entre os sons e as letras podem ser sinais precoces de dislexia. Os pais e/ou os professores devem identificar os sinais precoces de dificuldades de aprendizagem nas crianças em idade pré-escolar. Contudo, na maioria dos casos, estas dificuldades não são descobertas até que as crianças revelem dificuldades académicas no decorrer do 1º ciclo. Uma vez que a recuperação é mais eficaz durante os anos mais precoces, o diagnóstico precoce é muito importante. O efeito da dislexia é diferente em função da pessoa e depende da sua gravidade, da eficácia da reabilitação e das oportunidades de educação/intervenção. Atendendo ao facto de a dislexia ser uma perturbação linguística, o seu tratamento deve incidir diretamente nesta etiologia. Os estudos longitudinais indicam que os resultados da instrução que incide na fonologia são mais favoráveis para os leitores com perturbações do que uma abordagem global ao nível da linguagem. Os programas de reabilitação devem incluir um ensino específico ao nível da descodificação, fluência, vocabulário e compreensão. A abordagem da aprendizagem das capacidades de descodificação começa com o ensino explícito do reconhecimento dos sons orais (consciência fonológica), a consciência do ritmo, a aprendizagem do código alfabético, a memorização das palavras escritas, o estudo dos sons e a soletração. Uma criança deve primeiro ser capaz de descodificar a palavra antes de ser capaz de a ler de forma fluente. A criança deve ler para os pais em casa diariamente para praticar a descodificação, a memorização de novas palavras escritas e desenvolver uma maior fluência através da leitura de palavras previamente descodificadas e memorizadas. A fluência constitui a ponte entre a descodificação e a compreensão. A compreensão é desenvolvida através do treino da fluência, do aumento do vocabulário e da compreensão ativa da leitura. As técnicas que aumentam a compreensão ativa da leitura incluem a predição, o resumo, a visualização, a clarificação, o pensamento crítico, a realização de inferências e a extração de conclusões. Uma vez que as pessoas com dislexia têm problemas persistentes e continuam a apresentar uma leitura lenta ao longo da vida, pode ser necessário efetuar acomodações e modificações para além da reabilitação propriamente dita. Alguns exemplos de acomodações são: tempo extra nas tarefas, realização de trabalhos mais curtos, realização de testes em salas isoladas e com um ambiente calmo, testes de escolha múltipla, uso de computadores, corretores ortográficos, utilização dos apontamentos das aulas, gravadores, livros gravados, etc.

O diagnóstico e o tratamento das perturbações de aprendizagem dependem da colaboração de uma vasta equipa, a qual pode incluir: educadores/professores do ensino regular, professores de educação especial, audiologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, especialistas em questões do funcionamento visual, psicólogos, terapeutas da fala e médicos. As crianças com perturbações da aprendizagem devem ser avaliadas no que respeita à saúde em geral, desenvolvimento, audição e visão e, quando necessário, devem ser submetidas a intervenções médicas ou no âmbito da psicologia para o tratamento das condições associadas que podem ser alvo de recuperação. Uma avaliação formal das dificuldades de aprendizagem deve incluir as seguintes áreas: cognição, funções da memória, atenção, processamento da informação, processamento psicolinguístico, linguagem recetiva e expressiva, competências académicas, desenvolvimento sócio-emocional e comportamento adaptativo. Estes resultados são depois usados no Programa Educativo Individual (PEI) da criança. Os audiologistas devem identificar dificuldades de audição. Os terapeutas da fala devem avaliar e tratar as dificuldades da linguagem oral subjacentes e frequentemente associadas à dislexia e ajudar as crianças no treino da consciência fonológica. Os fisioterapeutas e os terapeutas ocupacionais não tratam a dislexia diretamente mas podem intervir nas dificuldades de motricidade fina e grossa ou em problemas sensoriais que podem estar associados à perturbação da aprendizagem. O papel dos pais na educação destas crianças é fundamental. As famílias com historial de dislexia devem estar atentas às crianças desde a existência dos problemas de linguagem mais precoces. Depois de haver um diagnóstico de perturbação da aprendizagem, deve ser elaborado o plano individual de intervenção para a criança. Os pais devem trabalhar em conjunto com os professores no sentido de assegurar que a escola fornece as respostas apropriadas à criança. As crianças com dislexia devem ler junto dos seus pais de forma frequente. Os pais devem ajudá-las com a prática e o reforço em casa, num ambiente de apoio e de suporte, contribuindo para a criação de oportunidades de participação nas atividades em que a criança se destaca pela positiva. À medida que a criança cresce, os pais devem ajudá-la a utilizar estratégias de aprendizagem alternativas (ex: computadores). Devido à natureza complexa das dificuldades de aprendizagem (incluindo a dislexia), não há remédios simples. Ensinar estas crianças pode ser um desafio constante para pais e

professores. Com a reabilitação apropriada, acomodações e apoio, as crianças com dislexia e outras perturbações da aprendizagem podem obter sucesso. Os médicos (pediatras, médicos de família, otorrinolaringologistas, neurologistas, oftalmologistas e profissionais de saúde mental) devem participar no percurso das crianças com perturbações da aprendizagem. Quando a criança apresenta indícios deste tipo de perturbação, o pediatra ou o médico de família deve primeiro avaliar os problemas médicos da criança que possam afetar a sua capacidade para aprender e referenciar/encaminhar a criança para outras avaliações que sejam necessárias. Estes médicos devem fornecer informações e apoio junto dos pais relativamente a esta problemática e ao seu tratamento e devem também ajudar a esclarecer os mitos associados a esta área. Os pais devem ser informados, logo à partida, de que a dislexia é uma perturbação complexa, para a qual não existe cura. Tendo em conta que são difíceis de compreender por parte do público em geral e difíceis de tratar por parte dos professores e outros profissionais, as perturbações da aprendizagem deram origem a uma grande quantidade de controvérsias e a tratamentos alternativos sem suporte científico, incluindo a terapia visual. A evidência científica da eficácia dos tratamentos propostos deve ser a base para as recomendações por parte dos profissionais. Os tratamentos que têm um suporte científico inadequado ou insuficiente devem ser desencorajados. Os métodos controversos, tais como a terapia visual, podem dar aos pais e aos professores uma falsa sensação de segurança em relação aos progressos da criança, podem esgotar os recursos da família e da escola e podem impossibilitar a existência de uma reabilitação apropriada. Atualmente, não há evidência científica adequada que suporte que os problemas visuais causam dificuldades de aprendizagem. Estatisticamente, as crianças com dislexia têm a mesma função visual e saúde ocular que as crianças sem estas condições. Tendo em consideração que os problemas visuais não abarcam a dislexia, as abordagens construídas no sentido de aumentar a função visual através do treino são enganadoras/erradas. Não há atualmente evidência de que as crianças que participam na terapia visual obtenham mais sucesso educativo do que as crianças que não participam. A dislexia e as perturbações da aprendizagem são problemas complexos que não têm soluções simples. A perspetiva atualmente mais aceite é a de que a dislexia é uma perturbação que tem por base alterações na linguagem.